Meu folego já tinha voltado ao normal, porém minha pele ainda ardia, minha mão sangrava devido ao meu tombo, no espelho eu via uma garota com a mão ensanguentada e pânico no olhar.

– Silena? Silena? – Esme batia na porta. Rapidamente peguei no armário do banheiro uma gaze e enrolei sem me importar com a dor que eu sentia, também troquei a blusa por uma de manga longa branca a preta, onde podia esconder minhas mãos tranquilamente. Minha mãe já arrombava a porta quando eu finalmente abri.

– Sim, mãe? – Respondi dando um sorriso amarelo.

– Porque essa demora? Bem, não importa, os Black nos convidaram para um jantar na casa deles hoje as 09h00min.

– Ok.

– Perfeito, esteja pronta as 07h00min. – Ela saiu do quarto animada, como se fossemos uma família perfeita.

Assim que ela saiu, me joguei na cama, sumindo entre os travesseiros. Não sei quanto tempo passei ali, sentindo minha mão latejar e encarando o desenho de pássaros na parede acima de mim, me lembro de quando era menor e tinha um pesadelo, ficava olhando o desenho dos pássaros desejando que eles me levassem para um mundo perfeito. Logo as horas se passaram, não estava com muita vontade de me arrumar, coloquei um vestido preto básico, com uma sapatilha rosa, por fim peguei minha bolsa com a estampa da Inglaterra, país que sempre sonhei conhecer.

Desci as escadas esperando na sala, Edward falava ao telefone, nervoso, quase gritava com a pobre pessoa do outro lado da linha. Logo Cathy desceu com um vestido amarelo, sapatilhas rosa e uma bolsinha clutch. Meu pai já parecia cada vez mais nervoso, tanto com o atraso de minha mãe, quanto com a conversa no celular.

Entramos todos na gloriosa BMW preta, o caminho não era longo, mas o habitual clima tenso entre meus pais era o suficiente para adicionar alguns quilômetros a mais no trajeto. Enquanto o carro corria pelas ruas, Esme ditava silenciosamente o clima de família perfeita, segundo ela nossos problemas existiam apenas entre os muros de casa, ao meu lado Catherine trocava mensagens freneticamente com um alguém qualquer. Liguei minha musica, em aleatório, a primeira era Paradise, Coldplay, aquela musica descrevia o meu momento, tudo que eu queria era fugir para o paraíso.

*** *** ***

A casa da família Black era grande de mais pra uma família de cinco pessoas, logo todos conversavam tranquilamente na sala, não que a família Black não fosse interessante, mas sai da sala na primeira oportunidade que eu tive, porém me arrependi ao aventurar-me a achar o banheiro, na quarta porta já pensava seriamente em segurar e esperar a volta pra casa, mas uma sala me chamou a atenção. Nela havia apenas um piano, não qualquer piano, mas um piano de cauda belíssimo, a sala estava iluminada apenas pelos fracos raios de lua que entravam pela janela, não vi nenhum indicio tinha luz elétrica, e a julgar pela quantidade de velas e castiçais não havia mesmo. Fiquei um tempo contemplando a beleza do piano a sob o luar, gostaria de poder ver alguém tocando ali, apenas a luz de velas, cheguei até a poder ouvir o som das teclas formando uma melodia calma, fechei os olhos me concentrando no pianista e sua musica imaginária, mas a sensação de que aquele lugar estava mais claro me fez voltar à realidade. A surpresa foi tão grande que tive que piscar várias vezes pra ter certeza que aquilo não era um dos meus pesadelos, todas as velas do local estavam acesas, as chamas iluminando o local, minhas mãos estavam quentes e as pontas dos meus dedos ardiam. Apenas corri, deixando o local.