De Volta Ao País Das Maravilhas escrita por Kremer
Alguma coisa guinchou em baixo dela, e Mary Ann pôs-se de pé em um salto. O chão macio em que havia aterrissado, na verdade, era um grande ganso que repousava. Mary Ann saiu de cima da pobre ave, temendo tê-lo ferido.
- Mil perdões, o confundi com o chão! - disse a pobre menina, pensando estar louca, pois estava falando com um animal, e, como disse sua professora, os animais não falavam a língua dos humanos. Mary Ann procurou em segredo pela biblioteca da escola algum dicionário de Cachorrês e Gatanês, pois queria muito poder falar com Snow em um idioma que ela compreendesse, porém nada achou.
Assim sendo, tomou um grande susto quando a ave, pondo-se de pé e esfregando suas penas, respondeu:
- Ora, devia olhar por onde cai! Quase que me esmagasse como a uma pedra.
Mary Ann, recuperando-se de sua surpresa, não pôde deixar de discutir com aquela comparação, que achava muito tola.
- Mas não se pode esmagar uma pedra, elas são muito duras.
A ave que, Mary Ann reparou, era muito orgulhosa e se ofendia fácil, logo rebateu:
- Se você for maior e mais forte que a pedra, pode esmagá-la. Porém, você não vai querer fazer isso com uma pedra, já que elas podem ser muito úteis e boas cozinheiras. Agora, se me der licença, tomarei meu rumo antes que outra coisa caia em cima de mim e me esmague.
Mary Ann achou muita grosseria da parte da ave, e deixou-a ir sem dizer nada. Mas, pra onde ela iria, se ao redor havia apenas espelhos? Então, viu o ganso branco desaparecer por um espelho. "Que curioso... nunca vi alguém atravessar um espelho antes. Bem, mas acabei de atravessar um livro, então... não custa tentar”, refletiu. E a criança foi em direção ao espelho, tocando sua superfície, porém apenas tocava o vidro. Mas o vidro era estranho demais, macio demais. E então ela percebeu! “Ora, não posso atravessar porque já estou do outro lado! São meus dedos que eu estou tocando...” E notou que, do outro lado, seu reflexo era tão vivo quanto ela mesma. Desistiu de empurrar as próprias mãos e começou a analisar o local. Todos os espelhos forravam as paredes, e todos eles eram do tamanho de portas. Mary Ann procurou, sem muito sucesso, algum que não tivesse seu reflexo nele. Infelizmente, todos eram iguais.
- Como é que sairei daqui? - Perguntou-se a menina, enquanto sentava-se, apoiando a cabeça nas mãos.
- Só pode sair daqui se já estiver do lado de fora! - Disse uma voz, muito esquisita. Mary Ann olhou ao seu redor, porém nada viu, senão seus muitos reflexos.
- Perdão... mas como posso estar em um lugar e estar em outro ao mesmo tempo? - Disse, não muito certa de para quem.
- É muito simples - Agora ela vira que se tratava de um de seus reflexos. - Se você estiver aí, não pode estar aqui. Mas se o seu reflexo estiver aí, você pode passar pelo espelho. Afinal, não pode ter dois reflexos seus ocupando o mesmo espelho, pode?
Ela estava achando aquilo muito esquisito e sem sentido algum, mas queria muito poder atravessar o espelho.
- Você vai trocar de lugar comigo? Mas se trocar... eu então virarei um reflexo seu e ficarei presa no espelho! - Disse a menina, agora se aproximando do reflexo falante.
- Bobagem, como você pode ser reflexo de si mesma? Veja só. - O reflexo esticou o braço e puxou Mary Ann para dentro do espelho. Ela esperava dar de cara com o vidro, mas encontrou-se em um jardim todo enfeitado. O espelho atrás de si havia sumido, mas Mary Ann estava muito feliz por ter conseguido atravessá-lo.
- Quero só ver a cara daquele ganso quando me vir aqui. Que susto não deverá tomar! Com certeza julgou-me incapaz de achar a entrada. - Comentou consigo mesma, muito satisfeita.
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