Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 33
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Demorei mas cheguei kkk Primeiramente quero agradecer os comentários do capítulo anterior, fico feliz que gostaram da morte da Liza. E também quero agradecer às sugestões que me deram. Não sei como não tive essa ideia de colocar vocês como personagens antes. Algumas meninas pediram e as coloquei na história, quem quiser é só falar lá nos comentários e dou um jeitinho rs
Ah, vocês viram o ator que vai interpretar o Barba Negra? O nome dele é Charles Mesure e é até parecido com o Hook, o que me leva a pensar que realmente pode ser o pai dele. Agora falta um mês até o próximo episódio e não sei se aguento essa espera kkkk
Enfim, espero que gostem. Eu acho que poderia ter feito melhor, mas vou tentar caprichar mais no próximo. Beijos



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Ruby passou a noite ao lado do Capitão. Ela simplesmente se sentou no chão frio e adormeceu com a cabeça apoiada à grade da cela dele. Eles estavam de mãos dadas e Killian chorara por uns minutos, sem conseguir conter a tristeza que estava sentindo. Por mais que a princesa dissesse que conseguiriam reverter a situação, ele achava que estava tudo acabado, não havia como consertar aquilo. Seu navio se fora e com ele, as lembranças de uma vida.

Ninguém tentou tirá-la de lá. Charlotte apenas deixou que ela fizesse o que queria. De todo jeito, não havia como ela fugir. Eles agora navegavam a todo pano e não demoraria até Ruby rever seu pai e seu reino. Ela abominava esse reencontro, no entanto, sabia que teria que acontecer e que ela tinha uma necessidade muito grande de dizer a ele tudo o que estava sentindo. Decepção e raiva. Apenas isso. Ela o amara e ele simplesmente despedaçara esse amor. Não havia como reconstruir os laços que os unia. Simplesmente acabara.

Pela manhã, Ruby subiu ao convés para pedir por alimentos para os marujos. O corpo de Liza ainda estava lá e já cheirava mal. Moscas voavam sobre ele e o sangue secara. Era simplesmente asqueroso e ela se perguntou o que Charlotte faria com aquilo.

– Espero que tenha dormido bem – a Capitã notou que Ruby observava Liza – Eu teria lhe oferecido minha cabine, mas parece que você prefere dormir na imundície.

– Estamos com fome! – ela disse. Ela se imaginou estapeando a cara daquela mulher da mesma forma que fizera com Liza.

– Ah sim, é claro. FREDERICK! LEVE COMIDA AOS PRISIONEIROS. - berrou quase estourando os tímpanos de Ruby

– Sim, Capitã.

Frederick era o cozinheiro. Ele levou Ruby à cozinha, onde havia um banquete sendo preparado. Mas os marujos só receberiam pão e sopa.

– Só isso? – ela perguntou indignada ao ver as pequenas porções que o homem servia nos pratos.

– Desculpe, mas são ordens da Capitã – disse o homem. Era baixo, meio gordinho e tinha uma careca que brilhava o tempo todo. – Mas Vossa Alteza pode comer o que quiser.

Frederick foi ao porão para levar a comida e Ruby fez a coisa mais óbvia que Killian teria feito: encheu os bolsos de comida. Por sorte ela ainda tinha a capa e poderia dizer que fora isso que a protegera enquanto estava lutando com os corsários na praia. Ela poderia ter se machucado várias vezes, mas a capa viera a calhar. Ela pegou coxas de frango e pedaços de carne e escondeu nos bolsos. Quando Frederick voltou, ela disse que se alimentara bem e em seguida voltou ao porão.

Não havia ninguém vigiando os prisioneiros porque eles achavam que era praticamente impossível escapar daquele navio. Foi bem fácil Ruby esvaziar os bolsos e passar a comida para eles, sem que ninguém estivesse ali para ver.

– Onde conseguiu isso? – o Capitão perguntou, pegando uma coxa de frango. Ele estava com um olho roxo e ainda havia sangue seco em sua boca e nariz.

– Peguei na cozinha.

– Você roubou? – Will se surpreendeu.

– Vamos dizer que sim...

Os marujos riram.

– Princesa, você viu minha Ella? – perguntou Smee com a voz rouca – Estou tão preocupado...

– Acho que a levaram para a cabine da Capitã. O que é aquela corrente em que ela está presa?

– Aço. – Smee explicou – Aço neutraliza o poder das bruxas. Fomos pegos de surpresa. Ella tentou ajudar, mas os corsários já sabiam que havia uma bruxa na tripulação. Aquela traidorazinha contou tudo a eles.

– Como ela fez isso? – perguntou Jack – Como se comunicava com eles?

– Talvez por bilhetes? – sugeriu Will – Já vi pessoas usando pombos e pássaros como mensageiros.

– Mas aí teríamos visto quando ela mandasse os bilhetes.

– Eu vi, uma vez – contou Thomas – Ela disse que era uma carta para o pai.

– Mas que vadiazinha! – exclamou Smee.

– Ela era uma Vadiza(1), isso sim. – disse Will e Beto começou a rir.

– Essa foi ótima. Vadiza... - Entenderam? Vadiza... vadia misturado com Liza... – o ferreiro explicou, já que eles pareciam não ter entendido.

Os outros começaram a rir quando entenderam a piada. Talvez fosse a última chance que tivessem para rir e conversar daquele jeito. Quem sabe o que aconteceria depois?

– E minha Mabel? – Beto perguntou a Ruby – Ela está bem? Ariel está com ela?

– Elas estão na cabine. - ela respondeu e o rapaz ficou aliviado – Estão bem, mas assustadas com tudo isso. E o corpo da Liza... ou Vadiza... ainda está lá em cima.

– Eca! Ainda não se livraram daquilo? – Jack fez cara de nojo.

– As moscas já começaram a rondar.

– Eu achei que nem as moscas teriam coragem de chegar perto daquilo – falou Will. O rapaz fazia piadas, mas eles sabiam que ainda estava chateado e se sentindo usado.

– Pode entregar isso a Mabel? – Beto tirou um colar de prata que sempre usava. Havia um anel pendurado nele e todos perceberam o que significava – Eu ia pedi-la em casamento. Não é um anel bonito como o seu, mas é de coração. Diga a ela que a amo.

– É como dizem – falou Smee – Nunca deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Devia ter pedido a mão dela enquanto ainda havia tempo.

Beto suspirou:

– Só espero que ela me perdoe por isso – ele entregou o colar com o anel para Ruby e ela foi até a cabine para entregar à Mabel.

As duas sereias estavam algemadas ao pé da cama. Felizmente, os corsários não sabiam que elas eram sereias, ou teriam tentado se aproveitar disso. Havia um comércio de sereias por ali e os mercadores costumavam pagar caro por elas. Era estranho, mas algo comum naquele mundo.

– Ruby! – as duas respiraram aliviadas quando ela apareceu.

– Onde passou a noite? – indagou Ariel – Ficamos preocupadas.

– Eu estava no porão. O Killian precisava de um consolo, depois do que aconteceu ao navio.

– Que horrível! – disse Mabel – Nunca pensem que corsários fossem capazes de tais atrocidades.

– Nem eu. O Beto te mandou uma coisa – ela mostrou o colar e o anel. As mãos de Mabel estavam algemadas no pé da cama, de modo que Ruby apenas colocou o colar no pescoço da amiga e ela ficou admirando o anel prateado. – Ele ia te pedir em casamento. Disse que te ama e que espera que o perdoe.

Os olhos da sereia se encheram de lágrimas.

– Eu o amo mais do que tudo – falou – É claro que o perdôo, quem poderia imaginar que Liza iria nos trair? Diga a ele que eu aceito – ela sorriu – Quando escaparmos, e iremos escapar, quero que nosso casamento aconteça junto com o seu.

Ruby sorriu, ela própria tentando não chorar. A amizade que desenvolvera com aquelas meninas era algo forte e verdadeiro. Ela confiara em Liza, mas sempre gostara mais de Mabel e Ariel.

– O que farão com a gente? – perguntou Ariel, amedrontada – Nos colocaram aqui como uma gentileza, por sermos moças. Mas e o que acontece depois? Iremos para a forca também?

– Eu realmente não sei. Mas eu posso livrar vocês disso. Vou dizer ao meu pai que pare com essa palhaçada. Ele não tem esse direito.

– E quanto a isso, como está se sentindo?

– Confesso que não esperava por esse reencontro. Mas se é necessário, então ele vai ter que me ouvir. Sabem, acho que já é hora de acabar com esse teatro. Eu vou revelar a todos o que ele tem feito de ruim.

– Quer dizer... – Mabel ficou pensativa – Mas então ele pode ser deposto, não é?

– É o que vai acontecer. Se todos descobrirem as fraudes, ele não vai ter direito ao trono mais. – explicou Ruby – Vai perder a coroa e então o próximo na linha de sucessão irá assumir.

– Essa seria Mary Margaret? – Ariel perguntou.

– É, seria.

Ruby então voltou ao convés, onde uma brisa suave açoitou seus cabelos. Todos trabalhavam duro. Era um navio colossal e as pessoas deviam cuidar de suas tarefas para que tudo funcionasse bem. A Capitã desfilava pelo convés enquanto Morgan fazia o papel de Capitão. Charlotte supervisionava o trabalho dos marujos e vez ou outra encontrava algo errado.

– Morgan, já estamos no território dos tubarões? – ela se voltou para olhar o Imediato.

– Creio que sim, Capitã.

– Ótimo. Atraquem o navio! – ela olhou por cima da borda do navio e avistou tubarões nadando tranquilamente lá em baixo.

– Mas aqui, Capitã?

– Sim, aqui. Faça logo o que eu disse, idiota.

Eles fizeram como ela mandou e a âncora foi descida. O navio parou com um solavanco. No porão, os marujos se perguntavam o que acontecia e Ruby já tinha uma ideia do que Charlotte ia fazer. Ruby espiou lá embaixo. A cor da água era quase transparente, de forma que era possível ver enormes tubarões rondando o navio.

– Homens, atirem o corpo lá embaixo – Charlotte ordenou. Os marujos se entreolharam. – Vamos logo, imbecis. Não me digam que estão com nojinho... – ela revirou os olhos e um dos homens, o mais forte e mais corajoso, se ofereceu a atirar o corpo lá embaixo. – Muito bem, Franz. Vejo que temos um marujo corajoso neste navio.

Franz levantou o corpo inerte de Liza e ao fazer isso, os intestinos da moça ficaram pendurados. Muitas pessoas fizeram cara de nojo. Ele então apoiou o corpo na borda do navio e o soltou. Charlotte gargalhou quando o corpo caiu lá embaixo e os tubarões ficaram agitados. Não demorou para que os bichos devorassem a carne. Ruby não quis ver a cena. Ao invés disso, ela foi até o porão e transmitiu o recado de Mabel a Beto. E contou a eles que as sereias estavam algemadas na cabine da Capitã. Mas ninguém sabia do paradeiro de Ellanor.

– Iremos nos casar quando tudo isso terminar – Beto estava feliz – Eu não poderia estar mais feliz.

– Atiraram a Liza lá embaixo? – Jack perguntou.

– Os tubarões a devoraram – Ruby estremeceu – Essa Charlotte tem um senso de humor incrível.

– Bem feito! Ela bem que mereceu – falou Thomas.

– Nós bolamos um plano – o Capitão falou, segurando a mão de Ruby pela grade – Bem, não é exatamente um plano, mas talvez funcione.

– E o que é?

– Você tem que ajudar as meninas. – Killian explicou – Mabel e Ariel. Elas precisam fugir e buscar ajuda.

– Quem poderia nos ajudar nesse momento? – Ruby desanimou.

– Ora, qualquer um. Elas não são sereias? Então podem chamar pelos monstros do mar. Seria um bom momento para o Kraken.

– Se ele não estivesse morto...

– Há outros por aí. Estamos confiantes, minha princesa. Mas você vai ter que fazer o trabalho sujo.

– Eu posso fazer isso! – ela bradou.

– Essa é minha Ruby – o Capitão riu. – Mas cuidado, esses corsários são espertos.

– Não se preocupe, eu tenho um plano. – ela disse e subiu para o convés.

Lá em cima estava tudo na mesma. Eles voltaram a navegar e todos voltaram à suas tarefas. Era entediante. No Jolly Roger os marujos sempre conversavam e riam o tempo todo. Todos eram muito simpáticos com Ruby. Mas aqui era tudo muito diferente, eles trabalhavam como robôs. Não falavam muito e não paravam para descansar.

Ela se sentou perto de uns barris de rum e ficou observando. Precisava saber exatamente como ajudar as garotas. Ela viu um molho de chaves pendurado na cintura de Charlotte, bem perto de onde ela colocava a espada. Podia apostar que entre elas estava a liberdade das sereias. Mas para tanto, ela precisaria pegar aquelas chaves...

– Capitã – ela se aproximou de Charlotte, que fazia rabiscos num mapa – Podemos conversar?

– É claro, querida Princesa. Sobre o que quer falar?

– Meu pai. Ele realmente quer me ver, não é?

– É claro, há semanas que ele só fala nisso. – Charlotte ergueu os olhos e a encarou – Ele ama você.

– Deve estar mesmo arrependido...

– Ele realmente a vendeu?

– Sim, e foi algo verdadeiramente decepcionante. Eu quero dizer, eu amo o Killian, mas como acha que eu me sinto por ter sido traída por meu próprio pai?

– Oh, eu entendo. Os pais sempre acham que sabem o melhor para nossas vidas. Mas deve se orgulhar de seu pai. Ele fez quase o impossível para encontrá-la.

– Eu sei. E então, quanto tempo falta até chegarmos lá? – ela fingiu estar ansiosa.

– Mais umas três horas. Isso se o vento ajudar. – Charlotte observou as velas.

– Hum, acho que eu vou tirar um cochilo então. Quase não dormi direito no porão. Se importa se eu me acomodar em sua cabine?

– Claro que não. Fique à vontade. Pode até tomar banho se quiser.

– Obrigada, Capitã! – E Ruby caminhou tranquilamente até a cabine, levando o molho de chaves de Charlotte no bolso.

Ariel e Mabel ficaram espantadas quando Ruby fechou a porta e a trancou.

– Como conseguiu as chaves? – Ariel questionou.

– Eu simplesmente peguei sem que a Capitã notasse. Aprendi esse truque com o Killian. – Ruby falou.

A princesa explicou às sereias o que elas deveriam fazer. As duas pareceram felizes por finalmente poderem esticar as pernas, ou nesse caso, suas caudas. Ruby tirou as algemas que as prendia e abriu a janela, deixando que a luz do sol entrasse. O mar brilhava lá embaixo e Mabel ficou amedrontada pela queda.

– É meio alto – disse – Mas é isso ou ficamos presas aqui.

Alguém tentou abrir a porta e elas se assustaram.

– Depressa! Tirem as pulseiras – Ruby as apressou.

– Abra a porta! – Charlotte esmurrava a porta, tentando abrir a todo custo – Morgan! Preciso da chave sobressalente!

– Escutem, quero que tenham cuidado – Ruby ajudou Ariel a subir na janela – Se não nos virmos nunca mais, quero que saibam que são ótimas amigas. As melhores que eu já tive.

Elas se abraçaram.

– Diga ao Beto que eu vou voltar por ele. – Mabel falou – Vou encontrá-lo!

– Boa sorte! – Ruby desejou.

As duas sereias estavam penduradas na janela, olhando o mar revolto lá embaixo.

– Bem, é agora ou nunca – Ariel sorriu – Até algum dia, Ruby.

Então elas tiraram as pulseiras, libertando suas caldas brilhantes e lustrosas. Elas escorregaram para baixo e Ruby só teve tempo de ver que entravam numa onda. Depois ela viu elas acenarem e acenou de volta. Um segundo depois, a Capitã abriu a porta.

– Mas o quê...? Onde elas estão? – perguntou furiosa e tomou o molho de chaves que Ruby ainda segurava – Onde elas estão? Fugiram? Como?

– Não vou dizer a você – Ruby empinou o nariz – Mas não espere chegar tão cedo ao reino de meu pai. Isso se nós chegarmos...

A princesa saiu para o convés, deixando uma Charlotte confusa.

***

O plano dos marujos não funcionou. Já haviam se passado duas horas e nada de o Kraken ou qualquer outro monstro esquisito aparecer. Talvez as sereias não tivessem conseguido encontrar ajuda. Agora estavam todos desanimados e deprimidos.

– É o fim. Acabou. – murmurou o Capitão.

– Não diga isso. Sempre há um jeito. – Ruby tentava animá-lo – Eu vou consertar isso. E você pode até ter um navio novo.

Ele sorriu:

– Se está dizendo... Acha que seu pai te ouviria?

– Ele vai ter que ouvir. Já tenho idade suficiente para sabe o que é bom ou não para minha vida.

Se Ruby estava confiante, então os marujos precisavam confiar nela. A única chance que eles tinham, era conseguir provar que Ruby não fora seqüestrada. Infelizmente os documentos do Capitão, que asseguravam que Ruby era sua propriedade, haviam sido queimados junto com o navio. A princesa pensou que talvez seu pai tivesse uma cópia, ela poderia procurar por ela quando chegassem ao castelo. Mas na pior das hipóteses, ela poderia contar a todos a verdade sobre o Rei. Ninguém duvidaria de sua palavra. Ela odiava ter que fazer isso com o próprio pai, mas fora ele quem começara essa história toda.

– Escutem, é melhor eu já preveni-los – ela disse aos marujos – Meu pai com certeza vai querer um julgamento, assim o próprio povo poderá decidir a punição que vocês merecem. Quando isso acontecer, eu vou estar lá e vou poder dar meu testemunho. Eu vou salvar vocês.

– Quando você fala assim, é como se meu peito se enchesse de esperança – Disse Beto – Eu confio em você, Princesa. Sei que irá nos salvar.

Mas será que ela confiava em si mesma? Ruby era uma cabeça pensante, mas talvez ela não conseguisse ser uma heroína o tempo todo. E se ela falhasse? E se no momento em que reencontrasse seu pai, ela não conseguisse ficar contra ele? Mas ela amava aquele Capitão, ela amava aqueles marujos e amara os dias em que passara naquele navio. Ela precisava fazer isso. Seu pai seria deposto e ela seria a culpada. Mas Ruby não devia se esquecer que as pessoas justas eram responsáveis por consertar o mundo.

Eles tiveram mais uma refeição, que mais uma vez consistia em sopa e pão. Killian não quis que Ruby roubasse coisas da cozinha porque provavelmente Charlotte estaria de olho nela, depois que a Princesa roubara suas chaves. Então Ruby apenas ficou lá no porão, conversando com os piratas.

– O que será que aconteceu com a Tink? – Will estava preocupado – Faz uns três dias desde que ela nos deixou.

– Ela deve estar bem – o Capitão tranqüilizou – Não se esqueça, ela é uma fada. E é bem veloz e esperta também.

– Quando isso acabar, eu juro que me caso com ela.

Os marujos riram, desacreditados.

– Não faça promessas que não pode cumprir, rapaz – advertiu John.

Mas Will estava convicto e agora ele sabia: era com Tinker Bell que ele deveria ficar. Nenhum outro relacionamento que ele tivera acabara bem. Talvez a fada fosse seu recomeço, uma chance de redenção.

– Eu gostaria de dizer a verdade a vocês – Will se remexeu no assoalho de madeira e Killian o encarou.

– O motivo de você ter entrado para a tripulação?

– Sim. – Will respirou fundo – Bem, eu só fiz isso porque estava fugindo. Estava me envolvendo com uma mulher e não fazia ideia de que ela era casada. O marido dela descobriu e queria me matar. A única solução que eu encontrei foi fugir por mar.

Killian riu:

– É bem a sua cara, irmão. Quem diria que iria crescer e se tornar um garanhão mulherengo...

Eles riram.

– Talvez ela esteja orgulhosa de nós – o ferreiro encarava o teto – onde quer que ela esteja. Eu quero dizer, apesar de termos nos tornado piratas.

– Ela está – Jack assegurou – Sabem que eu penso nela quase o tempo todo? A maneira como ela nos tratava, como nos ensinava as coisas... Sinto tanta falta dela.

– Pelo menos ainda temos o papai – disse Killian – Embora ele seja um prisioneiro...

– Ei, é isso! – Will se levantou – Podemos chamar aquele Rumple alguma coisa e pedir que nos tire daqui.

– Quem? – perguntaram alguns marujos.

– Rumplestilssim ou Rumpelmilzim... algo assim – respondeu o Capitão.

– Rumplestiltskin? – John arregalou os olhos – O Senhor das Trevas?

– Oh, você o conhece? – indagou Will, curioso.

– Aquele homem é o demônio. Não se atrevam a chamá-lo aqui. – John subitamente ficou vermelho de raiva e eles não sabiam por quê.

– E por que não? Basta fazermos um acordo e ele nos tira logo daqui.

– Fazer acordos com o Senhor das Trevas é o mesmo que fazer acordos com o demônio. Vocês não sabem que toda magia vem com um preço? Ele pode até nos tirar daqui, mas quem sabe o preço que isso vai ter? Querem um conselho? Nunca procurem esse monstro...

– Me parece que você já o encontrou alguma vez. Estou certo, John? – o Capitão perguntou. John suspirou e pareceu hesitante, mas como aquela era a hora da verdade, ele precisava dizer a eles.

– Esse desgraçado tirou minha Milah de mim. Eu disse que ela morreu, mas não disse como – e seu rosto se encheu de rancor e dor – Esse covarde arrancou o coração dela, bem na minha frente. Eu não pude fazer nada, apenas a vi morrer em meus braços enquanto o maldito Rumplestiltskin ria satisfeito.

– Mas por que ele fez isso? – Beto ajeitou o chapéu na cabeça.

– Ele era marido dela quando ainda era um homem normal. Mas era um covarde. Milah estava insatisfeita com a vida que tinha então se juntou aos piratas. Nos conhecemos e acabamos nos apaixonando. Isso foi na época em que eu ainda era tenente. Por ela eu abandonei minha carreira e me tornei pirata, éramos felizes juntos. Mas anos depois, quando Rumplestiltskin já estava virado naquele monstro que é hoje, nos reencontramos e ele quis se vingar por ela ter o abandonado com um filho pequeno.

– Que triste! – murmurou Beto

– O melhor é continuarmos como estamos – John continuou – As coisas só tendem a piorar. Não metam o Senhor das Trevas nisso.

E depois disso, eles tinham que concordar que o cozinheiro estava certo.

***

Uma hora e meia depois, o navio atracou. Estavam nas docas do reino do Rei Anthony e Ruby não pôde deixar de sentir aversão ao retornar àquele lugar.

– Vamos, imundos. Andando! – Morgan tirou os piratas de suas celas e eles foram acorrentados uns aos outros. Caminhavam devagar pelo caminho até o castelo e as pessoas que viviam por ali pararam o que estavam fazendo para assistir à cena. Elas cochichavam umas com as outras e quando viram Ruby pareceram felizes por ela estar bem. Algumas pessoas que ela conhecia sorriram quando ela passou. Ela não se sentiu no clima de cumprimentar as pessoas, por isso apenas caminhou por entre a multidão, escoltada por dois corsários. Na verdade, Charlotte ordenara que os dois homens ficassem de olho na princesa e a levassem diretamente ao Rei, para que ela não tentasse escapar.

Eles chegaram à ponte levadiça do enorme castelo em que um dia Ruby já vivera. Atravessaram a ponte e Ruby olhou para o fosso lá embaixo. Chegaram ao pátio do castelo, onde pessoas trabalhavam e todos se voltaram para olhar os recém chegados. Um dos guardas foi chamar o Rei e Ruby respirou fundo. O que ela ia dizer? Devia demonstrar o quanto estava decepcionada? Ou devia apenas tratá-lo bem, como se nada tivesse acontecido?

O Rei veio andando apressado, com sua capa esvoaçando atrás dele. Era um homem de uns sessenta anos (realmente bem mais velho que a mãe de Ruby), de cabelos brancos bem ralos, testa brilhosa e olhos claros. Só de ver a expressão em seu rosto, já se podia dizer que era realmente um soberano. Ele parecia irradiar poder por onde passava.

– Minha filha! – ele exclamou ao ver Ruby. Se apressou a abraçá-la, mas Ruby não retribuiu o abraço. – Você está bem?Por que está tão imunda? E que roupas são estas? – o Rei a olhou de cima a baixo e fez expressão de descontentamento.

– Precisamos conversar – ela disse muito séria.

– Claro, claro – E então se voltou para Charlotte, que sorria exageradamente, provavelmente esperando por elogios do Rei. – Fizeram realmente um bom trabalho. Você será bem recompensada por isso, minha cara.

– Obrigada, Vossa Majestade – ela fez uma reverência – Foi uma honra trazer sua filha de volta.

– Guardas! – Rei Anthony chamou – Levem esses piratas para o calabouço.

– Mas... – Ruby ia protestar.

– E acompanhem minha filha até seus aposentos.

Um dos guardas foi levando Ruby até seu quarto e ela e Killian só tiveram tempo de trocar mais um olhar, antes de serem levados em direções opostas. Uma lágrima escorreu pelo rosto dela e por todo o caminho até seu quarto, ela só pensava no quanto as coisas haviam mudado em apenas um dia.

Caminhar por aqueles corredores e salões era quase como caminhar para a morte. Ela sentia como se fosse morrer de amor e tristeza caso perdesse Killian. Quando ela entrou em seu quarto, viu que tudo estava da forma como ela deixara. As roupas no armário eram as mesmas e as joias na penteadeira também. Os sapatos e maquiagens estavam como sempre bem arrumados e sua cama grande e confortável parecia solitária, desde que ninguém a usara há quase três meses. Ruby se sentou à cama e olhou pela janela. A vista era muito bonita com suas montanhas e o mar ao fundo, mas nada poderia alegrá-la nesse momento. Seu pai bateu à porta, entrando logo em seguida.

– Mandei prepararem um banquete em comemoração à sua volta – ele foi logo dizendo – Quero que seja muito bem recebida. Como pode ver, os empregados mantiveram seu quarto limpo, mas tudo continua como você deixou.

Ruby não olhou para ele, ao invés disso ficou olhando a janela.

– O que foi? – ele perguntou, intrigado pelo comportamento da filha. Esperara um reencontro caloroso, mas a princesa estava muito quieta.

– Sinto como se não pertencesse a esse lugar – ela respondeu, ainda sem olhá-lo.

– O que quer dizer?

Ela então se voltou para olhá-lo.

– Quero dizer que esse lugar já não me agrada mais.

– Mas...

– Por que fez isso? Por quê?

– E-eu não estou entendo – o Rei estava completamente confuso – O que está acontecendo? Eles machucaram você? Aquele Capitão tocou em você? – ele se aproximou para confortá-la, mas ela se afastou.

– Não. – ela o encarou – Eu quero que os liberte.

Ele arregalou os olhos.

– Como é?

– Eles são pessoas. São minha segunda família e não quero que sejam tratados dessa maneira.

– Eles são piratas...

– Não importa. Eles continuam sendo pessoas – ela cruzou os braços – Podem ser ladrões, mas nunca me machucaram.

– Está defendendo aqueles vagabundos? – o Rei estava incrédulo – Pensei que estivesse louca para voltar para casa.

– Não, eu não estava. E quer saber? Eu gostava mais da minha vida como pirata do que como princesa. – ela voltou a apreciar a paisagem.

– Mas... mas você só pode estar completamente louca. O que eles fizeram com você? Algum tipo de lavagem cerebral? Aposto que isso é obra daquele Capitão maldito... – O Rei se irritou.

– Eles não me fizeram nada. – ela se virou bruscamente para olhá-lo. – Ninguém fez minha cabeça, eu tenho minha própria opinião. Depois de tudo que eu passei nos últimos meses, agora posso afirmar com certeza: meu lugar não é aqui.

– Você é uma princesa e logo será rainha...

– Eu não quero ser rainha! – ela bradou, já começando a ficar vermelha – Essa não é a vida que eu quero pra mim.

– Não estou entendo, não estou entendendo mesmo... – Rei Anthony balançou a cabeça confuso.

– Sou eu que não entendo, pai. Como você pôde fazer isso comigo? – os olhos dela se encheram de lágrimas – De todas as pessoas, eu não esperava que logo o senhor pudesse fazer isso...

– Mas que foi que eu fiz?

Além de trapaceiro e traidor, o Rei também era hipócrita e sabia mentir como ninguém.

– Me deixe refrescar sua memória então! – ela já estava gritando – Como se sentiu quando me vendeu? Como é que se sentiu quando cometeu essa atrocidade com a própria filha?

Anthony ficou muito pálido e não soube o que dizer.

– Quem foi que... – ele gaguejava – Quem foi que colocou essas besteiras na sua cabeça?

– Acha que eu sou tola, não é? – ela se sentou, pois já estava a ponto de bater no próprio pai – Eu sei de tudo. Suas fraudes, seus crimes, tudo! Killian me contou. E agora eu sei quem o senhor é: um vigarista!

Ele ergueu a mão, provavelmente para bater nela por falar assim, mas Ruby se afastou.

– Ele disse isso a você? – ele abaixou o braço e fingiu indignação – Não vê o que ele está fazendo? Quer colocá-la contra mim...

– Há documentos que atestam que você me vendeu. Eu vi! E eu confio no Capitão.

– Ora, mas que bobagem sem sentido! Eu nunca faria isso! -

– Mas você fez.

Ficaram se encarando e o Rei abriu a boca para falar, mas não tinha argumentos. Só então que ele percebeu.

– Espere. Agora eu vejo! Está apaixonada por aquele pirata! – ele arregalou os olhos e fez uma expressão de desgosto. – É por isso que está contra mim. Ele seduziu você e botou bobagens na sua cabeça.

– Eu o amo! Vamos nos casar e ninguém vai impedir.

– Casar, mas... – ele notou o anel de noivado que ela usava e também o anel de rubi que o Capitão lhe dera – Não pode estar falando sério.

– Estou. Esse casamento vai acontecer, quer você queira ou não.

– Você não tem autonomia para decidir nada. Eu sou seu pai!

– Eu tenho vinte e um anos, caso não saiba. E não precisa me lembrar que temos laços de sangue. Para mim você não é nada. Não mais...

O Rei estava horrorizado com o que sua filha tinha se tornado. Mas aquilo era culpa dele.

– Você irá se casar com Peter. Vamos unir os reinos. Ele é herdeiro do trono e você será rainha.

– Não vou me casar com Peter. – ela disse decidida – Você se acha no direito de destruir minha vida?

– Eu me acho no direito de decidir o que é melhor para você.

– Eu decido o que é melhor para mim. E já me decidi: vou me casar com o Killian.

– Ele é um pirata! – o Rei exclamou. Não conseguia entender como sua filha pudesse querer alguém daquele nível para se casar com ela.

– Não me importo! Eu o amo, já disse.

– Você enlouqueceu! – ele balançava a cabeça – Não é a minha filha. Não é a Ruby que eu conheço.

– Eu mudei. – E qualquer um poderia dizer o quanto ela estava diferente – Decepções têm o poder de mudar as pessoas.

O Rei ficou muito assustado – provavelmente não esperando que logo Ruby pudesse ficar contra ele:

– Todos estão contra mim. É uma conspiração, uma conspiração! Aquele pirata vai me pagar por isso!

O Rei saiu apressado e Ruby ficou pensando que talvez seu pai estivesse enlouquecendo...

***

Anthony desceu até o calabouço. Ficava bem lá embaixo, no lugar mais frio e escuro do castelo. Cheirava a mofo e podridão e era uma imundície só. Havia guardas na entrada e uma longa escada que descia. Os piratas estavam novamente trancafiados em celas, mas ali era definitivamente pior do que um porão de navio.

Killian estava cabisbaixo, sentado contra a parede e muito quieto, mas quando notou a presença do Rei, se levantou, aproximando-se das grades.

– Oh, olá Anthony? Resolveu fazer uma visitinha? – ele gracejou. Tinham pegado seu gancho e agora ele se sentia incompleto.

– Seu moleque! – o Rei cerrou os dentes. Estava furioso – Que foi que andou dizendo à minha filha? Quer colocá-la contra mim? E que história é essa de casamento?

– Oh, pelo visto vocês tiveram uma conversinha – o Capitão não se deixou abalar pela fúria do Rei. Ele apenas se recostou na parede e cruzou os braços, como se aquela fosse uma conversa entre amigos. – Eu apenas disse a verdade. Que o pai dela é um criminoso vigarista e que ele a vendeu numa tentativa de seus crimes não serem revelados...

Anthony tremia de raiva.

– Como se atreve?

– E quanto ao casamento, vai acontecer de qualquer jeito, quer você queira ou não.

– Isso é o que vamos ver! – O Rei gargalhou – Quando vocês todos forem para a forca, eu vou aplaudir de pé.

– Teria a coragem de destruir o coração de sua filha? – Will se intrometeu na conversa – Seria capaz de destruir a felicidade dela?

– Eu faria qualquer coisa para tê-la de volta. – Anthony aproximou o rosto das barras, encarando-os – Vou começar por destruir isso que ela chama de “segunda família” e depois vou destruir esse amor que ela acha que sente por você.

– O senhor não entende que vai destruir a única coisa que ela tem? – John também entrou na conversa – Toda a esperança, toda a felicidade e vida que ela tem... tudo isso vai se esvair.

– Eu não perguntei sua opinião, pirata. – o outro se afastou – O julgamento é esta noite. Todo o reino vai estar lá. Veremos quem irá ganhar essa batalha.

O Rei se foi e Killian chutou as barras da grade.

– Maldito! – praguejou – Ele vai acabar com a vida dela. – e chutou as barras mais umas vinte vezes.

– Sabe, chutar essas barras não vai mudar o fato de estarmos indo pra forca – lembrou Will e Killian se sentou, mais uma vez desanimado.

– Não há saída. Não vejo como podemos sair disso vivos – falou o Capitão.

– Sabem de uma coisa? – Beto falou – Minha mãe costumava dizer que sempre há uma saída, não importa quão graves nossos problemas possam ser. Acho que só precisamos acreditar nisso agora. Ruby vai dar um jeito. Nós simplesmente precisamos confiar nela...

***

Ruby se viu obrigada a descer e participar da refeição. Embora já passasse da hora do almoço, o Rei fizera questão de um banquete em comemoração à sua volta. Ainda que a mesa estivesse ocupada apenas por pai e filha, Ruby se sentia como se fosse uma das muitas refeições que ela tivera, quando sua vida ainda era completamente sem graça. Ela não conversou com o pai, sequer quis olhar para ele. Apenas se sentou e comeu.

Como de costume, os empregados ficaram por perto, caso o Rei quisesse alguma coisa. Todos estranhavam o fato de a princesa estar diferente e isso incomodava o Rei. Ele dissera que ela estava muito abalada pelo o que lhe acontecera e por isso estava tão quieta e agindo de modo estranho.

De fato, ele notou, ela estava mesmo diferente. Mesmo tendo tomado banho, já não se portava como uma dama da nobreza e parecia até que nunca tivera sangue real. Para começar, ela não usava um espartilho e era facilmente perceptível que engordara um bocado. Ela também rejeitava o uso de sapatos delicados, preferindo usar aquela feia bota de couro que ganhara dos piratas. Seus cabelos, foi com horror que ele notou, não estavam devidamente penteados como sempre e seus fios se acumulavam por cima do ombro, completamente desarrumados. Já não usava maquiagem apropriada para uma dama, ao invés disso, delineou os olhos de preto e aquilo dava uma horrível má impressão. Suas unhas estavam mal cuidadas. Sua pele que costumava ser tão clara, agora estava bronzeada pelo sol. E principalmente, seus modos já não eram os mesmos.

– Pelo visto você perdeu os bons modos – ele comentou irritado, quando Ruby deixou de lado os talheres e pegou uma coxa de frango com a mão.

– Bons modos não salvam sua vida quando está em perigo – ela respondeu tranquilamente.

– Você fala como se estivesse em território inimigo – ele notou, assustado.

– E estou. – e ela subitamente sentiu uma incontrolável vontade de provocá-lo – Acredite, pai, eu passei por muita coisa nesses últimos meses. Fui levada pelos piratas, quase fui morta por aranhas carnívoras gigantes, fui salva de um quase estupro, sobrevivi à um Kraken, vi um homem perder a mão e uma mulher ser estripada, tive sorte por não ser transformada em lobo e quase virei comida de gigante. Mas nada me assusta mais do que ficar frente à frente com um traidor, principalmente se ele for meu pai...

– JÁ CHEGA! – Anthony se levantou bruscamente e Ruby se assustou – EU SOU SEU PAI E NÃO VOU TOLERAR ISSO!

Todos os empregados estavam estagnados, espantados demais com aquela cena.

– VOCÊ VAI OBEDECER A MIM, QUER QUEIRA OU NÃO. EU FUI CLARO?

Ela não respondeu.

– Você pode achar que é livre para fazer o que quiser, mas eu ainda sou a autoridade maior nesta casa – ele continuou, agora falando num tom normal, mas rigoroso – Se eu disser “cale-se” você se cala; se eu disser “para o quarto”, você vai sem questionar; e se eu disser que vai se casar com Peter, então é isso que irá fazer. – ele se sentou novamente. - Aquele Capitão pode até ter permitido que fizesse o que bem entendesse, enquanto estava naquele navio, mas aqui as coisas são bem diferentes. Não se esqueça que além de pai, eu também sou um monarca.

– Eu nunca vou amar o Peter – ela afirmou.

– Você não tem que amá-lo – Anthony mordiscou um pedaço de carne – É um contrato. O casamento vai servir para unir os reinos, mas estou pensando apenas em seu bem.

– Ou em seu bolso...

Ele a encarou furioso. Ruby sempre fora do tipo de filha perfeita, mas agora ela agia como uma rebelde desobediente.

– Eu sei bem com quem você aprendeu isso. – ele balançava o garfo enquanto falava – Esse modo de falar, esses maus hábitos... Mas vou cortar tudo pela raiz quando aquele Capitão for para a forca.

– Sabe, eu pensei que quando nos víssemos novamente, eu fosse capaz de perdoá-lo – disse Ruby – Mas estava errada. Você não merece meu perdão. E se algo acontecer àqueles marujos e ao homem que eu amo, pode ter certeza: eu jamais irei perdoá-lo por isso... – Ruby se levantou e já ia fazendo seu caminho para o quarto, quando o pai falou:

– Eu não preciso do seu perdão.

Ela parou e se virou para olhá-lo.

– Não preciso porque hoje à noite, quando aqueles homens forem condenados, eu vou ter minha filha de volta. Não importa como ela vai estar. Decepcionada, zangada, infeliz... Eu apenas a terei de volta. E não importa como ou quando, ela vai descobrir que precisa de mim...

Se encararam por um tempo, Ruby quase não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Ele ia mesmo tentar mantê-la sempre com ele? Esperava que ela precisasse dele? Como, se quando ela mais precisara, ele não estava lá?

– Tranquem-na em seus aposentos! – ele ordenou aos guardas que estavam por perto e Ruby se desesperou ao perceber que não conseguiria salvar Killian...

***

Trancada no quarto, ela caiu em desespero. Aos prantos, tentou rabiscar um pedido de ajuda, mas quem teria coragem de enfrentar o Rei para ir ajudá-la? Quando a noite caísse, ela ia apenas se deitar no chão, completamente despedaçada, enquanto o amor de sua vida seria humilhado e morto em execução pública. Como era esperado que ela lidasse com isso?

Ela estava encolhida contra a parede, aninhada por entre o tecido de sua capa vermelha. Aquilo pareceu confortá-la, e ela chorou por um tempo sem conseguir sem conter. Admirou o anel de noivado em seu dedo, assim como o anel de rubi que ganhara do Capitão. Ela jamais seria capaz de esquecê-lo, jamais iria superar a morte dele, caso ela viesse a acontecer. Trancada como estava, o que é que ela poderia fazer? Seu quarto ficava na torre mais alta do castelo e mesmo que conseguisse descer pela janela, ainda havia dezenas de guardas lá embaixo. A única chance que ela tinha, era Rumplestiltskin. Mas talvez John estivesse certo quando dissera que eles já tinham problemas de mais e um acordo com o Senhor das Trevas só pioraria as coisas.

Ela olhou em volta, como que esperando encontrar algo que pudesse ajudá-la. Avistou sua coroa de prata cravejada de rubis em cima da penteadeira e não pôde deixar de pensar que ela seria obrigada a usá-la quando se casasse com Peter. Enquanto fora uma princesa, não fizera muita questão de se exibir como uma dama da realeza, mas sendo Rainha, ela precisava demonstrar seu poder. E isso se fazia ao usar uma coroa.

“O que é que vou fazer? Deuses e fadas, me ajudem!”, ela pensou. Porém, ninguém apareceu para ajudá-la. Pelo menos, ninguém que fosse dotado de poder. A porta se abriu e por ela entrou uma moça trazendo uma pilha de roupas limpas.

– Katrina(2)! – Ruby exclamou surpresa ao vê-la.

Katrina era só alguns anos mais velha e trabalhava no castelo há muito tempo. Era uma moça bonita e carismática que trabalhava como empregada. Todos a chamavam de Kate e era uma pessoa muito querida. Ela e Ruby eram boas amigas e Katrina sempre estava pronta para ajudar a princesa no que ela precisasse. Elas se abraçaram e a jovem empregada se assustou ao ver o estado de Ruby.

– Será que pode me explicar o que está acontecendo? – ela perguntou, se sentindo mais do que confusa e intrigada – Ouvi os gritos de seu pai à hora do almoço e todos os empregados estão comentando que há algo de errado. Agora eu encontro você aos prantos. Não devia estar feliz por voltar para a casa?

– Olha, Kate, é uma história muito longa e detalhada. Tudo o que posso dizer é que meu pai quer destruir minha vida e matar o homem que eu amo...

– Espera. O homem que você ama? É um daqueles piratas? – a outra arregalou os olhos e Ruby assentiu.

– Lembra que eu salvei seu emprego uma vez? – Ruby lembrou – Você está me devendo uma...

– Ah, está bem – Kate suspirou – O que quer que eu faça?

– Leve um recado a Killian Jones...

***

Desde que ela era uma empregada, e vivia descendo e subindo escadas e passando de um cômodo para outro, ninguém estranhou quando ela apareceu no calabouço, trazendo uma cesta de pão.

– Oi, Roy, muito trabalho? – ela cumprimentou o guarda de plantão.

– Não muito – ele respondeu risonho – Você sabe, me puseram aqui apenas para botar medo nos prisioneiros, mas todo mundo sabe que é impossível escapar dessas celas.

Kate riu:

– Pelo menos você pode descansar um pouco, ao contrário de mim. Me mandaram trazer pão para esses vagabundos, mas se fosse por mim eles não teriam direito nem à água. – ela se aproximou das celas, oferecendo o pão, e os piratas agradeceram aos céus por estarem sendo alimentados.

– Sabe como é, o patrão gosta de parecer misericordioso. – falou Roy.

– Ah e falando nisso, estão te chamando lá em cima.

Roy estranhou, mas subiu as escadas e desapareceu no andar de cima. Quando Kate teve certeza de que ele já fora, abaixou a voz e perguntou:

– Qual de vocês é o Capitão?

– Eu! – Killian se aproximou das grades.

– Escute, o Rei trancou a Princesa no quarto, na torre mais alta deste castelo. Não há como ela sair de lá e seu maior medo é não conseguir salvar vocês. Ela me pediu que viesse trazer suas sinceras desculpas. Disse que vocês são uma família para ela e que ama cada um de vocês. Ela pede que a perdoem e disse que vai continuar tentando, mas talvez não haja mais esperanças... – ela disse apressada, temendo que Roy voltasse após descobrir que ninguém chamara por ele.

– Não tem uma forma de você soltá-la? – Killian queria ter esperanças – Você tem acesso ao quarto dela, não é?

– Sim, mas há guardas guardando a entrada e há guardas no corredor. O Rei quis garantir que ela não saísse de lá. Eu poderia nocautear dois ou três guardas, mas não teria chance quando os outros viessem me pegar.

– Droga!

– Tem mais uma coisa... – Kate hesitou.

– O que é?

– Bem, desde que você é o amor da vida dela, ela disse que a vida não vai ter mais sentido se você morrer. O pai dela quer obrigá-la a se casar com o Príncipe Peter e ela prefere morrer a se casar com um homem que não ama. Ela me pediu para lhe dizer...

– Continue! – Killian se impacientou com a hesitação da moça.

– Se você morrer... ela vai se matar...

– O quê?! Ela ficou louca? Não pode fazer isso. Olha, eu mal conheço você, mas vai ter que me prometer que vai cuidar dela. Impeça-a de fazer essa bobagem. Minha vida termina aqui, mas a dela continua. Se ela não quer viver com Peter, então diga a ela para fugir.

– Eu direi! Preciso ir – ela ia fazendo seu caminho para as escadas.

– Diga a ela que eu a amo.

– Ela ama você também. Eu notei isso no momento em que vi o brilho nos olhos dela. Ruby foi feliz com você, feliz como ela nunca foi nesse castelo...

***

Enquanto Kate levava o recado ao Capitão, Ruby decidiu que não ficaria parada esperando a morte dele. Ela rabiscou um bilhete para sua mãe, pedindo por ajuda:

Os corsários nos encontraram. Killian e os marujos irão para a forca. Papai enlouqueceu e não quer me ouvir. Por favor, mande ajuda. Ruby.

Ela foi até a janela e assobiou baixinho. Uma pombinha branca veio voando e pousou no parapeito. Ruby aprendera isso com Mary e era a primeira vez que ia usar um pássaro como mensageiro. Ela enrolou o bilhete e prendeu num dos pezinhos da pomba.

– Leve isso para a casa da Vovó, o mais rápido que conseguir. – ela pediu e a pomba alçou vôo.

Já que eles viviam num mundo cercado por magia, os pássaros eram inteligentes o bastante para encontrar pessoas. Ela esperava que a mãe recebesse a carta e viesse ajudá-la. Talvez Anita, sendo Rainha, pudesse interferir e salvar os marujos. Ruby ficou observando enquanto a pomba sumia ao longe e a porta se abriu.

– Fiz o que disse – Kate cochichou para ela. Deviam ser cautelosas, pois se os guardas escutassem a conversa contariam tudo ao Rei – Ele te ama e isso é facilmente perceptível. Gostaria de fazer mais por você.

– Obrigada, Kate – Ruby a abraçou – Minha mãe é a única que pode ajudar agora. Mandei um bilhete, talvez ela consiga chegar a tempo.

Faltavam três horas até o julgamento. A cada hora que passava, Ruby sentia um aperto no coração. Kate foi cumprir com suas tarefas e novamente a princesa ficou só com seus pensamentos. Ela ainda tinha três horas, precisava bolar um plano.

“Eu poderia descer por aqui”, ela pôs a cabeça para fora da janela, avaliando a altura. “Deve ter uns quinze metros de altura, mas eu poderia usar essas cavidades da parede.”

Já que o castelo era todo construído em pedra e era um pouco antigo, havia pequenas cavidades e espaços entre as pedras que ela poderia usar como apoios para os pés e mãos. Bem, ela escalara um feijão. Talvez descer por uma torre não fosse tão difícil assim. Mas uma queda seria fatal.

“Será que a capa me protegeria?”, ela observou sua capa vermelha sobre a cama “Ellanor disse que ia me proteger de feitiços e outros perigos. Ainda acho que ela me protegeu quando lutava com os corsários. Será que ela tem poder de me proteger caso eu caia?”.

Ela teria que arriscar, caso nenhuma ajuda aparecesse. E se caso conseguisse chegar lá embaixo, como é que ia passar pelos guardas?

“Dois, três, quatro...”, ela contou quantos guardas havia por ali “Seis! Talvez eu possa lidar com eles. Talvez consiga nocauteá-los ou fugir deles”.

Havia passagens subterrâneas por baixo do castelo. Haviam sido construídas no caso de precisarem fugir rapidamente. Ruby conhecia bem aquelas passagens, uma vez que vivia brincando lá quando era criança. Ela poderia passar pelos guardas e entrar no subterrâneo, de lá seria fácil encontrar um dos alçapões que davam acesso ao castelo. Havia três. Um deles ficava no salão principal, escondido debaixo de um tapete. O outro dava na cozinha. E o outro ficava na sala de jantar, que era a mais próxima do escritório de seu pai.

Se Ruby chegasse ao escritório, poderia procurar por documentos que de alguma forma pudessem incriminar seu pai. Ela tinha quase certeza de que ele possuía uma cópia do documento que alegava que ela tinha sido vendida a Killian. Se pelo menos ela encontrasse esse documento, então poderia provar a inocência dos piratas. Depois bastava que estivesse no julgamento para poder testemunhar contra o Rei. E pronto, tudo acabaria bem.

Meia hora mais tarde, a pombinha branca voltou com uma resposta: Estou a caminho. Anita. Bem, deveria levar um tempo até que sua mãe conseguisse chegar lá. A casa de sua avó não era muito longe do reino, mas levaria pelo menos umas duas horas de viagem até lá. Ainda faltavam duas horas e meia até o julgamento.

Já escurecia e ela viu uma movimentação lá embaixo. Estavam montando a forca! Ruby se desesperou. Alguns guardas foram ajudar na montagem enquanto curiosos passavam e pareciam perguntar do que se tratava aquilo. Ruby bem poderia aproveitar aquele momento para fugir. Ocupados como estavam, ninguém repararia quando ela descesse pela torre, mas ainda havia os vigias...

Havia a torre dos vigias e ela era só um pouco mais baixa que a torre de Ruby. Se os vigias vissem quando ela descesse a torre, avisariam o Rei e ela estaria perdida. Ela só podia ter esperança e pensar que tudo ia dar certo. Ela não podia pensar nos riscos, nem nas conseqüências, apenas em Killian. A porta se abriu novamente e por ela entrou sua avó paterna, Juliet(3).

– Vovó! – Ruby correu para ela e as duas se abraçaram.

– Oh, minha neta... Você está bem? Eu fiquei tão preocupada...

Juliet devia ter uns oitenta anos e era bastante parecida com Anthony. Eles tinham os mesmos olhos claros e a mesma expressão poderosa no rosto. Mas Juliet não era como o filho, ela costumava ser justa e misericordiosa. Em seus tempos de Rainha, o povo dizia o quanto ela era boa para todos, os pobres nunca passavam fome naquela época.

– Não estou bem, vovó. Vão enforcar os piratas! Meu pai quer acabar com minha vida – Ruby estava desesperada.

– Eu sei, minha filha, eu sei – a avó deu tapinhas no ombro dela – Seu pai enlouqueceu. Depois que sua mãe e Mary o abandonaram, ele cismou em ter você de volta. Disse que você era diferente e ficaria do lado dele. Mas ele não imaginou que você fosse cair de amores por aquele pirata...

– Então a senhora sabe? – Ruby se surpreendeu. A avó assentiu.

– Eu sei de tudo – ela se sentou a uma poltrona perto da janela – Sei o que seu pai tem aprontado. Sei que ele vendeu você e fiquei muito chocada quando descobri. Eu não imaginei que ele fosse capaz de fazer isso com a própria filha. Eu poderia revelar a todos o que sei, mas ele iria ser deposto e eu... eu simplesmente não consigo fazer isso.

– Mas faria isso por mim? – Ruby pegou nas mãos dela – Por favor, vovó. Eu não posso sair daqui e não posso ficar parada. Eu ia tentar fugir, mas se a senhora puder me ajudar...

– Fugir como? Há guardas aí na porta e só me deixaram entrar porque sou sua avó.

– Bem, eu ia descer pela janela...

– O quê? Ficou louca? – a avó arregalou os olhos, aterrorizada pelo pensamento de ver Ruby caindo daquela altura – Ah, passar um tempo com esses piratas fez você perder o juízo...

– Eu faria qualquer coisa por ele – Ruby falou – Killian é o primeiro e único amor de minha vida. E, além disso, vou estar protegida por essa capa – Ela rapidamente explicou que a capa tinha poderes e que a conseguira de uma bruxa.

– Uma bruxa? Aquela que vão queimar na fogueira?

– Como? – Ruby subitamente ficou sem ar. A coisa só ficava pior. Não podiam fazer isso com Ellanor, ela não lhes fizera nenhum mal.

– Eu vi uma bruxa acorrentada no escritório de seu pai. Ele me disse que ela era perigosa e ia ser queimada na fogueira.

– Ele não pode fazer isso. Vovó, tem que fazer ele parar com isso. Conte a todos o que ele realmente é. Salve os piratas e Ellanor...

– Eu não sei se consigo – ela suspirou – Pensar que eu posso destruir a vida dele...

– A senhora precisa fazer isso. Sei que dói, mas... Olha, se a senhora não fizer, eu faço! Eu ia fugir e procurar por documentos que provassem as fraudes dele, mas é bem mais fácil a senhora fazer isso.

Juliet balançou a cabeça.

– Ele ainda está no escritório. Só vai sair de lá quando chegar a hora do julgamento. E você sabe como ele é, gosta de trancar a porta para que ninguém mexa em nada.

– É pior do que eu pensei...

– Você realmente ama esse rapaz?

– Muito. – Ruby suspirou e sorriu – Eu morreria por ele.

– Eu sabia que você jamais conseguiria amar o Peter. – a avó sorriu e Ruby soube que tinha uma aliada – Eu sempre soube que você iria atrás de um amor, alguém que fosse diferente e que a fizesse se sentir especial...

– Sei que ninguém apóia, por ele ser um pirata, mas...

– Não vejo mal algum nisso – Juliet disse e Ruby ficou surpresa – O amor não escolhe raça ou classe social, ele apenas acontece. Kate me disse que você está diferente e eu mesma posso afirma isso agora. Você não é aquela menina de antes, é uma mulher! E sei que aquele homem te faz feliz.

– Obrigada, vovó.

– Eu vou ajudá-la! – a avó se levantou e para quem tinha oitenta anos, parecia bastante enérgica - Seu pai já teve tempo suficiente no trono, está na hora de acabar com isso.

– Obrigada, obrigada...

***

Ruby caminhava de um lado para o outro pelo quarto. Ela e a avó tinham bolado um plano e Ruby simplesmente tinha que tentar. Juliet ia encontrar uma desculpa para tirar Anthony do escritório, então Ruby poderia descer pela torre e procurar pelos documentos. Mesmo que as duas soubessem a verdade sobre o Rei, precisariam de provas.

Uma hora e meia se passara. Lá embaixo, terminaram de montar a forca, mas começaram a montar uma fogueira. Ruby estava aflita sem poder fazer nada. Ela imaginava o quanto seu pai estaria satisfeito com tudo aquilo acontecendo. Mas a coisa ficou pior ainda quando ela viu a guilhotina.

– Não, não... – ela se desesperou.

Sabia o que seu pai ia fazer. O povo deveria escolher o que era melhor: a forca ou a guilhotina. E ela podia afirmar que escolheriam a guilhotina, as pessoas tinham uma tendência a gostar de coisas trágicas e sangrentas. Ela viu homens preparando a lâmina e ficou arrepiada ao imaginar aquilo cortando a cabeça de alguém. Era a primeira execução no reino, então ela podia entender a excitação das pessoas. Um bando de curiosos já se instalara por ali e talvez isso a ajudasse na hora da fuga. Ela poderia se misturar às pessoas, dificultando que os guardas a capturassem.

Anita ainda não aparecera. Talvez a casa de sua avó fosse mais longe do que ela pensava. Ruby agora esperava por um sinal de Juliet, para que soubesse que seu pai já saíra do escritório. Ela não sabia o que a avó ia aprontar, mas confiava nela.

“Vamos, vamos... agora só falta uma hora”, ela pensava aflita, esperando que sua avó fosse rápida.

Dez minutos depois, uma corneta soou e Ruby enfiou a cabeça na janela, esperando que fosse o sinal que ela precisava.

– Mas o que a senhora está fazendo? – Ruby ouviu o corneteiro perguntar a Juliet. A senhora simplesmente tomara a corneta que ele segurava e a tocou o mais alto que pode.

– É que eu sempre quis tocar corneta! – a velhinha disse risonha e o corneteiro a olhou como se ela fosse louca. Em seguida ela deu uma olhada para a torre e Ruby entendeu que era hora.

A princesa viu seu pai atravessando a ponte levadiça. Não imaginava o que sua avó teria dito a ele, mas o Rei caminhava apressado em direção à floresta.

Lá fora estava muito escuro, o único lugar iluminado por tochas, era a torre dos vigias e o local do julgamento e execução. Ninguém conseguiria vê-la quando descesse da torre, mas ela também teria dificuldade sem conseguir ver onde estava pisando. Mas para isso Juliet dera uma sugestão e Kate trouxe um punhado de lençóis para Ruby. A princesa amarrou um no outro, fazendo uma corda. Ela esperava que agüentasse seu peso. Ela então colocou a capa e amarrou uma das pontas da corda de lençóis na janela.

“Espero que funcione”, ela pensou e subiu na janela. Testou a corda, para ver se não soltaria, e então pendeu o corpo para fora da janela. Foi pior do que ela imaginava. A sensação de estar pendura a quinze metros era horrível. Embora ela se agarrasse aos lençóis, parecia que ia cair a qualquer momento. Ela olhou para baixo e só viu escuridão. Começou a descer pela corda e parecia nunca chegar lá embaixo. A corda não chegava até o chão, faltavam uns dois metros e Ruby teria que pular. Ela admitia que estava com medo, mas tudo aquilo era por Killian e ela devia se apressar.

Já estava na metade do caminho quando viu uma coisa pequena, brilhante e veloz vindo em sua direção. Era decididamente bem maior que um vaga-lume, e vaga-lumes também não faziam som de sino quando voavam...

– Tink?

A fada chegou mais perto e olhou de Ruby para a corda de lençóis.

– Mas que está fazendo? Quer cair lá embaixo? – disse voando na altura dos olhos da moça – Vamos, vou levá-la para baixo. – Tink soprou um pó em Ruby e um segundo depois a princesa estava flutuando. Ela aterrissou lá embaixo, completamente segura.

– Ah, Tink, que bom ver você. Fiquei preocupada.

Tink ficou no seu tamanho humano e as duas se abraçaram.

– Estou bem – Tink sorriu – Mas agora temos que pensar no Capitão e nos marujos...

– Você já sabe?

– Ariel e Mabel me disseram – ela explicou – Encontrei com elas mais cedo. Estavam desesperadas procurando por ajuda, mas acabaram pegando uma corrente marítima e custaram a sair dela. Quando elas finalmente conseguiram, não havia mais o que fazer. Então eu as avistei e me contaram tudo. Voei o mais rápido que eu pude para ajudar vocês.

– Você tem mais daquele pozinho mágico?

As duas estavam encolhidas contra a parede de pedra da torre e falavam baixo para que ninguém escutasse. Os guardas estavam esperando pelo julgamento e Ruby também viu empregados do castelo lá. Ninguém queria perder nada daquele tipo. Talvez o castelo estivesse vazio, o que facilitaria sua entrada lá.

– É Pó de Fada – Tink mostrou uma bolsinha cheia de pozinho brilhante – Roubei da Fada Azul e ela certamente irá me castigar por isso, mas é por uma boa causa. Podemos usar para impedir a execução...

– Precisamos fazer mais do que isso...

Ruby rapidamente explicou seu plano e Tink estava animada para ajudar. As duas continuaram se esgueirando pelas sombras, quase grudadas às paredes de pedra. Ninguém notou a presença da princesa, já que o pátio do castelo tornara-se palco de um verdadeiro teatro. Todo o reino estava lá. Pessoas conversavam animadas, enquanto outras comentavam que os piratas mereciam aquele fim, já que haviam seqüestrado a princesa.

Ruby encontrou a portinhola que dava no subterrâneo. Só quem realmente soubesse da existência daqueles túneis saberia como encontrar a entrada. Ela e Tink engatinharam para dentro da estreita entrada e a fada reclamou da escuridão.

– Ora, você é a que tem poderes por aqui – disse Ruby – Bem poderia produzir uma luzinha.

– Mas não posso gastar todo o Pó de Fada – a outra falou – Não sabemos o que pode acontecer.

– Sei exatamente para onde ir – Ruby caminhava com a cabeça abaixada. – Sorte que eu costumava brincar muito nesse lugar.

– Você brincava aqui? Que horror! – Tink estremeceu. A pequena fada estava com medo, mas segurou na mão de Ruby e as duas caminharam devagar e cautelosas.

Ouviram passos acima de sua cabeça e Ruby explicou que estavam bem debaixo da cozinha. Alguma coisa passou no pé de Tinker Bell e ela gritou.

– Shh! Quer que nos ouçam? – a princesa ralhou.

– O que você queria? – Tink retrucou – Esse lugar está cheio de ratos.

– Por aqui...

Elas viraram numa curva. Ruby usava uma mão para auxiliar Tink e a outra ela apoiava nas paredes, para se orientar.

– Aqui. – elas pararam e Ruby tateava o teto – Só preciso encontrar o alçapão.

– Espere, e se tiver alguém lá em cima?

Elas esperaram um pouco. Tudo o que ouviram foi água gotejando e ratos correndo por ali. Ruby encontrou o alçapão e precisou de um pouco de força para empurrá-lo para cima. A luz que veio de cima iluminou parte do túnel e Tinker Bell ajudou Ruby a subir. Em seguida a princesa puxou a fada para cima e elas fecharam o alçapão.

Estavam na sala de jantar e por sorte não havia ninguém por ali. Ruby foi até a porta e espiou o corredor. Tudo limpo. Aparentemente todos largaram suas tarefas para assistir ao julgamento. A princesa guiou Tink pelos corredores e logo elas avistaram o escritório do Rei.

– Está trancado? – Tink perguntou ao ver a porta fechada.

– Provavelmente. Mas foi por isso mesmo que trouxe um grampo de cabelo – Ruby mexeu nos cabelos até encontrar o grampo. Ela girou a maçaneta da porta e a mesma estava trancada. – Aprendi isso com o Killian, espero que funcione. – ela enfiou o grampo no buraco da fechadura e começou a remexer.

Depois de uma série de estalos e cliques, a porta se abriu com um rangido. As duas entraram e fecharam a porta. A sala estava parcialmente iluminada por um lustre no teto, mas as velas já se extinguiam e elas teriam pouco tempo para encontrar o que precisavam. Devia faltar menos de meia hora para o julgamento e precisariam ser rápidas.

– Procure qualquer coisa que possa incriminá-lo – Ruby instruiu a fada – Vamos checar essas gavetas.

Elas reviraram as pilhas de papeis sobre a mesa. Não havia nada de anormal. O Rei, é claro, não deixaria documentos importantes ali. As gavetas também estavam atoladas de coisas, mas nenhuma delas parecia digna de atenção.

– Ele não esconderia nada aqui – Tinker Bell falou, depois que elas ficaram uns dez minutos revirando tudo – Talvez tenha um esconderijo melhor.

Ruby pensou. Se ela fosse um Rei corrupto e quisesse esconder suas falcatruas, que lugar seria o melhor esconderijo?

– Já sei! – ela exclamou, subitamente se lembrando – Como não pensei nisso antes?

E as duas correram pelos corredores, apressadas...

***

Enquanto isso, no pátio do castelo, o julgamento começava. Os piratas foram novamente acorrentados uns aos outros e o povo vaiou quando foram trazidos até o estrado de madeira improvisado para o julgamento. O Rei tomou seu posto e encarava os marujos com um sorriso no rosto.

– Hoje é o dia de minha vitória – ele falou baixo, de modo que apenas o Capitão escutasse – O povo vai decidir o seu destino, mas de uma coisa eu tenho certeza: quero a sua cabeça como prêmio – ele gargalhou – Incrível como as coisas terminam. Um dia você tem tudo e no outro dia...

– Você ainda vai se arrepender – o Capitão murmurou entre dentes – Não pela minha morte, mas pelo o que vai causar à sua filha.

– Eu vou ter a minha filha de volta, isso é a única coisa que importa.

– Ela nunca vai amar você novamente. Não importa o que você faça, o coração dela vai ser sempre meu. E é por isso que essa noite a vitória é minha. Quando Ruby vier nos salvar, ela também vai declarar guerra a você. Veremos como termina...

– Para alguém que perdeu tudo, você parece confiante – o Rei se irritou com as palavras do Capitão – Diga-me, Capitão, o que o faz pensar que ainda restam esperanças?

– Você não conhece a filha que tem – Killian sorriu maldoso – Me parece que passou tempo demais preocupado em protegê-la, mas sequer a conhece direito. E deixe-me lhe contar um segredo: ela aprendeu muita coisa comigo...

***

– Quer me dizer aonde é que está indo? – Tink corria para alcançar Ruby.

– Tinha razão, meu pai não guardaria algo tão importante no escritório. Mas eu sei onde ele guarda coisas valiosas.

– E onde é? – as duas desceram uma enorme escadaria. E viraram num corredor sem saída.

– Bem aqui – Ruby parou de frente para um enorme quadro que ocupava quase a parede inteira.

– Num quadro?

A pintura era uma paisagem bonita, mas quem passava por ali e admirava o quadro, não imaginava que por trás dele havia uma passagem. Ruby afastou o quadro com certo esforço. Havia um pequeno túnel que dava acesso à sala de tesouros do Rei. Tinker Bell ficou maravilhada com tanta coisa. Havia joias, moedas de ouro e prata e pedras preciosas.

– Tenho quase certeza de que está aqui – Ruby olhou em volta.

– Temos que nos apressar, falta pouco para o julgamento.

Lá fora, o julgamento começava...

(1)Créditos a Reet

(2) Créditos a Agente Barton Romanoff

(3) Créditos a ByaCosta


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Notas finais do capítulo

Se quiserem sugerir algo fiquem a vontade. E se encontrarem algum furo na história ou algo que ficou faltando, me digam para eu consertar. Não sei se repararam mas no capítulo do gigante, quando Killian e Ruby foram entrar no castelo, eu cometi uma gafe enorme. Era para a porta do castelo ser gigante e aí iria surgir uma complicação pois eles não conseguiriam abrir uma porta enorme e pesada. Mas eu me esqueci desse detalhe e aí acabou ficando como se fosse uma porta muito fácil de abrir kkkk Enfim, se encontrarem algum erro me avisem. Beijos e até a próxima



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