I Think I Found Love escrita por Bruna Pattinson


Capítulo 1
1




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Andava pelos corredores em direção ao refeitório com minhas duas melhores amigas, Ângela e Jéssica. Era março e os preparativos para o musical de primavera estavam corridos, pois a primeira apresentação ocorreria daqui a uma semana. Os corredores que normalmente eram vazios durante a segunda aula do dia, estavam cheios com os alunos que iriam participar do musical. A aula nos foi cedida pela professora de história para ensaiarmos, mas estava uma tremenda confusão com a ausência da professora de artes cênicas (diretora do musical) e a professora de educação física, também formada em dança que era a nossa coreógrafa.

A Manhattan High School era a escola com o melhor programa de artes dos Estados Unidos. Durante o ano passado eu vi alunos e mais alunos que, ao saírem do ensino médio, iam pra as maiores faculdades do país. Eu estava no segundo ano, minha mente cheia de sonhos e expectativas para o futuro.

Não cansava de receber elogios sobre a minha voz logo depois que fiz o teste para o musical. A professora de artes ficou de queixo caído, ao saber que a menina tímida tinha uma voz incrível. Ou era isso que diziam. Consegui o papel que queria, uma cantora de bar com o qual o personagem principal se apaixona, mas no final percebe que era um sonho. O final da peça é trágico, pois ele comete suicídio ao saber que o melhor amigo morreu. A Sra. Mendes sempre gosta de finais trágicos.

Ela queria me dar um papel maior, pois a personagem que irei fazer só tem duas cenas e duas músicas, mas recusei. Eu ainda sentia medo do palco, pois era o meu primeiro musical, antes disso só cantava para minha mãe. E ainda era tímida mesmo depois dos meses de ensaio na frente de todos os alunos do programa de artes. Eu tinha decorado todas as falas (que não eram muito grandes) e as músicas estavam na ponta da minha língua, mas eu ainda não me sentia preparada.

O musical que iríamos fazer era muito vintage, as garotas com vestidos rodados e espartilhos, sapatos de salto e joias. Os garotos com terno e gravata e suspensórios. Era esperado que o teatro de nossa escola, com capacidade de um pouco mais de 1000 pessoas estivesse lotado no primeiro dia. E dentre essas pessoas, pais e amigos, iriam vir dois olheiros da universidade de Juilliard, a procura de novos talentos. Por parte era por isso que se devia o meu extremo nervosismo, fora o medo de palco. Eu queria tanto entrar nessa universidade que meus ossos doíam em pensar nas oportunidades que eu teria para fazer o que eu amava.

Antes mesmo de chegarmos ao refeitório para comprar algo para Jéssica comer, já que ela comia muito quando estava nervosa (mas não engordava um quilo, a miserável) a Sra. Mendes nos viu e mandou todos aos gritos para o auditório. Escutamos reclamação, é claro, e depois voltamos a ensaiar as cenas, as danças, e outros ajudavam com o cenário. Jéssica e Ângela não ensaiavam comigo, elas eram duas das paixões do personagem principal, que era feito por Jacob Black, o garoto mais cobiçado do colégio. Ele era bonito, cantava bem, e era o capitão do time de futebol. Grande coisa quando se é um ego humano. Garoto sem escrúpulos que namorava e usava de qualquer garota que quisesse e depois jogava fora. Conquistador de quinta. Eu odiava aquele filho da mãe, por que eu também fui uma dessas garotas ingênuas quando cheguei aqui, ano passado, sem saber de sua má fama. Acabou que o desgraçado me traiu.

Eu odiava falar sobre Jacob, até pensar nele me dava uma raiva homicida. Eu guardava rancores demais. Agora ele estava dando em cima da garota nova bem na frente da namorada vadia dele. Eu ri. Ela bem que merecia. Mas a pobre garota não, então tratei logo de agir.

– Com licença – falei quando cheguei perto da garota, de frente para Jacob – ela não quer transar com você, quer? – perguntei a ela com um olhar de se-disser-sim-você-tá-encrencada.

– N-não, obrigada – ela gaguejou, corada.

– Tá vendo? – falei com a sobrancelha erguida para Jacob, de modo frio – agora se manda, parasita.

– Eu sei que você me ama, Bella, mas não deveria ficar com ciúmes. – ele falou, irônico – sabe que eu sou de todo mundo – falou e piscou para a garota.

– Saí daqui agora, Jacob.

Ele as afastou ainda sorrindo e jogando beijos para nós duas. Suspirei, e voltei a olhar a garota ao meu lado, que estava assustada e confusa.

– Me desculpe por isso. Você não vai querer entrar na dele, vai por mim. – falei para ela, gentilmente, para ela não pensar que eu era uma maluca que se intrometia na vida dos outros.

– Obrigada. Ele estava enchendo meu saco há muito tempo, obrigada por me livrar dele.

– Não garanto que ele irá desistir fácil – falei, olhando-a com mais atenção, ela era bem bonita.

Conversei com ela por um bom tempo, seu nome era Emma. Garota legal. Convidei-a para almoçar comigo e minhas amigas e ela aceitou, animada. Logo então, parti para aula de biologia, não preparada para o tédio. Quando cheguei, percebi que todas as cadeiras estavam ocupadas, menos uma na frente, logo na frente! Nem poderia dar um cochilo, nem nada. Não prestei atenção quem estava do meu lado quando sentei, mas senti a pessoa se afastar para o lado oposto de mim. Quando olhei para cima vi que era um garoto, mas não um simples garoto. Ele era lindo. Foi a única coisa que consegui assimilar nos primeiros segundos, e então percebi sua postura.

Seus olhos eram pretos como breu, ele estava o mais afastado que a cadeira permitia de mim, a mão esquerda sobre a boca. A outra mão estava cerrada sobre a mesa, seu olhar era feroz. Como um predador. Desviei o olhar rapidamente, assustada. A aula então começou, mas não prestei atenção a uma palavra se quer. Eu fiquei a aula toda nervosa, como se algo de ruim fosse acontecer. Os minutos passavam extremamente devagar, até que levantei minha mão, pedindo aos sussurros para ir ao banheiro.

Enquanto caminhava em direção ao banheiro tentei me acalmar, eu estava sendo paranóica demais, vai ver eu estivesse com síndrome do pânico ou algo assim. Ele era apenas um garoto de 16 ou 17 anos, o que poderia me acontecer?

Entrando no banheiro lavei o rosto com a água fria, foi quando percebi que estava suada. Respirei fundo encostada na pia, quando ouvi a porta sendo aberta, gritei. Ângela gritou também. Parei e coloquei as mãos no coração, ele estava acelerado.

– QUER ME MATAR DE SUSTO, BELLA?- Ângela gritou para toda escola ouvir.

– Shh, shh! Você que quase me matou de susto – falei, tentando acalma-la. Depois apoiei as mãos novamente na pia e respirei fundo.

– Você está bem? – ela disse se aproximando e me olhando com mais atenção.

– Estou sim – falei rapidamente.

– Mas não parece. Você está mais pálida que o normal, Bells – Ângela então me virou e colocou a mão e minha testa.

– Estou bem, é sério, Ângela. Deve ser esse calor que tá aqui em NY – menti, tirando sua mão de minha testa e ajeitando meus cabelos num rabo de cavalo. Ela assentiu, mas não me pareceu realmente convencida. O sinal tocou para a aula seguinte logo assim que saímos do banheiro e corri para pegar minhas coisas na sala de aula. Por sorte o garoto não estava mais lá, e nem nas outras aulas que se seguiram. Descobri que tinha duas aulas com a Emma, física e matemática.

Chegou a hora do almoço e ela me acompanhou para a mesa onde normalmente minha ‘turma’ sentava. Jéssica e seu namorado, Mike Newton estavam sentados juntos, como sempre. Ele inicialmente tentou conseguir algo comigo, mas depois de Jacob nunca mais confiei em nenhum garoto desse colégio. Ele era legal, é claro, mas sempre achei que faltava algo na relação deles, que talvez eles estivessem juntos por conveniência.

Ângela e Ben estavam juntos também, eles começaram a namorar um mês atrás. Eles ficavam bem juntos, um completava o outro. Sentia que aquilo poderia ir ao casamento. Ri em pensamento. Ao lado de Ângela estava Melanie, uma das garotas mais inteligentes que eu já havia conhecido. A garota era um gênio. Tanto que com quinze anos já estava no segundo ano. Ela também era uma das pessoas mais ingênuas do mundo. Por isso ela era como minha filha ‘não-parida’, eu sentia a obrigação de protegê-la. Ela sempre me ajudou nos estudos.

Quando cheguei, Melanie me abraçou e todos deram suas saudações. Apresentei Emma a todos, deixando-a vermelha como um tomate o que fez todos rirem. Deixe-a engatar uma conversa com a Mel, uma boa influência para a garota. Rapidamente me perdi em pensamentos, até que me lembrei do incidente da aula de biologia. Olhei em volta de todo o refeitório, procurando-o, mas nas diversas vezes em que passei meus olhos em cada mesa com calma, não o achei.

Percebi a presença de alunos novos na mesa mais afastada do refeitório. Eram dois casais, uma loira linda e um homem muito musculoso, sentados lado a lado. Do outro lado da mesa havia uma garota baixinha e pequena, com cabelos pretos e outro garoto loiro com um olhar muito estranho. Não diria que eles eram irmãos, mas eles todos tinham características em comum: Eram extremamente lindos, pálidos mesmo com o sol que fazia em New York, olheiras não tão profundas abaixo dos olhos que eram todos na mesma cor de topázio.

Eu reconheci essas características do garoto da aula de biologia, mas ele tinha os olhos pretos. Tirando que eu nunca havia visto esse tipo de cor meio dourada nos olhos de ninguém. Parecia, para mim, que tudo estava muito estranho naquele dia, que eu havia perdido algum fato que estava bem na frente do meu nariz.

– Emma, você conhece aquele pessoal ali? – perguntei, apontando discretamente para a mesa onde o quarteto sinistro estava sentado. Eles eram novatos, ela era novata... Talvez os conhecesse.

– Não os conheço, mas acho que sei quem são... – ela falou baixinho. Sorri e ela prosseguiu:

– Quando vim me matricular com a minha mãe, tinha outra senhora... Não senhora, mulher... Pelo que percebi ela matriculou seus cinco filhos aqui, eu estranhei, por que ela me pareceu nova demais para ser mãe de adolescentes, até ela mencionar que eles eram adotados. Tenho quase certeza que são aqueles ali, mas ela disse cinco. O nome de uma é Alice, se não me engano...

Enquanto Emma falava, eu os observava, e vi o olhar da garota de cabelos pretos imediatamente parar sobre nós, assim que a Emma mencionou o tal nome. Desviei o olhar rapidamente, assustada. Emma olhou para onde eu estava olhando, e também desviou o olhar ao perceber a atenção da garota estranha.

– A-acho que sei quem é que falta... – gaguejei baixinho, nervosa. – tem um garoto novato na minha aula de biologia, provavelmente é irmão deles.

– Eles são muito estranhos – Emma sussurrou.

– O outro irmão é ainda mais...

A nossa conversa parou ali assim que Jéssica chamou minha atenção para eu ajuda-la a terminar de decorar as falas para o musical. Aquilo não me acalmou, eu continuava com uma angústia estranha desde que vira aquele garoto.

O sinal tocou, anunciando o fim do almoço. Fui para minha próxima aula desanimada, e assim o resto do dia se passou. Não consegui prestar atenção em nada que os professores diziam, e minha cabeça doía. No fim da última aula, suspirei aliviada.

Peguei minhas coisas rapidamente, em direção à saída da sala de aula, mas uma voz me impediu.

–Srta. Swan, será que você poderia me ajudar com essas provas aqui? É só organiza-las em ordem alfabética conforme eu as corrijo. – A professora de História com certeza estava querendo me punir pela minha falta de atenção. Quando vi as pilhas imensas de folhas desgastadas arregalei os olhos. Iria demorar décadas para terminar tudo aquilo.

– Lamento professora, mas...

– Não aceito não como resposta, Srta. Swan – me interrompeu rapidamente, num tom seco.

Suspirei.

Passamos o fim da tarde inteira naquele trabalho tedioso. Quase gritei de frustração, pois planejava convidar a Emma para jantar em minha casa hoje, junto com todo mundo, para deixar a menina mais confortável com o novo grupo de amigos. Ela me parecia leal e inocente, e com certeza aquela escola a poluiria se ela se envolvesse com pessoas erradas. Então decidi mantê-la de baixo de minha retaguarda.

– Obrigado, Srta. Swan – Disse a professora, quando terminamos tudo.

De nada, sua velha idiota. Agora eu iria chegar tarde em casa e minha mãe despejaria reclamações de todos os tipos em cima de mim, sem nem esperar explicações.

Digamos que minha relação com a minha mãe não é lá das boas. Eu tento sempre levar esse assunto na esportiva, mas o problema é que nunca dá certo.

Quando eu tinha doze anos, meu pai abandonou minha mãe, deixando-a sem nada, com dois filhos para criar. Ela teve que trabalhar duro para nos sustentar, para me sustentar principalmente, por que eu ainda era uma criança. Ela não podia trabalhar o dia todo, pois tinha que cuidar de mim e não podia pagar uma babá. Assim, o dinheiro nunca era suficiente. Meu irmão já estava entrando na maior idade, e isso a deixou feliz, pois ele poderia ajuda-la com as despesas. Ele fazia um estágio numa empresa de artigos esportivos para ajudar a nossa mãe e estava prestes a entrar numa das melhores faculdades do país. Ele tinha uma banda e a coisa parecia estar indo em rumo à fama e sucesso, e ele jogava futebol como ninguém. Minha mãe morria de orgulho dele, passava o dia inteiro dizendo coisas como: “Seu irmão nunca fazia isso quando tinha sua idade...” “Seu irmão tirava notas maiores...” “ Siga o exemplo do seu irmão...”

Um dia, de madrugada, eu acordei com uma dor terrível nos ouvidos, me lembro com clareza até hoje. Minha mãe não quis me levar para o hospital tarde da noite, então Anthony disse que ia comprar um analgésico na farmácia mais próxima para acalmar a dor enquanto não amanhecia. Ele nunca mais voltou. Um motorista bêbado num caminhão bateu no carro do meu irmão a cinco quadras de distancia da minha casa.

Passei o resto da minha triste infância e adolescência sentindo falta do meu irmão a cada segundo que se passava e ouvindo da minha mãe que eu era a culpada de sua morte. Que se não fosse minha frescura o Anthony estaria vivo fazendo sucesso com sua banda, ou até sendo um jogador de futebol. Ouvi diversas vezes que meu irmão era talentoso, inteligente, uma coisa que eu nunca seria. Perdi a conta de quantas vezes ela disse que eu não cantava bem, que eu era horrível quando tocava piano, que as minhas notas não eram boas o suficiente. Nunca fui boa o suficiente para minha mãe. Sempre que eu chegava tarde do colégio ou recebia alguma reclamação de professores era uma enxurrada de reclamações.

Nunca tive coragem para reponde-la, dizer que ela estava errada. Sempre escutava calada, o que a aborrecia ainda mais. Ela sempre dizia que eu nunca conseguiria me casar por ninguém e se conseguisse a pessoa iria morrer de tédio. Dessas eu até ria.

Toda vez que eu me era bem sucedida em algo ela não dizia nada além de: “Não fez mais que sua obrigação.” Minha mãe sempre acabava com minha felicidade. Que coisa triste.

Como eu disse, eu sempre levava na esportiva. Estava cansada de sofrer.

Quando saí da sala percebi que os corredores estavam escuros, que já estava de noite. Apressei o passo para sair direto pela porta mais próxima, quando um vulto me fez parar. Meu coração estava a mil, minha cabeça pulsando de dor e meus pés dormentes de tanto que fiquei sentada com as pernas cruzadas. Minha garganta estava seca, piorando toda a situação. Eu me sentia adoentada e morrendo de medo, seria uma vítima fácil para qualquer um.

Tentei me acalmar. Estou no colégio, nada de ruim pode acontecer. Falei para mim mesma, enquanto voltava a andar. Saí do colégio aliviada, enquanto andava pelas ruas movimentadas de New York. Não sentia mais medo e decidi cortar caminho para chegar o mais rápido possível em casa. Entrei num beco entre dois prédios com paredes de tijolos, que dava para uma rua bem próxima a minha casa.

Andei tranquilamente até que algo puxou meu pé. Arfei mas não gritei, minha garganta ainda seca por falta de água. Olhei para baixo e vi um mendigo com um olhar malicioso. Arregalei os olhos, puxando meu pé com força, o que só o fez segurar mais forte provocando uma dor ainda maior, me impedindo de me desvencilhar de seu aperto.

Ele então puxou minha outra perna, me pegando de surpresa. Sem equilíbrio caí de cara no chão sujo e molhado do beco, que cheirava a cerveja e fumo. Senti a dor do arranhão que a queda provocou em minha bochecha esquerda e a dor de meu pulso, com a pressão de todo meu peso sobre minha mão. Gemi de dor, e antes que eu pudesse me levantar novamente, o homem sujo e fedorento girou meu corpo, me fazendo ficar de frente para o céu escuro. Seu rosto enrugado então entrou em minha visão, e sua mão direita segurou minhas duas mãos com força acima de minha cabeça.

Com a outra mão ele rasgou minha blusa de algodão, deixando minha roupa intima á mostra. Consegui arranjar forças no meu desespero e gritei o mais alto que pude. Logo depois senti sua mão pesada em meu rosto e a dor foi atordoante. Gritei novamente, o que me fez sofrer outra batida, só que agora nas costelas. Meu grito seguinte foi de dor. Ele me bateu novamente no rosto.

- Fique quieta, sua vadia – ele murmurou, com raiva.

Em um segundo ele estava sobre mim, desabotoando minha calça, até que eu vi a oportunidade. Empurrei meu joelho com toda força que ainda me restava direto na sua virilha, o que o fez urrar de dor, soltando minhas mãos. Me afastei rapidamente, ignorando a dor que eu sentia em todas as partes do meu corpo. Comecei a engatinhar para o lado oposto do beco, no qual a rua estava mais próxima, gritando por ajuda. Mas ele já estava em pé novamente, e eu só senti o impacto de seu pé em minha barriga. Isso bastou. A dor tomou conta de todas as minhas forças para fugir. E eu só esperei o pior, caída naquele chão horroroso.

Ouvi então coisas que não esperava. Pancadas e uma queda. Um arfar de surpresa. Então, uma mão fria me tocou e eu estremeci.

– Vai ficar tudo bem – disse uma voz masculina suave.

E então entrei na inconsciência.

Acordei num quarto completamente em tons de branco e bege, ouvindo os sons dos aparelhos em que eu estava conectada. Sentia-me dolorida, meu tronco doía mais que tudo. Percebi os curativos em meu rosto, minha perna e minha costela. As lembranças da noite anterior vieram como uma enchente, me fazendo ficar com medo novamente. Virei a cabeça para o lado esquerdo, dando de cara com Ângela e Emma conversando baixinho, sem perceber meu olhar.

– Ai – eu gemi de dor quando tentei me sentar.

– Oh, meu Deus, Bella! – Ângela falou, percebendo que eu estava acordada se aproximou para me abraçar delicadamente. Emma me sorriu e as duas se ajoelharam ao lado de minha cama.

– Eu pensei que eu não fosse conseguir escapar... Eu... Como eu vim parar aqui? – consegui falar, minha mente completamente confusa.

– O Dr. Cullen te salvou Bella. Você não iria acreditar, ele é pai dos alunos novatos do colégio! Ele ouviu seus gritos e conseguiu afastar aquele homem de você antes que ele... – Ângela falou devagar, como se não tivesse certeza de que eu estava entendendo.

– A-agora eu me lembro – gaguejei.

– Ele é médico nesse hospital, te trouxe pra cá e depois contatou sua mãe... Graças da Deus você não correu risco de morte, só uma costela quebrada, alguns arranhões e hematomas. Você quase me matou de susto, Bella! Quando soube que você estava aqui, só pensei o pior. Jéssica não pode vir, por que a mãe dela não a deixou faltar aula, então eu chamei a Emma para não vir sozinha enfrentar a simpatia da sua mãe. Quase que ela não nos deixa entrar... – Ângela tagarelou, me colocando a par dos fatos.

– Vocês não precisavam ter faltado aula por mim Âng, e os ensaios para o musical... O MUSICAL! – ter aumentado o tom de voz doeu, me fazendo franzir a testa. Eu não podia ficar aqui, eu tinha que me curar logo, só faltava uma semana...

– Shh, shh! Bella, vai ficar tudo bem...

– Não vai, Ângela! O musical é daqui a uma semana e eu aqui presa nessa cama! – senti as lágrimas começarem a escorrer por meu rosto, e a raiva tomar conta de mim.

– Calma Bella, por favor! Vamos falar com o médico primeiro, provavelmente você vai se curar a tempo para o musical – Emma tentou me acalmar, e Ângela acariciou meus cabelos. Respirei fundo e enxuguei minhas lágrimas, afastando minha raiva para o fundo de minha mente. Eu era muito boa em ignorar coisas desagradáveis.

– Tudo bem – concordei por agora, eu não poderia ficar naquele hospital depois de meses de ensaio, esforço e ansiedade para aquilo. Meu futuro estava nas mãos daqueles olheiros da universidade Juilliard, e se eu não conseguisse impressiona-los, ou pior, se eu não estivesse lá, seria o fim das minhas esperanças para conseguir uma bolsa de estudos. Minha mãe não tinha condições de pagar uma universidade como aquela, exercendo a função temporária de balconista de um café. Não é como se ela fosse pagar se tivesse condições, sabe como é; Minha mãe odiava a mim e a minha música. Mesmo com meu emprego meio período na loja esportiva dos Newton, eu não tinha juntado dinheiro suficiente nem para o primeiro mês da fortuna que era o preço da mensalidade.

Minhas notas caíram nos últimos meses por que a única coisa que eu conseguia pensar era que eu não ia conseguir. Que eu não era boa o suficiente, como a minha mãe dizia. Não consegui compor, muito menos cantar outra coisa além das minhas duas músicas do musical. Ok que muitas pessoas pensariam: Por um papel tão pequeno e ela faz esse escândalo? Nunca estive num estado tão dramático. Talvez seja coisa de artista de palco, ou coisa assim.

A questão que eu teria que fazer aquele musical. Nem que fosse de muletas.


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