I Think I Found Love escrita por Bruna Pattinson


Capítulo 2
2


Notas iniciais do capítulo

Séculos depois resolvo atualizar, Pois é lol



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Depois de Emma e Ângela tentarem me animar, falando que elas estavam torcendo por mim e coisa e tal, a chegada da enfermeira interrompeu a conversa animada das duas comigo para me sedar, o que aceitei de bom grado. As dores tinham aumentado gradativamente com o tempo em que fiquei acordada.
 
Dormi um sono sem sonhos, e o que pareceram ser segundos depois, acordei. Me sentia molenga e dormente, e as dores, é claro, ainda não tinham sumido. Pouco tempo depois que acordei, uma figura adentrou a sala. Quando se virou para mim, percebi que tinha me esquecido de quem ele parente. “Ele é pai dos alunos novatos do colégio...”.
 
Assumi logo uma expressão normal, mas por dentro estava meio assustada. Eu não sabia o motivo, é claro, afinal aquele homem salvara a minha vida e eu devia muito a ele. Percebi as características que no fundo eu sabia que ele teria: Incrível beleza, olheiras, olhos dourados. É claro que eu não deveria deduzir aquilo, pois nenhuma família tinha características iguais em cada membro. Os caracterizei assim inconscientemente, provavelmente.
 
Ele sorria gentilmente enquanto caminhava para mais perto da minha cama, e logo perguntou:
 
- Como se sente, Bella?
 
- Melhor – consegui dizer, a voz rouca pelo sono.
 
- Isso é bom. Ouvi das suas amigas sua preocupação em relação ao tempo que você ficará aqui conosco – ele foi direto ao ponto, poupando minha pergunta que certamente estava por vir – Tenho certeza que estará bem o suficiente para sair em alguns dias. Mas lamento dizer que você ainda deverá ficar de repouso em casa. Não é recomendável que participe desse musical, a sua costela...
 
- O senhor não entende, doutor – longo o interrompi, segurando minha raiva que voltara com toda a força. Por que eu fui me meter naquele beco escuro? Por que eu fui tão burra? – eu tenho que fazer esse musical...
 
- Entenda Bella, você não estará completamente curada até lá. Qualquer esforço a fará piorar novamente – ele me interrompeu, sua voz implorando para que eu entendesse.
 
Era muito estranho ter que contar meus motivos para um estranho, mesmo que ele fosse médico. Decidi partir para outra estratégia.
 
- Tudo bem doutor – fiz uma expressão falsa de derrota – vai haver outros musicais ainda esse ano, perder um não faz mal.
 
- Fico feliz que tenha entendido tão rapidamente, Bella – ele pareceu realmente convencido pela minha performance – Logo, logo você estará curada, não se preocupe.
 
- Obrigada, doutor. Quero dizer, por tudo. Por ter me salvado – corei, não era boa com agradecimentos, desculpas ou qualquer coisa que envolvesse sentimentos.
 
- Não foi nada, querida. Agora descanse – ele estava feliz, mas por algum motivo, também parecia hesitante e apressado e logo saiu do quarto. Não entendi sua pressa, mas não pensei nisso por muito tempo para realmente me preocupar.
 
A tarde se passou tediosa e até as dores menores me incomodavam. Minha mãe veio me visitar, e é claro, nem estar machucada me livrou do seu sermão de quem-mandou-você-entrar-num-beco-escuro. Ela não parecia preocupada, nem triste, sua expressão era de tédio, como sempre. Logo ela saiu, disse que ia trabalhar e que minhas amigas viriam á noite. Jéssica e Ângela vieram uma eternidade depois, me fazendo rir um pouco. Logo dormi sem precisar ser sedada, e no dia seguinte as dores pareciam ter melhorado um pouco. Mas só um pouco.
 
Quatro dias depois fui liberada, a um dia para a estreia do musical. Eu me sentia bem, fora algumas dores musculares e hematomas que ainda não tinham se curado. Os arranhões estavam quase curados, o do meu rosto poderia ser facilmente coberto por maquiagem. Eu sentia que poderia fazer aquilo, mesmo com as dores. Não fui ao colégio, ainda assim, precisava de toda a força que eu poderia ter. Fiquei em casa ensaiando, minha voz estava bem e afinada. Voltaria ao emprego na segunda feira.
 
No dia do musical, uma sexta feira, acordei animada, minha mãe iria trabalhar até tarde, não iria ver o musical, é claro. A Sra. Mendes preocupada, não me deixou ajudar com o cenário. Eu me sentia quase curada, mas mesmo assim eu estava cem por cento pronta para aquilo. Eu precisava daquela bolsa, e eu iria ganhá-la.
 
O dia pareceu se arrastar, já que não pude ajudar em nada. Ficar sentada fazendo aquecimentos vocais já estava me fazendo ficar a beira da morte de tanto tédio. Não tínhamos aula hoje para felicidade de muitos, pois a escola parava pelos musicais. Grande parte dos alunos tinham interesses artísticos, o melhor programa de artes do país era o que nos atraía. Inicialmente fiquei confusa com a quantidade de alunos ajudando com a produção de cenário de figurino. Descobri depois que aquilo era a detenção para alguns alunos, e para outros, uma ajudinha para passar de ano. Ajuda na mão de obra do teatro lhe dava alguns pontos em qualquer matéria na média final. E ainda havia outros que ajudavam por que gostavam, esses, por incrível que pareça, não eram raros.
 
Pelo que me pareceram horas, fiquei sentada numa das poltronas do auditório. Cheguei a cochilar um pouco, mas ali era desconfortável demais. Mesmo que a ideia de passar o resto da manhã em casa dormindo fosse atraente, eu tinha que ficar ali.
 
Finalmente Emma apareceu chamando-me para ajudar com a organização final dos figurinos. Fiquei verificando se nada estava sem a etiqueta com o nome do determinado ator que iria usar a peça. Tedioso, mas melhor do que ficar parada.
 
No começo da tarde eu já estava cansada, e nem fiz muito esforço. Voltei para casa por recomendação da Sra. Mendes, e ao chegar deitei em minha cama, relaxando. Alguns momentos depois pensei nos Cullen, em como eles eram incomuns. Não fazia ideia por que eles não saiam da minha mente e por que isso me assustava, mas era como eu me sentia. Será que eles iriam ver o musical? Será que ele iria? Pelo que eu soube, nos últimos dias só foram á escola os dois casais que vi no refeitório. Nenhum sinal de um garoto com cabelos cor de bronze. Provavelmente ele não tenha gostado do colégio, ou coisa assim. Pensei, mesmo assim não convencida pela minha própria hipótese.
 
Mesmo me sentindo estranha, logo peguei no sono. Acordei quando já estava no fim da tarde, mas não estava atrasada. Estava sem fome, mas comi uns biscoitos e saí. Encontrei Jéssica no caminho ao colégio e ela me acompanhou. Quando chegamos ao camarim, nunca o vi tão cheio.
 
- Cadê a minha água? EU QUERO MINHA ÁGUA AGORA! Quero saber quem foi o responsável por esse figurino ridículo... Não, não seu imbecil, É ÁGUA SEM GÁS! – Jacob dava uma de diva de Hollywood, gritando com um garoto do primeiro ano.
 
- Ele é seu ajudante, não seu empregado – disse, me aproximando tirando o garoto dali.
 
- Bella, você não cansa de atrapalhar a minha vida? QUE OBSESSÃO É ESSA COMIGO? – Jacob teve que gritar conforme nós nos afastávamos. Virei e mostrei o dedo do meio, deixando-o com uma cara de idiota.
 
- Você agora é meu ajudante, ok? – falei para o garoto, que agradeceu. Afastar pessoas do veneno de Jacob. A história da minha vida.
 
Alguns minutos depois a peça começou e eu esperei a hora para começar a me arrumar. Minha personagem aparecia apenas na metade da peça. Eu estava nervosa e ansiosa. Li umas revistas que estavam ao meu alcance sem realmente prestar atenção em tudo. O tempo parecia passar devagar demais. Finalmente olhei no relógio e vi que era uma hora razoável para eu começar a me arrumar. Vesti meu primeiro vestido – totalmente branco, decote em forma de coração – que exalava muita sofisticação e elegância para uma cantora de bar. Se eu fosse responsável pelos figurinos...
 
Emma me ajudou com a maquiagem e o cabelo demorou um pouco mais para ficar pronto. Já estava quase na minha hora e meu estômago estava quase saindo pela boca. Logo então chamaram meu nome e fui, tentando não correr. A Sra. Mendes verificou meu figurino, e me deu boa sorte antes de entrar no palco. Entrei.
 
O cenário era basicamente um mini palco e algumas poucas mesas de madeira. Havia somente Jacob, seu personagem bêbado e mais duas outras pessoas. Antes de subir no palco o dono do bar deu-me uma bronca:
 
- Estás atrasada!
 
- Como se bêbados e prostitutas fossem se importar – retruquei, e Jacob voltou sua atenção para mim, tudo perfeitamente como ensaiamos.
 
Alguns diálogos depois, subi no mini palco para cantar. A música começou e eu já não estava mais nervosa. Jacob olhava encantado para mim, eu tinha que admitir que o idiota era um ótimo ator.
 
Cantei o primeiro verso encarando o público, reconhecendo ou não as faces das pessoas. Foram muito poucas as expressões de descontentamento que vi. Alguns garotos do terceiro ano, que pareciam estar obrigados a estarem ali. Era uma música lenta, escrita pela Melanie (todas as músicas do musical eram originais, é claro) que também era uma ótima compositora. Falava sobre desamor e abandono, era o que o personagem de Jacob sentia, fazendo-o se identificar com a música.
 
O refrão era um pouco mais animado, as notas mais agudas, mas não era uma dificuldade para mim. Eu estava preparada.
 
No fim da música, havia uma nota muito alta que eu teria de segurar por alguns segundos. Melhor do que no ensaio, pensei após alcança-la, satisfeita com meu desempenho. No penúltimo verso avistei os olheiros da faculdade. Os encarei com determinação e voltei meu olhar para a plateia. Foi quando o vi.
 
Quase esqueci a letra, e cantei o último verso esperando não ter desacompanhado a melodia. Ele estava na última fila, me encarando. Mas o que me surpreendeu foi sua expressão. Não era de raiva ou ódio como naquele dia na sala de aula. Era suave, tranquila. Não consegui desviar de seu olhar por alguns segundos, e quando o fiz percebi que Jacob falava comigo e voltei ao meu personagem com um pouco de dificuldade.
 
- Cante novamente, por favor. Imploro-te se quiseres! – Jacob falou, sua figura de bêbado ajoelhado em frente a mim. A plateia riu.
 
- Hoje não, cavalheiro – murmurei irônica – vá e volte sóbrio, que cantarei para ti.
 
Saí do palco depois de outros poucos diálogos para me trocar. Minha próxima cena era uma ilusão de Jacob, ainda bêbado. Eu me sentia estranha, mais nervosa do que nunca estive. Eu me odiava por saber que a causa de tudo era aquele garoto. Como ele podia ter essa influência sobre mim? Eu quase errei a letra! Depois de meses de ensaio. Eu estava furiosa com ele, comigo mesma e com o maldito estrupador. Meus músculos estavam doendo novamente.
 
Tomei um gole de água e respirei fundo. Vamos lá Bella, você não nadou isso tudo para morrer na praia, falei para mim mesma enquanto minhas mãos trêmulas procuravam por meu próximo vestido.
 
Despi-me do vestido branco e vesti o vestido para a próxima cena, que não tinha características muito diferentes do vestido anterior. Eu tinha que admitir que o figurino não era dos melhores. Ano passado davam mais atenção ao figurino. Desfiz o penteado numa velocidade normal, deixando meus cabelos caírem em cachos sobre meus ombros. Pus um batom vermelho ainda por cima do batom de tom mais claro, quase tom de pele, que eu havia colocado para cena anterior. Retoquei a maquiagem de ambos meus olhos, ainda nervosa.
 
Olhei a mim mesma no espelho, tentando me acalmar, mas sem sucesso. Respirei fundo várias vezes e então meu ritual contra o nervosismo foi interrompido pela voz da Sra. Mendes chamando meu nome. Levantei da cadeira ainda nervosa e incerta se deveria fazer a cena naquele estado.
 
Quando vi já estava no palco cantando para Jacob novamente. No sonho de seu personagem, estava sua família, e seus amigos, todos unidos no bar que em vez de macabro, sujo e indiscreto, estava enfeitado e aconchegante. Jacob então brindava a felicidade do momento.
 
A música que cantei expressava os sentimentos da ilusão do personagem. Felicidade, companheirismo e amor. Tudo o que o personagem desejava.
 
Olhei para todos os lugares menos para as últimas filas. Não podia me arriscar a encara-lo novamente. A música era animada, então eu teria que parecer feliz e dançar suavemente e do modo sofisticado que a época antiga em que fingíamos estar pedia. A música acabou e eu não havia desafinado, felizmente. Nesse momento Jacob acordava, então as cortinas teriam que se fechar e quando se abrissem novamente ele estaria no bar, macabro novamente, sozinho e desmaiado.
 
Era muito rápido e nós todos teríamos que ajudar sem fazer barulhos. Assim que as cortinas se fecharam tirei meus sapatos de salto e saí puxando os enfeites das mesas. Quinze segundos depois as cortinas se abriram e estava tudo certo. Felizmente havia dado tudo certo até aquele momento, e o musical estava prestes a chegar ao seu fim. Não saí para vestir minhas próprias roupas, ou para ir para casa me arrumar melhor para festa de comemoração que iria ocorrer logo após o fim da peça. Em vez disso, fiquei vendo o desfecho dos bastidores. Precisava me distrair.
 
Só havia mais duas cenas em que o amigo de Jacob se suicidava e ele o acompanhava após algumas frases clichês. E então ouvi o barulho ensurdecedor os aplausos e gritos. Jacob passou por mim e ouvi outros gritos, agora vindos dos bastidores. Todos estavam comemorando o sucesso. Me vi sendo abraçada por Jéssica – vestida com um vestido de bolinhas vermelhas – e Ângela já vestida em suas roupas.
 
- Bella, você estava magnífica! – Ângela falou, e rimos.
 
- Que pena que não pude ver vocês... Jéssica beijando o Jacob em público, imperdível – falei, irônica.
 
- Nem fale nisso, ele estava com um bafo insuportável de cerveja, ainda não acredito que o cafajeste bebeu mesmo antes de entrar em cena.
 
- Típico.
 
Rimos novamente e ouvimos a Sra. Mendes falando do desempenho de todos. E nos aproximamos para ouvirmos melhor.
 
-... Ângela maravilhosa, como sempre, realmente pareceu uma senhora vinda de outro tempo. Bom trabalho garota. Jacob... Você é talentoso e sabe disso, melhor desempenho que vi em anos nesse colégio! – Jacob estava com o peito inflado, a expressão de extrema presunção. Olhei para Jéssica e reviramos os olhos. – Ah, Isabella! Sua voz encantou todos da plateia, tenho certeza. A mais linda e afinada. Com alguns pequenos problemas, mas ninguém é perfeito. Parabéns, querida.
 
Sorri envergonhada enquanto recebia os aplausos de todos ao meu redor. Afastamos-nos assim que Jéssica recebeu seu elogio. Isso era por agora, amanhã a Sra. Mendes estaria apontando todos os defeitos das nossas apresentações. Ri em pensamento, enquanto caminhei mais distante das meninas para pegar minha bolsa e foi então que vi um buquê de rosas em cima da minha mesa de maquiagem.
 
- OH MEU DEUS, QUE ROMÂNTICO! – Ângela explodiu, toda encantada.
 
Ignorei-a enquanto pequei o bilhete que estava junto das flores e desdobrei-o, lendo seu conteúdo.
 
As rosas mais lindas,
Para a dona da voz mais perfeita.

 
- ME DÁ AQUI, ME DEIXA LER – Ângela brigou comigo para ler o bilhete, até que eu entreguei-a, derrotada. – BELLA, VOCÊ TEM UM ADMIRADOR SECRETO!
 
- Quer parar de gritar? – sibilei, e ela ergueu uma sobrancelha – que admirador secreto Ângela, provavelmente foi o Jacob tentando ser engraçadinho.
 
- Não acho que tenha sido o Jacob – disse Jéssica, que agora lia o bilhete. – ele é muito previsível. Provavelmente teria colocado o nome.
 
- Quer saber, não me interesso quem seja. – falei, pegando minha bolsa e tirando minhas roupas, logo após tirando o vestido e colocando minhas calças jeans e camisa vermelha.
 
- Sei, claro que não... Quero ver quando ele começar a colocar bilhetes no seu armário – Ângela falou irônica, enquanto pendurava meu vestido.
 
- Que coisa mais clichê – falei, prendendo meus cabelos.
 
- Tudo que é clichê é bonitinho e tudo que é bonitinho leva a namoro, e consequentemente a sexo – Jéssica, que também já estava em suas roupas normais falou – então eu diria que esse cara é um pervertido.
 
- Um pervertido sexual me mandando flores – ri.
 
- Vocês nem sabem quem é, coitado do garoto – Ângela falou enquanto recolhíamos o resto de nossas coisas e saíamos em direção a festa de comemoração que seria organizada pelos outros professores para nos parabenizar. A festa já deveria ter começado, pois todo o colégio sabia do acontecimento, então não seria uma festa exclusiva para o clube do teatro. Seria num bar/restaurante ali perto. Não era permitida a entrada de bebida alcoólica, mais nenhum professor sabia que os alunos do time de futebol iriam ‘batizar’ o ponche com vodka. Dessa eu iria rir.
 
Logo na entrada havia dois professores revistando os alunos. Ri. Queria ver se iriam conseguir batizar mesmo o ponche. A professora de história me pediu para eu esvaziar os bolsos – mostrando-a meu celular, e alguns poucos dólares que eu havia economizado do meu salário para aquela noite – minha bolsa não tinha nada mais que maquiagem e uma garrafa d’água. Foi bem menos rígido do que eu havia imaginado, talvez por que ela soubesse que nós não éramos alunas encrenqueiras.
 
Entramos e a festa estava a todo vapor, a música eletrônica ecoando nos meus ouvidos. As mesas estavam cheias pelos alunos, e o ambiente estava parecendo mais uma discoteca que um restaurante. Havia quatro globos de luz pendurados no alto, e um DJ (garoto prodígio do clube glee da nossa escola) tocando perto do bar.
 
Jéssica já dançando conforme o ritmo, animada.
 
- Que tal a gente beber alguma coisa, que não seja o ponche, é claro, vai que tenham batizado com veneno – falei alto para as meninas me escutarem e fomos em direção ao bar, ver o que estavam vendendo.
 
- O que posso servi-las, meninas? – A senhora da cantina. Por que, meu deus, por que...
 
Antes que pudéssemos responder alguma coisa, Derek, garoto engraçado da minha turma chegou por trás da senhora da cantina, dando nela um susto.
 
- Tia Nancy, como a senhora está linda hoje... Fez algo no cabelo? Maquiagem? Aplicação de botox? Estás tão divina como a lua brilhante nessa noite linda e escura... – ele falou, e me segurei para não rir. Na certa estava tentando tirar ela dali pra vender álcool clandestinamente.
 
- Ah, você acha Derek? Fui ao salão de beleza hoje... – ela parecia acreditar no que o garoto dizia, deixando a situação ainda mais cômica.
 
- Então foi isso...  Então... A Sra. Mendes disse que os seus serviços não eram mais requeridos essa noite, que ela mesma iria ficar aqui quando chegasse...
 
- Realmente? Ela não me disse nada...
 
- Ela não teve tempo, sabe, com as organizações para o musical... Ela me disse para passar o recado, e então a senhora pode ir para casa. – Derek falou, esperançoso que ela acreditasse em sua mentira.
 
- Mas eu acabei de chegar – ela disse, decepcionada.
 
- Foi mesmo? Mas seu filho me ligou e disse que está com uma dor terrível...
 
- Você conhece meu filho?
 
- Mas é claro! Somos grandes amigos! – ele disse e eu ri baixinho, mas ninguém percebeu, felizmente.
 
- É mesmo? Oh meu deus, ele está com dor de quê?
 
- Uma dor na próstata terrível, ele estava praticamente gritando de dor quando me ligou... Cuidado que isso dá em câncer, sabia?

- Cristo, então tenho que ir! Muito obrigada, Derek! - ela saiu destrambelhada. 

Nem eu nem as meninas ousamos dizer a verdade para a pobre senhora por que o pessoal do time de futebol fazia os piores trotes e nós não queríamos ser vítimas. Derek riu então, e veio falar conosco.
 
- Tão afim de uma viajem, gatinhas? – ele falou, olhando para o decote de Jéssica, malicioso.
 
- Só se for pra Londres, Derek. Vai me dar a passagem? – falei irônica – vocês estão vendendo drogas agora? Fascinante.
 
- Que drogas, Bellinha – e então ele tirou várias garrafas, algumas com um líquido transparente e outras com líquidos meio amarelados. Bebidas.
 
- Um professor vai descobri isso cedo ou tarde, Derek – Ângela disse rapidamente, apontando para o professor de matemática do outro lado do restaurante.
 
- Caso vocês não saibam, garotas – ele falou, se debruçando contra o balcão e eu me afastei – nós vamos tomar essa festa dos professores. Vamos fazê-la bombar!
 
- Boa sorte com isso – falei e puxei as meninas para longe dali.
 
Avistamos uma mesa em que estavam Emma, Melanie e Eric, e fomos em direção a eles rapidamente.
 
- Estávamos esperando vocês três meninas, parabéns pela peça – Melanie nos congratulou, e sentamos nas cadeiras que estavam vazias.
 
- Cadê o Ben? – Ângela disse ao mesmo tempo em que Jéssica falava:
 
- Cadê o Mike?
 
Rimos das duas e Eric disse que eles logo chegariam. Conversamos por muito tempo, assunto não faltava; Jéssica e Emma não calavam a boca. Tagarelas.
 
Por um tempo esqueci-me de que ainda estava machucada até as dores aumentarem gradativamente. Peguei rapidamente um analgésico em minha bolsa e coloquei pra dentro. Não era hora pra dores e sim para comemorar, principalmente o fato de que eu não tinha gaguejado, caído ou desafinado no palco na noite de estreia.
 
Admito que eu não era o tipo de garota que ia em festas. Eu preferia passar o final de semana em casa, lendo um livro ou compondo músicas. Mas eu tive que vir esta noite se não Ângela iria me obrigar a vir de qualquer jeito.
 

Bebi um pouco de água, estava morrendo de sede. Não podendo confiar no ponche, e com o bar indisponível, água era a única opção até que Ben e Mike chegassem com os refrigerantes. Jéssica já estava dançando feito louca na pista de dança improvisada perto do DJ. Os garotos logo chegaram e a agarração começou.
 
Ok, eu tive que sair dali por que um casal já não era legal, imagine dois se beijando apaixonadamente na mesma mesa que você.
 
Para evitar os dois casais apaixonados, Emma, Mel e Eric foram dançar. Eu os acompanharia se não estivesse tão dolorida. Eu não tinha onde sentar, as mesas estavam todas abarrotadas pelos alunos – alguns já bêbados. Cogitei a ideia de contar a algum professor, mas desisti assim que me lembrei do trote que fizeram com a garota nova, ano passado. Colocaram um vídeo dela nua na internet. A garota mudou de país.
 
Era ridículo termos coisas desse tipo no colégio onde havia tanta gente talentosa. Mas era um fato que já havia virado normalidade. Não quer encrenca? Não se meta com esses garotos. E só. Não era tão difícil assim.
 
Olhei em volta e tudo estava abarrotado de gente. Eu estava começando a ficar meio tonta. Ainda conseguia ver os cabelos avermelhados de Mel brilharem na confusão, então fui em sua direção.
 
- Mel, avise os outros que eu vou indo, não estou em sentindo bem – falei logo a verdade, meio entorpecida.
 
- Ah não Bella! O que você tem? – ela disse alto, desesperada.
 
- Eu vou ficar bem, só estou um pouco... Tonta – falei sem forças, esperando que ela tenha ouvido.
 
- Quer que alguém te leve pra casa? Quer que eu ligue pro meu pai pra te levar de carro? – ela me puxava em direção à entrada do banheiro feminino, um lugar com menos gente.
 
- Ele vai demorar pra chegar, eu só quero sair daqui – reclamei.
 
Ela ficou calada por um momento, pensando.
 
- Olhe Mel, não se preocupe comigo, eu vou pegar um taxi – tentei fazer a minha voz parecer mais limpa e uniforme mais eu ainda parecia rouca. Ela ergueu as sobrancelhas, pouco convencida.
 
- É sério – falei, mas pareceu mais um suspiro. Uma náusea tomava conta de mim, meus ouvidos zumbiam. Eu me sentia claustrofóbica, respirando com força, buscando ar.
 
- Quer saber? Eu mesma vou te levar e depois volto, sua casa não é tão longe e eu não vou te deixar sair sozinha nessas condições...
 
- Como uma garota de quinze anos fosse me salvar de algum perigo. Vamos lá Mel, me deixe ir embora logo – suspirei.
 
- Ah, é? Então vou chamar o Eric para ir com a gente...
 
- Tanto faz. Vamos embora.
 
- Espere aqui. Você parece muito fraca pra procurar alguém nesse lugar abarrotado de gente. Já volto – ela prometeu e entrou no meio da multidão.
 
Com o passar dos segundos eu só me sentia pior, me irritava com a minha própria agonia. A cada pessoa que esbarrava em mim, eu me sentia mais claustrofóbica. A Melanie estava demorando tanto! Quanto tempo mais disso? Eu não aguentava. Sentia que podia vomitar a qualquer momento.
 
Decidi então ficar na saída do restaurante, onde teria mais ar fresco, esperando por eles lá. Comecei então a abrir caminho na multidão, fraca. Eu conseguia ver a porta de saída sendo aberta e fechada várias vezes de onde eu estava. Andei e andei o mais rápido que eu podia com aquela sensação de náusea. Pelo que pareceram anos depois de gente e mais gente no meio do caminho, consegui chegar à porta. Quando estava prestes a abri-la, aliviada, alguém esbarrou em mim. Tinha certeza que foi alguém por que senti a textura das roupas no meu braço. Mas a pessoa era tão dura! Eu sentia que tinha batido num muro de cimento coberto com roupas. Doeu.
 
Cambaleei para trás, quase caindo. Quando olhei para cima, tudo estava girando, não consegui ver quem havia esbarrado em mim, tudo estava embasado. Fiquei paralisada no mesmo lugar, esperando passar, confusa.
 
- Você está bem? – ouvi alguém perguntar, mas a voz parecia estar longe.
 
Abri a boca para responder mas acabou que saiu apenas uma lufada de ar, e mais nada. Respirei fundo e as coisas pareciam parar de rodar, agora eu conseguia ver mais claramente as pessoas.  Alguns segundos depois então respondi para quem que fosse, sinceramente:
 
- Não.
 
Então virei a cabeça para o lado oposto do que eu estava olhando e congelei.
 
Era ele.
 
Ele estava parado ao meu lado, a expressão preocupada. Não era como se estivesse com raiva, não era como se fosse me atacar. Seu semblante perfeitamente normal e cordial. Isso meio que me chocou. Ainda tonta, eu me sentia mais confusa do que nunca. Eu havia imaginado aquele olhar de ódio na aula de biologia? Eu estava ficando louca, afinal?
 
Ele parecia estar esperando de mim uma reação, mesmo eu já tendo respondido sua pergunta. Uma música pop tocava no restaurante e parecia estar longe diante de toda minha confusão. Eu já conseguia ver seu rosto normalmente outra vez através de minhas lentes de contato com grau, eu era praticamente cega. Mas ver seu rosto só piorava as coisas. Ele era incrivelmente bonito; mais que Jacob, mais que qualquer homem que eu já havia visto na vida.
 
- Q-quer dizer... Eu estou bem – gaguejei, tentando concertar meu erro de dizer a verdade inicialmente.
 
- Tem certeza? – Sua voz era suave, doce como mel.
 
- Sim – consegui falar.
 
Avaliei sua expressão, ele ainda não parecia convencido. Seus olhos eram cautelosos. De repente me senti sendo puxada para o lado oposto do seu rosto perfeito.
 
-Bella, você quer me matar de preocupação? – Melanie quase gritou, me segurando pelos ombros.
 
Ignorando-a, voltei para olhar para o lado onde ele estava, mas ele tinha sumido. Ok, talvez eu realmente tivesse ficado louca. Eu só podia ter imaginado aquilo tudo por causa da tontura, claustrofobia, ou o que quer que fosse. Suspirei e virei-me para Melanie.
 
- Vamos embora – falei, abrindo a porta e saindo para o ar fresco da noite.


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Notas finais do capítulo

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