De Volta Ao País Das Maravilhas escrita por Kremer
“Hm, e agora, pra onde vou?” Pensou consigo mesma, notando que estava na frente de um bosque. “Certamente não deveria entrar, afinal, é perigoso para uma criança andar sozinha em um bosque como este.” Mary Ann sempre dava bons conselhos a si mesma, hábito que certamente herdara de sua mãe.
Subitamente, um cavaleiro de armadura saiu de dentro do bosque e vinha em sua direção. Mary Ann poderia achar aquilo muito normal, não fosse pelo fato de que o homem carregava um pônei nas costas. O cavaleiro se aproximou dela e a olhou com curiosidade, quando Mary Ann achou melhor quebrar o gelo.
- Poderia me dizer, por favor, por que está carregando este pônei? - Disse, educadamente. O homem pôs o pônei no chão, e este ficou de pé sob as duas patas traseiras, como uma pessoa.
- Concorda que eu não poderia montá-lo, por ser muito pequeno? - Perguntou o homem.
-Sim, concordo. - Respondeu Mary Ann.
- Logicamente, se não posso montá-lo, ele deve montar em mim, pois um de nós deve ser a montaria. - Disse o homem. O pônei se aproximou de Mary Ann e cochichou em seu ouvido:
- Você também está caçando o tesouro? - Mary Ann ficou muito interessada, pois nunca participara de uma caça ao tesouro antes, apesar de ter lido muitas vezes histórias de piratas caçadores de tesouros.
- Não, mas adoraria... como posso participar? - Perguntou a menina, e o cavaleiro aproximou-se do pônei, pegando a bolsa que o mesmo trazia nos ombros e retirando um papel dobrado ao meio.
- Pode caçar com a gente, já temos esta pista. Olhe! - E entregou o papel para Mary Ann. Ela abriu-o e deparou-se com a folha totalmente em branco.
- Mas... não há nada escrito aqui - Comentou a menina, desta vez colocando o papel contra a luz para ver se via alguma coisa. Realmente, estava em branco.
- Nada que possamos ler, mas estámos levando para uma pessoa que sabe ler Nadas. Gostaria de vir conosco? - Disse o Pônei, que já ia subindo nas costas do cavaleiro novamente.
- Gostaria muito! E quem é esta pessoa? - Perguntou Mary Ann, enquanto seguia o cavaleiro que andava em direção a uma estradinha de pedras amarelas.
- O Dodô, ele sabe ler Nadas como Ninguém. - Disse o Cavaleiro. O Pônei empertigou-se em suas costas e comentou:
- Por outro lado, Ninguém não é visto por aqui há muito tempo. Nada se sabe dele.
E os três seguiram pela estradinha de pedras amarelas, parando às vezes para dar passagem para pedestres atravessarem. Mary Ann contou todas as vezes que tiveram de parar: “Foram sete, até agora. A primeira era uma pata com seus filhotes, a segunda era um lagarto de suspensório, a terceira eram dois flamingos que faziam muito barulho, a quarta eram dois sapos vestidos como mordomos, a quinta era um ratinho levando um guarda chuva, a sexta era um guarda chuva, e a sétima era um cavalo de cartola.” Anotou tudo mentalmente, tentando adivinhar qual seria o próximo. No entanto, a estrada havia chegado ao fim, e se depararam com uma placa que dizia: Para chamar o Dodô, toque as Flores-Trompetes.
- Onde estão as Flores-Trompetes? - Perguntou Mary Ann, que apenas via à sua frente uma grama muito bem aparada.
- Elas crescem debaixo da grama - disse o cavaleiro, levantando um tapete de grama, que escondia trompetes com caules.
- Que magnífico sistema de campainha! - Comentou o Pônei, em tom sonhador.
- São muito eficazes, a não ser que você não tenha a grama certa para cobri-los. - Disse o Cavaleiro, pegando uma Flor – Trompete e trazendo-a para cima. Seu caule era muito grande, então não havia necessidade de arrancá-lo.
- O que acontece se colocarmos a grama errada? - Perguntou Mary Ann, temendo parecer muito ignorante.
- Ora, elas crescem e viram cornetas desalinhadas - respondeu o Cavaleiro.
- Cornetas desalinhadas - repetiu o Pônei, tomando a Flor-Trompete nas mãos e assoprando. Mary Ann nunca vira algo tão estranho. O trompete não emitiu o som de um trompete comum, e sim uma voz aguda, que dizia: “Dodô, você tem visitas!” E depois disso, a Flor-Trompete foi puxada pelo seu caule para debaixo da grama novamente. “Devo começar a me acostumar com a ideia de que nada aqui é comum”, pensou Mary Ann. Um paraquedas estava surgindo no céu, e caía em direção a eles, porém, ficou preso em uma árvore e o cavaleiro, o pônei e Mary Ann tiveram de ajudá-lo a descer. Depois de muita luta – porque a árvore se recusava a soltar o paraquedas, e só aceitou soltá-lo depois de lhe oferecerem outro mais bonito – Mary Ann finalmente conhecera o Dodô. Na escola, aprendera que os dodôs estavam há muito tempo extintos, e não pôde deixar de fazer essa observação.
- Não seja tola, há muitos de nós por aqui. - Respondeu o Dodô, repreendendo-a. O Cavaleiro não demorou a mostrar o papel ao Dodô e pedir para ele lê-lo. - Pois bem, sentem-se, não é conveniente ouvir uma história em pé.
Os três se sentaram, e o Dodô examinou o papel por alguns segundos. Finalmente erguera os olhos para os três, e disse:
- Trata-se de um poema, que irei recitar neste momento.
Mary Ann adorava poemas, e ficou muito atenta aos movimentos do Dodô. Observou-o respirar fundo várias vezes, e depois de encarar o vazio com um olhar perdido, finalmente começou a recitar:
“Você já ouviu falar, certamente,
Do bom e velho Salmão?
Dizem que ele está sempre contente
Se o encontra, aperte sua mão;
No entanto, se tem gosto por arte,
E não dispensa um cortejo
Sem dúvida, um belo Espadarte
Deve satisfazer o seu desejo;
Porém, se quer um que dê um bom caldo,
Não deve esperar por milagre
Pois é certo de que não muda de lado
O bom e apetitoso Bagre.
Enguia, Lambari, Dojô, todo o estoque,
Não perca tempo, aviso-te desde já.
Nada se compara a um Hadoque
E uma boa xícara de chá.”
O Dodô havia fechado os olhos, e todos o encaravam.
- Mas não enten... -Começou Mary Ann, porém, o cavaleiro lhe fez um sinal para se calar, pois o Dodô estava em estado de concentração. E ficou lá, segurando o papel com seus olhos fechados por longos minutos, quando finalmente os abriu.
- Entenderam, não é? - Perguntou o Dodô, e Mary Ann apressou-se em dizer.
- Mas não entendo como isto pode ser uma pista -, disse. Os três a olharam espantados e em silêncio. A menina estava ficando muito constrangida quando o pônei finalmente falou:
- Pode repetir qual foi a última linha, criança? - Perguntou. Mary Ann respondeu de prontidão:
- Claro, a última linha terminava dizendo "E uma boa xícara de chá".
Os dois se levantaram, e Mary Ann levantou-se também, quando o pônei já ia subindo nas costas do cavaleiro e dizendo:
- Então é mais do que óbvio que o próximo lugar que devemos visitar é a casa do Chapeleiro!
Mary Ann nunca ouvira falar do tal Chapeleiro, mas achou melhor não discutir.
- Senhor Dodô, você vai nos acompanhar? - A moça perguntou, educadamente.
- Minha querida, eu já estou lá. - Disse, e então correu para a árvore mais próxima, bateu três vezes e uma porta se revelou, e o Dodô desapareceu por ela.
- Que esquisito... - disse Mary Ann, mal se dando conta de que o fizera em voz alta.
- Cada um tem seu atalho, vê? - Comentou o cavaleiro, Mary Ann não soube o que dizer, mas por sorte o cavaleiro continuou: - Uns vão por ali, outros por aqui, mas nós iremos seguir estrada.
Então, os três continuaram andando por uma estrada, dessa vez enfeitada com pedrinhas roxas, seguindo para a casa do Chapeleiro.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Então, eu tentei fazer um poema, poderia ter acrescentado mais duas estrofes e tal, mas a criatividade não permitiu. Na próxima cuidarei deste detalhe! ;*