Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 11
Capítulo 7 - Um tempo sem provocações


Notas iniciais do capítulo

Olá leitoras fofas, mais um capítulo para vocês. Estou estranhando o sumiço de vocês, porque no capítulo anterior só tinha dois comentários. Sei que é chato ficar comentando, mas vocês pode falar qualquer coisa, desde elogiar, a criticar, nem que seja só pra dizer: Eu amo Killian Jones e quero ele na minha cama kkkkkkk Brincadeiras à parte, quero dizer que não vou julgar ninguém, pois eu sei que não é sempre que dá pra ficar lendo fanfics e comentando sempre. Mas procurem pelo menos me dizer o que estão achando.
Espero que gostem desse capítulo e comentem.



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Capítulo 7 – Um tempo sem provocações 

Killian queimava de febre e sua mão ficara completamente roxa, o que não era nada bom. Fazia menos de uma hora desde que ele fora picado, e o veneno já se espalhara completamente por sua mão. Ruby fazia uma enorme bagunça pela cabine do Capitão, espalhando livros por todo lado, enquanto procurava algum que falasse sobre aranhas ou venenos.

– Você não vai encontrar nada aí – Killian disse com fraqueza. Ele estava deitado na cama, sem camisa e sem sapatos. Sua aparência era deplorável: ele suava por causa da febre e parecia mais fraco a cada minuto que se passava. – Vá descansar, eu vou ficar bem.

– Não. Eu tenho que fazer alguma coisa.

– Não há nada a ser feito. Veja onde minha ganância me levou... pelo menos morrerei rico. – ele deu uma olhada na enorme pilha de ouro e joias que os marujos tinham deixado ali. Se ele morresse, Smee seria o responsável por dividir a fortuna entre os piratas. – Escuta, quando eu morrer, quero que me atirem ao mar.

– Não seja idiota! Você não vai morrer. – Ela ainda revirava os livros atrás de alguma coisa.

– Princesa, você ainda acha que há tempo? É bem simples: vocês me atiram ao mar, o navio fica para Jack e eles te levam de volta para casa. Me dê papel e tinta, preciso escrever o testamento.

Ela o olhou como se ele estivesse ficando louco.

– A febre está te afetando – ela se aproximou e colocou a mão na testa dele – Está queimando! Vou buscar água.

– Espera! – ele a segurou, usando sua mão boa – Me faça um favor... me beije. Ao menos assim eu morro feliz. – ele sorriu, safado.

Ruby ficou muito vermelha.

– Você não perde uma oportunidade, não é?

– Por favor, Princesa...

– Ah, está bem – ela se curvou e lhe deu um beijo no rosto.

– Na boca! – o Capitão ralhou, puxando-a para um longo beijo. Os lábios dele queimavam, e ela não sabia se era pela febre ou por paixão; era melhor pensar que fosse a primeira opção. No fundo ela temia que algo acontecesse ao Capitão. Por mais que o odiasse (ou pensasse odiar), ela não queria que nada de mau lhe acontecesse. Eles se beijavam apaixonadamente, embora não se dessem conta disso. Quando finalmente Ruby ficou sem fôlego, eles se separaram e o Capitão agradeceu: - Obrigado! Agora posso morrer em paz.

– E-eu vou buscar a água. Não se atreva a morrer agora.

Ela se apressou a buscar água na cozinha e encontrou Smee no caminho.

– Como ele está, Princesa?

– Nada bem. A febre aumentou e ele acha que vai morrer.

– Oh não... – os olhos de Smee estavam tristes e ela podia jurar que vira uma lágrima escorrer por seu rosto – Ele é um Capitão tão bom!

– Vá cuidar dele. Vou buscar água.

Todos da tripulação pareciam preocupados, e Ruby pensou que apesar de o Capitão ser arrogante e mal educado às vezes, todos gostavam dele. Era um bom homem, como diziam. E pensando bem, ele prometera que ela ia voltar sã e salva para o navio, e bem, ele cumpriu a promessa...

O Cozinheiro preparava uma espécie de sopa quando ela entrou na cozinha. A comida não tinha um cheiro bom, e nem uma boa aparência, mas ela achava que talvez aquilo fizesse o Capitão melhorar um pouco.

– É tudo o que eu posso fazer agora – ele se desculpou – Picadas de aranha são perigosas... Mas se o mantivermos alimentado e hidratado, ele vai ficar forte o bastante para que possa vencer o veneno.

– Sabe, eu estou realmente preocupada. A mão dele piorou, o que me faz pensar que o veneno está agindo muito rápido.

– Bom, existe um antídoto, na verdade. Mas não sei se chegaríamos lá a tempo...

– Podemos tentar, não podemos? É muito longe?

O Cozinheiro não parecia muito esperançoso, ele coçou a cabeça e disse:

– São necessários três dias de viagem. Fraco como ele está, talvez não agüente todo esse tempo.

Ruby sentiu uma imensa vontade de chorar. De fato, seus olhos ficaram marejados e ela sentiu um aperto no coração, porém não deixou que o Cozinheiro percebesse. Quando ela voltou à cabine do Capitão, levando a água, o mesmo ditava alguma coisa a Smee, que escrevia num pedaço de papel.

– Eu, Killian Jones, Capitão do Jolly Roger, deixo aqui estabelecidas minhas vontades após a minha morte...

– Pode ir mais devagar, Capitão? – Smee pediu. Ruby parou na porta.

– Mas o que está fazendo?

– Meu testamento? – Killian respondeu com displicência – Continuando: primeiro, desejo ser atirado ao mar, para que este seja para sempre minha sepultura sagrada...

– Senhor Smee, está mesmo acreditando que ele vai morrer? – ela subiu na cama e ofereceu água ao Capitão, que balançou a cabeça recusando.

– Eu não acho, senhorita, mas estou seguindo ordens... – Smee respondeu com simplicidade.

Ruby fez cara feia para o Capitão. Como ele podia dar ordens numa hora dessas?

– Smee é o único da tripulação que sabe escrever – Killian deu de ombros – E, além disso, você se recusaria e escrever por mim.

– Já disse que você não vai morrer. Tome um pouco de água. O Cozinheiro está preparando uma sopa...

– Não quero. Me traga um vinho, quero morrer feliz e de barriga cheia.

– De jeito nenhum! Você vai se alimentar para ficar forte e...

– Eu sou o Capitão e eu estou mandando você me trazer um vinho – Killian começou a ficar alterado – Vá de uma vez antes que eu morra contrariado... e se isso acontecer meu espírito irrequieto vai aparecer e puxar seu pé à noite.

– Estou tremendo de medo – ela debochou, e antes que o Capitão pudesse protestar, ela o obrigou a tomar a água.

– Mas como você é teimosa! – ele balbuciou meio fraco, meio engasgado. - Agora vá buscar meu vinho. Quero morrer brindando...

Ruby cruzou os braços, mostrando que se recusava a ir a qualquer lugar. Killian fez biquinho e implorou:

– Por favor... é meu último desejo...

– Está bem, está bem – ela revirou os olhos e saiu.

Quando voltou trazendo o que Beto dissera ser o melhor vinho do navio, encontrou Smee e o Cozinheiro tentando fazer com que o Capitão tomasse a sopa estranha e mal cheirosa, mas ele relutava.

– Vamos, Capitão, isso vai deixá-lo mais forte – ia dizendo o cozinheiro.

– Não quero! Me recuso a tomar essa gororoba mal cheirosa...

– Princesa, diga a ele que precisa tomar a sopa – Smee pediu a ela. Killian notou que Ruby trouxera seu vinho e ficou excitado por tomar um gole.

– Não quero sopa. Me dê a garrafa! – ele fez um movimento para tomar a garrafa das mãos dela, mas seu corpo todo doía, e fraco demais para suportar seu próprio peso, ele acabou por cair de volta na cama.

– Tome a sopa primeiro – ela ordenou. Ele ainda relutou por uns momentos, mas depois acabou por perceber que ficaria sem o vinho, caso não fizesse o que estavam dizendo.

– Está bem, mas só se você tomar primeiro... – ele sorriu.

Ela revirou os olhos e pegou a vasilha de sopa que o Cozinheiro segurava. Deu uma colherada e provou. O gosto era bom apesar do cheiro e aparência feia.

– Hum! Está gostoso! – ela enfiou uma colherada na boca do Capitão e assim foi até que ele tomou toda a sopa.

– Satisfeitos? Agora o vinho...

Smee lhe passou a garrafa, e o Capitão tomou um belo gole.

– Que maravilha! – disse estalando os lábios – Agora vamos continuar o testamento.

Ruby ia dizer que era uma bobagem, mas viu que a mão do Capitão piorara. Estava mais roxa do que antes, e o Capitão não conseguia nem mexê-la direito. Quando ela pegou na mão dele, para examinar o ferimento mais de perto, o Capitão gritou de dor.

– Isso está mal! Muito mal! – o Cozinheiro murmurou preocupado. Ele e Smee se entreolharam e logo depois o Capitão recomeçou a ditar o testamento. – Você devia descansar um pouco – o Cozinheiro falou depois de um tempo – Nós cuidamos dele.

– Eu quero ficar...

– Certo. Mas coma alguma coisa, pelo menos.

Faminta como estava, ela achou melhor fazer o que o Cozinheiro lhe dissera. E afinal não havia nada que ela pudesse fazer pelo Capitão. Ela foi à cozinha, e comeu uns biscoitos duros que eles tinham roubado na cidade, depois tomou um pouco d’água, o que foi suficiente para sustentá-la. Ela começou a chorar ao pensar no Capitão. E se ele morresse? Logo agora que ela começara a gostar dele...

“Pare com isso, não seja tão emotiva”, ela disse para si mesma “Ele vai ficar bem. E, além disso, você não devia gostar dele. Ele é um pirata e te seqüestrou... como você pode amá-lo?”. Ela balançou a cabeça para espantar os pensamentos confusos que tomavam posse dela. Sentou-se de encontro à parede e começou a se lembrar de tudo o que lhe acontecera naquelas duas semanas. Duas semanas? Como pudera amá-lo em tão pouco tempo?

Lembrou-se do que Mary lhe dissera pouco antes das duas serem seqüestradas:

“Papai só quer o melhor para você. Não acho que ele a obrigaria a se casar.” Bem, e se ela se apaixonasse por um pirata, o que de certa forma já acontecera, o que seu pai diria? Provavelmente não iria permitir essa união.

Então ela começou a pensar em Killian e sua mente a levou a se lembrar dos momentos que eles haviam tido.

“E não se esqueça, benzinho, eu gosto de comida bem apimentada.” Ela se lembrou de quando colocara pimenta na comida e o Capitão se zangou. Riu sozinha ao relembrar a cena.

E logo a voz do Capitão vinha em sua cabeça:

“Será que não há nada que você saiba fazer sem causar confusão? Você é um desastre ambulante...”

“Realmente é algo que eu faria, mas não hoje. E já que perguntou, Princesa, faz mesmo muito tempo que não me divirto...”

Ela também se lembrou das vezes que eles discutiram:

“Seria bem feito! Então finalmente eu iria pra casa e você seria preso, juntamente com sua corja de piratas imundos.”’

“Dobre a língua! Nunca mais, nunca mais fale assim comigo! Você me entendeu?”

A relação que ela tinha com Killian era difícil: uma hora estavam brigando e minutos depois ele simplesmente começava a tratá-la com gentileza, fazendo comentários maldosos, ou se insinuando.

“Ele é um tarado!”, ela pensou lembrando-se de quando ele pedira que ela massageasse suas costas.

“Tudo bem, Princesa, eu sei que quer me ver nu, mas eu só lhe pedi que me preparasse o banho. No entanto, se você quiser... digamos, tomar um banho comigo, eu vou adorar...” E ela se lembrou do sorriso malicioso que o Capitão exibia nessas horas. Ela tinha que admitir que ele era sexy até quando não queria ser, mas quando ele se insinuava... aí ele ficava irresistível.

“Ruby, você está perdendo sua sanidade mental”, repreendeu a si mesma ao se lembrar de quando vira o Capitão só de toalha, e sem camisa agora há pouco.

“Você fica excepcionalmente linda quando está envergonhada.” Ele dissera que ela era linda, fofa e inteligente. Ele a salvara das aranhas comedoras de gente. E também a beijara quando ela menos esperava. Até lhe dera um bonito anel.

“Por que você me deixa assim?”, ela se perguntou, admirando o anel. “E se for verdade o que disseram? E se ele realmente estiver mudando por minha causa?” Ela não sabia em que pensar. Só sabia que já o amava o bastante para que sofresse por isso. Uma princesa e um pirata. Nunca daria certo, era melhor ela esquecer isso...

***

Quando ela voltou à cabine, Smee e o Cozinheiro estavam muito quietos e o Capitão parecia pior do que antes. A febre abaixara, mas ele estava muito pálido e fraco. Sua mão ainda estava do mesmo jeito de antes, e ele já não sentia seus movimentos. O veneno estava o paralisando aos poucos.

– Tem que haver algo... Um remédio, ou antídoto...

– Nós conversamos e... – o Cozinheiro começou.

– E o que? – ela perguntou impaciente e preocupada.

– Na verdade tem um jeito... podemos impedir que o veneno alcance o resto do corpo.

– Ótimo, então façam logo – seu sorriso se iluminou num sorriso de felicidade. Ele não ia morrer, não agora. Mas logo ela se deu conta do que estavam falando – Espera... Não! Isso não! Por favor, me diga que não é o que estou pensando.

– É o único jeito – Smee disse baixinho.

– Se não fizermos, logo o veneno vai se espalhar pelo braço, e depois pelo resto do corpo. Vai matá-lo aos poucos. Você não quer isso, quer? Escute, Princesa, eu já vi isso antes... e é a única forma de salvar o Capitão.

Os olhos dela estavam marejados. Como eles poderiam causar aquela dor ao Capitão? Ela o olhou, estava sonolento e não prestava atenção à conversa.

– Eu sei que vai ser horrível pra ele, mas é a única salvação... – o Cozinheiro continuou. Só agora ela percebeu que ele segurava uma machadinha, e ela parecia muito afiada – Eu já fiz isso antes... com a minha perna... E veja, estou aqui. – Ela começou a chorar, lágrimas grossas escorriam por seu rosto e ela não fazia questão de limpá-las; não fazia questão nem de esconder o quanto estava triste – Vai ser rápido, e ele provavelmente vai perder a consciência depois... mas ele vai ficar bem...

– Mas...

– Princesa – a voz de Killian estava muito fraca quando ele a chamou – Saia agora e deixe John fazer o serviço...

Ela se perguntou quem era John até perceber que era o Cozinheiro. Smee começou a empurrá-la para fora, mas ela trancou a porta e bateu o pé com raiva.

– Eu vou ficar! Não vou abandoná-lo agora.

– Escuta, você não precisa ver isso – Smee insistiu, mas ela era teimosa demais.

– Eu quero ficar – e dizendo isso tomou um lugar ao lado do Capitão e segurou sua mão boa.

– Você é muito teimosa – ele murmurou, depois sorriu – É você quem sabe... não estou te obrigando a ficar...

Ela nem se mexeu. O Capitão a olhou por uns segundos e depois se voltou para John:

– Faça!

Ela sabia que ia ser horrível e que ele ia gritar de dor, mas mesmo assim ficou ao lado dele, segurando sua mão. John hesitou por um momento, provavelmente se sentindo culpado por ele ser a pessoa que ia causar dor ao Capitão. Ela também ia sofrer, ele percebeu. Da forma que ela se postara ao lado de Killian, segurando sua mão e se recusando a sair, era facilmente perceptível... ela o amava.

– Olhe pra mim – o Capitão pediu a Ruby, como que para poupá-la de ver aquilo. Ela se perdeu na escuridão de seus olhos azuis e quando finalmente John golpeou a mão de Killian com a machadinha, ela não estava olhando. Killian berrou de dor, e ainda mais quando o Cozinheiro levantou a machadinha e o golpeou mais duas vezes. Ele teve que fazer esforço ao quebrar o osso do Capitão, e Killian berrava a plenos pulmões. Seu corpo todo se convulsionou e Smee teve que segurá-lo. Ruby chorava e chorava e chorava. Sangue jorrava por todo lado e a amputação pareceu durar muito tempo. Ruby fechou os olhos e quando os abriu viu que já tinha acabado. Killian desfaleceu e agora sua mão jazia pousada ao lado do corpo, ainda roxa e agora sangrenta. Dava pra ver a carne e um pedaço do osso. Ela colocou a mão na boca, horrorizada e trêmula.

– Vamos, tire ela daqui – o Cozinheiro disse a Smee. Ruby relutou um pouco, e Smee teve que arrastá-la para fora enquanto John cuidava do Capitão.

– Se acalme! – Smee disse com bondade, ao levar Ruby para o convés. Uma brisa brincou com seus cabelos e ela olhou para o horizonte, para o mar sem fim, que se aquietara com o cair da noite. – Vamos, sente-se aqui. – ele a ajudou a se sentar nuns caixotes de madeira. – Respire fundo!

Ela fez o que ele dizia, mas ainda assim não conseguia esquecer aquela dorzinha que se estabelecera dentro dela. Por que ela estava se sentindo daquele jeito? Por que se apegara tanto ao Capitão? Um pirata, um simples pirata galanteador e grosseiro, que nunca se apaixonara e a seqüestrara. O amor era mesmo cego!

– Ele vai ficar bem – Sr. Smee se apoiou nos caixotes e tirou uma garrafinha do bolso, oferecendo-a a Ruby. Por mais que ela se lembrasse do que lhe acontecera quando bebera demais, Ruby pegou a garrafa e bebericou o estranho líquido dentro dela, que ela reconheceu como rum. – Vai lhe fazer bem... Depois trate de ir dormir, você já sofreu demais.

– Mas eu queria cuidar dele... – ele bebeu mais um gole do rum e devolveu a garrafa à Smee.

– Relaxe, menina. John sabe o que faz. Ele é o mais próximo de um médico que temos aqui. Amputou a própria perna... Ele vai cuidar do Capitão. Pode ficar sossegada.

Ela suspirou e demorou-se a observar o céu sem estrelas: parecia escuro e sombrio demais. Depois olhou pra Smee, encharcado de sangue, e para si mesma, também com respingos de sangue pelo vestido azul que usava.

– Eu não quero parecer intrometido nem nada, mas posso perguntar uma coisa? – Smee a encarava.

– Vá em frente...

Ele hesitou por uns instantes até perguntar:

– Você... você o ama?

Ela já sabia que isso estava por vir. Até um imbecil era capaz de perceber o que estava acontecendo entre Killian e Ruby. Ela se demorou pensando no que responder. Evitava olhar para Smee, mas ele devia imaginar que ela estava confusa.

– Não precisa responder se não quiser – ele falou, depois de muito silêncio – Eu só acho que ele está diferente, e é por sua causa.

Ela finalmente levantou a cabeça para olhá-lo.

– Talvez ele tenha se apaixonado...

As lágrimas invadiram os olhos dela novamente e Smee se perguntou o que estava acontecendo.

– Me deixa adivinhar – ele disse brandamente – Você está confusa com relação a isso. É como um amor proibido: você é uma dama da realeza e ele é um simples pirata.

Ela balançou a cabeça confirmando.

– Eu acho... eu acho que eu gosto dele...

Smee sorriu.

– Ele também gosta de você. A gente percebe isso pelo modo como vocês olham um para o outro.

– Mas não podemos ficar juntos. Como você disse, é um amor proibido.

– Princesa, o verdadeiro amor vence qualquer barreira. Acredite nisso. – ele sorriu e ela retribui o sorriso, enxugando as lágrimas. –Agora vá dormir antes que eu a leve arrastada.

– Está bem, mas me chamem se precisarem.

***

Killian dormiu por três dias. Enquanto seu corpo se recuperava, Ruby, Smee, John e outros marujos, sempre vinham lhe contar as novidades (embora ele não pudesse responder) e ver se ele estava bem.

Agora que ele precisava ficar em repouso, Ruby não tinha mais o que fazer além de escrever em seu diário e ficar ao lado do Capitão por horas a fio. Ela sentia falta de irritá-lo.

– Bem que o senhor poderia acordar para brigar comigo – ela disse a ele enquanto escrevia em seu diário. – Sinto falta das nossas discussões.

Durante esses três dias eles navegaram a esmo, com Smee comandando o navio e os marujos. Ruby não sabia muita coisa sobre a hierarquia num navio, mas logo presumiu que Smee era o que mandava depois do Capitão.

Eles se revezavam nos turnos para tomar conta de Killian. Enfiavam água e sopa por sua garganta e ele às vezes resmungava, como que protestando, mas nunca acordava. Trocavam as ataduras de sua mão três vezes ao dia, e Ruby ficara feliz ao ver que o ferimento fora cauterizado, mas triste por ele ter perdido a mão.

– Exibido como é, é capaz de ele ainda fazer piada sobre isso – Smee disse rindo quando a Princesa comentou que o Capitão ia ficar devastado pela perda da mão. – Você vai ver. No futuro ele ainda vai contar a história de como perdeu a mão, e vai fazer isso da forma mais honrosa possível.

Mas isso não fez ela se sentir melhor. Ainda confusa por seus sentimentos, ela pensava no que poderia acontecer depois que o Capitão acordasse e se recuperasse. Ele dissera que ela iria pra casa, caso ele morresse, mas e enquanto estivesse vivo? Será que ele estava mesmo apaixonado por ela? A resposta veio para Ruby quando ela encontrou o testamento escrito com a letra de Smee:

Eu, Killian Jones, Capitão do Jolly Roger, deixo aqui estabelecidas minhas vontades após a minha morte:

Primeiro, desejo ser atirado ao mar, para que este seja para sempre minha sepultura sagrada.E declaro que a senhorita Ruby Blanchard será livre para voltar para casa.

– Como ele sabe meu sobrenome? – ela se perguntou.

A divisão de meus bens será feita pelo Senhor Willian Smee, homem a quem confiaria a minha vida. Deixo meu navio para meu irmão Jacob Jones, e ele deverá ser o Capitão ou deverá escolher outro para colocar em seu lugar. A fortuna encontrada na Ilha das Tarântulas, será repartida de acordo com a hierarquia do navio, porém, declaro que uma parte das joias pertence à senhorita Ruby.

– Para mim?! Mas por que? Estas joias são suas e dos marujos, eu não mereço nada...

Minhas roupas e pertences pessoais deixo à minha tripulação de corajosos homens. Com exceção de minha luneta, que deixo para Willian, na esperança de que ele sempre encontre o caminho certo. Meus livros, diários e anotações pessoais, deixo à senhorita Ruby, na esperança de que ela se lembre de mim e encontre o caminho para a sabedoria através de suas leituras.

– Você ia dar seus livros pra mim? Não acredito!

E minha velha bússola, deixo a John, o Cozinheiro, esperando que ele sempre siga o rumo certo. E por último devo frisar que todos os homens deste navio são homens livres, e devem abandonar a pirataria se assim desejarem, sem que haja intervenção de terceiros.

No final do testamento havia a caligrafia fina e comprida do Capitão e a data em que o documento fora redigido. A Princesa ainda estava surpresa com o que lera. Não havia dúvida de que ele gostava dela pelo menos um pouco, ou não teria lhe acrescentado ao testamento, uma vez que eles só se conheciam há duas semanas.

Depois de três longos dias, o Capitão finalmente acordou. Ainda era cedo e Ruby dormia, mas Smee e John estavam na cabine do Capitão contando a ele o que ocorrera nesses três dias. Ele tinha uma aparência melhor, apesar de ainda meio fraco.

– Vocês salvaram a minha vida, e eu realmente fico muito agradecido – ele sorriu, mas depois seu sorriso se desfez ao lembrar que Ruby estava ao lado dele durante a amputação de sua mão – E a Princesa? Está bem?

– Ela está meio triste – John falou – Ficou muito preocupada com você e não queria sair do lado da cama.

– Tivemos que arrastá-la para fora, para que pudesse se alimentar bem e dormir direito – Smee riu – Ela é bem durona!

– Ela ficou preocupada, é? – um sorriso se formou no rosto do Capitão.

– E muito. No começo achamos que ela não ia agüentar, mas ela se manteve forte durante esses três dias.

– Hum! Interessante...

– Sabe, nós achamos que ela gosta do senhor – John falou de um jeito maroto e Smee, que já sabia que a Princesa gostava mesmo do Capitão, não disse nada, mas ficou sorrindo feito bobo.

Antes que o Capitão pudesse responder, a porta se abriu e Ruby entrou.

– Bom dia, pessoal... Capitão! O senhor está bem?

E para a surpresa de todos, o Capitão a olhou com interesse e perguntou:

– Quem é essa?


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