Corri o mais rápido que pude e sem um rumo exato. Daron havia gritado para que eu o escutasse, mas escutar o quê? “Oi, eu estava me agarrando com a sua amiga no nosso quarto, tchau.”

Tudo bem, ele não iria dizer isso. E ela não é minha amiga.

Só parei de correr quando esbarrei em algo. Ou melhor em alguém.

— Desculpa, eu não estava olhando ai eu não te vi e esbarrei em você e…

— Relaxa ai. — Ele riu. E com “ele” eu quero dizer Scott. — Ahn, tá tudo bem com você? — Indagou.

— Por que a pergunta?

— Você está com a cara vermelha… Andou chorando? — Scott fez cara de preocupado.

— Vermelha? — Passei a mão involuntariamente no rosto. Ele riu da minha tentativa idiota de tirar o vermelho da cara. Eu sou mesmo muito idiota.

— Eu sei que eu nem te conheço direito, mas como eu sou… amigo — Pigarreou. — da Jessica, acho que posso dizer “pode desabafar”. — Eu o encarei atônita e meio incerta se ele havia dito mesmo aquilo.

— Hum… — Continuei o encarando.

— Isso foi meio gay, né? — Não respondi. Para mim, aquela foi uma pergunta retórica. — Tudo bem, às vezes eu sou meio… — Gay? — estranho.

— Ahn… — Tentei não pensar na possibilidade de Scott ser gay. Mas ele não poderia, certo? Ele havia beijado a Jess e ele era um exemplo de masculinidade… Certo? — Obrigada, Scott, mas eu não preciso “desabafar”. — Ri sem graça.

— Tudo bem… — Ele soltou um som que eu não pude identificar o que era. Talvez um espirro.

Eu voltei para o meu rumo sem rumo e continuei pensando. Sobre o que eu estava pensando?

Ah, sobre o que aconteceu no quarto. Calma Megan. Relaxa. Não perca a cabeça agora.

E ainda tem aquela desgraça de tarefa da noite. Era só o que me faltava.

Nem reparei quando parei na sala daquela casa/pensão/fazenda/sei lá o nome daquele lugar. Vanessa estava lá lendo um livro. Coisa rara de se ver.

— Vanessa. — Cumprimentei-a seca.

Ela me ignorou completamente e continuou lendo o livro.

— A educação mandou um oi. — Impliquei.

— O que você quer? — Irritou-se.

— Você sabe onde está a Charlotte?

— Não. — Ela disse sem tirar os olhos do livro.

— Quer que eu lhe diga?

— Não. — Disse entediada.

— Tudo bem, mas da última vez que a vi, ela estava no meu quarto… Com Daron. — Ela finalmente tirou os olhos do livro e me encarou. — Você sabia disso? — Uma lágrima caiu. Calma, eu não vou chorar, nem pensar. — Se vocês queriam nos separar, parabéns! Vocês conseguiram! Mas eu me admiro de você que deixou sua amiga fazer o trabalho sujo. Afinal, deveria ser você, não é?! Você que o ama, não a sua amiguinha Charlotte.

Ela me encarou incrédula.

— Não sei do que está falando.

— Não seja cínica. — Ri sem humor. — Eu sei que você queria nos separar, Vanessa.

— Eu não iria querer se você não tivesse aparecido e roubado o único garoto que eu realmente gostei. — Ela se levantou.

— Eu não o roubei, até porque ele não era seu. Nunca foi. — Vi uma lágrima se formar em seus olhos.

— Tudo bem, eu admito, eu queria separar vocês. Lógico! Eu amo o Daron e não vou desistir dele nunca. — Bateu os pés.

— Pra você ver como é o egoísmo das pessoas, né?! Queria tanto o garoto que foi até o nível mais baixo possível. Tenho nojo de você. — Disse sinceramente.

— Do que você está falando? — Ela começou a chorar. — Eu não disse pra Charlotte fazer nada! Eu não fiz nada! — Choramingou.

— Ela diz a verdade. — Uma voz ao fundo disse.

— Charlotte. — Vanessa enxugou as lágrimas.

— Diz pra sua amiga o que você fez. — Incentivei.

— Eu até diria que não fiz nada, mas — Ela deu um sorriso maligno. — acho que está na hora dela saber.

— C-Como assim? — Vanessa gaguejou.

— Eu cansei, Vanessa! Cansei de ser seu capacho, de rir das suas piadinhas ridículas e pra quê? Pra ser aceita? Pra ter UMA amiga? Não, Vanessa eu quero ter várias amigas e eu descobri que se eu for sua amiga, isso não vai acontecer. Então eu decidi seduzir o namoradinho da Megan. Inteligente, não? — Ela gargalhou.

— Mas Char, você sempre foi tão prestativa.

— Prestativa? Eu tava cansada de ser invisível. Achei que sendo sua amiga isso iria mudar, mas você resolveu deixar de ser amiga da irmã do garoto mais popular da escola, então eu passei esses últimos dias bolando o meu humilde plano.

Eu juro que poderia jogar um vaso na cabeça dessa garota.

— E você, Megan? Está triste porque eu consegui o seu homem? — Ela sorriu vitoriosa. — Sabe, na verdade, você era apenas um passatempo, ele me disse que ia te despachar mais cedo ou mais tarde.

Despachar?

— Char, eu não acredito que você fez isso comigo! Nós éramos amigas! — Vanessa exclamou.

— Nós nunca fomos amigas, Vanessa. — Ela disse séria.

Acho que estava na hora de acabar com aquilo.

— Tudo bem, Charlotte. Você venceu. — Eu disse por fim e sai daquele lugar.

Mas claro que eu não ia ficar desse jeito. Eu só preciso de uma pequena ajudinha e acho que sei de quem.

Fui o quarto de Jessica e Scott e entrei sem bater. Mas claro que eu deveria ter batido, afinal Scott estava só de cueca enquanto Jessica estava sentada na cama com um sorriso safado no rosto. Nunca pensei que a minha amiga santinha fosse capaz de algo assim.

— D-Desculpa. — Gaguejei e ergui as mãos.

Eles se viraram para mim com expressões tipo: “não era mesmo pra você ver isso”.

Okay, eu sou uma pessoa mal educada de não bater na porta do quarto dos outros.

Scott colocou as mãos em cima das partes baixas como se eu não fosse ver o que tinha embaixo. Claro que eu não estava olhando. Tinham coisas mais importantes na minha cabeça.

— E-Eu preciso falar com vocês.

Jessica assentiu e Scott foi colocar uma bermuda.

— Eu vi o seu amigo — Olhei para Scott. — com a Charlotte. E eles não estavam simplesmente conversando ou coisa do tipo. E eu estou com raiva. E quero me vingar. — Sorri maligna.

— Que tipo de vingança? — Scott perguntou com a mão no queixo.

Sorri para Jessica. Ela com certeza entendeu o que eu quis dizer.

— Tudo bem, Maggie, nós vamos te ajudar, né não? — Cutucou Scott e ele assentiu meio confuso. — Primeiro vamos falar com a Castelli pra ela trocar as duplas.

Scott a olhou completamente confuso e ela pôs sua mão no ombro dele.

— É só até amanhã. — Ela fez cara de cachorrinho que caiu da mudança.

Ele deu de ombros e disse:

— Tudo bem, vamos falar com a Castelli.

Nem preciso dizer que a Jessica fez a mesma cara para a Srta. Castelli, alegando que precisava mudar de parceiro, pois não achava certo ter que dormir no mesmo quarto que ele. Eu sei, ridículo – e claro que a Jess não se importaria de dormir no mesmo quarto que Scott. Mas a mulher se convenceu e nos mandou falar com o técnico. Ele nos encarou meio incerto, mas no fim cedeu e nos mudou de parceiro. Scott tirou as minhas coisas do quarto de Daron e levou até o meu novo quarto.

[…]

Estávamos no meio da floresta apenas com uma lanterna e um pedaço de papel. Nem lembro o que tínhamos que fazer ali. Estávamos mais preocupadas comigo do que com as cobras ou aranhas que poderiam habitar aquele lugar.

— Calma, Maggie, nós só precisamos de mais ajuda. — Respirei fundo.

Só isso. E só precisamos de um garoto mais bonito que Daron. E só precisamos que ele se apaixone por mim ou que tope – por pura vontade de ajudar o próximo – namorar comigo. Só isso.

— Onde nós vamos achar um garoto disposto a ser “usado”, Jess?

— Sei lá! Um amigo do Scott… — Ela sorriu de orelha a orelha.

— Não.

— Mas…

— Não. — Apontei a lanterna para o seu rosto e ela estreitou os olhos. — Pode ser o carinha que trabalha na lanchonete ou então o manobrista de um restaurante ou um cara da universidade. — Disse.

— Manobrista? Sério? — Ela ergueu as sobrancelhas.

— Eu topo. — Encolhi os ombros.

— Não, Maggie, tem que ser um garoto com a aparência séria e sedutora. — Ela sugeriu. — Relaxa, ruiva. Vai ser moleza! — Revirei os olhos. Eu não sou ruiva e não vai ser moleza.