Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 50
Capítulo 46 - Dor & Traição


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo as coisas não ficam bem pra Ruby e Killian. Vocês sabem como a Regina não mede esforços pra conseguir o que quer, mas é por isso que adoro ela rsrs Se acharem que ficou confuso me digam. E lembrem-se que a Ruby estava grávida quando a maldição aconteceu, então esse filho é do Killian, só que eles não se lembram. Devo postar o próximo amanhã, estou terminando de escrevê-lo. E também vou postar uma one shot Captain Wolf e espero que leiam. E não sei dizer com certeza quanto tempo mais essa fic vai durar, mas eu meio que comecei a trabalhar na minha próxima fic. Tive muitas ideias, mas ainda estou indecisa. Provavelmente a próxima vai ser a fic que eu falei que ia misturar Once e Supernatural. Não sei se vai prestar, mas vou escrever e ver no que dá rsrs Bom, espero que gostem.



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Capítulo 46 - Dor & Traição

Enquanto a vida de Ruby mudou pra melhor, a vida de sua amiga Mary Margaret estava decaindo. Mary agora era oficialmente suspeita por assassinato. Um procurador veio, examinou as provas, fez umas perguntas a Mary e então Regina ficou muitíssimo satisfeita quando disseram que o caso seria levado a julgamento. Para Mary aquilo era o fim, mas Emma tinha fé de que tudo ia se resolver.

Mas aí Mary achou uma chave escondida em sua cela. Emma tinha saído e Mary estava sozinha na delegacia. Parecia quase um sonho, mas ela testou a chave na fechadura e a porta da cela se abriu. Mary não sabia o que fazer e decidiu fugir. Ela não tinha chance contra a Regina e todas as provas apontavam pra ela. E o que seria dela? Acabaria sendo levada pra uma penitenciária em Boston e ficaria lá até o fim de sua vida. Pobre Mary Margaret...

Felizmente, Emma acabou por ir atrás de Mary e a encontrou antes que ela deixasse a cidade. Bem, na verdade, não a encontrou da forma como queria encontrar. Ao invés de encontrar Mary correndo pela estrada, Emma a encontrou amarrada numa cadeira, na mansão de um homem louco.

O homem era Jefferson, que na Floresta Encantada seria o Chapeleiro Maluco. O homem era tão louco que acreditava mesmo nessa história de ser o Chapeleiro. Ele enganou Emma e a seqüestrou, logo depois de ter encontrado Mary na floresta e a ter seqüestrando também. Ameaçando a Xerife e Mary com uma arma, ele ordenou que Emma fizesse um chapéu e fizesse-o funcionar como um portal para o mundo mágico. Para Emma aquilo tudo era loucura, embora fosse a verdade.

Há vinte e oito anos, Capitão Gancho viajara por um chapéu mágico – o chapéu do Chapeleiro – e chegara ao País das Maravilhas. É claro que ele não se lembrava, mas o chapéu era um portal e era real. Agora pertencia a Regina e o Chapeleiro queria que Emma fizesse outro chapéu e o fizesse funcionar. Já que ela era a Salvadora, seria poderosa o suficiente para abrir o portal.

Só que Emma não acreditou em nenhuma palavra do que ele disse. Ela e Mary acabaram dando uma surra no homem e ele caiu pela janela depois de ser empurrado por Mary. Jefferson desapareceu e Mary Margaret retornou com Emma pra delegacia. De todo modo, dissera Henry, não havia como a professora fugir da cidade, já que coisas ruins aconteciam com quem tentava deixar Storybrooke.

Mas agora haveria um julgamento. Regina sorria de uma orelha a outra. Por que ela odiava Mary? Henry sabia, estava no livro. Emma, é claro, não acreditava.

Os dias tinham sido confusos. Primeiro Emma achou que Sidney estava do lado dela, tentando encontrar provas de que Regina era corrupta e fazia coisas ruins. Depois achou que podia confiar em August. Ela e August tinham achado um pedaço de ferro – que talvez pertencesse a uma pá – nas margens do rio, perto do local onde Ruby tinha achado a caixa com o coração. Emma tinha certeza de que a pá pertencia a Regina e ela encontrou a pá na garagem da prefeita. Mas ela fez isso à surdina, quando Regina não estava em casa, e se quisesse acusar a prefeita, teria que fazer isso direito. A Xerife não podia simplesmente prender a prefeita, porque agiu de forma ilegal e fuçou a garagem da mulher sem ter permissão. Se quisesse fazer da forma certa, Emma ia precisar de um mandato de busca. Foi o que ela fez, mas quando voltou à garagem da prefeita, com o mandato de busca em mãos, a pá não estava lá. Regina sabia que Emma estava vindo e dera sumiço à ferramenta.

A culpa era do August. Ela confiara no homem errado. Só ele sabia sobre a pá. Emma presumiu que ele contara a Regina e ficou muito brava com o homem. O coitado nem sabia do que ela estava falando, mas Emma nem quis ouvir o que ele tinha a dizer.

Quando voltou à delegacia, Emma estava tão nervosa e irritada que quase quebrou tudo. Mary se assustou, querendo saber o que acontecera, e Emma explicou que ela tinha uma prova de que Regina armara para Mary, mas que graças a August, ela não tinha essa prova mais. Mary, desanimada, disse que Emma não devia se preocupar, que provavelmente ela ia ser culpada por assassinato e aí Regina finalmente a deixaria em paz.

Mas Emma se preocupava demais. Mary Margaret era sua amiga, sua família. Ela não ia permitir que ela fosse acusada assim. Enraivecida, Emma arremessou um vaso de flores contra a parede e acabou por descobrir uma escuta escondida dentro dele. Ora, o vaso tinha sido presente de Sidney, o mesmo Sidney que dissera ter sido demitido por Regina e agora queria se vingar da prefeita. Mas é claro, como Emma tinha sido burra! Sidney, ela agora percebia, amava Regina e fazia tudo o que ela queria. Ele tinha plantado aquela escuta na delegacia e foi assim que Regina descobriu sobre a pá. A prefeita estivera vigiando a xerife!

“Droga! Vou ter que me desculpar com o escritor...”, Emma pensou e saiu correndo à procura de August. Encontrou-o quando ele saía do Granny’s.

– Me desculpe – ela disse, arrependida por ter acusado o homem injustamente.

– Pelo o quê? – ele perguntou tranquilamente.

– Por ter duvidado de você.

Emma mostrou a August a escuta que encontrara e disse que ele estava certo, ela confiara na pessoa errada. August disse que estava tudo bem e que nem sempre víamos o que estava na nossa frente. Ele sabia que ela logo ia descobrir que ele era inocente. Bem, ela tinha descoberto. Os dois pareciam ter um tipo de ligação, mas Emma só iria descobrir isso um tempo depois.

Enquanto isso, Ruby fazia suas tarefas rotineiras. Feliz por estar noiva de Killian, ela nem reclamava por ter que trabalhar, embora se sentisse mal de vez em quando. Nesse dia ela teve que pôr o lixo pra fora, coisa que detestava. Mas qual não foi sua surpresa quando encontrou uma pessoa caída no beco nos fundos da lanchonete? A princípio, Ruby achou que poderia ser um mendigo ou um bêbado. Poderia ser o idiota do Peter, o filhinho de papai que gastava toda a fortuna em bebidas. Mas aproximando-se, Ruby viu que era uma mulher loira. E não era uma mulher qualquer...

Ruby abriu um berreiro e Emma e August correram até ela. Várias pessoas ouviram os gritos da garçonete e também vieram. Ruby veio cambaleando até Emma e parecia ter visto fantasma.

– Ela está no beco... – foi tudo o que a moça conseguiu dizer.

Emma correu até o tal beco. Havia uns carros estacionados ali e uma rua que passava por trás da pensão e lanchonete. A Xerife se abaixou ao lado da mulher e o que viu a deixou chocada.

– Kathryn?

Como? Ela não tinha morrido? Ruby não tinha encontrado a caixa com o coração de Kathryn dentro? A análise confirmara que o coração era de Kathryn, mas obviamente, e agora podiam afirmar isso, o resultado havia sido falsificado.

– Você está bem? – Killian encontrou Ruby, quando soube que fora ela quem vira Kathryn no beco.

– Sim, um pouco chocada, na verdade. Como é que ela pode estar viva?

É, havia uma explicação pra isso. A pobre Kathryn foi levada ao hospital e contou a Emma tudo o que se lembrava. Ela estava saindo de Storybrooke, ia pra Boston pra estudar Direito, mas aí bateu com o carro e depois acordou num lugar escuro, talvez um porão. Ela fora alimentada, mas também achava que tinha sido drogada, o que Dr. Whale confirmou. Depois ela se lembrava de ter saído do porão de alguma forma, aí saiu caminhando e acabou caída no beco. E só isso. Não se lembrava de mais nada que pudesse ajudar Emma a descobrir o que acontecera.

Mas a boa notícia é que Mary fora liberada. Já que Kathryn estava viva, as acusações contra Mary não tinham fundamento algum. Regina, é claro, poderia ter destruído a cidade inteira de tanta raiva, mas não havia mais nada que ela pudesse fazer. Haveria uma festa no apartamento de Mary, pra comemorar sua volta, e Ruby queria que Killian fosse com ela.

– Mas eu não sou íntimo da senhorita Blanchard – ele disse, quando os dois se encontraram em frente ao Granny’s.

– Não importa. Você é meu namorado e quero que vá comigo. Até a vovó vai, e olha que ela foi a primeira a julgar a Mary. Por favor...

Não havia como dizer “não” a ela, simples assim. Ruby conseguia tudo o que queria. Ele concordou em ir e eles se encontraram mais tarde. Vovó estava levando uma de suas tortas de maçã e explicava por que estava indo à festa.

– Ah o que posso dizer? – ela ajeitou os óculos – A gente se engana às vezes. Como é que eu ia saber que ela é inocente?

– Mary sempre foi minha amiga, vovó. É claro que ela jamais mataria Kathryn.

– É, mas foi o que todo mundo pensou e olhe agora: estão todos indo pra festa.

Era engraçado. Quando Mary fora acusada de assassinato, apenas Emma, Ruby, Henry e Gold ficaram do lado dela. Até David Nolan achava que ela era culpada, já que as evidências indicavam que Mary era uma assassina. E agora todos os outros tinham simplesmente ignorado o fato de terem duvidado dela e estavam indo à festa organizada por Emma. Talvez fosse um jeito de pedirem desculpas, em todo caso.

– Oi! Que bom que vieram! – Mary abraçou os três quando chegaram ao apartamento. – Killian, que surpresa!

– É, a Ruby insistiu que eu visse – ele respondeu meio sem jeito. Não se sentia muito à vontade, ele mal conhecia Mary.

Mary lançou a Ruby um olhar maroto.

– Estamos namorando – a garçonete anunciou.

– É mesmo? – a outra sorriu – Ah, é realmente bom saber que minha amiga arrumou um namorado decente. Fiquem à vontade, eu já volto.

Henry estava lá e acenou para Killian. O garoto conversava com August Booth e Ruby achou que seria uma ótima oportunidade para Kate, se ela tivesse ido. Gold também estava lá, assim como Billy, Archie, Dr. Whale e outras pessoas que Killian não conhecia. Emma e Mary serviam ponche e Ruby ficou enjoada com o cheiro doce da bebida.

– Respire fundo – disse Killian, segurando a mão dela.

– Tá tudo bem. - ela pôs a mão na cabeça – Ainda não me acostumei com esses cheiros doces...

Henry comprara um presente para a professora, um sino, e junto trouxera um cartão que toda a turma ajudara a fazer.

– “Estamos felizes por você não ter matado a senhora Nolan” – Mary leu em voz alta e todos riram. Havia as assinaturas de todos os alunos. Ela estava mais do que ansiosa pra voltar a dar suas aulas.

Killian conversava com Archie e logo Mary e Emma puxaram Ruby para um canto.

– Temos perguntas a fazer – disse Mary.

– Ah, um interrogatório – Ruby tomava refrigerante ao invés de ponche – Eu já esperava isso.

– Então acabou se rendendo aos encantos do senhor Jones? – Emma sorriu marota – Olha só quem disse que não estava apaixonada.

– Conte tudo! – pediu Mary.

– Bem, nós nos apaixonamos, ele se declarou pra mim, disse que me ama e me pediu em casamento – Ruby falou tudo de uma vez. Mary se engasgou com ponche e Emma arregalou os olhos.

– Casamento? Mas já? – pelo visto a Xerife não era adepta a relacionamentos sérios.

– Está de brincadeira, não é? – Mary riu achando que Ruby estava brincando – Não está mesmo acreditando nisso, não é Emma?

– Não, é sério. Estamos apaixonados – Ruby suspirou e olhou pra Killian, que ainda conversava com Archie – E o Killy... ah ele é tão fofo e romântico! É o homem perfeito pra mim.

– Oh, pelo visto aconteceu muita coisa enquanto estive naquela cela. – Mary engoliu o resto do ponche – Vocês vão ter que me pôr a par de tudo. Mas e sua avó? O que ela achou?

– Ela disse que quer me ver feliz e ela aprova esse casamento.

– Quem diria! Eu quero ser madrinha e a Emma... bom, ela pode ser dama de honra. – Mary brincou.

– Ah seria bom vê-la de vestido, pra variar.

Emma revirou os olhos fazendo as duas rirem. Depois a Xerife foi até Henry, dizendo que ele fosse pra casa antes que Regina criasse caso. Quando ia abrindo a porta para o garoto, Emma se deparou com David, que estava prestes a tocar a campainha. Mary não queria falar com ele e Emma disse a David que não era uma boa hora. David então levou Henry pra casa, enquanto Mary ficava de coração partido.

– Você não vai perdoá-lo? – Ruby perguntou e Mary negou com a cabeça.

– Como posso perdoar o homem que duvidou de mim? Sei que as evidências apontavam pra mim, mas ele poderia ter acreditado na minha palavra. Não era pra ser... Desde o início as coisas trabalharam pra que ficássemos separados...

Pobre Mary, talvez ela encontrasse outro amor que valesse a pena.

Mary se afastou para falar com seus outros amigos e Billy veio falar com Ruby. Ele vira quando ela chegara com Killian e estava curioso por saber se os dois estavam juntos.

– Você tá bonita – ele elogiou e ela agradeceu.

Billy era um cara legal, mas muito pegajoso. Ele era mecânico e também tinha um caminhão de reboque. Um bom rapaz, a Vovó diria.

– Vocês estão juntos? – Billy perguntou olhando na direção de Killian. Ruby ficou meio sem graça, já que ela e Storybrooke inteira sabiam que Billy tinha uma queda pela garçonete.

– Sim, estamos...

– Hum. – ele bebeu um pouco de ponche, mais por não ter o que dizer do que por estar com sede.

– Billy...desculpe por eu... nunca ter te dado uma chance. Acho que... acho que não ia dar certo entre nós, entende?

– Não, tá tudo bem! – ele abriu um sorriso. É claro que não estava bem. Ele era a fim da Ruby desde... bem, desde sempre – Não se preocupe com isso. Podemos ser amigos, não é?

– É, podemos...

Killian veio até eles, enciumado por ver a garçonete conversar com aquele cara.

– Ah Killian, este é o Billy – ela apresentou – E Billy, este é o Killian.

Eles se cumprimentaram com um aceno de cabeça e Billy pediu licença, dizendo que ia se despedir de Mary Margaret.

– Quem é ele? – Killian perguntou, seu tom de voz indicando o quanto ele estava enciumado.

– Só um amigo. Na verdade ele sempre foi a fim de mim, mas eu nunca quis nada com ele.

– Hum.

– Está com ciúmes? – ela riu, divertindo-se com a situação.

– Não, claro que não.

– Está sim!

– É, eu não gosto que minha namorada fique conversando com outros caras, mas posso lidar com isso.

Eles riram e Ruby perguntou sobre o que Killian estivera conversando com Archie. Ele respondeu que conversaram sobre várias coisas, entre elas o fato de Killian estar socializando e o fato de agora ele ter uma namorada. Todos pareciam se surpreender com esse namoro, já que ninguém achava que um dia Ruby fosse namorar sério. Em todo caso, agora que Ruby tinha namorado, Emma passara a ser a solteira mais cobiçada da cidade.

E falando na Xerife, ela ainda tinha que descobrir quem mantivera Kathryn em cativeiro. Emma podia apostar que fora o senhor Gold, já que ele dissera algo sobre fazer uma mágica e então Kathryn aparecera umas horas depois. Talvez o homem estivesse trabalhando com e contra Regina ao mesmo tempo.

E falando na prefeita, Mary acabou por contar a Emma o que Regina lhe dissera, enquanto ela ainda estava naquela cela. A mulher sabia que Mary era inocente. Talvez isso fosse uma prova de que fora ela a responsável por incriminar a professora. Regina odiava Mary Margaret por alguma razão. Henry dissera que era pelo o fato de Branca de Neve ter acidentalmente destruído o amor da vida de Regina. Emma e Mary não acreditavam nessa história, mas devia haver uma explicação pra aquele ódio todo.

Quando voltou à delegacia, na manhã seguinte, Emma surpreendeu-se quando Sidney veio com Regina e fez uma confissão. Nas palavras do jornalista, fora ele quem raptara Kathryn e a mantivera presa numa casa abandonada perto do lago. E fora ele quem subornara um técnico do hospital pra conseguir o coração humano e a falsificação no resultado. E além de tudo, fora ele quem roubara chaves de Regina – uma delas abria o apartamento de Mary Margaret –, entrara no apartamento e colocara a faca no tubo de ventilação. Ele fizera aquilo, apenas ele. E tudo isso pra que depois ele “encontrasse” Kathryn, virasse um herói e resolvesse a maior história, o maior caso que aquela cidade já vira. Ele teria seu emprego de volta e o reconhecimento das pessoas.

Claro que Emma não acreditou em nenhuma palavra. Era óbvio que Regina fizera Sidney dizer aquelas coisas, assim ela sairia imune. Sidney devia mesmo amar a prefeita, a ponto de ir preso no lugar dela. Emma não acreditava que aquela história fosse verdade, mas o jornalista assegurou que ela encontraria algemas no porão em que Kathryn fora presa, além de impressões digitais dele. Aí Regina disse que o homem devia estar mentalmente desequilibrado e ao invés de ir pra cadeia, o coitado acabou trancado numa cela na ala psiquiátrica do hospital.

E Regina não parou por aí. Ela era perigosamente cruel. Mary Margaret nem queria ver David Nolan na sua frente. Finalmente a prefeita conseguira separá-los, mas ainda havia trabalho a ser feito. O senhor Jones e a senhorita Lucas não deviam ficar juntos. A Rainha Má era quem mandava ali e ela queria que as pessoas sofressem, separadas de quem elas amavam. E foi por isso, pelo bem da maldição e pelo prazer de destruir mais um amor verdadeiro, que ela fez o que fez...

***

O fato de a história ter se revelado chocou o povo de Storybrooke. Como Sidney dissera, aquela fora a maior história que Storybrooke já vira. As pessoas não paravam de comentar sobre a insanidade do jornalista e sobre o fato de ele ser oficialmente um louco em tratamento.

E com isso, o Storybrooke Daily Mirror teve o maior número de vendas em anos. O jornal da manhã seguinte só falava sobre o impressionante caso que envolvera Kathryn e David Nolan e a senhorita Blanchard.

Felizmente, a vida de Mary Margaret já voltara ao normal e ela retornara à escola, onde foi muito bem recebida por seus alunos. Mas ela não queria saber de David, nem de qualquer outro amor que se colocasse em seu caminho. Ela até que entendia a Emma. No fim, quando o coração não conseguia mais lidar com a dor, a pessoa apenas erguia paredes à sua volta, para evitar se apaixonar novamente. Triste, mas ainda assim, a realidade...

Killian estivera fazendo valer a pena o seu cargo como gerente da peixaria. Esmeralda o elogiava sempre e ele só esperava que ela não viesse com mais uma ideia brilhante de fazer um comercial. Orlando, tal como todo mundo da cidade, surpreendera-se quando soubera do namoro de Killian e Ruby e surpreendera-se mais ainda quando descobriu que eles iam se casar.

– Não está levando isso a sério demais? – ele perguntara ao amigo – Eu sei que a Ruby mudou muito, mas talvez ela não seja mulher pra casar.

– Aconteceu que eu a amo, Orlando. – Killian sorriu ao pensar na sua Ruby – E ela me ama também, estamos apaixonados. Não vejo problema nenhum isso.

– Tá bem, se você diz. Já imagino vocês tendo uma penca de filhos. Já vou avisando, quero ser seu padrinho.

– É claro que vai ser meu padrinho, você é meu único amigo...

Eles não tinham pensando ainda em como seria esse casamento. Ruby não ligava pra essas coisas de se casar na igreja, com inúmeras flores, vestidos chiques e depois uma enorme festa. Ela dissera que eles deviam se casar na praia e Killian concordou. Ele não tinha dinheiro pra bancar muita coisa, então ficou realmente feliz por Ruby não ser do tipo de mulher exploradora.

Naquela noite, como em todas as noites, ele foi ao Granny’s para vê-la. Geralmente Killian vinha depois do trabalho e ficava lá até que a lanchonete fechasse. Eles quase não tinham tempo pra conversar, mas trocavam olhares como se fossem dois adolescentes.

Nesta noite, Regina se permitiu tomar um chocolate quente. Ela se sentou ao lado de Killian no balcão, enquanto Henry ia dar uma volta com a senhorita Swan. Como sempre, Henry acenou para Killian, e aquela foi a oportunidade que Regina precisava.

– Oh, vejo que tem amizade com meu filho, senhor Jones. – ela comentou, enquanto esperava que Ruby lhe trouxesse seu chocolate.

– Ah sim, ficamos muito amigos depois daquele dia na mina. – ele respondeu educadamente. Pessoalmente, e assim como todas as outras pessoas de Storybrooke, ele não gostava muito da prefeita. Ela era um tanto arrogante, mas sabia ser encantadora e persuasiva quando queria.

– Sou realmente grata pelo o que o senhor fez pelo meu filho naquele dia. – Regina sorria fingindo gratidão – Nem quero pensar no que poderia ter acontecido. E receio que nunca poderei lhe agradecer apropriadamente.

Nesse momento Ruby veio trazendo o chocolate quente da prefeita e não gostou nada quando viu os dois conversando. No entanto, ela tinha trabalho a fazer e não podia ficar vigiando o namorado. Ela se afastou, mas vez ou outra lançava olhares na direção deles.

– Não foi nada. – ele deu de ombros – Só fiz o que tinha que ser feito.

– Oh, não seja tão modesto, senhor Jones, nós dois sabemos que é um herói.

– Obrigado, mas realmente não foi nada. E por favor, me chame de Killian.

– Killian – ela assentiu – Tudo bem. Posso lhe pagar uma bebida? É o mínimo que posso fazer, não é?

– Tudo bem.

– Ruby! Uma bebida para Killian, por minha conta.

– Alguma preferência? – Ruby se aproximou, tentando não demonstrar o quanto estava enciumada. Quem Regina pensava que era? Só porque ela era a prefeita, não significa que devia dar em cima de todos os homens da cidade. Ou pior ainda, de todos os homens comprometidos.

– Ahn... cerveja está bom.

Ruby lhe passou uma caneca de cerveja e novamente se afastou.

– Fico feliz que seja amigo do Henry – Regina falou, enquanto tomava a espuma de seu chocolate – Ele não tem amigos da idade dele e fico extremamente preocupada. As consultas com o doutor Hopper estão tendo resultado, mas Henry ainda é um garoto solitário.

– Ele é um menino muito bom. Tem sorte de tê-lo como filho.

– E ainda assim, ele não me ama. – ela suspirou tristemente – Sei que pareço má, mas faço as coisas para o bem dele. E, no entanto, ele prefere sair com a senhorita Swan a ficar comigo. A mulher o abandonou, mas percebo que ele a ama...

– Talvez ele esteja confuso quanto a isso – foi o que Killian disse. A prefeita parecia confortável em desabafar com ele, mas o homem não sabia bem o que dizer – E a Xerife se preocupa com o garoto. Às vezes leva tempo até que a gente descubra que tudo o que os pais fazem é pra nos proteger. Não quer dizer que ele não te ama, ele só não entende que você quer protegê-lo.

– Tem razão – ela sorriu, depois seu rosto se transformou numa expressão de dor e tristeza - Mas como ele pode amá-la? Ela esteve ausente da vida dele por dez anos. E fui eu quem o criei durante esse tempo todo. Sozinha. Eu me sinto deprimida toda vez que ele sai pra vê-la... Me pergunto se algum dia ele irá me amar...

– Me desculpe lhe dizer isso, mas a senhora já pensou em conversar com o doutor Hopper? Seria bom desabafar com um especialista.

– É, eu já pensei nisso, mas quase não tenho tempo, esta cidade não para... Mas obrigada pelo conselho, Killian, eu com certeza irei falar com o doutor Hopper.

Eles conversaram sobre assuntos aleatórios. Killian não tinha muito que fazer, por isso não viu mal nenhum em conversar com a mulher. Ela era meio solitária desde que Graham morrera. E de todo jeito, ainda demoraria um pouco até que Ruby acabasse seu turno na lanchonete.

Depois, quando já era hora de fechar a lanchonete, Regina pediu licença, se levantou e saiu, dizendo que precisava esperar por Henry. Não havia mais ninguém na lanchonete, apenas Killian e os funcionários. Vovó liberou Ruby e ela e Killian foram dar uma volta pelo quarteirão, como faziam todas as noites. Eles não tinham muito tempo durante a semana, por isso aquela era a única hora que eles tinham pra namorar.

O inverno estava sendo rigoroso. Em alguns dias seria Natal e logo começaria a nevar. Ruby adorava a neve e o frio, mas nesse dia ela se agarrou aos braços de Killian, tentando se aquecer.

– Eu odeio o inverno – Killian reclamava, enquanto seus pés congelavam dentro de seus tênis – Prefiro o verão ensolarado, com as praias, a água fresca e sorvete de casquinha.

– Eu gosto de todas as estações. Não tem nada melhor do que o friozinho do inverno, as cores da primavera e o calor do verão. Se bem que eu não gosto muito do outono, é meio sem graça.

– Quer umas castanhas? – ele perguntou quando avistou uma mulher que vendia castanhas assadas ali perto.

Ruby adorava castanhas. Eles pararam pra comprar algumas e continuaram com a caminhada. Eram pouco mais de dez horas da noite e todas as lojas já estavam fechadas.

– Killian? – ela chamou meio hesitante.

– Hum?

– Eu acho que não vou conseguir esconder por muito tempo. A vovó logo vai desconfiar e aí terei que contar pra ela.

– Por que acha que ela vai desconfiar? Sua barriga nem cresceu ainda.

– Mas os sintomas me entregam... – ela apertou mais o casaco contra o corpo, tentando se aquecer – Eu passei mal depois que voltamos da festa de Mary e vovó supôs que eu tivesse comido demais. Eu sei que não foi isso, mas tive que fingir que estava tudo bem.

– Você passou mal e não me contou? – eles pararam e Killian a encarou meio bravo.

– Não queria que se preocupasse. Mas hoje as coisas pioraram. Eu desmaiei no banheiro...

– O quê? – ele ficou muito preocupado - Devíamos ver um médico. Agora!

– Não, não eu estou bem. – ela o tranqüilizou – Foi só uma tontura, aí eu perdi os sentidos. Não comente nada com a vovó, ela não sabe.

– E você desmaiou sem ninguém ver? Ruby... isso não pode ficar assim. Sua gravidez precisa ser acompanhada.

– Eu sei, eu sei... mas não agora. Eu não to preparada.

– E quando é que vai estar? Escute, querida, não pode continuar escondendo isso. Uma hora sua avó vai ter que saber. Sei que vai ser difícil, mas não podemos esconder por muito tempo.

– Está bem, me dê mais alguns dias e eu vou contar pra ela.

Ele a levou até a porta da pensão e como sempre eles se beijaram apaixonadamente, até se separarem e Killian ir pra casa caminhando. As ruas estavam desertas. Killian ouviu um carro se aproximando e viu que era Regina. Ela abaixou o vidro.

– Aceita uma carona? – perguntou gentilmente.

– Ah, obrigado, mas posso ir caminhando, não moro muito longe.

– Mas está tão frio! Eu posso te levar. – ela insistiu - Onde é que você mora?

– Perto das docas, mas e o Henry?

– Ele já foi pra casa, a senhorita Swan o deixou lá e sequer me avisou. Vamos, eu insisto.

Diante da insistência, Killian aceitou. Estava mesmo muito frio e ele teria congelado, não fosse o pesado casaco que usava. Eles conversaram um pouco, no caminho até as docas, e Regina desabafou dizendo que estava se sentindo muito sozinha agora que não tinha mais o Graham. E, além disso, Henry estava sempre com a Xerife Swan.

– Eu realmente não sei o que dizer, prefeita. – Killian estava meio sem jeito, sem saber como aconselhar a mulher – Mas a senhora sabe o que dizem: nunca é tarde para amar.

– É, mas talvez eu nunca encontre esse amor...

Ela entrou na rua de Killian, perto das docas. O homem não disse nada. Na verdade, Killian estava louco para se livrar da mulher. Que situação! Por que ela se sentia tão à vontade em desabafar com ele? Seria melhor se fizesse isso com Archie.

– Aquele é meu prédio. – ele apontou a construção e Regina parou em frente ao prédio – Foi muita gentileza a senhora me trazer até aqui.

– Oh, por favor, pode me chamar de Regina, nada de formalidades. – ela pediu, de forma simpática e sorrindo gentilmente – E isto foi o mínimo que eu poderia fazer, afinal, você salvou o Henry, a coisa mais preciosa que eu tenho. Você realmente é um herói, Killian...

Ela pôs uma mão no braço dele, encarando-o. Ele era muito bonita. Tinha uns lábios carnudos e um olhar hipnotizante. Killian não ousou se mexer. Será possível? Regina estava interessada nele? Oh, aquilo era demais... Mas ele logo teve a resposta. Ela se inclinou e tocou seus lábios no dele. Killian ficou tão chocado que nem soube o que fazer, apenas paralisou no lugar. Depois, porém, quando seu cérebro voltou a funcionar, ele se lembrou de Ruby. Aquilo não era certo. Ele se afastou de Regina e ela ficou muito sem graça.

– Desculpe, mas... acho que você entendeu errado... – ele balbuciou, completamente sem graça.

– Não, tudo bem. – ela ajeitou o cabelo, voltando à posição inicial – Eu é quem peço desculpas. Não devia ter feito isso... – ela agarrou o volante, evitando olhar o homem – acho que confundi as coisas e... é, tenho me sentido muito solitária, mas você não tem nada a ver com isso e eu não devia... me desculpe!

– Tudo bem! Obrigado pela carona! – ele rapidamente saiu do carro e caminhou apressado, entrando no prédio.

– Não tem de quê! – Regina respondeu, mas ele já se fora. A prefeita sorriu diabólica. Conseguira o que queria...

***

No dia seguinte, como de costume, Killian acordou cedo e foi até o Granny’s. Depois que passara a freqüentar a lanchonete, o homem não fizera mais seu café da manhã e a cafeteira estava jogada às traças. Ele agora caminhava de cabeça erguida, sem envergonhar-se de quem era. As pessoas, já habituadas com o fato de ele ser um herói, o cumprimentavam alegremente quando passavam por ele.

Mas nesse dia Killian notou que havia algo estranho. A começar pela névoa. Estava tão frio que uma neblina espessa tomara conta da cidade, dificultando a visão de quem dirigia e caminhava pelas ruas. Killian esperava que nevasse logo, assim ele e Ruby poderiam brincar na neve. Mas não era só a névoa, as pessoas também estavam agindo estranho. Algumas pessoas o cumprimentaram secamente, outras sequer responderam quando ele desejou um bom dia. Estava sendo ignorado? Por quê? Bem, talvez fosse o frio. Algumas pessoas pareciam ficar bem menos sociáveis com a chegada do inverno.

Quando finalmente conseguiu avistar os contornos do Granny’s, Killian agradeceu mentalmente por poder entrar e se aquecer. Ele estava quase congelando e uma bebida quente seria bem vinda. Mas quando ele caminhou pela entrada da lanchonete, no caminho que levava para a porta, passando pelas mesas externas, Kate simplesmente se materializou na frente dele (ele nem viu de onde ela viera), lhe dando um enorme susto.

– Oi, Kate! – ele cumprimentou.

A garçonete parecia meio mal humorada e uma touca de lá escondia seus lindos cabelos ruivos. Ela não respondeu, ao invés disso, ergueu a mão e estalou um tapa na cara de Killian.

– Seu canalha! – ela esbravejou.

Ele cambaleou para o lado enquanto Kate, tão depressa como aparecera, desapareceu. Levou uns segundos até que Killian se recuperasse. Ele achou que estava enlouquecendo, mas não. Kate batera nele com intenção de machucar. E ainda o chamara de canalha. Mas o que estava acontecendo? Será que aquilo tinha a ver com o que acontecera ontem? Será que tinha a ver com o fato de Regina tê-lo beijado? Mas ele não tinha culpa e como é que Kate ia saber disso?

Ele decidiu entrar na lanchonete. Ia contar pra Ruby o que acontecera, antes que Kate colocasse ideias erradas em sua cabeça. Mas o pior já acontecera. Quando ele passou pela porta de entrada, todas as pessoas que estavam na lanchonete se viraram para encará-lo. Seguiu-se um silêncio constrangedor e Killian quase fez meia volta e voltou pra casa. O problema não era o inverno. Era ele.

O homem caminhou até um dos assentos no fundo da lanchonete e as pessoas começaram a sussurrar e cochichar. Ah meu Deus! Será que Regina fizera algo? Será possível que ela tivesse espalhado o boato de que ela e Killian estavam juntos? Oh não, não ela não faria isso. E além do mais, por que ela iria querer alguém como ele, alguém em que faltava uma mão?

Henry e Emma estavam sentados no penúltimo assento e Killian evitou olhá-los quando se sentou no assento de trás. Henry deu uma olhada na direção do homem, mas não disse nada. Killian esquadrinhou o lugar com os olhos, à procura de Ruby, mas ela não estava lá. Kate não veio servi-lo. A Vovó também não estava lá. Então Kate fez um sinal para o cozinheiro, indicando Killian com a cabeça, e o homem veio mancando até Killian. Era um homem corpulento, todo tatuado e que tinha uma prótese no lugar da perna.

– O que vai querer? – perguntou com seu vozeirão.

– Um café e torradas, por favor.

O homem anotou o pedido e voltou à cozinha. Algumas pessoas ainda cochichavam e lançavam olhares na direção de Killian. Ele estava se sentindo muito envergonhado, mesmo sem saber por que as pessoas estavam agindo daquele jeito. Ele se virou no assento, olhando para a mesa de trás. Emma e Henry conversavam normalmente.

– Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – o homem perguntou e Emma se virou para olhá-lo.

– Você não sabe? – ela ergueu as sobrancelhas. Em seguida apanhou o exemplar de uma revista sobre a mesa e a entregou a Killian.

– Mas o quê...?

Ele estava chocado. Não. Atordoado. Pasmo. Assombrado. Irritado. Zangado. E por fim, envergonhado.

Na capa da revista, havia nada mais nada menos do que uma foto da prefeita e Killian se beijando. Ele abriu na página da reportagem e não soube dizer o que era pior, a foto ou a reportagem abaixo dela:

PREFEITA MILLS É FLAGRADA AOS BEIJOS COM “HEROI DE STORYBROOKE”

Não é surpresa pra ninguém que a senhora prefeita, a detestável Regina Mills, esteja sentindo falta de um amor em sua vida. Desde a morte do Xerife Graham, seu ex-caso e cachorrinho de estimação, a senhora Mills tem se sentido tão solitária que lançou mão de meios pouco convencionais para conseguir outro amor.

Não satisfeita com a separação de Mary Margaret Blanchard e David Nolan, a prefeita tentou seduzir este último, convidando-o a jantar em sua casa. Fontes confiáveis disseram que o senhor Nolan aceitou o convite e logo depois ainda ajudou a prefeita com a louça suja. Não bastasse tentar seduzir o homem, Regina Mills ainda tentou beijá-lo, aproveitando-se de sua confusão psicológica.

Todos sabem que o senhor Nolan recentemente foi alvo de suspeitas depois que sua esposa Kathryn desapareceu e foi dada como morta. Hoje sabemos que tudo não passou de um plano insano de Sidney Glass, mas pelo visto a prefeita se aproveitou do fato de o senhor Nolan ainda estar se recuperando do susto e tentou afogar as mágoas beijando o rapaz. Felizmente, David Nolan parece ter um tiquinho de vergonha na cara e recusou as investidas da mulher.

Rejeitada por Nolan, a prefeita acabou arrastando asa pra cima de outros homens e caiu em cima de August W. Booth, literalmente. O forasteiro estacionava sua moto em frente ao Granny’s quando a prefeita simplesmente tropeçou e caiu em cima dele (com moto e tudo). Acidente ou não, Regina se aproveitou disso para flertar com o homem e fontes dizem que ela lhe pagou uma bebida depois, para compensar o fato de ele ter se machucado quando caiu.

No entanto, parece que o senhor Booth não só “lhe deu um toco”, mas a árvore inteira. Regina ficou de cara no chão quando o senhor Booth lhe disse com todas as letras que não ficaria por muito tempo na cidade e que não queria nada o prendendo ali. Pelo visto o escritor ensinou à prefeita o significado de “livre e desapegado”.

Não satisfeita com dois foras na mesma semana, Regina tentou pela terceira vez, desta vez com o senhor Killian Jones, o heroi da cidade e salvador de seu filho.

Quando Henry Mills entrou numa mina abandonada, há cerca de um mês, foi Killian Jones quem se aventurou pelos túneis em colapso para salvar o garoto. Depois do susto, Regina ficou muito grata ao homem, mas como ainda tinha um caso com Graham, não chegou a ter nada com o senhor Jones. Agora, depois de um mês, Jones não só virou o herói de Storybrooke como também foi visto aos beijos com Regina Mills.

Regina e Killian foram vistos no Granny’s na noite anterior, e, repetindo a mesma jogada que fizera com o senhor Booth, a prefeita Mills pagou uma bebida ao senhor Jones, como agradecimento por ele ter salvado seu filho. Fontes disseram que os dois conversaram animadamente até que a lanchonete fechou e Regina foi atrás do filho. Em seguida, o senhor Jones foi visto caminhando com Ruby Lucas, a ex-solteira mais cobiçada da cidade. Há boatos de que os dois estejam namorando, mas nada foi confirmado.

Após despedir-se da senhorita Lucas com um beijo digno de cinema, o senhor Jones foi encontrar se com a prefeita. Os dois foram vistos no carro da prefeita quando ela estacionou em frente ao prédio de Jones. Nosso fotógrafo flagrou o momento em que Regina e Killian se beijaram, ainda no carro da prefeita. Os dois ficaram no local por cerca de quinze minutos e trocaram amassos. Depois Jones teria convidado a prefeita a subir para seu apartamento, mas ela recusou dizendo que seu filho a esperava em casa.

Há a possibilidade de que Killian Jones e Regina Mills estejam tendo um affair¹. Pelo visto o senhor Jones não só tem duas mulheres, como também se aproveita do fato de sua amante ser a prefeita e usa isso em seu benefício próprio. A prefeita teria lhe oferecido um cargo na prefeitura e Jones só recusou para manter discrição no relacionamento. Sem dúvida, Regina não encontrou apenas um homem que a ame, também encontrou um parasita para sugar seu dinheiro.

A reportagem ocupou duas páginas. Havia outras fotos de Killian. O tal fotógrafo estivera o seguindo e registrara o momento em que ele caminhara com Ruby, se despedira dela e entrara no carro de Regina. Ah, mas aquilo só podia ser coisa da prefeita! Ela insistira tanto em levá-lo pra casa... e agora Killian entendia por que. Ela tramara aquilo pra que ele ficasse mal visto na cidade, mas a troco de quê?

Ele terminou de ler e largou a revista, massageando as têmporas.

– Você está bem? – Emma colocou uma mão no ombro do homem.

– Não, claro que não... Henry, nada do que está escrito aqui é verdade – o homem olhou o garoto e Henry não disse nada.

– Não quero te julgar, mas essa foto na capa diz outra coisa. – Emma apontou a revista.

– Que raios de revista é esta? – ele perguntou irritado, agarrando a revista e examinando a capa.

O nome era The Gossip Magazine, algo como “revista da fofoca”. Folheando a revista, Killian descobriu outras reportagens que fofocavam sobre a vida das pessoas em Storybrooke. Havia uma página sobre o caso de Mary Margaret e David; outra contando a história de como Sidney seqüestrara Kathryn, esperando acabar como herói quando a trouxesse sã e salva; e outra falando sobre o relacionamento entre Emma e Henry. Aquela era a primeira edição da revista e Killian não conseguiu descobrir quem era o responsável por aquilo.

– Por que beijou minha mãe? – Henry acabou por perguntar. – Pensei que gostasse da Ruby.

– Eu não beijei sua mãe, ela me beijou. – Killian esclareceu, antes que o garoto também virasse a cara pra ele – E desculpe lhe dizer, Henry, mas acho que a prefeita é a grande responsável por essa reportagem mentirosa. Eu não tenho um caso com sua mãe, ela apenas me deu uma carona pra casa.

– Eu acho que você vai ficar muito encrencado se não explicar isso pra Ruby – disse Emma.

– Droga! – Killian se levantou, devolvendo à revista a Emma - Henry, diga à sua mãe que mais tarde teremos uma conversinha. Ela vai ter que me explicar esta história...

***

Pensão da Vovó, uma hora antes

Ruby acordou e avistou a neblina que tomara conta da cidade. Ela se trocou, animada pela aproximação da neve. Logo seria Natal e ela precisava comprar um presente pra Killian, mas não sabia o que dar a ele. Pensou em pedir a avó uma sugestão e desceu para o andar de baixo, onde a senhora organizava alguns papeis.

– Vovó, o que eu devo dar de presente ao Killian? – a moça foi logo perguntando, sem nem mesmo dizer “bom dia” – Nunca sei o que comprar pra um homem.

– Bom dia pra você também – a avó ergueu a cabeça, encarando a neta por cima dos óculos – Eu não sei. Do que ele gosta?

– Bom, ele gosta de livros, mas não sei se devo dar um livro. Queria algo especial, que ele olhasse e se lembrasse de mim.

– Vá pegar as correspondências, enquanto eu penso em alguma coisa.

Ruby fez o que a avó pediu e saiu pra rua, enfiando a mão na caixa de correio. Havia algumas contas a pagar e um pacote para Ruby. Ela encarou o envelope de papel. Por que alguém lhe mandaria algo pelo correio? Não era mais fácil a pessoa vir até o Granny’s para lhe entregar? Mas aí ela sorriu ao pensar que poderia ser obra de Killian. Ruby entregou as outras cartas para a avó e a senhora perguntou o que era aquele pacote.

– Não sei, mas está endereçado a mim – Ruby examinou o envelope de papel pardo. Havia o nome dela e o endereço da pensão, mas não havia o nome do remetente. E pelo peso, parecia que havia uma revista dentro. – Talvez sejam revistas, a senhora sabe, aquelas revistas por assinatura.

– Você não andou assinando nada, não é? – a avó abria as correspondências – Não sei por que gasta dinheiro com tanta bobagem. Oh, isso me lembra que Gold vem cobrar o aluguel hoje.

– Eu não pedi nenhuma revista – Ruby lutava para abrir o envelope – Talvez o Killian tenha me mandado isso.

Quando ela finalmente descolou a boca do envelope, um pedaço de papel caiu de dentro dele. Era um bilhete. Tinha sido digitado em computador:

Espero que ache isso útil. Apenas uma prova de que Killian Jones não é quem você pensa.

Ela franziu a testa para o bilhete. Quem teria mandado aquilo? Olhou dentro do envelope e encontrou uma revista. Aí veio o choque, quando ela viu a capa e a manchete escandalosa. Ruby precisou se apoiar na parede pra não cair. Seus olhos se encheram de lágrimas quando ela viu a foto do beijo de Regina e Killian.

– Ruby? O que foi? – a avó notou a reação da neta e tomou a revista de sua mão – Mas o quê...? Como ele pôde fazer isso?

Ruby escorregou para o chão, onde se encolheu toda e chorou. A avó tentou dizer alguma coisa, mas não conseguiu. Talvez fosse uma brincadeira de mau gosto, afinal, ninguém nunca tinha visto aquela revista chamada The Gossip Magazine. Mas aquela foto e a manchete diziam outra coisa. Escrita em letras grandes, a manchete dizia:

EXTRA! EXTRA! PREFEITA MILLS FLAGRADA AOS BEIJOS COM “HEROI DE STORYBROOKE”.

E o subtítulo: REGINA TERIA UM AFFAIR COM KILLIAN JONES

Sem sombra de dúvida, aquele na foto era Killian. Que canalha! A avó levou Ruby para o quarto, enquanto pensava no que fazer. A garota ainda chorava. A avó a colocou sentada na cama e em seguida leu a reportagem. Chocada pelo o que estava lendo, Vovó quis impedir que Ruby lesse também, mas a garçonete puxou a revista de suas mãos.

– Eu preciso saber – ela disse com os olhos marejados – Preciso saber por que ele fez isso comigo.

Ela leu atentamente e a coisa ficou feia quando ela chegou ao trecho: “Após despedir-se da senhorita Lucas com um beijo digno de cinema, o senhor Jones foi encontrar se com a prefeita.”

– Canalha! – ela gritou, quase mandando a revista pra longe – Como ele pôde? Ele disse que ia pra casa e foi se encontrar com ela... “[...] Os dois ficaram no local por cerca de quinze minutos e trocaram amassos. Depois Jones teria convidado a prefeita a subir para seu apartamento, mas ela recusou dizendo que seu filho a esperava em casa.” Como ele pôde? Como ele pôde fazer isso comigo? – ela choramingava – Vovó...

– Acalme-se, querida – a avó pegou na mão dela, acariciando-a – Ele vai ter que se explicar.

– Explicar o quê? – Ruby disse entre os soluços e lágrimas – Que ele tem um caso com a prefeita? Que nesse tempo todo esteve me traindo?

Ela por fim leu o último parágrafo do texto e chorou mais ainda.

– “[...] Sem dúvida, Regina não encontrou apenas um homem que a ame, também encontrou um parasita para sugar seu dinheiro”. E então é disso que se trata? Dinheiro?

Ruby chorou com a cabeça no colo da avó e Kate jurou que mataria Killian quando o visse. Kate e Vovó ficaram dizendo o quanto haviam se enganado com o homem e a avó dizia a Ruby que ela não devia chorar, aquele homem não merecia suas lágrimas. Em seguida, Kate voltou à lanchonete, já que muitos clientes vinham àquela hora.

– Ele nunca ligou pra dinheiro... dizia que me amava, que eu era linda, simpática, engraçada... Por que ele fez isso, vovó?

– Homens... é isso que eles fazem... – foi tudo o que a avó disse, acariciando os cabelos da neta.

Uns minutos mais tarde, Kate veio dizer a elas que Killian estava no Granny’s. Ela contou que batera nele e que o cafajeste nem sabia o que estava acontecendo.

– Se ele pensava que ninguém ia descobrir, estava muito enganado. – ela disse, mais irritada do que nunca – Uma hora ou outra você ia descobrir sobre esse caso com a Regina. Agora ele está lá no Granny’s, lendo a revista.

– Não deixe ele vir aqui, Kate. – pediu Ruby – Não quero vê-lo.

– Deixa comigo! – e ela saiu para o corredor. Quando desceu a escada e virou no corredor que dava no Granny’s, encontrou Killian vindo em sua direção e se pôs na frente do homem, bloqueando seu caminho – Ela não quer te ver! Vá embora e não volte mais aqui!

– Eu preciso vê-la. – ele praticamente implorou - Não é isso que estão todos pensando. Eu posso explicar o que realmente aconteceu.

– Não precisa explicar nada! – Kate gritou com ele – Todo mundo viu você beijando a Regina. Isso é suficiente!

– Você não estava lá pra saber – ele gritou de volta – A Regina me beijou e provavelmente foi ela quem inventou essa reportagem.

– Ah é claro... uma prefeita ocupada como ela ia perder tempo inventando histórias de casos com aleijados...

Killian, enraivecido, empurrou Kate para o lado e ela teve que se apoiar na parede pra não cair. Killian correu escada acima e a garçonete foi atrás. Quando o homem alcançou o quarto de Ruby, viu a moça deitada na cama com a cabeça no colo da avó. A pobre menina estava inconsolável. Seus olhos estavam muito inchados e vermelhos e seus soluços ecoavam pelo corredor.

– Sai daqui! – ela gritou quando o viu, levantando-se e enxugando as lágrimas.

– Ruby, eu posso explicar... – ele entrou no quarto, mas a avó tomou as dores da neta e o empurrou porta afora.

– SAIA! EU NÃO QUERO TE VER MAIS POR AQUI, ESTÁ ME ENTENDENDO? VOCÊ NÃO PASSA DE UM MALDITO CAFAJESTE!

Vovó bateu a porta na cara de Killian, trancando-a por dentro e Kate tentou tirar o rapaz do corredor, mas Killian era bem mais forte do que ela. Ele a segurou pelo braço.

– Eu não vou sair daqui enquanto não falar com ela – ele disse, apertando o braço dela. Estava tão zangado com aquela situação que nem percebeu que machucava a moça – Então é melhor você voltar ao Granny’s e me deixar fazer o que tem que ser feito.

– Me larga! Está me machucando!

– Desculpe – ele a soltou, encarando-a com aquele olhar triste de cachorrinho perdido.

– Está dizendo a verdade? – ela perguntou, analisando os olhos do homem. Talvez ele estivesse sendo sincero. Todos sabiam que Regina era manipuladora e controlava a imprensa em Storybrooke. Mas por que ela faria algo assim com Killian? A troco de quê? – Você não tem nada com a Regina?

– Não, claro que não. Eu amo a Ruby, Kate, sempre amei, desde o dia em que a vi pela primeira vez. E eu não sei explicar o que está acontecendo, mas Regina fez isso. Ela me deu uma carona pra casa e me beijou, mas nós não temos nada. E eu ia contar pra Ruby sobre esse beijo, mas ela acabou descobrindo da pior maneira...

Kate suspirou de braços cruzados. Ele parecia sincero, mas talvez estivesse mentindo. No entanto, ela resolveu dar a ele uma chance de se explicar e voltou ao Granny’s, deixando o homem sozinho no meio do corredor.

Ele respirou fundo. Ruby chorava muito e ele entreouviu as palavras que a avó dizia para consolá-la. Aproximou-se da porta e começou a falar.

– Ruby, eu posso explicar, não é o que todos estão pensando. Eu não tenho nada com a Regina, a maior parte desta reportagem é mentira.

– Posso ser uma simples garçonete, mas não sou burra – a voz dela veio de dentro do quarto. Estava furiosa e de coração partido – E essa foto comprova o fato de você ter beijado ela.

– Não, escuta, Ruby, foi ela quem me beijou...

– Eu não quero ouvir! Vai embora!

– Por favor, tem que acreditar em mim – ele implorava – Sei o quanto está zangada e desapontada comigo, mas posso garantir que o que você leu não é verdade...

Ruby se levantou bruscamente e veio abrir a porta. Killian teve uma pontinha de esperança de que ela fosse acreditar nele, mas tudo o que Ruby fez foi gritar com o homem.

– VÁ EMBORA! EU NÃO QUERO TE VER NUNCA MAIS! ACHEI QUE ME AMASSE E SÓ ESTAVA SE APROVEITANDO DE MIM. EU TE ODEIO!

– Amor, não fale assim...

– NÃO ME CHAME DE AMOR! EU NÃO QUERO SABER DE VOCÊ! – ela arrancou o anel que Killian lhe dera e que ela ainda usava (sabe se lá por que) e atirou a jóia para o homem– E PODE LEVAR ISTO COM VOCÊ! – ela também pegou o ursinho que ele lhe dera e o jogou no corredor – E ISTO TAMBÉM! NÃO QUERO NADA SEU! E ESPERO QUE FAÇA BOM PROVEITO DO DINHEIRO DA REGINA! E TAMBÉM ESPERO QUE ELA PISE EM VOCÊ E TE DÊ UM BELO PÉ NA BUNDA QUANDO DESCOBRIR QUE VOCÊ NÃO VALE NADA! – ela bateu a porta na cara dele e Killian não evitou as lágrimas.

Ele escorregou para o chão e se recostou contra a porta, chorando silenciosamente. Do outro lado da porta, Ruby fazia o mesmo. Killian enxugou as lágrimas quando viu que alguém se aproximava. Era August.

– Dia ruim? – o escritor perguntou – Olha, não quero me intrometer, mas acho que ela precisa de um tempo pra pensar.

Killian assentiu, levantando-se e apanhando o ursinho e o anel.

– Viu a revista? – ele perguntou debilmente. É claro que a cidade inteira vira aquilo. Que pergunta mais idiota! August assentiu.

– Achei engraçado o fato de mencionarem meu nome. – ele sorriu divertido – Pelo menos disseram a verdade, eu realmente “dei um toco” na Regina. Mas acho que você também precisa de um tempo. Vem, vamos dar uma volta.

– Não posso! Preciso trabalhar. – e ele já estava atrasado.

– Sem ofensa, cara, mas você não está nada bem pra trabalhar. – August andou em direção à escada, dando a entender que queria mesmo dar uma volta com Killian.

Killian acabou indo com ele. Depois de tudo o que ele passara, toda essa difamação² contra ele, perder o emprego seria o menor de seus problemas. Os dois saíram pela porta da frente da pensão e Killian encarou o chão quando pessoas que passavam por ali o olharam.

– Não devia se envergonhar – disse August – Isso me lembra que há uns dias a senhorita Blanchard foi acusada injustamente e todos que estavam contra ela tiveram que admitir que estivessem errados quando a senhora Nolan apareceu viva. É questão de tempo até que a verdade venha à tona.

– E até lá vou ser visto como cafajeste...

– Seria pior se estivesse na cadeia.

Killian não sabia por que August estava o ajudando, mas os dois acabaram indo até a mansão da prefeita. Henry já tinha ido pra escola e pelo visto Regina já tinha ido pra prefeitura, já que ninguém atendeu a porta quando ele tocou a campainha. Ou talvez ela estivesse se escondendo. Mas eles iam ter uma conversinha. Ela ia ter que se explicar.

– Obrigado por ter vindo aqui comigo – Killian saiu pelo portão da mansão – Mas agora há algo que preciso fazer sozinho. Vou confrontar a prefeita.

– É mesmo? E acha que esse é o melhor caminho?

– Ela me difamou! Talvez eu devesse chamar a Xerife Swan... é, é isso! A Xerife pode prendê-la por difamação. – Killian estava decidido a ir até a delegacia e prestar queixa, mas August o impediu.

– Ei, ei, espera aí! – ele parou na frente de Killian, bloqueando seu caminho – Você tem provas contra a prefeita? Pode provar que aquela reportagem é obra dela?

– Não...

– Então não pode simplesmente prestar queixa contra ela, do contrário, vai cometer crime por calúnia³... aí a coisa fica feia.

– Então basta que eu encontre provas – Killian sorriu e voltou pelo caminho até a mansão da prefeita. Não deixou de admirar o jardim bem cuidado da prefeita. Havia cercas vivas por todo lado e a grama era muito verde e bem aparada.

August correu atrás dele. O que aquele louco ia fazer?

– Cara, o que tá fazendo? Ficou louco? Vai invadir a casa da prefeita?

– Preciso encontrar provas – Killian girou a maçaneta e para sua surpresa, a porta se abriu. Pelo visto as pessoas de Storybrooke não se preocupavam muito com ladrões. – Melhor você ir embora – ele se virou para August – Vou fazer isso sozinho – e entrou na casa.

August hesitou, depois seguiu o homem.

– Melhor sairmos agora, assim ninguém vai saber que estivemos aqui.

– Por que está fazendo isso? Não tem que me ajudar...

August deu de ombros e não respondeu. Killian não se lembrava, mas ele e August se conheceram há muitos anos. Killian caminhou pela casa e descobriu o escritório da prefeita. Sem dúvida, ela tinha muito bom gosto. Os móveis eram requintados e os dois sofás combinavam com o tapete, com a mesinha de centro e com as luminárias. Havia uma estante de livros e uma lareira. Killian foi até a mesa grande no fundo da sala e pôs-se a examinar os papeis sobre ela.

– O que está procurando? – August perguntou calmamente, olhando os títulos dos livros na estante.

– Qualquer coisa que sirva de prova – Killian abriu as gavetas.

– E como é que vai explicar onde encontrou essas provas? Assim teria que dizer a Xerife que entrou a casa da prefeita, o que seria considerado como invasão de domicilio.

– Pra um escritor, até que você está bem informado quanto às leis.

– Um escritor deve ser eclético – ele explicou – Gosto de conhecer um pouco de cada coisa.

Killian ainda examinava as gavetas quando um barulho chamou a atenção deles. Os dois se entreolharam e August se aproximou da janela. O fusca amarelo da Xerife estava estacionado na rua e ela caminhava até a porta da casa, com a arma em riste.

– Droga! – o escritor praguejou – A Xerife!

Killian recolocou as coisas na gaveta, apressado. Daria para pularem a janela, já que estavam no térreo, mas a Xerife foi mais rápida.

– Quem está aí? – ela perguntou em voz alta. Estava na sala ao lado e olhava em todas as direções.

Emma se afastou em direção à cozinha e Killian e August tiveram esperança de que ela não os visse e fosse embora. Como eles tinham sido burros! Deixaram a porta aberta e provavelmente a Xerife vira e viera verificar, sabendo que Regina já devia estar na prefeitura. August gesticulou apontando a porta, fazendo sinal pra que eles saíssem. Emma subiu para o andar de cima e seria fácil eles saírem pela porta da frente e se esgueirarem pelo jardim. Mas quando os dois passaram pela sala, pé ante pé, a xerife apareceu na escada e apontou a arma pra eles.

– Killian? August? Mas que raios estão fazendo aqui?

***

– Retiro o que disse – falou August, na cela ao lado da de Killian – Agora sua situação ficou muito pior.

– O que raios vocês dois estavam pensando? – Emma os encarava – Invadiram a casa de uma prefeita! Que é que estavam procurando lá?

– Provas – Killian respondeu, sentado no catre duro em sua cela.

– Ainda está com a ideia de que Regina é a responsável pela revista? – Emma cruzou os braços.

– Eu tenho quase certeza e por isso precisava de provas.

– Certo. E por isso invadiu uma casa e mexeu em coisas que não são suas... – ela suspirou, depois encarou August – E você senhor Booth? O que estava pensando?

– Eu? Ahn... só quis ajudar... – ele deu de ombros.

– Okay! – Emma sorriu – Então estão presos por invasão de domicílio. Rezem pra que a Regina não queira processar vocês.

Emma se afastou e August lançou a Killian um olhar que dizia: “Eu não disse?”. Killian apenas respirou fundo e esperou pelo desenrolar dos fatos.

Regina chegou um tempo depois. Estava bem vestida como sempre e encarou os dois homens em suas respectivas celas.

– Xerife Swan, do que se trata? – perguntou.

– Encontrei esses dois na sua casa. Estava passando e vi a porta aberta. O senhor Jones disse que estava procurando por provas e o senhor Booth é cúmplice.

August ergueu a sobrancelha, como que divertido com a situação. Talvez pensasse que aquilo daria uma boa história.

– Provas? – Regina franziu a testa – Provas de quê, senhor Jones?

– De que a senhora está por trás daquela reportagem na revista – ele respondeu calmamente, ainda sentado à sua cama.

– Ah, então é disso que se trata... E o senhor achou que encontraria algo em minha casa? – Ele odiava o fato de ela estar tão calma – Receio que não foi capaz de encontrar nada, porque não tenho nada a ver com isso, senhor Jones.

– Ah é? – ele a encarou irritado – E como explica aquela foto? Não foi a senhora quem insistiu em me dar uma carona? E não foi também a senhora quem me beijou?

– Aquilo foi um equívoco – ela manteve a compostura, mesmo tendo consciência de que August e Emma a olhavam e deviam estar pensando que ela estava mesmo muito solitária a ponto de beijar um homem que mal conhecia – E quanto à revista, ainda estou trabalhando nisso. Certamente, alguém achou que poderia me ferir publicando tal matéria. Diria que Sidney está por trás disso, não fosse o fato de ele estar trancado num hospício.

– Me parece que a revista apenas tem o objetivo de fofocar sobre nossas vidas, prefeita. Não levaria isso como uma ofensa pessoal – falou Emma, recostada a uma mesa.

– Oh, mas acontece que eu levei aquilo como pessoal. – Regina encarou Emma - Um ultraje! – ela ajeitou os cabelos, pensando no que fazer - E então, senhorita Swan, o que vai ser desses dois?

– Me diga a senhora. Quer levar o caso a julgamento? Eles invadiram sua casa.

– Não, não é necessário. Está bem, solte-os.

– Tem certeza?

– Sim, está tudo bem. Creio que eles não farão isso de novo, não é mesmo senhores? Há outras coisas com as quais me preocupar. Agora, Xerife, faça-se útil e encontre a pessoa por trás dessa revista.

Regina saiu andando daquele jeito imponente e Killian a xingou mentalmente. Quem ela queria enganar? Toda a imprensa era controlada pela mulher, de forma que jornalista nenhum teria coragem de publicar aquela revista. Era óbvio que ela fizera aquilo. Com certeza encontrara outro trouxa e o convencera a tirar aquelas fotos e escrever aquela matéria.

Emma abriu a porta da cela de Killian, liberando-o. Em seguida fez o mesmo com August.

– Vocês tiveram sorte, evitaram uma enorme dor de cabeça – disse, olhando-os com um ar de repreensão – Poderiam acabar presos, vocês sabem. Vou ficar de olho nos dois.

Ela os liberou e Killian agradeceu a August pela ajuda.

– Desculpe por isso. Não devia passar por esse constrangimento por minha causa.

– Tudo bem – o outro sorriu – Apenas mais uma história a contar quando escrever minha autobiografia.

Os dois se despediram e Killian foi até a prefeitura. Regina não estava lá. Ele não acreditava nela, mas se ela não estava por trás disso, então o mínimo que poderia fazer seria falar com Ruby e explicar que ela beijara Killian e que eles não tinham caso nenhum. Mas a prefeita sumiu de vista. Killian acabou indo pra casa e dormiu pra tentar esquecer os problemas.

***

Dois dias se passaram sem que Ruby quisesse falar com ele. Killian só saía para o trabalho, por não agüentar mais os olhares das pessoas. Orlando e Jake bem tentaram consolá-lo, dizendo que tudo ia se resolver, mas para Killian aquilo era o fim. Ruby nunca ia perdoá-lo.

– Se ela te ama – dissera Orlando - ela vai te perdoar.

Killian negou com a cabeça.

– Ela nem quis me ouvir... Como sou idiota! Agora ela vai correr para os braços de outro.

E o bebê? A criança precisava de um pai e ele se preocupava com Ruby. Ela precisava ver um médico e cuidar da alimentação. Mas o que mais doía era pensar que ela ia ficar sozinha quando a cidade descobrisse sobre a criança. Ruby ia ter que lidar com esse peso sem ter um homem do seu lado para auxiliá-la.

Mas é claro que ainda havia como piorar...

Na manhã de domingo, Killian acordou com a campainha tocando. Eram pouco mais de dez da manhã e ele se recusara a se levantar da cama. Acabou indo atender a porta e encontrou Orlando. A cara do amigo não estava boa.

– Killian, você tem que ver isso...

Era mais uma edição da The Gossip Magazine. Killian até teve medo de olhar, mas achou que devia ser outra fofoca sobre ele, falando sobre como ele invadira a casa da prefeita e acabara preso. Mas era pior do que isso...

Ele encarou a capa da revista. Havia uma foto de Ruby conversando com Billy. E a manchete:

BOMBA! RUBY LUCAS ESTÁ GRÁVIDA!

E o subtítulo: GARÇONETE NÃO SABE QUEM É O PAI DA CRIANÇA.

Nada está tão ruim que não possa piorar...

¹Affair: Do francês affaire, que significa caso. Expressão usada para um romance escandaloso, público ou mantido em segredo.

²Difamação: Crime em que se acusa alguém de fato desonroso, ofendendo a reputação da pessoa.

³Calúnia: Crime em que se acusa alguém injustamente e publicamente, sem ter provas.


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Notas finais do capítulo

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