Quando eu o mandei preparar a pipoca, não achei que ele fosse mesmo. Ainda pôs a manteiga em cima.

Enfim, eu o contei o que eu estava sentindo naquele momento. Contei o quanto eu ainda era apaixonada por Daron. Contei que essa “vingança” é só um jeito de tentar esquece-lo. Contei que eu estava confusa. Muito confusa. Eu realmente queria dar a Daron uma segunda chance.

— Todo mundo merece uma segunda chance… — Ele murmurou. — Se você acha que essa é a coisa certa fazer, então faça.

Eu respirei fundo e abracei minhas pernas.

— Mas essa opção não tem muita graça. — Ele disse num tom divertido. Não pude deixar de sorrir.

— Claro.

Eu abaixei a cabeça e me deixei levar pelos pensamentos por um breve momento. Até ouvir a porta se abrindo estrondosamente e Sarah aparecer com uma cara meio estranha.

— O que aconteceu? — Perguntei a Sarah.

— Eu… — Ela se apoiou na bancada. — Fiquei meio tonta.

Henry foi até sua mãe e segurou sua mão. Por um momento eu me lembrei do que a minha mãe me disse quando eu tinha uns 10 anos de idade: “Um homem de verdade tratará sua esposa como trata a sua mãe”. Naquela época eu achava que o homem chamaria a sua mulher de mãe e essas coisas todas, mas acho que só agora eu entendi o real significado dessa frase.

— Você não quer que eu a leve pro seu quarto, mãe? — Henry disse preocupado.

Os olhos dele estavam cheios de preocupação. Eu pensei que era só uma tontura, mas decerto havia algo mais. Talvez ela fosse anêmica ou só estivesse chegando à menopausa.

— Não. Eu só preciso de um copo de água. — Ela o olhou de uma forma estranha e ele apenas assentiu. 

Sarah foi até a cozinha e pouco depois voltou e subiu às escadas.

— Você acha que ela vai ficar bem? — Perguntei.

Henry não respondeu. Apenas suspirou e balançou a cabeça positivamente.

— Então? — Ele mudou o seu humor repentinamente. — O que você pretende fazer de noite?

— O que toda pessoa normal faz: dormir. — Sorri irônica e fui na direção da escada.

— Não, não, não! Você agora é irmã de Henry Darwin! — Então o sobrenome dele é Darwin? — Vamos sair. Curtir a noite, sei lá! — Ele disse animado.

— E o que você sugere?

Ele não respondeu. Apenas sorriu e mandou eu me arrumar.

~●~

Eu sinceramente não sei o porquê de eu ter aceitado as ordens do loirinho. Claro que eu liguei para Jessica e para a Anna e pedi que elas viessem até a minha casa. Se fosse pra sair, eu não iria só com um maluco, psicopata e bipolar que provavelmente dirige muito pior à noite. 

Estava experimentando o sétimo – e provavelmente o último – vestido que tinha separado. Anna me lançou um olhar reprovador.

— Acho que não ficou muito bom. — Ann murmurou.

— Pra mim tá bom. — Cruzei os braços.

— Não. Tá horrível. — Jess se pronunciou. Ela estava olhando algumas roupas no meu guarda-roupa. — Hum… — Ela tirou um vestido vermelho da parte das roupas que eu não costumo usar. — Esse está perfeito.

O vestido era curto. Bem curto. E me parecia meio vulgar. Nem sei porque eu tenho um vestido assim.

— Não, não e não. — Tirei o vestido da mão de Jess.

— Qual é, Ryan? Quer arranjar um cara lindo pra fazer ciúmes no meu irmãozinho? Essa é a sua chance.

— Eu concordo. — Anna ergueu a mão.

Respirei fundo e me rendi.

— Tá, tá, eu uso esse.

Fui para o banheiro e me troquei. Deixei que Anna e Jessica me maquiassem – apesar de estar com medo do que elas poderiam fazer comigo. Quando elas finalmente acabaram, eu me olhei no espelho. Sabe quando você se olha no espelho e vê alguém completamente diferente? Pois é, foi isso que eu vi.

Uma Megan com um vestido vermelho curto, com os cabelos castanho-avermelhados presos em um rabo de cavalo e as ondas caindo até metade das costas. A maquiagem me deixava parecida com uma mulher, não com uma menina.

Eu definitivamente era outra pessoa.

Henry bateu na porta do quarto e entrou logo em seguida.

— Megan… — Ele arregalou os olhos. — Megan? — E franziu a testa.

— Oi… — Disse sem graça.

Ele ficou com a boca aberta por um pequeno instante, balançou a cabeça e disse:

— Pelo visto você está pronta.

— Pra onde nós vamos? — Mudei de assunto.

— Tem uma casa noturna a uns cinco quarteirões daqui… Nós podíamos ir lá. — Sugeriu Jess.

Ela tinha que sugerir justo uma casa noturna?

— Então vamos. — Henry disse por fim.

Nós saímos do quarto e Henry pôs o dedo indicador na boca, um sinal claro para que não fizéssemos barulho.

Ele tirou o carro da garagem e nos mandou entrar. Eu ainda estava meio receosa de ir, mas eram apenas cinco quarteirões.

— Então… — Eu disse no meio do silêncio. — Casa noturna…

— Você nunca foi a uma, não é? — Henry riu baixinho.

— Não. — Anna e Jessica disseram em coro, o que fez Henry rir mais alto.

Bufei e cruzei os braços.

— Henry, na boa, você parece mais uma criança do que um cara que frequenta essas coisas. — Disse irritada.

Ele soltou um riso abafado.

— Você não me conhece, Megan.

Eu fiquei calada e todo mundo no carro também, mas eu quase pude ver Anna sorrindo.

Não demorou muito e nós chegamos até a famosa boate Moonlight. Seu nome estava escrito em um letreiro enorme e em neon. Havia um segurança na frente com uma cara de durão.

— Deixa comigo. — Jessica disse para nós.

Ela foi até lá e ficou conversando com o segurança por uns cinco minutos, depois apontou para nós e sorriu para ele. O segurança olhou de nós para Jess e assentiu. Ela fez um sinal com as mãos para que nós fossemos e foi o que fizemos.

— O que você disse a ele? — Anna perguntou a Jess.

— Só contei uma boa história. — Ela sorriu.

As duas entraram na frente e eu fui atrás com Henry. Havia muita gente dançando e pulando. Tinham também os casais no canto dando uns amassos e havia um bar. O local era grande e tinha um palco onde um DJ fazia o que os DJ’s fazem. Umas mesas estavam postas fora da pista de dança e bem no fundo eu pude avistar os banheiros.

Anna e Jessica foram direto para a pista de dança enquanto eu fui sentar em uma mesa junto com Henry.

— Você não vai dançar? — Balancei a cabeça negativamente. — Você vai passar a noite inteira sentada aqui, certo?

— Basicamente isso. — Apoiei meu rosto nas mãos. — Não estou com ânimo pra “curtir a noite” — Fiz aspas no ar.

— Então tá. — Ele se levantou e foi na direção da pista.

— Ele vai me deixar sozinha aqui? — Disse para mim mesma.

— Você não está sozinha, doçura. — Ouvi uma voz atrás de mim.

— Eu te conheço? — Franzi a testa.

— Não, mas eu posso me apresentar. — Ele tentou sorrir como um galã, mas sem sucesso. — Prazer, meu nome é…

— Olha, na boa, mas eu não quero saber o seu nome, tá? — Eu o interrompi. — Eu fui arrastada até aqui — Mentira. — quando na verdade, eu só queria estar em casa, comendo besteira e assistindo alguma comédia romântica clichê que me faz chorar. — Ele tentou dizer alguma coisa, mas eu continuei. — E se você acha que eu vou dar mole pra um cara bêbado que eu nem sei o nome porque eu estou em uma situação crítica, pode tirar o seu cavalinho da chuva.

Ele olhou para mim meio surpreso – ou com ânsia de vômito –, franziu o cenho e foi embora.

Fiquei só observando as pessoas se divertirem por pelo menos cinco minutos, até aquele ser desprezível aparecer.

— Maggie. — Daron sorriu.

— Megan. — Corrigi. — Na verdade, pra você é Srta. Ryan.

— Que mal humor. — Ele sentou na cadeira em minha frente.

— Esse lugar está ocupado.

— Está agora.  

— Estava antes de você pôr a sua bunda ai.

Ele gargalhou sem humor nenhum.

— O que te traz aqui, Maggie?

— Meus pés.

Ele gargalhou novamente.

— Você…

— Eu.

— Ainda quero conversar com você. — Ele olhou nos meus olhos.

— Eu não.

— Vamos lá, Megan! Você vai ficar me evitando todos os dias?

— Esse é meu plano. — Disse entediada.

— Pelo menos me escute.

Não sei se foi o tom meio suplicante que ele usou ou a queda que eu ainda tinha por ele que me fez ficar calada e escutar o que ele tinha para dizer.

— Eu não tenho nada com a Charlotte.

Gargalhei alto. Não foi tão alto quanto à música que tocava, mas foi alto.

— Poupe-me disto.

— Estou falando sério. Quero dizer, eu não tenho nada sério com ela. Pra falar a verdade…

— Verdade… — O interrompi. — Você não tem dito a verdade para mim Daron…

— Me deixe explicar.

— Não. — Minha voz estava forte, decidida. — Não dá pra confiar em você. Eu não sei se está dizendo a verdade ou não.

— Se você me deixar falar…

— Já disse que não. — Respirei pesadamente. — Daron — Olhei no fundo de seus olhos azuis. — me esqueça.

Levantei e fui na direção do bar. Pedi a bebida mais forte que havia lá e virei o copo de uma vez só. Jessica veio na minha direção e olhou surpresa.

— Que isso, ruiva?

— Você sabia que o seu irmão está aqui? — Eu bebi mais um copo da bebida que eu não sei o nome.  Não tenho o costume de beber, por isso não me dou o trabalho de decorar nomes de bebidas.

— Ele está? — Ela fez uma cara de culpada. Eu resmunguei um “fale, antes que eu te mate” e ela se entregou. — Bem, eu disse que iria pra sua casa… acho que ele nos seguiu até aqui. — Ela deu um sorriso amarelo.

— Eu vou beber. — Disse virando o terceiro copo.

— Megan… — Era a voz de Henry. Eu vi que Anna estava atrás dele.

— O quê? — A minha voz estava embargada e eu começava a sentir o efeito do álcool no meu organismo.

— Largue esse copo. — A voz dele estava mais grossa e mais máscula. Não que ele não fosse másculo.

— Não quero. — E bebi o quarto copo.

— Pare de servir bebidas para ela. — Anna disse ao garçom, que deve ter dado de ombros e não hesitou em me servir outro copo. 

— Eu me sinto amada! — Gritei e fiquei em pé no balcão. — Beijos, meus fãs!

— Maggie, venha, você não está em si. — Henry me puxou pela cintura.

Eu olhei para ele e saí correndo para a pista de dança.

Saibam que eu não estava em mim, então, não me responsabilizo por meus atos.