“Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre.”
Charles Chaplin

Suando frio e ofegante Tiago Potter acordou em sua cama.

Era apenas um sonho, ele constatou.

O mesmo sonho que tanto o aterrorizou e o fez perder noites de sono durante o verão inteiro.

Ele olhou no relógio, era pouco mais de 5 horas da manhã, mas ele não conseguiria mais dormir, não depois daquele pesadelo. Ele resolveu tomar um banho.

O garoto entrou no banheiro do seu quarto e se olhou no espelho, estava com uma aparência terrível, pálido, com fundas olheiras, a boca branca e seca, com um suor frio e pegajoso em sua testa, seus cabelos molhados de suor colados em sua nuca, seus olhos sem brilho. Ele estava trêmulo.

Com um suspiro começou a se despir. Optou por tomar banho no chuveiro.

A água morna tocou sua pele e ele se sentiu melhor. Deixou a água cair em sua nuca e isso o acalmou ainda mais.

Depois de ter tomado banho e trocado de roupa Tiago desceu até a cozinha da mansão Potter. Não comeu muito, estava sem apetite.

Mesmo sabendo que não era verdade Tiago não conseguiu tirar aquele sonho da cabeça. A ideia de ficar sozinho, sem todos que o amava, sem as pessoas que ele mais amava no mundo, a ideia de vê-las morrer sem poder fazer nada para impedir era terrível.

Depois de brincar um pouco com o seu café-da-manhã ele por fim desistiu e subiu novamente para seu quarto, conferiu pela 5ª vez o malão para ver se tudo estava lá. Ele então ouviu a porta do seu quarto se abrir, se virou já sabendo quem era.

– Nossa você ta com uma cara horrível Pontas.

– Obrigado Almofadinhas.

Era Sirius Black, seu melhor amigo. Tiago o considerava como um irmão. Morava com ele há quase dois anos quando tinha fugido da casa dos pais, pois eles eram grandes partidários de Você-Sabe-Quem.

– Você já está pronto?
– To sim. Então já pensou em como vamos pra plataforma?

– Pensei em ir de Noitebus andante.

– Noitebus? – Tiago perguntou com uma sombra celha erguida.

– É o meio mais prático e discreto em que eu pensei. – disse ele dando de ombros e se sentando na cama de Tiago.

Há alguns meses se havia uma palavra que não fazia parte do vocabulário de Tiago Potter, essa era “discreto”

– Ta tudo bem cara?

– To bem. – mentiu Tiago.

– Bem se precisar de alguma coisa pode contar com o Almofadinhas aqui! – Sirius disse sorrindo e apontando para o próprio peito.

Era um gesto meio cômico, mas Tiago não teve vontade de rir. Há semanas ele não tinha vontade de rir. Desde que tinha recebido uma carta do Hospital St. Mungus, informando que seus pais haviam morrido de varíola de dragão.

Tiago sabia que seus pais um dia morreriam, eles já eram bem velhos, tinham uma saúde já frágil, mas não conseguia imaginar um futuro sem eles.

Quando recebeu a notícia foi um baque muito forte. Era o último dia de aula. Ele não se lembrava de muita coisa das duas semanas seguintes, só que haviam sido terríveis.

Sirius foi o que mais o apoiou e não deixou que ele morresse de fome. Não que seus outros amigos não se preocupassem com ele, mas eles tinham que voltar para suas casas nas férias de verão. Porém lhe mandavam cartas regularmente, quer dizer, Remo Lupin mandava cartas para ele regularmente, Pedro Pettigrew, o outro maroto, raramente lhe escrevia, não era do seu feitio e Tiago entendia.

Hoje era 1º de setembro, o primeiro dia de aula, Tiago e Sirius deviam comparecer a plataforma 9 ¾pegarem o Expresso e finalmente voltarem para cursarem o último ano de seus estudos.

Quando chegaram à plataforma 9 ¾ a familiar confusão de alunos pela primeira vez não conseguiu fazer com que Tiago sorrisse.

Ele e Sirius ignoraram as pessoas em volta que sorriam para eles e outras que também acenavam e embarcaram grande locomotiva vermelha e preta. Logo encontraram Remo Lupin e Pedro Pettigrew em uma cabine, se cumprimentaram, mas logo o silêncio reinou entre eles.

Remo olhava para Tiago como se a qualquer momento ele fosse surtar sair gritando e correndo ou começar a chorar compulsivamente.

Quando a locomotiva ganhou velocidade Tiago se levantou, todos olharam ansiosos menos Pedro que comia alguns doces.

– Vou para o vagão dos monitores, parece que vai ter uma reunião. – ele disse sem emoção.

Dumbledore tinha dado o cargo de monitor-chefe para ele, finalmente depois dessa atitude Tiago teve plena certeza de que Dumbledore era completamente maluco, mas fazer o que?

Os amigos acentiram e ele então saiu. Arrependeu-se quase que imediatamente de não ter pensado em colocar a sua capa da invisibilidade, pois todos se viravam para olhá-lo quando ele passava.

Talvez há alguns meses atrás ele se sentiria bem com toda essa atenção, orgulhoso até, mas agora ele como um ser incrivelmente exótico, como deveria parecer Hagrid se ele vestisse um vestido de florzinhas e um avental rosa com babadinhos e rendas. Como tinha sido idiota naquela época.

Tiago estava tão distraído com seus próprios pensamentos, andando rápido, que acabou trombando em uma pessoa. Sentiu uma corrente elétrica percorrer seu corpo.

– Desculpa. – murmurou o garoto mecanicamente.

– Olha por onde anda Potter.

Ao ouvir a voz reconheceu-a imediatamente, ele estacou, virou-se lentamente para a garota e constatou o que seu corpo soube assim que se encostou a ela. Era Lílian Evans.

Ele a fitou, perdido em seu olhar, sentiu a tristeza se apoderar dele de forma quase prazerosa.

Não se sabe ao certo quanto tempo havia se passado. Ele estava hipnotizado por aqueles lindos olhos verdes. Poderia ficar o dia inteiro assim, a vida inteira, mas, ela quebrou a mágica do momento desviando os olhos e assim quebrando o contato visual.

– O que está olhando Potter? – a garota disse um pouco sem graça, tentando em vão disfarçar o constrangimento e retomar o tom frio que ela sempre usava com ele.

Pela primeira vez Tiago viu Lílian corar sob seu olhar. Ele se lembrou da imagem do corpo dela no chão sem vida, lívido, do olhar determinado que ela manteve antes de morrer, da expressa orgulhosa e arrogante, da tristeza imensa e seus olhos quando Sirius morreu.

Lágrimas vieram aos seus olhos sem que ele pudesse controlá-las. Ele piscou rapidamente para afastar as lágrimas inconvenientes que insistiam em querer sair.

– Desculpe-me. – ele murmurou novamente e saiu andando, com o máximo de dignidade que conseguiu, deixando uma Lílian surpresa e confusa.