O navio partiu e Ruby deixou sua antiga vida para trás. Nem tivera tempo de se despedir de sua querida irmã. O Capitão havia tirado seus sapatos dizendo que eram muito valiosos e ela foi obrigada a caminhar de pés descalços, pelo visto não ia ser poupada de trabalhar.

- Você vai ajudar na cozinha – disse o Capitão enquanto a empurrava escada abaixo. A cozinha era um espaço pequeno e o cozinheiro era um homem robusto e todo tatuado. – Esta é nossa nova prisioneira – o Capitão se dirigiu ao cozinheiro – vai ajudar na cozinha. Fique de olho nela.

- Sim, Capitão.

- E você obedeça às ordens que ele lhe der. – O Capitão se retirou deixando-a sozinha com o cozinheiro. O homem examinou as mãos da moça:

- Mãos macias... você provavelmente nunca trabalhou na vida...

- Eu sou uma princesa – Ruby respondeu com certa superioridade. Mas ela não devia dizer isso. Ela fora uma princesa, agora seria apenas a ajudante de um cozinheiro.

- Está explicado – o homem riu. – Vai ter muito que aprender aqui, senhorita...

- Ruby.

- Nome bonito! Pode começar descamando aqueles peixes – ele apontou para um amontoado de peixes sobre o balcão.

- Como é que é?

- Vai me dizer que não sabe descamar peixes? Ora, mas porque é que estou surpreso? – então o cozinheiro ensinou a ela como se fazia. Bem, não podia ser tão difícil.

Ruby estava indo bem na tarefa até um dos peixes simplesmente saltar do balcão. Ela fez um escândalo sem fundamento algum, afinal, era apenas um peixe. A gritaria chamou a atenção do Capitão – que estava em sua cabine, bem ao lado da cozinha – e ele veio ver o que acontecia.

- Mas o que é que está acontecendo aqui? – ele surgiu na porta e sua expressão era severa. – Posso saber que gritaria é essa?

- Ela se assustou com o peixe, Capitão – o cozinheiro ria sem parar – Pelo visto ela ainda tem muito que aprender.

O Capitão de repente mudou seu rosto para uma expressão de divertimento.

- Acho que essa aí vai dar muito trabalho – ele abriu um sorriso – E não se esqueça, benzinho, eu gosto de comida bem apimentada. – E novamente o Capitão os deixou a sós.

Ruby não estava gostando de nada daquilo. O cozinheiro terminou a tarefa de descamar os peixes, enquanto a moça pôs se a reclamar da vida. Ao menos o cozinheiro era simpático – embora cheirasse a cigarro – e ouvia tudo sem dizer nada. Quando terminou de descamar os peixes ele mandou que Ruby os temperasse.

- Você não devia reclamar, sabe – ele aconselhou – O Capitão é muito justo e você tem sorte de ter vindo parar na cozinha. Nosso último prisioneiro ficou meses acorrentado no porão, e acredite, não vai querer ir lá para baixo. – Ruby notou que o homem mancava ao andar. Ao perceber o olhar da moça, o pirata levantou a barra da calça deixando a mostra uma perna de pau – Vê isso? Isso foi o que eu ganhei por ser leal ao Capitão. Salvei-lhe a vida e ele me mandou para a cozinha. Não acha que isso é bastante justo?

- Como pode ser justo? Você salvou a vida dele, o mínimo que ele podia fazer era deixar você sem trabalhar...

- Não é assim que as coisas funcionam por aqui. Ele me deu um serviço que não exige esforço e eu fico sempre satisfeito em servir ao meu senhor. Ele é um homem muito bom, senhorita.

Ainda assim Ruby não conseguia entender o porquê de aquele homem ser tão leal ao Capitão, pessoalmente, ela não o achara tão extraordinário assim. Mas a raiva toda que ela estava sentindo era por ter sido tratada de maneira indiferente. E pior ainda, ter sido seqüestrada por aqueles homens. Ah, mas ela ia se vingar daquele Capitão...

- Como é o nome dele? Do Capitão? – ela perguntou enquanto temperava os peixes.

- Killian Jones, senhorita. Mas aqui o tratamos apenas por Capitão.

O cozinheiro foi buscar suprimentos em algum lugar do navio e Ruby ficou só com seus pensamentos, até que ela se lembrou do que o Capitão dissera há alguns minutos atrás.

“Ele gosta de comida apimentada, não é?”, ela pensou e sorriu “Então ele certamente irá gostar do que eu vou fazer”.

Ela não perdeu tempo e exagerou nos condimentos. Temperou os peixes com bastante sal e pimenta e ainda caprichou ao “acidentalmente” jogar pimenta nos outros alimentos.

“É, Capitão... agora sim você vai queimar a língua”. Foi exatamente isso o que aconteceu. A hora do almoço, os piratas literalmente cuspiram a comida. O Capitão ficou furioso e exigiu explicações, Ruby deu de ombros:

- Ué, o senhor disse que gostava de comida apimentada...

O cozinheiro se explicou dizendo que a havia deixado sozinha por poucos minutos e que ela devia ter exagerado um pouco na pimenta, afinal, era ingênua demais e não sabia cozinhar. Mas isso não ajudou em nada, os homens fizeram cara feia para Ruby e o Capitão apenas disse que ela devia tomar mais cuidado. A refeição acabou pouco depois de começar. Os homens voltaram às suas tarefas e Ruby voltou à cozinha. No entanto, as coisas não ficaram melhores pra ela. O Capitão foi à cozinha parecendo mais bravo do que antes e a colocou contra a parede.

- Não pense que eu não sei que foi proposital. Não brinque comigo, Princesa. Eu sei ser muito mau quando quero...