Sophia escrita por Ana Carol M


Capítulo 16
Capítulo 16




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- O feitiço precisa que a última herdeira da família Sanakht, cujos poderes do Faraó Sanakht, da terceira dinastia, correm nas veias, do qual será filha de inimigos, e que terá a marca no ombro, se sacrifique para salvar a população e aqueles que ela ama. – falou Peter num rosnado apertando com força o braço do sofá em que estava.

Joguei meu corpo para trás na cadeira em que estava sentada. Não esperava por isso. Não poderia ser, tinha que ser algum objeto, ou algum pó mágico. Por que o meu sangue? Eu já havia nascido marcada para morrer? Era isso?

- Por que ninguém me contou? Peter? Por que você nunca me contou? – perguntei furiosa. Meu choque estava se transformando em algo do qual não conseguia explicar. Raiva, talvez.

- Eu não sei. – respondeu ele. – Não queria que passasse por isso. Você já teve que ser afastada de seus pais para que pudesse crescer em paz.

 Ficaram todos em silencio novamente. O conde se retirou para o seu quarto seguido pela condessa Pytia. Depois o casal foi para outro e Cleópatra seguiu ao fundo da casa junto com o Sr. Ramsés. Todos saíram com a desculpa de que iam procurar algo util que pudessem fazer.

Peter ficou mirando uma mesinha de centro em silêncio.

- Então, para que  meus pais, o mundo humano e vocês fiquem a salvo, eu tenho que me sacrificar? – sussurrei com um tom de incredulidade e no fundo uma pontada de dor. Começava a penetrar essa ideia em minha mente. E mais profundamente, senti medo. Um medo inexplicável seria de morrer ou de me sentir pelo meu próprio sangue? Mais uma vez perguntei por que eu?

Que meu pai havia ficado com medo do que algo pudesse acontecer comigo nesse mundo eu até entendia, mas agora era obvio. Eu tinha que voltar com a marca no ombro para que pudesse morrer e salvar a todos. Ou poderia sentar e assistir a todos morrer. Eu já não tinha mais escolha.

 Peter acentiu com a cabeça.

- Eles sabem não é? Eles sabem que eu posso acabar com eles, por isso pegaram meus amigos. Já que meus pais foram mortos por Hórus. Ele querem que eu me entregue. Para que pendurassem minha cabeça em praça publica e gritassem a todos que venceram. – As peças começavam a se encaixar, como um jogo cruelmente projetado em que o meu pescoço era o prêmio.

 Peter acentiu de novo. Um pavor invadiu o meu peito, por ter consciência de tudo aquilo. Agora eu tinha que enfrentar a realidade crua e amarga, era mais insuportável do que pude um dia imaginar.

Comecei a chorar com o rosto nas mãos. Antes de Peter levantar, sentar no braço da minha cadeira e me abraçar, eu já havia me decido. Na verdade nem cogitei uma alternativa. Por que não havia outra.  E já era obvio o que eu havia decidido. Peter sabia que eu não era covarde e que se realmente ameaçassem quem eu amo, eu me entregaria. Aparentemente o chefe dos Mumianos também tinha consciência disso.

- Como é que se faz o feitiço? – perguntei ainda abraça na cintura de Peter.

Ele me olhou por um longo momento – Você vai fazer não é? Vai se sacrificar para poder salvá-los.

Não respondi.

Ele suspirou melancolicamente – Você tem que estar na pirâmide, subir no ponto mais alto onde fica o próprio faraó e pular.

- E se não der certo? – perguntei com as lagrimas fluindo de meus olhos. Eu ia morrer.

- A pirâmide é um lugar extremamente mágico, por isso eles as escolheram. O faraó é o Deus deles, só pode ser libertado quando a herdeira do mago que o aprisionou for morta, se ela se sacrificar ele vai levar junto todos os seus seguidores e viverá em paz sabe lá onde. Não tem como dar errado. Sua marca já é prova suficiente de que dará certo.

Suspirei sem perceber. Minha cabeça estava cheia. Lembranças e vozes insistiam em atrapalhar meus pensamentos.

- Porque logo eu sou a herdeira?

- Porque você é o símbolo de desonra. Seu pai abandonou tudo pela sua mãe. E como antes eu te falei, a família de Hórus é cheia de maldiçoes. Uma delas realmente se concretizou quando você nasceu. Havia um Deus, com uma maldição esperando para ser libertado. Provavelmente Hórus deve ter feito algum feitiço quando percebeu isso, que desencadeou a criação dos Mumianos. O problema é que os Mumianos tem prazo de validade. Se você se matar eles serão mortos, esse é o preço pra ter paz. Hórus criou outro exercito, mas acho que eles arrumaram outro líder. Eles estão juntos agora por conveniência. Pelo menos foi o que consegui descobrir. Todos esperam que você se sacrifique, mas tem que haver outro jeito. Podemos fugir.

- E deixar meus amigos morrerem? Foi tão fácil para Hórus matá-los. Me pergunto como ele nunca nos achou no mundo humano.

- Ele não achou porque eu protegia todos vocês. Aqui só você estava a salvo. Ele só te mandou um aviso.

- Vamos tirar meus amigos de lá e vamos voltar para cá. Apenas isso. Vamos nos esconder – Levantei, coloquei minha mochila nas costas, limpei minhas lagrimas e sorri. Sorri como se estivesse tudo bem. Eu aprendi a viver assim, a sorrir para os problemas com meus pais.  – Não vou me sacrificar e nem deixar que eles me matem.

Peter me olhou com dor, mas me entendeu. E acentiu com a cabeça pegou sua bolsa do sofá e passou pelo braço.

Ele chamou todos para a sala de volta, e eu contei meu plano. Todos concordaram, sem expressar sua opinião. O que de certa forma não foi agradável para mim.

 O conde Kanope, a condessa Pytia, Cleópatra, o casal e Sir Ramsés saíram dos seus aposentos depois de alguns minutos, com roupas confortáveis, mochilas e bolsas penduradas pelos ombros e preparados para tudo. Ou quase tudo, apesar do que estava para vir estavam sorrindo e confiantes.

- Estamos prontos – falou o conde dando um sorriso encorajador para mim.

Troquei o vestido comprido, por calças jeans, sapatilhas e um casaco bem quente. Ainda era inverno.

Voltei para a sala e olhei com carinho para todos, depois acenei e saímos da mansão. Mal havia reencontrado o meu pai e minha mãe biológica e não poderia aproveitar o momento.  Minha mãe era muito bonita, eu havia analisado bem e me deixei levar por pensamentos que não envolvessem morte e sacrifício. Meu pai era bonito e tinha um enorme nariz que talvez fosse o seu charme.  Tinha os cabelos bem negros e olhos verdes como o meu. Meu pai e Sir. Ramsés andavam a frente, os dois conversando como velhos amigos. Minha mãe tinha pele mais rosada e os cabelos cor de madeira. E olhos mais caramelos dos que eu jamais tinha visto, talvez fosse alguns centímetros mais baixa que eu, ela estava de mãos dadas comigo e me olhava toda vez que podia. 

Voltamos à floresta e seguimos para um outro caminho, do qual o conde nos guiou. De repente as arvores, a grama, tudo pareceu mais bonito, como se eu pudesse observá-los por um longo tempo. Bem que diziam que as coisas se tornam mais valiosas quando se está a ponto de perdê-las. E eu estava a ponto de perder uma das coisas mais valiosas que tinha: minha própria vida. Eu sabia que meu plano de sair viva daquela pirâmide era uma piada.

Nós chegamos a uma praia com enormes extensões de areia, parecia ficar mais calor ali. E fiquei feliz de ter trocado de roupa, sem falar que toda a formalidade da qual haviam falado na casa de Sir Ramsés foi completamente dispensada com tantos problemas. Eu morreria feliz, se meus amigos estivessem seguros, se todos estivessem bem. E encontraria meus pais no final de toda aquela loucura.

- Como vamos chegar à pirâmide? – perguntei enquanto observava as pequenas ondas no mar.

- Teremos que ser capturados – disse Peter respondendo antes que o Conde falasse algo.

- O que? – falei confusa. E todos ficaram se olhando por um momento.

- Apenas nós dois – disse ele me tranquilizando com uma careta.

- E como iremos fazer isso? – eu percebi que esse era o plano, talvez formado a séculos. E eu não sabia de nada. Teria de ser capturada com Peter e depois morta. Talvez isso contasse para algo. Sempre soube que tirar minha própria vida era um pecado de extrema ignorância, mas se o motivo de tirar sua vida fosse para salvar as pessoas que ama, e outras que não tinham culpa de nada daquilo poderia contar pra alguma coisas, ou valer a pena.

- Vamos nos esconder na floresta. Isis fará o feitiço para convocá-los. Depois fugiremos para o lado norte da floresta e ficaremos esperando. Quando eles pegarem vocês, nós os seguiremos. Só assim encontraremos a pirâmide. – Disse o Conde com tom de quem pedia desculpa.

 Eu não disse nada, apenas olhei o mar, parecia ser infinito. Talvez fosse a ultima vez que veria a luz do sol.  E falasse com aquelas pessoas. Me obriguei a não chorar.

Dei um abraço forte em cada um e eles saíram.

 Peter se jogou na areia morna, para descansar e eu fiz o mesmo. Só restava esperar.

- Por que você parece ter repulsa de sua família? Sua mãe parece amar você mais do que pode expressar.

 O garoto suspirou profundamente – Achei que tivesse parado com as perguntas – falou ele rudemente.

Eu o encarei esperando uma resposta.

Felizmente ele não conseguiu fugir, ou talvez estivesse com pena de mim - Apenas minha mãe ficou com o conde, quando houve a invasão. Todos os outros fugiram como covardes, menos ela. Eles tinham medo de você. Por algum motivo achavam que se tivessem feito algo ruim na vida iriam ser levados pelo faraó junto dos Mumianos e alguns realmente fizeram coisas ruins. Eu nunca admiti covardia e logo com o Conde que havia sido como um pai para mim, mas meu pai foi o primeiro a fugir e não só deixou o seu melhor amigo sozinho como nos deixou para trás. Nem um sinal há anos. Um traidor. Apenas isso que ele é. Nunca deu valor pra nossa família, muito menos a mim. Na verdade nunca precisei dele para nada. Só esperava que ele fosse mais corajoso.


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