POV AMY

O tal de Travis me olha magoado, como se eu tivesse acabado de partir seu coração... E isso está me destruindo por dentro.
Não sei, ver aqueles olhos azuis acusadores... Sinto que estou sendo fuzilada. Acho que ele está com raiva de mim e eu nem sei o porquê.
Luisa, aquela que se diz minha irmã, desistiu de ir para o “Acampamento” – e eu sei lá que raio de acampamento é esse – depois de falar com uma garota bonita por um arco-íris. Eu acho que estou ficando maluca e os dois insistem em não me explicar nada. Na verdade, Travis não fala comigo desde o tapa que eu dei em seu rosto por tentar me beijar.
Essa sensação é horrível, sinto que não posso confiar em ninguém. Como saberei se ela é mesmo minha irmã?
Estamos caminhando há duas horas e minha cabeça ainda dói:
- Luisa, onde estamos indo?
- Você vai ver – ela diz com um olhar distraído.
Chegamos finalmente há um lugar descampado com um trilho de trem e algumas pequenas pedras.
Luisa se agacha e coloca a mão na terra. Ela sorri e se vira para nós:
- Preparem-se!
- Para que? – diz Travis para minha surpresa.
- Vamos saltar.
Sinto o chão tremer e então entendo o que ela quer dizer. Vamos saltar para dentro de um trem em movimento.
Meu deus, essa doida quer realmente que eu faça isso?!
Eu devia ir embora, fugir desses dois lunáticos, mas alguma coisa me fazia ficar. Talvez a sede das respostas que eu precisava e eles pareciam ter.
Vislumbro uma luz no horizonte e sei que é o trem chegando. Sinto minha espinha gelar.
- Eu primeiro! – ela grita, já que o barulho do trem não permite que falemos em tom normal.
O trem chega perto e ela começa a correr. Travis logo depois, então faço o mesmo.
Luisa salta. Então Travis. Corro tudo o que meus pés cansados permitem e sinto os ventos carregando meus cabelos. Eu me sinto livre.
Então, eu fecho os olhos e jogo o meu corpo para direita. Já estou dentro do vagão. Minhas pernas tremem tanto e quando estou prestes a suspirar aliviada, perco o equilíbrio. Grito. Acho que vou cair quando sinto algo me segurar pelo pulso.
Engulo em seco e tento descobrir o que me segurou. Olho nos olhos de meu salvador: Travis.
Ele segura minha mão com força, me amparando. E nós nos encaramos por um milésimo de segundo. Sinto a eletricidade correndo de minha mão para a dele. Então ele me puxa para dentro e eu caio desajeitada.
Quando torno a olhá-lo, vejo que nada mudou. Ele continua com o olhar frio e machucado.
***
POV Sam
Hoje de manhã eu falei com a Luisa por uma mensagem de íris. Ela me disse que Amy estava bem a não ser por um porém. Mas ela não disse o que havia de errado, só disse que eu iria ver e que eles estavam indo para o Acampamento, mas nós precisávamos de Amy. Ela ficou um tempo no esconderijo daqueles monstros o que poderia nos ajudar com a missão. Fora que nós estávamos morrendo de saudade. Eu tinha que vê-la respirando de novo para poder dormir tranquila.
- Então Sammy, vai dar a noticia pro grupo que eles estão voltando? Connor parece um cachorrinho perdido sem aquela Luisa lá – diz Nico sarcástico.
- Como consegue ser tão insensível? – digo tentando ficar com raiva, mas quando se trata de Nico, eu simplesmente não consigo ficar brava.
Ele se joga no sofá ao meu lado e eu encosto a cabeça em seu ombro enquanto ele beija minha testa.
- Não tente me enganar Srta. Eaton, eu vi um sorriso no canto desse seus deliciosos lábios. Posso ser sínico, mas faço você rir – ele da um sorriso torto.
- É que por mais que você seja um sínico malvado e sem graça, você é o meu sínico malvado e sem graça – retribuo o sorriso.
Lais volta para sala com a caneca de gatinhos cor-de-rosa que eu costumava gostar quando tinha uns sete anos.
- Opa, estou atrapalhando algo? – ela solta seu risinho de fada.
- Na verdade... – começa Nico.
- Não, não está. Sente-se – eu o interrompo com uma expressão de desaprovação para Nico.
- Onde está o Clark? – Nico pergunta me ignorando.
- Ele subiu pra se trocar depois do bullyng que vocês fizeram com ele – Lais diz.
- Uma pena, ele estava um pedaço de mau caminho naquela camiseta apertadinha – diz Nico com uma voz esganiçada, imitando as garotas (ou garotos que querem ser, vai saber né?)de Afordite.
Nós duas rimos e eu peço a Lais que reúna todos no jardim para uma noticia importante quando ouvimos a campainha tocar.
Caminho até a porta e giro a maçaneta.
Travis, Luisa e Amy estão ofegando em minha porta. Travis e Amy estão muito separados e com Luisa no meio deles. Estranho, pensei que eles nunca mais fossem se desgrudar depois disso. Luisa parece meio sem graça, Amy parece muito confusa e Travis parece... sei lá, chateado.
Meu primeiro reflexo é abraçar Amy. Estou tão aliviada! Ela está bem. Ela está viva!
Seu corpo está mais magro, de forma que consigo sentir suas costelas. Ela não retribui o abraço, mas eu não a culpo. Deve estar cansada, afinal, ela estava morta.
Eu os convido para entrar. Os três não disseram uma única palavra a mim até agora.
- Samantha, precisamos conversar – diz Luisa um pouco séria.
Nico entra no saguão um pouco desajeitado:
- Quem era?
Ele cruza o olhar com os três em estado deplorável, parecem exaustos e Amy está com as vestes ensangüentadas e rasgadas, as mesmas do dia que ela foi seqüestrada.
Alguma coisa em Amy parece despertar assim que ela vê Nico. Ela arregala os olhos e abre um sorriso de orelha a orelha que nem eu recebi.
Ela corre a seu encontro e o abraça. Ei, espera... What? Amy ignora todos á sua volta.
- Nico! – ela suspira e o envolve em um abraço.
Então ela faz uma coisa que me surpreende ainda mais: ela o beija. E não é um simples beijo na bochecha, do tipo amigos. É aquele beijo de novela, que tira o fôlego entre a mocinha e o galã. Um beijo apaixonado que me deixa completamente paralisada. Meu queixo praticamente cai.
Consigo ver pelo canto dos olhos Travis exatamente como eu.

Por alguns segundos, Nico apenas fica paralisado, os olhos arregalados, as mãos levantadas.
E então a empurra.

-Você ficou maluca? - ele grita, enquanto Amy o olha triste e confusa.
-Você sabe muito bem que eu namoro a sua irmã, vulgo: melhor amiga! - ele continua.
Amy engole em seco e sinto que ela está com vontade de chorar.
A morena enterra o rosto em suas mãos enquanto o leve balanço de seus ombros indica que, sim, ela está chorando.

Travis está aturdido, ele faz o máximo para não transparecer, mas seu maxilar tremendo entrega todas as cartas.

Nico suspira.
Parecendo arrependido de ter gritado.
-Olha, eu sinto muito, não queria ter gritado, mas QUE PORRA VOCÊ TEM NA CABEÇA, AMY CLAIR GILBERT?
Ela arregala os olhos,e abre a boca parecendo mais confusa ainda.
-Você namorou minha melhor amiga enquanto estive fora...– ela sussurra para si mesma, como se estivesse tentando processar – Quem é ela? - ela pergunta.

Luisa põe a mão direita na testa enquanto a balança levemente.
Como eu me fodo lindamente quase sempre, todos na sala me olham discretamente, porém, é possível notar que estão olhando para mim.
Eu coro levemente, mordendo o lábio inferior.
(Faço isso quando estou nervosa,e Nico acha super sexy '-')

-Você?! - Amy da uma espécie de soluço gritado - Você é minha melhor amiga?Mas eu nem mesmo conheço isso! - O jeito como ela fala "isso" me faz estremecer, tem tanto desprezo e repulsa envolvidos em uma só palavra que chega a ser doloroso.

Ela bufa e esfrega seus olhos tentando esconder as lágrimas descendo.
- Alguém podia explicar o que está acontecendo? - ela pergunta, com as mãos na cabeça.

Eu, Nico, Amy olhamos para Luisa e Travis que parecem tão confusos quanto nós.
- Precisamos conversar - diz Travis, com um tom autoritário.
***
- Amor, vai ficar tudo bem - diz Nico enquanto acaricia minha cabeça em seu colo.
Eu estou terminantemente preocupada com Amy.
Não a vejo desde que Travis e Luh contaram a história e talvez não a veja tão cedo. Ela saiu correndo escada acima, chorando.
-Como você tem tanta certeza? – eu pergunto enquanto Nico acaricia meu rosto.
Ele beija a minha bochecha.
- Eu só sei.
- Olá, meninos - diz vovó, entrando no quarto em passos doídos.
- Oi, vovó.
-Falamos, em uníssono.
-A senhora quer se sentar? - pergunta Nico.
Vovó assente.
Nico levanta, preciso, enquanto segurada delicadamente o pulso frágil de minha vózinha e a guia até a cama.
-Obrigada, querido.
-Ela agradece.
Eu não posso deixar de sorrir ao ver a cena, apesar de todo, Nico é gentil.
-Vou direto ao ponto: sei que estão confusos, e sei que é difícil.
Mas vai dar tudo certo.
Eu suspiro.
-Acho que devemos confiar na opinião de uma senhora de 87 anos.