Às vezes gostaria que minha vida fosse um conto de fadas. Onde eu morasse em um castelo, lindo, com flores e borboletas. Muitas borboletas. Onde meus pais me amassem e estivessem ao meu lado sempre que eu precisasse. Onde eu pudesse ser feliz com amigos e família. Onde nada de ruim acontecesse. Onde o conto de fadas fosse real. Eu conheceria um príncipe e me casaria com ele, teríamos uma família linda e feliz. E melhor, viveríamos felizes para sempre.

Mas a vida não é assim, nem chega perto disso. Minha família pode ter uma casa bonita e passar para sociedade a imagem de família perfeita, mas de longe somos uma.

Meu pai era o prefeito de Londres, um cargo muito importante, imagino. Porém não faço ideia do que ele faça na cidade. Minha mãe era dona de uma das melhores grifes de roupas do país. Meu irmão mais velho era como eu, não se importava com nada que dizia a respeito de nossa família, assim como eles faziam conosco.

Harry era um ano mais velho que eu. Era alto, bonito e inteligente. Tudo que qualquer garota gostaria, mas a maioria era um bando de interesseiras que apenas se importava com o que conseguiriam se saíssem com ele.

Eu tinha mais um irmão, ele era três anos mais novo que eu, se chamava Dean. Ele era o filho que meu pai sempre quis. Mostrava-se interessado pelo trabalho dele e fazia de tudo para que papai se sentisse orgulhoso dele.

Já eu? Chamo-me Annelise Campbell. Não sei o que meus pais tinham na cabeça ao decidir meu nome, mas algo bom não era. Eu tinha os cabelos castanhos, herdados de meu pai, eram ondulados e compridos. Indo até quase na cintura. Os olhos de um verde quase cinza. Uma cor anormal, de fato.

Meu rosto era fino, os lábios eram rosados e me atrevo a dizer que até eram bonitos. E qualquer um que me visse na rua, diria que eu tenho cara de patricinha arrogante. Como estavam enganados.

Eu podia estudar em um dos melhores e mais caros colégios de Londres, usar o dinheiro dos meus pais para comprar roupas e me divertir. Além, claro, de ser arrogante, mas patricinha era algo que eu não sou e nunca pretendo ser.

Estávamos agora no Museu de História Natural, onde estavam inaugurando uma nova ala. Não me pergunte qual, pois não faço ideia. Meus pais me davam a liberdade que eu gostaria, mas em eventos importante eu teria que estar ao lado deles, fingindo que somos a família perfeita.

Por isso, eu estava sentado ao lado de Harry, que usava terno, enquanto ele falava coisas engraçadas ao meu ouvido. Nossas risadas eram baixas, na maioria das vezes disfarçadas e apenas as pessoas próximas a nós poderiam notar isso, mas se notaram, não falaram nada.

O discurso de meu pai estava demorando demais e tanto eu, quanto Harry já estávamos entediados. O vestido que eu usava hoje minha mãe havia feito apenas para a ocasião. Era bonito e não muito comprido, o que de fato, era praticamente um milagre.

http://www.polyvore.com/cgi/set?id=71104313&.locale=pt-br

Ouvi todos batendo palmas e em seguidas eles se levantaram. Obrigada! Não via a hora de que meu pai terminasse esse discurso. Como família, eu Harry e Dean, nos levantamos e fomos até onde estavam nossos pais. Assim que nos juntamos a eles, vários flashes se fizeram presentes. Espero em pelo menos algum não ter saído com cara de tédio, mamãe me mataria.

Entramos na limusine e fomos para casa. A mansão Campbell, como é conhecida pelo resto de Londres é linda, isso eu não posso negar. A fechada, o estilo, tudo completamente impecável, passando, mais uma vez, a ideia de família perfeita.

http://4.bp.blogspot.com/_1Wf45CK4_fQ/TCoAHhE5-3I/AAAAAAAAAAk/Xa4ochqcwVo/s1600/fotos-de-casas-de-luxo-mans%25C3%25B5es-luxuosas-3.jpg

Entramos em casa e cada um seguiu seu caminho. Meu pai foi ao escritório, minha mãe ao quarto, provavelmente trocar de roupas, já que não suportava usar a mesma por muito tempo. Harry para seu quarto e Dean, para o dele. E eu? Corri as escadas em direção ao meu quarto, na esperança de trocar de roupa e achar algo para se fazer em um sábado a tarde.

O quarto em tons de rosa claro e branco, era lindo. A cama de casal no centro do quarto. Criados mudos, cada um com um abajur, um com um porta retrato onde havia um foto minha e de Harry e outro com um telefone fixo. Aos pés da cama um sofá pequeno.

No quarto havia quatro portas. Uma de entrada e saída. Outra que levava a um banheiro igualmente luxuoso. Outra que levava a um closet enorme e repleto de roupas. E a ultima que me dava uma vista linda de Londres. E mesmo que a casa fosse um pouco afastada da cidade, eu ainda podia admira-la.

Duas poltronas ao lado de uma estante lotada de livros. Eu amava ler. Era um ótimo passatempo. Uma escrevinha com mais alguns livros, cadernos e outros materiais para estudo. Sem contar, um notebook desligado.

Havia um mural, ele estava há menos de dois meses no quarto, mas já estava lotada de fotos. Fotos minhas com meus amigos, parentes, meus pais e meus irmãos. Apesar de tudo, eu os amava. Eles eram parte da minha família. Sem contar Harry, que era o melhor irmão que eu poderia querer.

Por fim, decidi o que iria fazer. Desci até a sala de TV e procurei o filme que eu queria na prateleira lotada de DVD’s. Procurei um em especial, mais não o achei em lugar nenhum. Procurei a governanta e pedi pelo filme, mas ela disse que Dean havia emprestado para o amigo. Bufando, fui para o quarto, a fim de tomar banho e ir alugar o filme em uma locadora qualquer.

Tomei um banho rápido e me arrumei. Estava frio, em casa pelo menos tinha aquecedor. Suspirei em derrota ao colocar o gorro e pegar o sobretudo e um cachecol.

http://www.polyvore.com/cgi/set?id=71112260&.locale=pt-br

Quando estava passando pela sala, ouvi a voz de minha mãe perguntando:

– Vai sair?

– Sim. Dean emprestou meu filme favorito para algum amigo dele, estou indo alugar.

– Você precisa assistir outros filmes, querida. Tem tantos bons aqui em casa.

– Eu sei, mãe. Apenas estou com vontade de assistir aquele – dei de ombros e ela sorriu.

– Tudo bem, mas tente não demorar, sim? Se mudar de ideia, nos ligue, por favor.

– Pode deixar – respondi sorrindo.

Saí pela porta e pedi que o motorista me levasse para a locadora mais próxima. Podia ir andando, mas estava muito frio. Entrei no carro e apoiei minha cabeça na janela enquanto observava as casas.

Não demorou muito e o carro parou em frente à locadora, eu desci e pedi ao motorista que me esperasse. Entrei no ambiente pequeno e quente agradecendo internamente. Mal coloquei os pés no lugar e meu celular começou a tocar. Pelo toque especial, só podia ser uma pessoa.

– Alice – falei ao atender o telefone.

– Oi. Só para avisar que eu já cheguei à cidade – falou rindo.

Alice Mitchell, minha melhor amiga desde sempre. Ok, nem sempre. Até a sexta série nós nos odiávamos completamente. Desde que eu ajudei ela a bater em uma garota nos tornamos melhores amigas. Fazemos tudo juntas desde aquele dia. E hoje somos as garotas mais populares do St. Paul’s High School, junto com Lena, claro.

– Isso é sério?

– Sério, mas minha mãe não me deixou sair hoje. Então amanhã você irá sair comigo, entendido?

– Perfeitamente.

Continuei conversando com ela e eu achei o filme. Harry Potter e o Enigma do Príncipe em 3D, era o último. Corri até lá e peguei ao mesmo tempo em que um garoto.

– Desculpe, mas eu peguei primeiro.

– Não, eu peguei – ele falou e pelo sotaque pude perceber que era americano.

Não que eu odeie americanos. Eles são legais, com seus vícios e modo de falar, são interessantes para ficar uma vez ou outra – desde que estejam na cidade por pouco tempo – mas às vezes eles são irritantes.

O garoto até que era bonito. Era mais alto que eu mesmo eu estando de salto. Tórax largo. Cabelos pretos cacheados e olhos castanhos escuros, quase pretos. Ele daria uma boa diversão.