Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 34
Capítulo 30 - Prisioneiro das Consequências


Notas iniciais do capítulo

Yo ho piratas! Aqui estou. Nem demorei, não é? Bom, o capítulo não ficou muito grande, eu pretendia fazer maior, mas estou com problemas no pc e quase perdi tudo o que já tinha escrito.
Tenho que agradecer a querida Reet pelas sugestões que ela me deu. E agradeço também os comentários do capítulo anterior.
Eu esqueci de dizer que o pai da Ruby é o Anthony Hopkins. Eu pessoalmente adoro esse ator, ele contracenou com o Colin O'donoghue em O Ritual. Quem não assistiu ainda, eu aconselho a assistir. É filme de terror (e dá um pouco de medo), mas vale a pena ver o Colin de padre porque a atuação dele estava maravilhosa.
Enfim, espero que gostem. Fiz o máximo possível para que ficasse bom. Beijos e até o próximo



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Capítulo 30 – Prisioneiro das conseqüências

– Vamos começar! – disse o conselheiro do Rei.

Anthony ficou de pé no palanque de madeira, feito especialmente para aquela ocasião. Todos se calaram. Os marujos foram enfileirados um ao lado do outro e agora torciam para que Ruby aparecesse e acabasse com aquilo. Killian olhou para a torre mais alta, que ele sabia que era o quarto dela. Ela estaria lá? E se não tivesse conseguido fugir? Ela estaria assistindo ao seu fim? O Rei tomou a palavra:

– Meus caros amigos, homens, mulheres e crianças... acredito que todos já saibam do que se trata essa ocasião – disse alto e claro, para que todos ouvissem bem – Todos sabem que minha filha mais nova, Ruby, foi seqüestrada por estes piratas, quase três meses atrás. E nesse tempo todo eu só esperava que ela estivesse bem. Coloquei corsários atrás desses bandidos, e a cada semana que passava, só torcia para que resgatassem minha filha. Felizmente ela foi resgatada ontem, sã e salva, e está bem apesar de muito abalada. Devo parabenizar a Capitã Charlotte e sua tripulação de corajosos homens. – ele fez um gesto em direção aos corsários, que estavam ali por perto e Charlotte abriu um enorme sorriso diante do elogio – Não fosse por eles, talvez eu nunca mais visse minha filha...

Ele fez uma pequena pausa. Enxugou os olhos e as pessoas aplaudiram, como que emocionadas por ele estar emocionado. O Capitão queria acabar com aquela palhaçada logo, sabia que Anthony faria qualquer coisa para incriminar os piratas e colocar o povo contra eles.

– Muitos de vocês também têm filhos – o Rei continuou, com a voz meio embargada – Acredito que, como eu, fariam qualquer coisa por eles. Não é um monarca que está falando aqui hoje, não, não... É um pai que está falando. Devemos proteger nossos filhos, livrá-los do perigo, ensiná-los a lidar com os problemas e passar pelas dificuldades. É por isso que hoje eu proponho um julgamento!

As pessoas voltaram a aplaudir e ovacionar, apoiando o Rei.

– Estes homens – ele apontou para os piratas – MERECEM A MORTE! – Mais palmas e assobios – Não há como fecharmos os olhos e fingirmos que nada aconteceu. Eles merecem ser punidos. Minha filha é uma princesa, mas pensem que poderia ser a filha ou o filho de qualquer um de vocês. Vocês não fazem ideia do que é perder um filho, tê-lo tirado de você... É realmente... é doloroso... Esta noite, não sou em quem decido o destino destes homens. SÃO VOCÊS! – Mais palmas e gritos e assobios – Eu lhes dou duas opções: a forca... – ele apontou para a forca e em seguida para a guilhotina, cuja lâmina brilhava sinistramente à luz das tochas – e a guilhotina!

As pessoas começaram a gritar e a coisa parecia um pandemônio. Um carrasco inteiramente vestido de preto abriu caminho por entre a multidão. Eles puxavam Ellanor, ainda presa nas correntes. A pobrezinha estava num estado de dar dó: os olhos injetados e com olheiras, a expressão fraca e o rosto pálido. Sua pele parecia queimada pela corrente de aço e ela caminhava com dificuldade.

– Também havia uma bruxa entre a tripulação de piratas – o Rei falou quando o carrasco subiu ao palanque arrastando Ellanor – Esta mulher é uma bruxa!

As pessoas se encolheram, amedrontadas.

– Não devem temer. Ela teve os poderes neutralizados por esta corrente de aço. Não pode fazer nada a não ser padecer sob nossas mãos. – o Rei caminhava de um lado para o outro pelo palanque – Devem ter notado a fogueira – ele apontou para um tronco que foi erguido perto da forca. Havia galhos e pedaços de pau seco no chão – Nesse reino não toleramos bruxas. E vocês certamente sabem o que deve ser feito. Essa mulher está condenada a queimar na fogueira.

Mais aplausos e ovações. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Ellanor e ela trocou um olhar com Smee. O pobre marujo estava com uma aparência de dar dó: o rosto fino, os olhos fundos e emagrecera muito nos últimos dias.

– Sendo assim, comecemos – o Rei fez sinal a um de seus homens e ele se postou de frente para a plateia. Usava uma espécie de uniforme militar e se postava como um verdadeiro nobre. Era o representante do Rei. O homem enxugou a testa com um paninho e desenrolou um pergaminho, lendo em voz alta:

– Pelo decreto número 5.086, implantado pelo Rei Anthony Otavius II, fica declarado que qualquer pessoa culpada por pirataria, ou que de alguma forma esteja associada a piratas, deve ser levada a julgamento e sentenciada de acordo com a gravidade de seus crimes. Para tanto fica assegurado que crimes como seqüestro, estupro e homicídio estão qualificados como crimes hediondos e a punição para tal infrator é a pena de morte.

Seguiu-se um silêncio e então o Rei, que também faria papel de juiz, voltou a falar:

– A partir de hoje, tais crimes não serão suportados. Estes homens cometeram crimes gravíssimos e para tanto, medidas precisam ser tomadas...

– E quais as acusações contra nós? – Will perguntou e todos olharam para ele.

O Rei ergueu uma sobrancelha, não esperando que algum dos piratas ousasse falar. Ele apanhou seus óculos de leitura e abriu um pergaminho:

– O Capitão Killian Robert Jones está sendo acusado de seqüestro, abuso de menor, roubo, atentados contra o Rei, estupro, maus tratos, extorsão mediante seqüestro e assassinato, sendo, portanto, condenado à morte.

O Capitão abriu a boca, completamente surpreso e indignado. Ele não cometera nenhum daqueles crimes. Poderia até ter roubado algumas vezes, mas nunca chegara a saquear aquele reino. Ah mas aquele Rei vigarista... Killian poderia matá-lo com as próprias mãos.

– Os demais piratas são considerados como cúmplices de seus crimes, sendo, portanto, também condenados à morte. – o Rei concluiu e os marujos se revoltaram. Eles começaram a falar ao mesmo tempo e gritavam, o que piorava ainda mais a situação.

– Silêncio! – o Rei ordenou – Vocês negam as acusações?

– Eu nego! – bradou o Capitão – Não cometi nenhum desses crimes, posso afirmar que estou limpo...

– Você nega ter seqüestrado minha filha? – o Rei tirou os óculos e encarou o Capitão.

– Nego!

– Nega ter arquitetado o seqüestro como uma forma de extorquir dinheiro?

– Nego!

– Nega ter cometido abusos a ela? Nega tê-la maltratado?

– Nego!

– E quanto aos assassinatos que cometeu contra homens inocentes? Você nega?

– Nego tudo! Sou inocente!

– Você nega todas as acusações contra a sua pessoa?

– Sim! Sou um homem inocente. A verdade é que armaram para mim e o senhor é um Rei corrupto! – o Capitão falou essa parte quase berrando e todos ficaram muito quietos quando ele disse isso. Killian falou diretamente à plateia – Vocês não sabem a verdade sobre ele. Não sabem os crimes que ele cometeu. Ele vendeu a própria filha!

Todos olharam para o Rei. Alguns pensavam que o pirata queria se safar e por isso fazia acusações falsas contra Anthony, já outros pensavam que tudo aquilo bem poderia ser verdade, já que o Rei nunca fora muito atencioso com seu povo. Juliet botou a mão no peito e pensou que aquela seria a hora em que ela defendia os piratas e acusava o filho, mas ela simplesmente não conseguia fazer isso, ela não poderia...

Anthony não se deixou abalar:

– Você certamente sabe que calúnia é considerado crime, não sabe? Você sabe que ao fazer estas acusações falsas pode piorar as coisas, não sabe? Diga-me, Capitão, onde estão as provas? Bem, porque se você me acusa de tal atrocidade, então certamente deve ter uma prova em mãos...

Killian ficou quieto, ele sabia que não adiantaria. Não havia como ele provar e a única pessoa que poderia testemunhar contra o Rei não estava ali.

– Eu não tenho provas – ele respondeu – Mas vocês podem perguntar à Princesa Ruby. Estou dizendo a verdade e ela pode afirmar isso.

Seguiu-se um burburinho e o Rei começou a suar por dentro de suas roupas. Se Ruby abrisse a boca... Mas ela não estava ali e nem estaria.

– Minha filha está muito abalada – ele disse ao povo – O que esses piratas fizeram com ela talvez tenha destruído o resto de felicidade que havia nela. Temo que ela jamais será a mesma depois que esse Capitão a estuprou e maltratou.

– Eu não fiz nada disso! – Killian gritou.

– Você fez e destruiu a vida dela. Todos viram o quanto ela está abatida e infeliz e a culpa é sua.

– Mentiroso! Não acreditem nele! – gritou Will.

Os outros marujos, indignados, começaram a gritar que o Rei era mentiroso e que a Princesa tinha sido vendida e acabara se apaixonando pelo Capitão, mas todos gritavam ao mesmo tempo, de modo que não dava para entender o que diziam.

– SILÊNCIO! JÁ CHEGA! – o Rei berrou e a algazarra diminuiu – Vocês não têm provas contra mim. A situação já é delicada por demais e vocês só estão piorando as coisas. Cabe agora ao povo decidir: a forca ou a guilhotina?

– Cortem as cabeças! – alguém gritou e a multidão gritou em euforia. Gritavam pela guilhotina e o Rei riu satisfeito.

– Que seja a guilhotina então! – falou por cima dos gritos e as pessoas aplaudiram e berraram mais ainda.

O carrasco foi preparar a guilhotina. Era basicamente uma armação de madeira em que uma lâmina ficava pendurada por uma corda. Quando a corda era solta, a lâmina descia de uma vez e decapitava o pobre coitado que estivesse debaixo dela. Colocaram uma melancia lá embaixo, apenas para testar o quão afiada a lâmina estava. O Rei gostava de impressionar as pessoas e ele riu satisfeito quando elas arregalaram os olhos ao ver a melancia ser cortada bem no meio, com uma força descomunal.

Anthony desfilou em frente à fila de piratas, sorrindo.

– E então, quem será o primeiro? – ele perguntou de modo que apenas os marujos ouvissem – Certamente um de vocês irá querer que isso termine rápido. – ele parou na frente do Capitão e aproximou seu rosto do dele – Quero que você seja o último, assim vai ver todos os outros morrerem por sua culpa. Sabe que não precisava ser assim, não é? Se não tivesse se metido no meu caminho, nada disso teria acontecido.

O Capitão apenas o encarou sem dizer nada. Se ele ia morrer, pelo menos morreria com dignidade, sem se rebaixar ao nível daquele tirano. Todos ainda tinham uma pontinha de esperança de que Ruby ia aparecer, embora até agora ela não tivesse dado sinal de vida. Eles precisavam ter fé, embora a situação estivesse crítica, agora que um deles teria que se voluntariar à morrer primeiro.

– Ninguém? – o Rei olhou um por um – Então parece que eu mesmo terei que escolher... Você! – ele parou e encarou Will – Parece muito corajoso então não vai se importar de morrer primeiro...

O carrasco soltou as algemas e correntes que prendiam as mãos e pés de Will e ele foi empurrado até a guilhotina. Ele murmurava, pedindo que fosse rápido e não doesse muito. O carrasco o fez se ajoelhar e colocar a cabeça debaixo da lâmina. Will fechou os olhos.

Nisso, Ruby e Tinker Bell vieram correndo, já atrasadas. Elas temiam que algo de ruim tivesse acontecido enquanto elas corriam pelos corredores do castelo e não conseguiam ver direito o que acontecia. Havia muita gente no caminho e elas não conseguiam passar. Ruby começou a empurrar as pessoas e Tinker Bell retornou ao seu tamanho de fada, podendo assim sobrevoar acima das cabeças das pessoas para ver o que acontecia.

A fadinha se desesperou ao ver Will sendo colocado na guilhotina. Todos os outros ainda estavam vivos. Ela viu Ellanor acorrentada a um canto e os marujos encarando o chão, alguns fazendo preces às fadas e criaturas da natureza, outros chorando e clamando baixinho por misericórdia. Will estava com a cabeça virada na direção dela. O carrasco o posicionava de maneira que a lâmina pudesse decapitá-lo de uma vez só, sem chance de a cabeça ainda ficar grudada ao corpo. Will abriu os olhos e avistou a pequena fada o encarando assustada e confusa. Ele sabia que era sua última chance, então apenas sorriu e berrou:

– TINKER BELL! EU TE AMO! ME DESCULPE!(1)

As pessoas olharam na direção em que o marujo olhava, tentando ver para quem era aquela declaração de amor. Tink se derreteu em lágrimas e voou na direção de seu amado pirata. Todos ficaram pasmos ao ver a fada e mais pasmos ainda quando ela assumiu seu tamanho grande e se ajoelhou bem na frente de Will, do outro lado da guilhotina. Eles se olharam, ambos com lágrimas nos olhos. O carrasco parou o que estava fazendo, tão pasmo que estava.

– Prossiga! – o Rei ordenou.

Tinker Bell segurou o rosto de Will com as duas mãos e o puxou para um beijo de tirar o fôlego. Algumas pessoas se emocionaram com a cena, enquanto outras ficaram indignadas com o fato de uma fada ter se apaixonado por um pirata.

– Eu te amo! – Tink sussurrou quando eles se separaram.

– Me perdoe! – Will chorava – Eu sinto muito, me perdoe...

– PROSSIGA! – o Rei berrou, já que o carrasco estava petrificado diante da cena. Já não se faziam carrascos como antigamente...

Mas enquanto essa cena se desenrolava, Ruby veio abrindo caminho na multidão, praticamente atropelando as pessoas. Ela pisou em alguns pés pelo caminho, mas acabou por chegar em frente ao palanque, onde subiu para impedir que matassem Will.

– PAREM! – ela berrou. – PAREM COM ESSE TEATRO!

Todos ficaram em silêncio. Killian e os marujos respiraram aliviados e o Rei cerrou os punhos e trancou o maxilar, tão furioso que estava pela aparição de Ruby. A princesa simplesmente foi até Will e fez ele se levantar, enquanto todos a encaravam estagnados.

– Senhor? – o carrasco olhou para o Rei.

– Eu disse: prossiga! – o Rei ordenou por entre os dentes e encarando Ruby.

– Não! Ninguém vai ser executado hoje! – ela bradou – Esses piratas são inocentes!

Essa declaração causou rebuliço. As pessoas começaram a cochichar umas com as outras e agora encaravam o Rei, esperando que ele dissesse algo. Não poderiam simplesmente duvidar da palavra de uma princesa. Se ela dizia que eram inocentes, então as acusações contra eles não tinham cabimento algum.

– Estão sendo acusados injustamente. Esse Capitão não me seqüestrou... – ela continuou –Devem estar pensando o quão honesto meu pai é. Querem saber a verdade sobre ele? ELE ME VENDEU! ELE VENDEU A PRÓPRIA FILHA!(2)

As pessoas fizeram “ooooooh” e a coisa ficou pior ainda. Agora falavam alto e o Rei começou a tremer, já não gostando dos olhares que as pessoas lançavam a ele.

– A prova está aqui – Ruby mostrou alguns papeis que tinha em mãos – Documentos que ele fez questão de esconder para que ninguém encontrasse. Um deles atesta que Ruby Blanchard foi vendida a Killian Jones pelo preço de nove sacas de ouro...

Novamente um “oooooooh” e as pessoas ficaram agitadas.

– O Capitão não me seqüestrou – ela olhou para ele – Ele me comprou, o que é bem diferente. Eu pertenço a ele, fui vendida como uma mercadoria qualquer. Mas não é por isso que estou aqui... Eu precisava impedir a morte de inocentes, a morte do homem que eu amo... – ela sorriu. Estava a ponto de chorar, mas precisava ser forte naquele momento – Sim, ele é um pirata, mas eu o amo.

O Rei estava tão vermelho que sua cara parecia um tomatão. Ruby simplesmente continuou falando e agora as pessoas a encaravam, incapazes de falar ou fazer qualquer coisa.

– Talvez estejam se perguntando o que leva um Rei a vender a própria filha. Bem, o que eu posso dizer? Ele fez isso como uma tentativa de abafar todos os seus crimes...

– JÁ CHEGA! ISSO É UMA CALÚNIA! NÃO VOU TOLERAR ISSO! – o Rei se manifestou e todos ficaram assustados com sua reação. – A verdade é que minha filha se apaixonou por esse pirata e eu não aprovo esse relacionamento. Onde já se viu uma coisa dessas? Uma princesa e um pirata!

– Não há nada de errado nisso! – uma voz de mulher falou e todos se viraram para olhar Anita, a Rainha. As pessoas se afastaram para que ela pudesse passar e se ajoelharam diante da Rainha. Vovó a acompanhava e as duas subiram no palanque, abraçando Ruby.

– Podem se levantar! – disse Anita, ela nunca gostara muito dessas formalidades, uma vez que não se sentia superior a ninguém. – Hoje não é um dia para cerimônias, é um dia de revelações... Por que estes homens ainda estão presos?

O Rei e a Rainha se encararam e Anita fez sinal para que o carrasco libertasse os piratas. O homem libertou os marujos das correntes colocadas em seus braços e pés e Killian finalmente pôde abraçar Ruby. Tink e Will estavam de mãos dadas a um canto, sorrindo um para o outro. Ellanor também foi libertada e as pessoas ficaram amedrontadas.

– Acalmem-se, seus tolos – a bruxa resmungou – Não vou amaldiçoar ninguém – e dizendo isso ela foi para o lado de Smee.

– Estes homens são inocentes – Anita afirmou – Tudo o que minha filha disse é verdade e pode ser comprovado. Este homem – ela apontou para o marido – é o verdadeiro criminoso. Este homem que vocês conhecem como pai e monarca... Ele vendeu a própria filha!

Mesmo que já soubessem isso, as pessoas não conseguiam não reagir àquela afirmação. Alguns se mostraram indignados, outros estavam zangados.

– Ele roubou de vocês. Devem ter notado os altos impostos. Tudo isso porque estávamos beirando a pobreza. Sim, seu Rei é um corrupto e vigarista!

As pessoas estavam cada vez mais indignadas. Ruby não queria que terminasse assim, mas seu pai não podia simplesmente sair impune. O Rei apenas ficou mais vermelho do que já estava, mas agora por vergonha.

– E não é só isso! – ela continuou - Ele me traiu durante anos até que eu descobrisse. Me parece que adultério é mal visto pela sociedade, não? – ela encarou o marido - Espero que a tal amante tenha feito bom proveito de nosso dinheiro... E por falar em dinheiro, será que algum de vocês se pergunta o que tem sido feito com o dinheiro dos impostos?

– Ora, o dinheiro é meu e faço o que bem entender com ele! – o Rei finalmente se defendeu. As pessoas o olhavam com aversão e ele nem ligava.

– O dever de um Rei e zelar por seu povo. – Juliet falou – Há muitas melhorias a serem feitas nesse reino. Detesto ter que dizer isso, mas meu filho já não é digno de ocupar o trono...

– Todos estão contra mim! É uma conspiração! – ele exclamou em voz alta e todos começaram a vaiar.

– O Rei deve ser deposto! – alguém no meio da multidão gritou.

– Tirem a coroa do Rei!

– Queremos um novo monarca!

As pessoas começaram a gritar, exigindo que o Rei fosse deposto e outra pessoa assumisse o trono. Anthony passou de furioso a desesperado e ninguém pareceu disposto a defendê-lo. Anita falou alto, sobrepondo-se à multidão:

– Um novo julgamento será feito, mas em particular. O Conselho irá decidir o que é melhor para todos. – e dizendo isso ela se retirou em direção ao castelo.

Guardas escoltaram o Rei, para que ele não fosse apedrejado ou linchado em praça pública. Juliet e membros do Conselho também foram em direção ao castelo, enquanto as pessoas se sentavam, amontoando-se umas sobre as outras. Ninguém iria querer perder aquele espetáculo quando o Rei fosse deposto. Os piratas comemoravam sua vitória e Killian e Ruby se agarravam a um canto, assim como Tinker Bell e Will.

– Você me perdoa? – Will perguntou baixinho depois que ele e Bell se separaram.

– É claro, seu bobo. – ela riu – Você me fez sofrer e eu fiquei magoada, mas depois dessa declaração em praça pública... É, eu te perdôo.

Ele riu e os dois se beijaram novamente.

– Já estava achando que você não ia aparecer – o Capitão falou risonho, ainda abraçado a Ruby.

– Eu tive uns probleminhas – ela explicou – Mas isso é uma longa história...

– Vai ter tempo de me contar tudo quando isso acabar.

– E agora? Como vai ser – ela estava preocupada – Não temos um navio...

Killian entristeceu.

– Agora é cada um por si. Eles querem um capitão que os leve a aventuras e riquezas – ele olhou na direção dos marujos que conversavam e riam animadamente – E bem, desde que não temos mais um navio, eles provavelmente irão encontrar outra tripulação.

– Acha mesmo que eles te abandonariam assim?

– Bem, eles têm suas próprias vidas. O melhor é que procurem seu caminho, agora que eu não posso fazer mais nada.

– Ah não fique assim – ela o abraçou ternamente – Vamos dar um jeito.

– Mas sabe... – ele a apertou contra si e acariciava seus cabelos – nós poderíamos levar uma vida normal, se você quisesse...

Ela o encarou.

– Normal como?

– Poderíamos morar numa casa normal. Eu poderia ter um emprego normal. Você cuidaria da casa e das crianças...

– Crianças? – ela sorriu divertida.

– Nossos filhos! Bem, eu esperava que você fosse querer umas dez ou quinze crianças, mas posso me contentar com um só...

Ela riu e Killian novamente a puxou para um abraço. Como ele sentira falta dela. Sentira falta de sua risada, de seu sorriso, de sua voz, de seus olhos, sua boca... Sentira falta de como ela acordava meio descabelada pela manhã e se escondia sob os lençóis para que ele não a visse. Sentira falta de como ela sempre adormecia fora da cama e ele tinha que carregá-la. Sentira falta de tudo, embora tivessem ficado separados por apenas algumas horas. Killian não suportava viver sem sua Ruby, assim como ela não suportava viver sem ele. Mas agora estava novamente juntos e ninguém iria separá-los.

– Parece que tiveram um final feliz – Charlotte disse atrás deles. Estava claro em seu tom de voz que ela estava irritada.

– Ao contrário de alguns, não precisamos destruir vidas para conseguir o que queremos – disse o Capitão e Charlotte se irritou.

– Você ainda vai pagar por tudo que me fez – e saiu com seu nariz em pé.

– Temos que conversar – Ruby cruzou os braços e Killian já sabia que ela queria falar de Charlotte. Ele coçou a cabeça:

– Eu já esperava por isso. Podemos falar disso depois, não é? Agora eu só quero passar um tempo com minha noivinha...

Ela riu e eles se beijaram apaixonadamente.

***

Lá fora, na brisa morna do amanhecer, o ex-Rei caminhava sozinho. Um dia se orgulhou de sua coroa. Agora se envergonhava de sua fama. Para onde quer que ele fosse, as pessoas iam sempre se lembrar. Ele não fora um bom Rei, mas não chegou a ser o pior de todos. Ele não fora um bom pai também. Nem um bom filho. Ou um bom irmão... Ele nunca fora um bom homem.

Ele perdeu tudo! E o Capitão fez questão de lembrá-lo disso. “Perdi minha coroa”, ele pensou enquanto caminhava a passos lentos pela floresta “Perdi meu povo, meu castelo, minhas filhas, minha esposa... perdi o amor de minha mãe, o respeito de meus irmãos, perdi a dignidade, a felicidade, o amor-próprio... perdi tudo!”

Que mais ele poderia fazer? Não havia povo que o apoiasse ou família que o amasse. Ele estava tão sedento por poder que não percebeu que já tinha tudo o que precisava. Ele tinha uma esposa maravilhosa, inteligente e honesta. Ela tinha duas belas filhas que o amavam imensamente. Ele morava em um maravilhoso castelo e tinha uma grande equipe de empregados. Ele tinha navios e carruagens a seu dispor. Ele tinha joias e ouro. Tinha banquetes... Ele tinha tudo e não tinha nada. Agora ele percebia como sua vida tinha sido fútil. Perdera até a amante...

E agora, o que seria dele? “Este mundo já não pode me oferecer nada”, ele pensou deprimido e sentando-se a uma pedra. “Talvez eu deva apenas me sentar e esperar pela morte, abraçá-la como quem abraça a um amigo. Ela é a única que vai querer me encarar agora...”

E foi com esse pensamento, que ele simplesmente fez o que tinha que ser feito. A Morte não demorou a vir, e quando veio, eles tiveram que se encarar. Era como se até ela estivesse rindo de seu fracasso. Mas não importava. Ele simplesmente não tinha mais o que fazer. É como diz a frase: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das conseqüências (3)”. Ele fez todas as escolhas erradas. E no fim, teve que pagar pelo o que fez...

(1) e (2) Créditos a Reet, que criou essas falas e sugeriu a cena de amor entre Tink e Will.

(3) Frase de Pablo Neruda


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Eu não sei muito bem como os julgamentos aconteciam na época medieval (que é como se fosse a época em que eles vivem na Floresta Encantada), então fiz do jeito que achei que ficaria legal.
Não sei quando vou postar o próximo porque meu computador está com uns problemas e pode ser que eu precise chamar um técnico. Se eu postar essa semana provavelmente vai ser um capítulo pequeno, mas vou fazer o possível para postar bem rápido. Beijos e até a próxima



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