Imperfeitos escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 5
III — Só


Notas iniciais do capítulo

Unknown já está começando a brincar de Deus e está controlando a vida de Oliver e seus amigos. Isso é só o começo, ele/a está disposto a brincar com este grupo de jovens por um bom tempo.



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O desespero de receber uma mensagem falando que, se ele não terminasse o namoro, sua namorada morreria fez com que Oliver ligasse desesperadamente para seus amigos, mas não conseguiu falar com nenhum dos dois. Ele estava tendo um péssimo pesadelo, então resolveu ir dormir. Sua irmã já estava cochilando no sofá. Com toda delicadeza ele a levou para sua cama, foi para seu quarto, checou algumas coisas no seu fiel computador, ligou o ventilador de teto e foi pra cama. Fosse quem fosse Unknown, ele/a realmente estava conseguindo deixar Oliver de cabelos branco.

Aquela manhã de domingo havia começado há algumas horas. Os pais de Oliver já estavam a algum tempo fazendo barulhos pela casa, o menino, que já estava acostumado, não acordou com isso. Mais alguns minutos sonhando com seus amigos fez com que ele acordasse de bom humor.

Alimentar os animais de estimação foi à primeira coisa que ele fez pela manhã. Depois de ouvir discursos sobre seu desleixo ele desceu até a cozinha, pegou uma xícara de café, foi ao quarto de sua irmã e deu um beijo em sua testa. Depois voltou ao quarto e ficou trancado lá até ouvir sua mãe esmurrar a porta chamando-o para o almoço. Assim que acabou de almoçar, voltou para o seu quarto e começou a encarar seu celular. Assim, lembrou-se da mensagem que tinha recebido na ultima noite. Abriu a mensagem e ficou pensando em várias possibilidades de quem podia ser Unknown, mas sempre que chegava perto de uma resposta, alguma evidencia provava que não. Ele estava preocupado com Natalia, ele não podia ficar 24horas ao lado dela mesmo trocando mensagens de texto a cada 10 minutos.

As horas daquele domingo estavam passando mais do que rápidas, a noite não demorou muito a chegar e Oliver a cada segundo estava mais preocupado. Ele não queria terminar, ao mesmo tempo em que queria. Ele se sentia preso em Natalia por algum motivo. Ele queria fazer isso antes do próximo domingo. Ele tinha menos de uma semana pra pensar em como fazer isso e ele não conseguia nem sair da cama, quanto mais pensar em como terminar um namoro de quatro anos. Apesar da preocupação, ele queria ver Natalia bem.

***

Naquela mesma noite Matth estava fumando com alguns amigos em uma conhecida praça da cidade litorânea aonde viviam. Por incrível que pareça, naquela noite ele só estava fumando alguns cigarros roubados da Vogue e não havia bebido nada.  “Quando é que tudo voltará a dar certo?” Pensava consigo mesmo, até ser surpreendido por algum garoto que sentou ao seu lado, tomando sua atenção, mas logo aquilo foi substituído por seus pensamentos.  Ele havia ficado descontroladamente depressivo ao lembrar-se do seu ex-namorado que estava morto. Ele não queria passar por isso, não agora. Unknown já estava dando dores de cabeças suficientes a ele.  Pediu a garrafa de vinho a um dos garotos da roda onde ele estava. Assim que ia dar o primeiro gole seu celular vibrou em seu bolso esquerdo, dando-lhe um nó na garganta.

“Seu amigo vem escondendo um sentimento e fingindo outro há muito tempo. Reclamar de dissimulação ao mesmo tempo em que se é dissimulado é uma ótima maneira de acabar morto.”

Ele rangeu os dentes e guardou o celular desesperado enquanto sorria disfarçadamente para disfarçar o nervosismo e olhava pro lado pra ver se havia alguém mexendo no celular, mas havia várias pessoas fazendo isso e nenhuma parecia ser Unknown.

Ele havia pensado em três pessoas, e nenhuma dessas era o verdadeiro “Amigo” citado por –U. Ele estava novamente preso nos seus pensamentos no meio daquela multidão e um barulho de adolescentes bêbados e drogados. Ele se levantou e sem ao menos se despedir começou a correr pro caminho de sua casa. Ele corria tanto que suas chaves caíram do bolso. Com medo de acontecer o mesmo, assim que pegou suas chaves levou-as, junto com seu celular, na mão, até metade do caminho, quando o aparelho voltou a vibrar.

“Preciso te ver, agora. Encontre-me atrás do parque ecológico. Está fechado, mas sei entrar. — Anthony”.

Ele se aliviou um pouco, mas ficou curioso em saber o que poderia estar acontecendo. Logo mudou seu caminho e começou a correr em direção ao lugar ao qual seu amigo havia lhe convocado.

***

Anthony havia mandado a mesma mensagem estranha a seu outro amigo. Ele precisava falar com os dois e parecia ser urgente. Oliver pensou em alguma desculpa pra sair de casa em um domingo à noite. Disse que iria comprar algum fast-food para comer, perguntou se alguém queria algo e conseguiu sair facilmente. Ele estava com seu moletom exageradamente largo de uma das suas bandas favoritas, The Pretty Reckless, uma calça antiga e um par de sapatos sujos, porém bastante novos.  O parque era um pouco perto de sua casa e por sorte, havia uma lanchonete do McDonald’s bem próxima, assim poderia se livrar muito fácil dos questionamentos.

Oliver estava chegando ao lugar marcado, de longe ele já via uma sombra escura que ele tinha certeza ser o garoto que havia o solicitado ali. Logo eles se encontram e apertaram a mão um do outro. Anthony não quis adiantar o assunto, só abriria a boca depois que o outro menino chegasse. Oliver ficou preocupado, ele não tinha noção nenhuma do que estava acontecendo, mas logo o outro menino chegou e Anthony começou a andar. Sem entender nada os outros dois o seguiram até chegar a uma barra de ferro da grade do antigo parque ecológico no qual Matth e Oliver costumavam passar horas e horas brincando.

— Eu não passo por este buraco! Vou entalar. — O dramático menino disse enquanto encarava o buraco que era iluminado pela luz do flash da câmera do celular de Anthony.

— Você é o mais magro de todos nós, Matth. — O menino de pele pálida que parecia ser bronzeada pela cor de jambo encarou seu amigo que o questionava com o olho.

Os três passaram a barra de ferro e caminharam até a parte onde havia os antigos brinquedos que ainda eram usados por crianças durante as tardes nebulosas daquela estranha cidade do litoral. Às vezes se ouvia alguns bichos noturnos como corujas ou até mesmo os patos e gansos na lagoa indignados com aquela luminosidade que os três produziam.

 Assim que acharam um brinquedo que parecia um casco de uma enorme tartaruga, passaram por dentro das circunferências que lembravam janelas, sentaram e logo começaram a falar. Antonhy começou a ler a mensagem em voz alta e logo em seguida Matth pegou seu celular e acabou de ler a mensagem junto ao amigo, sem entender bulhufas daquilo logo se questionou aos amigos.

— Mas que porcaria é esta? Vocês só podem estar brincando comigo. — Ele olhou para o chão franzindo o cenho.

— Não somos nós, é Unknown. — Disse Matth indignado seguido por um suspiro desanimador.

— E ele, ou ela, seja o que for esse inferno, está brincando com todos nós.

Por alguns segundos o silencio tomou conta naquele parque.  O crepúsculo já havia terminado há algumas horas, as enormes árvores impediam a luz da lua ou até mesmo dos postes na rua a chegarem até dentro do parque com facilidade. Estava bastante escuro e os três estavam começando a ficar com medo de Unknown ter seguido-os.

Pensando no quão ruim Unknown poderia ser e depois de se questionar muito sobre se devia ou não, Oliver tirou o celular do bolso, abriu na ultima mensagem de texto que havia recebido de Unknown e mostrou aos amigos.

“... Ou terminarei com a Namorada” Os dois amigos repetiram as palavras daquela estranha fase enquanto tentavam recuperar o fôlego por conta do apavoramento.

— Se. — Matth parou e pensou, respirou fundo e continuou. — Se Uknown quer que você termine com Natalia e contou a mim e ao Anthony que você está fingindo sentimento, quem é a verdadeira por qual você sente algo? — Matth disse indignado e com o cenho franzido.

Oliver ficou sem palavras e desviava o olhar de Anthony, ele mal conseguia assumir pra si mesmo que estava apaixonado pelo seu melhor amigo, não conseguiria assumir para o mesmo, ainda mais com Matth do lado. Ele sem ter alguma resposta logo abriu a boca e disse a primeira coisa que lhe veio à mente.

— Isso não importa. — Ele riu olhando pro chão enquanto suas mãos soavam por timidez. 

— E o que importa?  — Anthony o questionou.

— O que importa? — ele acenou negativamente com a cabeça e disse enquanto se levantava preparando para passar pelo mesmo buraco que entrou. — Importa que minha namorada pode parar a oito palmos de profundidade como Lewis — ele olhou pra Matth — e como o Paul. Agora preciso ir, vejo vocês amanhã no mesmo lugar de sempre.

Os amigos o deixaram-no ir sem mais nenhuma pergunta, mas ainda estavam com várias duvidas sobre o que estava acontecendo. Os garotos não podiam culpar Oliver, ele também estava muito confuso em relação àquilo tudo. Unknown estava tentando atingi-lo pelas pessoas que ele amava.

O menino já estava quase chegando a sua casa, ele trazia em uma das mãos uma pequena sacola de papel com o que comprara pra comer. Estava tão ansioso e nervoso com aquilo tudo que a cada passo ele amassava as bordas da sacola tentando se livrar daquela angustia de algum modo.

Agora, a única coisa em que ele conseguia pensar era em como ele iria terminar com sua futura ex-namorada. Ele podia simplesmente inventar alguma desculpa ou falar que não queria mais continuar com aquela relação, a única coisa que ele não pensava em fazer era contar a verdade. Ele e seus dois amigos já estavam correndo risco demais, não poderia envolver Natalia no meio disso tudo, afinal, fosse lá quem fosse Unknown, ele/a devia ter problemas com aquele grupo de amigos, ou simplesmente não teria mais nada a fazer e resolveu ficar infernizando a vida de adolescentes.

 O menino de cabelos sobre os olhos já não sabia por quanto tempo mais aguentaria esconder aquilo tudo, por quanto tempo aguentaria jogar os perigosos jogos de Unknown ou por quanto tempo ainda viveria.  Ele não pensou duas vezes antes de decidir que terminaria com Natalia. Talvez Unknown estivesse fazendo apenas um favor a ele, obrigando-o a fazer algo que o seu inconsciente já quisesse fazer a semanas. É claro que ele não queria ver Natalia sofrendo ou coisa assim, mas talvez assim ele parasse de negar aquele sentimento. Ele negava tanto aquele sentimento a si mesmo que deixava bem claro que ele realmente não queria sentir aquilo.

Aquele tempo de noite que restava antes de um novo dia foi tão moroso que Oliver cochilou enquanto acabava de ler Manfelos*. Ele havia se esquecido de colocar seu despertador pra tocar e não teve nenhuma oportunidade para despertar, lembrar-se e colocar algo para acordar-lhe para ir à escola na manhã que não demoraria muito a chegar. Naquele espaço de tempo em meio ao vão, ele acordou a umas cinco e cinqüenta da manhã, mas como em sua cidade estava em horário de verão e o céu ainda estava completamente escuro, ele voltou a dormir. Uns vinte cinco minutos depois o garoto acordou assustado, olhou para o radio relógio em seu antigo criado mudo e deu um pulo da cama. Enquanto ele vestia seu uniforme e escova os dentes, ele rezava para que seu pai ainda estivesse em casa, se ele não o levasse à escola ele chegaria muito atrasado, afinal ele teria que atravessar a cidade inteira de metrô.

Uns sete minutos depois de ter acordado ele já estava pronto pra ir à escola. Para sua imensa sorte seu pai ainda não havia saído para o trabalho e assim o garoto conseguiu chegar ao prédio antigo em que estudava antes que o sinal batesse. Ele não havia nem lembrado da existência do seu celular em todo caminho, mas assim que desceu do carro, ele o tirou do seu bolso esquerdo e viu a quantidade de mensagens de texto que ele havia recebido. Em sua maioria eram de Matth, apenas duas de sua paixão secretamente absurda e algumas dos seus amigos virtuais e o resto da operadora avisando que seu saldo estava baixo. Ele leu todas as mensagens que considerou importante e colocou o celular no bolso assim que ouviu o sinal da escola soando agudamente por alguns longos segundos. Ele começou a andar em passos largos, mas demorados; ele ainda estava morrendo de sono. Em sua direita, ele avistava seu amigo Matth saindo de um canto pouco freqüentado do pátio, bem, não pouco freqüentado, apenas freqüentado pelos drogados da famosa escola católica – que a maioria dos pais daquela cidade tinha o maior orgulho em afirmar que tinha um filho estudando nela. Já em outro canto, mas não tão afastado, ele viu Anthony com os amigos que ele não fazia nenhum esforço pra fingir ao menos apreço. Estava pensando que ficaria sozinho quando avistou Kyoto a alguns metros a sua frente e logo apertou o passo e deu-lhe um abraço por trás, assustando sua amiga. Ele riu do susto que a amiga levou e ambos seguiram pra sala. Os dois estavam de mau humor e ambos não tinham nenhum assunto, como o professor que daria a primeira aula da semana não parecia ter chegado à escola, os dois ficaram sentados na fileira do canto abraçados e pensando na vida.

Aquela folga não durou muito, pois logo o professor chegou e Kyoto teve que voltar pro seu lugar. Aquela turma estava com sorte, pois já começaram a semana com aula pratica. Isso animou um pouco Oliver e fez que ele falasse pela primeira vez naquela manhã com Anthony.  Ele ficou com um sorriso frouxo na cara só de ter ficado perto do Anthony. Ele não havia percebido ainda, mas estava fodidamente apaixonado. Os outros dois horários antes do intervalo foram um seminário falando sobre criminalidade na adolescência – as quais todos daquela cidade vinham assistindo várias vezes desde muito tempo. Oliver estava em êxtase por lembrar de algumas coisas, mas assim que o sinal bateu avisando que o recreio começaria e Kyoto e Tommy foram até onde ele estava sentado para buscá-lo para irem pro bosque da escola, o local onde eles tinham costume de conversar.

Oliver estava se divertindo cantando algumas músicas antigas que eram a “modernidade” de sua amiga. Metade do intervalo já havia se passado e Oliver havia fechado a cara lembrando-se do que ele teria que fazer. Ele havia acabado de se decidir, ele fingiria dar um pé na bunda de Natalia e diria estar cansado de se sentir preso a ela. Depois, fingiria não estar sentindo nada em relação àquilo pra ver se Unknown saia de seu pé. Logo ele lembrou que não queria colocar ninguém no meio daquilo tudo e antes de seus amigos perguntarem por que ele estava com aquela cara ele colocou um sorriso sarcástico na cara e voltou ao seu humor normal. Logo o sinal bateu e eles foram para sala de aula.

— Oliver, o Jeffrey estava lhe procurando na saída. — O menino arregalou os olhos e logo questionou o amigo.

— Pra que esse... — ele suspirou — Pra que esse seu amigo estava atrás de mim?

— Não sei. Isso você vai ter que ver com ele amanhã, ou se estiver muito curioso, mande uma mensagem de texto.

Os meninos desceram o metrô e logo Oliver despediu-se dos meninos e saiu disparado na frente dando desculpa que teria que cuidar de sua irmã pela tarde, mas ele tinha que pegar um ônibus e ir até a cidade em que sua namorada morava e fazer o que Unknown estava praticamente o obrigando a fazer.

Não passava das duas e quarenta da tarde e o ônibus que Oliver tomara já estava a poucos metros da rodoviária da cidade vizinha. Ele nunca esteve tão nervoso antes, mesmo tendo ensaiado o que falaria milhares de vezes, ele sabia que na hora de ter que fazer aquilo se atrapalharia com as palavras.

Ele havia marcado de encontrar com ela no shopping e pedira que ela trouxesse algumas coisas que ele havia deixado em sua casa. Ele estava sentado em um banco em um canto afastado do shopping, não havia ninguém ali além das vendedoras das lojas pouco freqüentadas. Oliver já estava mais nervoso do que tudo e Natalia parecia que nunca chegaria, tamanha demora. Quando o garoto já estava quase indo embora e deixando pra fazer isso outro dia — Unknown não definira uma data pra que fizesse isso — Natalia vinha de longe com seus cabelos castanhos com as pontas cheias de cachos lindos e cintilantes que combinavam com seu Converse preto, um jeans justo que deixava seu andar mais bonito e uma jaqueta preta sobre uma camisa básica branca. Ela sorria de longe ao avistar seu namorado de longe, enquanto as mãos dele tremiam e suavam só dele lembrar d que foi fazer ali.

Eles conversaram, conversaram bastante. Tudo parecia estar perfeitamente entre eles, mas a moça de sorriso cativante percebeu que havia algo infortunando seu namorado.

— Oliver, o que está acontecendo? — Ela deu um sorriso confortador desejando que tudo estivesse bem.

— Nada. — Ele disse enquanto a encarava.

— Como nada? Você não me deu um beijo desde que chegamos, o seu abraço foi super rápido e você só me responde com uma palavra.

— É que... — Ele suspirou enquanto percebia que não teria mais jeito, se houvesse um momento certo pra fazer aquilo, parecia ser aquele. — É que o motivo de eu ter vindo aqui é que pra mim não dá mais. Acho melhor seguirmos em frente, um pra cada lado.

Não foi tão difícil, não como o garoto imaginara que fosse, ele conseguira fazer um dos passos mais difíceis.

— Eu deveria ter imaginado. Você pediu para trazer suas coisas. — ela entregou a ele uma mochila com algumas coisas dentro. — não vou nem lhe perguntar por que está fazendo isso — ele havia agradecido a ela por isso em sua mente — mas deve estar sendo ótimo pra você, digo, ter coragem de se livrar de mim. Você tinha uma ilusão, ou melhor, uma obsessão por mim que eu não entendia. Eu entendo o que querem dizer ao afirmar que “O amor é cego”, eu nunca fui essa coisa perfeita da qual você me descreve, e nunca serei. — Ela tinha uma expressão fácil ao mesmo triste e como se estivesse tirando um peso das costas.

— Então você nunca sentiu o que um dia já dissera ter sentido? — Agora o seu nervosismo havia se transformado em indignação. “Eu fiz um favor a ela”, pensara ele.

— Oliver, eu senti. Eu realmente senti e foi algo intenso e duradouro. Ainda sinto, mas não é algo que eu queira sentir, não é algo que eu queira pra mim.

Eles ficaram se encarando por um certo tempo. Nenhum dos dois tinha coragem de abrir a boca, por conta do orgulho, claro. Talvez Oliver fosse sofrer menos com aquilo tudo se não houvesse escutado aquilo tudo de sua ex-namorada. Ele se virou, pegou a mochila que sua ex-namorada havia trago e começou a andar e antes do terceiro passo ele ouviu a mesma voz serena que um dia havia dito “eu te amo”, dizer “Preciso ir, tenho coisas mais importante a fazer do que perder meu tempo com você”.

Oliver estava há horas dentro do seu quarto encarando um casal de porcelana que Natalia havia lhe dado. Ele voltara a escutar músicas que só pioravam seu humor, algo que ele não fazia há vários meses e na parede do seu quarto havia coisas rabiscadas que descreviam a revolta que ele sentia do mundo. Seu celular estava jogado em uma parte do quarto e havia várias mensagens de texto de Alice. Ele nunca ficava sem dar sinal de vida, não se estivesse tudo bem, e mesmo assim, mesmo estando passando por problemas difíceis ele não a deixava ficar falando sozinha.

O garoto chorava desconsolado. Não queria falar sobre isso a ninguém, nem a seus dois amigos que estavam no mesmo barco que ele. Ele estava se sentindo pesado por saber que foi um peso que Natalia estava carregando sem reclamar por muito tempo e se sentia um idiota por pensar que quem sairia magoado na historia seria ela.

A noite havia chegado há alguns minutos, Oliver já estava com uma dor de cabeça infeliz de tanto chorar por aquilo tudo. De tanto soluçar o garoto tinha âncias de vomito a cada cinco minutos. Talvez chorar por aquilo tudo no inicio fosse melhor do que se arrepender e se culpar por aquelas coisas dali um tempo.

O garoto estava com os olhos vidrados no teto, com seus fones e há meia hora estava a repetir alguma música qualquer que falasse sobre ter o coração quebrado, não esquecer os momentos felizes juntos e que passava a ideia de que no final tudo dava certo. Ele já estava há horas assim. Cansado de chorar e com fome ele resolveu ir à cozinha e arrumar algo pra comer. Rapidamente subiu pra tomar banho. Ele não demorou muito, seus pais iriam à igreja e ele tinha de tomar conta da irmã.

Já estava bem tarde e todos naquela casa dormiam, com exceção do garoto. Oliver já estava menos desesperado, mas ainda tinha pensamentos depressivos em mente e não conseguia pregar o olho. Ele não era o único que não conseguia dormir. Alice, que estava preocupada por ele ter sumido boa parte do dia, deu um jeito de falar com Anthony pra saber se ele tinha noticias de seu amigo, o que fez com que ele também se preocupasse.

Oliver havia criado forças pra fazer suas tarefas de casa e logo depois foi navegar um pouco na internet. Ele apagou suas fotos com a ex-namorada, apagou os textos que fez pensando nela e assim que terminou, tirou todos os presentes que havia recebido dela e colocou em uma caixa de madeira velha e bastante empoeirada que ele logo colocou em cima do seu armário novamente. “Não há muito a se fazer além de tentar esquecer isso tudo”, era o que o garoto pensava enquanto se preparava pra deitar.

Seu telefone estava tocando e ele não queria atender. Ele nem sabia quem era, mas depois que o celular chamou pela terceira vez ele imaginou que fosse algo importante, afinal, qualquer um de seus amigos já teriam desistido de falar com ele na primeira vez que caísse na caixa postal. Ele teve uma grande surpresa quando viu quem é que estava ligando. Era Anthony e assim que ele viu a foto dele sorrindo, uma foto que ele tirou especialmente pra colocar no identificador de chamadas do seu telefone, colocou um sorriso frouxo na cara e atendeu com uma voz um tanto quanto desanimada

— E aí, Tony.

— Sua puta mal comida! Por que não respondeu minhas mensagens e nem me atendeu mais cedo? — Ele estava indignado.

— Eu fiz... — ele foi interrompido pelo amigo antes que ele terminasse de falar.

— Fez o que peste? — A voz de Anthony estava cada vez mais grossa, demonstrando o nervosismo.

— Eu fiz o que Unknown pediu. Eu terminei com Natalia — ele suspirou — ou ela terminou comigo, não sei.

— Como assim, meu filho? Você deve estar arrasado.

— Realmente estou, mas o tempo vai curar isso, e se... — ele deu um suspiro enquanto tomava coragem de continuar falando — e se não curar, eu mesmo farei isso.

Os garotos já estavam há meia hora no telefone. Oliver estava com um pouco de dificuldade pra falar. De vez em quando ele se calava pra secar as lagrimas ou não demonstrar que estava chorando. Anthony estava realmente preocupado com ele, e mesmo sendo segunda feira ele o convidou pra sair. Mesmo que fosse pra beber em algum lugar escondido, ou até mesmo ir ao cinema assistir um filme da sessão especial da madrugada, mas Oliver, agora que já estava deitado, não tinha mais ânimo pra sair dali.

Eles continuaram se falando por muito tempo, Oliver não sabia o que realmente queria fazer; dormir ou continuar sendo consolado pelo amigo. Ele odiava ser bajulado ou paparicado demais, mas estava precisando disso.

“Eu te amo”. Oliver escutou um “Eu te amo” pela primeira vez de seu amigo, bem, não de um amigo qualquer. Do seu melhor amigo, do melhor amigo que ele tinha uma quedinha, ou talvez um abismo. Ele estava feliz o suficiente pra não lembrar do que acontecera entre ele e Natália. O menino havia decidido esforçar-se pra não sofrer por aquilo tudo e agora sabia que decisão tomar entre “dormir ou sair com o amigo.”.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar, é mais uma motivação pra eu escrever cada vez mais rápido e deixar vocês felizes. E aí, quem vocês acham que é ou quem são Unknown? Vejo vocês no próximo capítulo. Abraço.