Kate só negou com a cabeça. Seus olhos começaram a marejar, deixando lágrimas caírem dali, como se fossem água numa cachoeira. Ela ouviu os passos dos pais subindo as escadas, e correu para o banheiro, ligando a torneira e trancando a porta.

– Kate, nós já vamos. – disseram em uníssono.

Ela gritou algo em resposta, e os dois puseram-se a descer as escadas. Quando ele teve certeza que já estavam longe o suficiente para que pudessem conversar em paz, bateu na porta do banheiro, parado à frente, impedindo a passagem da menina.

– Pode sair, Kate. – ele disse – Seus pais já foram.

Ela abriu a porta, espiando o lado de fora, dando de cara com o peito dele. Levantou os olhos, fitando-o com tristeza. A saudade que sentia dos amigos era algo quase mortal, mas não podia fazer nada, uma vez que, talvez, estivessem felizes com suas próprias vidas. Uma vez que, podiam estar felizes sem ela. E isso era uma coisa que ela não aguentaria ver por si própria.

Saindo do banheiro e abraçando-o com força, encostando seu rosto no peito dele, aspirando seu perfume, Kate grunhia e soluçava, enquanto ele afagava suas costas, murmurando palavras reconfortantes para ela.

– O que houve? – ele repetiu, acariciando os cachos dela.

– Eu não me sinto corajosa o suficiente para olhar nos olhos deles e conversar, porque... – ela começou, voltando a chorar – Porque nada nunca mais vai ser igual, percebe? Se eu voltar pra New York, mesmo se eu voltar, nada vai ser igual, porque vocês já devem ter arranjado alguém, alguma nova melhor amiga.

Ele puxou o rosto dela entre as mãos, olhando fundo nos olhos dela. Os azuis finalmente, depois de tanto tempo, perfurando os verdes. Ela fungou, olhando para baixo, mas ele pediu a ela que olhasse diretamente nos olhos dele, e ela o fez, justamente quando ele aproximou seus rostos, roçando seus lábios, e ela quebrou a distância, não queria que fosse como o primeiro beijo, porque eles já tinham passado muito disso, ela se lembrava. Empurrou os lábios dele, pressionando os dele contra os dela, e os dois tinham certeza de que os lábios de ambos ficariam inchados e vermelhos, mas não se importavam muito com isso.

Quando se separaram, ela sorriu, mordendo o lábio inferior, e o celular de Richard começou a tocar novamente, e ela assentiu com a cabeça. Não que não estivesse feliz em revê-los, mas estava com medo de eles terem trocado-a por outra menina, medo de que eles achassem que ela era traidora, que nunca mais se comunicou com eles ou coisa do tipo.

– Oi, Espo. – ele atendeu, olhando nos olhos dela, segurando uma de suas mãos, acariciando-a com o polegar. – Sim, onde vocês estão? – ele esperou, olhando para a parede – Sim, já vou, tchau.

E o celular voou até o colchão. Ele a puxou novamente, voltando a beijá-la, e ela se rendeu. Em menos de um ano, sua vida havia mudado completamente, já havia morado em três cidades diferentes, Los Angeles, New York, e agora, mudara até de país, Londres. E eles vieram atrás. Ninguém nunca havia feito coisa assim para ela, o que era completamente louco, mas muito apreciado.

O beijo, mesmo que os dois estivessem sem ar algum nos pulmões, continuou por mais algum tempo, e ela segurava no pescoço dele, enquanto ele a segurava pela cintura com uma mão e pelo quadril com a outra. Ela separou seus lábios, respirando fundo e bufando repetidas vezes, dando ao corpo o ar que precisava.

– Onde eles estão? – perguntou ela, ainda grudada a ele, ofegante.

– Brighton Beach. – ele respondeu, ainda de olhos fechados.

– É perto daqui, eu posso te levar, se quiser. – ela sorriu, soltando-se dele. – Mas temos que levar casaco, lá é frio.

– Londres é fria. – ele provocou – Não sei como as pessoas podem reproduzir aqui.

Ela ruborizou, mesmo sabendo que era uma brincadeira. Assuntos como aquele sempre faziam-na ficar vermelha. Ele riu, abraçando-a fortemente, beijando-a no pescoço, sorrindo novamente. Ah, quanta falta ele fazia...

Ela se encaminhou para o closet, procurando uma calça e uma blusa, escondida dele, claro. Mas, quando ele a chamou, lá pelo corredor, ela deixou as roupas caírem no chão, indo até ele.

– Será que eu posso pegar um casaco do seu pai? – ele perguntou, mas ela negou.

– Ele só tem blazers, ou ternos, e acho que você não vai gostar muito. – ela riu – Mas, por outro lado, eu tenho um casaco seu aqui.

– O meu presente de despedidas. – ele sorriu abertamente, aproximando-se para um beijo, e ela correspondeu.

°°

Ele jogava, sentado no sofá da sala. O celular apitava a cada novo ponto que ele fazia, enquanto ela terminava de se arrumar. E foi quando ele ouviu passos nas escadas, bloqueando a tela do celular. Ela usava jeans, moletom e rabo de cavalo, mas, mesmo assim, ele não lembrava de tê-la vista mais estonteante, mais bela.

– Uau. – ele disse. Só.

Ela riu, beijando-o de leve, ajeitando a bolsa franjada nos ombros, pegando as chaves de casa. Abriu a porta e esperou-o sair, para que pudesse trancar. Logo, a rajada de vento passou sobre eles, o que fez Richard trincar os dentes e arrepiar-se por completo.

°°

A maresia estava bem à frente deles, e o vento, misturado com cristais de areia, batia no rosto do casal, o que os forçava a fechar os olhos de vez em quando, para protegerem-se dos pequenos cristais. O cheiro do mar era inconfundível e nenhum dos dois queria avançar, porque já viam um grupo de quatro pessoas na areia.

Mas, espera. Só quatro?

– Rick... – ela sussurrou, parando-o na pista. – Por que não há mais uma pessoa sentada ali, na areia com eles? – ela perguntou, com os olhos marejando novamente – Pensei que vocês iam eleger mais alguma menina para tomar meu posto, digo...

– Não, Kate. – ele sorriu, roçando seu rosto no pescoço da menina, sentindo o cheiro característico da menina – Nós nunca iríamos trocar você por ninguém.