Sophia escrita por Ana Carol M


Capítulo 11
Capítulo 11




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/323824/chapter/11

Ele tocou a maçaneta e abriu a porta, me deixou passar e a fechou. O barulho da porta se moldando novamente a casa era audível. Ninguém poderia entrar. Eu não fazia ideia do tamanho do alívio que senti. Desde o cemitério a paranoia de estar sendo seguida era algo que estava me deixado irritada.

A casa estava escura e bagunçada, parecia ter sido deixada as pressas. Peter estalou os dedos e a bola azul de luz apareceu. Tentei imitar para ver se algo acontecia, mas não.

– Por que não consigo fazer isso também? – resmunguei..

–É um feitiço muito bom você não acha?

Encarei Peter com raiva, ele estava zombando de mim.

Nós seguimos em frente, meus tênis iam esmagando os cacos de vidro jogados no chão.

– O que aconteceu com os seus tios? – perguntei, enquanto andávamos em um enorme corredor.

– Foram embora como todos os outros. – por um momento achei que escutei um tom de tristeza na voz dele, mas logo ele fez aquele barulho irritante com a boca, como se desaprovasse a covardia da família.

Nós subimos uma escada que rangia e faltava algumas partes. Uma trovoada cortou o céu iluminando e lá estava mais um corredor.

– Nunca para de chover nessa cidade?

– Aparentemente é sua presença que causa tais fatos – sussurrou Peter. Infelizmente ouvi, e apertei o punho com toda força que tinha. Ia resistir, ele não podia me matar de irritação.

Peter chegou a última porta do corredor e a empurrou. Era um quarto enorme. Com uma cama de casal escura e os cobertores todos bagunçados. Como toda a casa o quarto estava bagunçado e havia coisas quebradas.

– Vai me responder porque não sei fazer essa coisa toda de magia? – perguntei demonstrando minha frustração.

– Aqui tem um feitiço de sangue. Ele reconhece que sou da família. E ele bloqueia, quem não é. Além de que você precisa de instrução para fazer isso. Logo que acharmos seus amigos vou começar a lhe ensinar.

Peter movimentou a mão e o quarto ficou limpo e organizado. Largou a bolsa em cima da cama e apertou as têmporas em busca de paz.

Me vi deslocada ali, voltei ao corredor e abri a porta ao lado da do quarto. E fiquei tonta, como se fosse cair novamente. Peter correu e fechou a tal porta. Com isso tudo voltou ao normal.

– Por que coisas importantes você não pergunta? Os quartos estão enfeitiçados. O único que tem é esse.

Enquanto eu voltava para o quarto, Peter acendeu a lareira que iluminou tudo na hora.

– Não vou dormir com você. – reclamei.

– Não pense que eu planejei isso, se pudesse eu estava em casa a essa hora e não aqui com você – retorquiu ele.

Rangi os dentes e me sentei na cama. Olhando a parede com raiva.

Peter me ignorou totalmente, como sempre fazia. Eu o observava tirar os sapatos e o casaco, ele se jogou no seu lado da cama e logo fechou os olhos.

Fui obrigada a fazer o mesmo, estava muito cansada. E por incrível que poderia parecer nós adormecemos tão calorosamente que ao acordarmos demos um berro. Nós dois pulamos da cama. Nós havíamos nos abraçado durante o sono.

Nos olhamos com nojo um com o outro, como se ele estivesse colocando a culpa em mim e eu nele.

– Isso...nunca...aconteceu – implorei

– Nunca – repetiu ele e começou a colocar os sapatos.

Coloquei uma sapatilha e troquei a jaqueta por um casaco mais leve em completo silêncio. O que estava acontecendo?

Coloquei a mochila nas costas e fiquei esperando nervosamente Peter terminar de olhar o mapa que a pouco ele havia montado em uma mesinha de canto. Eu sentia uma forte irritação com meu inconsciente. Ele havia me traído.

Sei que nós brigávamos um com o outro mentalmente. Mas precisávamos nos aturar. Na verdade eu precisava mais do que ele, porque quem corria perigo eram os meus amigos. Deixamos a casa logo após e tomamos café da manhã em uma lancheria ali perto.

Ainda nos olhávamos com revolta, mas aquilo não havia acontecido,certo? Pelo menos eu queria acreditar que não.

– E se eles fizeram alguma coisa com meus amigos? – perguntei depois de muito tempo em silêncio.

– Não sabem nem se você recebeu a mensagem. Acredite, eles estão bem, mas quanto mais cedo os acharmos melhor para eles. E para você.

Fiquei olhando o transito pela janela da lancheria desejando que o que Peter dizia fosse verdade, eu por um lado agradecia que não estivesse sozinha enfrentando tudo aquilo. Enquanto ele terminava de comer, eu lembrava de minha vida normal, humana. Não fazia muito que eu tinha terminado o colégio e já me sentia uma velha me lembrando de um passado muito distante. Eu sentia saudade, a ponto de querer reviver, mas me sentia completa onde eu estava. Por mais perigoso que fosse, foi como se realmente tivesse voltado para o meu lugar e Peter tinha que estar lá. Simplesmente porque não faria sentido ele não estar. Eu jamais admitiria isso é claro.

Nós saímos apressados do lugar e batemos na porta pelo qual havíamos saído no outro dia. O céu continuava nublado com um leve deslumbre do sol subindo no horizonte.

O homem careca abriu a porta, estava estampado no rosto dele que fazia algum tempo em que não recebia visitas pela aquela porta.

– Ah, é você – falou o homem desapontado.

– Podemos entrar? – Perguntei gentilmente.

O homem afastou a porta e nós entramos. A sala tinha um intenso cheiro adocicado, do qual eu não havia notado na outra noite. Eu acreditava que era para disfarçar o cheiro da carne escondida abaixo.

– Precisamos de informações. O máximo que você tiver – pediu Peter, seu olhos imploravam.

O homem se demorou para responder, suspirou e encarou pelo menos duas vezes os olhos infantis de Peter. Até que não resistiu a pressão.

– Há um membro da família Sanakth ainda nessa cidade, ouvi dizer que ele mal sai do lugar onde mora, mas a tal casa tem acesso subterrâneo como a minha para Tarath. Foi só o que escutei.

– Os guardas não nos viram? – perguntou Peter, vi que ele estava mais entusiasmado e isso me deu um alivio. Havia uma esperança, não era como procurar um barco perdido e sem coordenadas no oceano.

– Foi por pouco ontem, mas eles nãos viram vocês. Tomem cuidado, não conversem nos corredores, todo mundo é suspeito. Não se esqueçam disso. Hoje em dia, são poucas pessoas que merecem confiança.

Peter acentiu. 

– Onde podem estar meus pais? – falei subitamente. Achei que podia confiar nele. Parecia que o homem sabia de toda a história. E sabia quem eu era.

– Seus pais? – perguntou o homem confuso.

Peter apertou meu pulso para que eu parasse de falar.

– Os pais dela eram servos fieis de meus pais. Certamente estarão com os meus. - Falou Peter, como se o que dizia fosse obvio. Eu fiquei calada, não entendia o que estava se passando.

O homem pareceu se convencer e deixou que nós saíssemos pela porta do açougue abaixo. No beco escuro nós trocamos de roupa novamente, e Peter fez de tudo para que o meu rosto não aparecesse.

– Porque ele não podia saber quem eu sou? – perguntei aos sussurros enquanto caminhavam na rua atulhada de pessoas.

– Ninguém pode saber. Não agora que estamos aqui embaixo. Ele pensa que você é minha companheira ou algo assim. – disse ele sussurrando também, mas até no tom mais baixo sua voz suava áspera. A ideia de que Peter fosse meu companheiro me divertiu mentalmente e até sorri involuntariamente, mas ele não viu.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sophia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.