O que estava acontecendo com Tyler, desde a viagem até a casa de Adam ele estava muito estranho, e agora justo ele que sabia como eu poderia me livrar de ver almas. Eu o encarei, tentando fazer a minha melhor cara de “você-pirou-garoto?!”. Mas então ele prosseguiu:

–Quando nós viajamos, Adam estava trabalhando em como podia conseguir ver as almas, pra poder falar com seus falecidos não?!- ele pareceu entusiasmado, eu assenti com a cabeça- E quando eu cheguei lá comecei a ler os papeis que ele escreveu, e tinha muitas coisas sobre almas, talvez se fossemos visita-lo, ele possa nos ajudar.

A ideia até parecia pertinente, mas então eu lembrei que aquele homem nunca havia tido contato com almas, não era por que ele especulava sobre as almas que seriam verdades seus fatos. Disse o mesmo a Ty, que parecia ainda estar com expectativas de que o homem pudesse realmente ajudar, então respirei fundo e encarei-o:

–Olhe, mesmo que o homem possa nos ajudar, não temos chances de voltar lá! A mulher morta- fiz questão de ressaltar o “morta”- disse que iria mata-lo - ressaltei novamente, de essa vez o mata-lo- não sem chances!

Tentei ameaça-lo com as palavras e o máximo que consegui foi um sorriso

–O que foi?!- perguntei um pouco brava, sério! Ty estava enlouquecendo.

–Você esta irritada- ele riu

–Não estou não! Só não quero que tente fazer essa besteira!- exclamei

Eu me virei bem na hora que Ty ia me dar um beijo na bochecha, resultado, ele me deu um selinho. A mãe dele estava lá só nos observando e acontece uma coisa dessas! Só não esperava estar tão corada quanto ele. Olhei pra May e ela estava sorrindo.

–Não é novidade pra mim que vocês dois estejam namorando, mas se quiserem que eu considere isso como um acidente, sem problemas.

Eu e Ty abaixamos a cabeça e sorrimos com vergonha, obviamente, mas a mãe dele quebrou o gelo:

– Bem Tyler, eu concordo com a Ayla, é muito arriscado algum de vocês voltarem lá, e o senhor, ele pode ter hipóteses, mas elas podem não serem certas.

–Mas mãe...- disse Tyler, que logo parou quando a sua mãe lhe deu um olhar de “mas-nada”

–Nós vamos achar um jeito Ayla, só não sei quanto tempo isso vai levar.

Ouvi Ty murmurando “Eu tenho um jeito, mas vocês não me ouvem”, não pude deixar de dar uma leve risada.

Conversamos um pouco sobre as ultimas notícias das almas com a mãe de Ty e Ty, contei sobre Abby, e tudo que ela me disse ontem, fiquei um pouco desconfortável em contar isso, talvez ela não quisesse que eu compartilhasse sua historia com mais ninguém, mas eu e sinta com a obrigação de contar a Ty e May, eu confio neles mais do que eu confio em mim mesma. Mas havia algo de errado em Ty, ele parecia tenso, como se estivesse escondendo algo. Eu iria conversar com ele, só que não naquele momento.

Já eram quase nove horas e eu voltei pra casa. Abby ainda estava no meu quarto penteando uma boneca antiga minha, eu não lembrava que eu ainda a tinha, muito menos o lugar que ela estava, isso foi um sinal que By deve ter revirado o meu quarto.

–Olá- disse entrando no quarto, e ela me cumprimentou com um sorriso.

–Como foi lá?- ela perguntou, mesmo assim não tirou o olho da boneca.

–Ah- disse em desanimo- Não sei, Ty ta estranho, esta com umas ideias malucas... – fui dizendo tudo a ela, o que era estranho considerando que ela tinha 9 anos, e veio ganhando um lugarzinho em meu coração em tão pouco tempo, talvez por sua historia de vida, por ter esse mesmo problema que eu, e ter toda essa graciosidade. De repente ela parou de escovar os cabelos da boneca e começou a embola-los.

–O que esta fazendo?- perguntei rindo

–Aaaa- ela reclamou- eu não sei fazer uma trança nela.

Me sentei ao seu lado e fiz um gesto para que ela me desse a boneca, e em alguns segundos finalizei a trança e lhe entreguei novamente.

–Que bonita- ela me olhou com seus olhos brilhantes- faz uma em mim?

Eu ri, e então comecei a fazer um trança nos seus lindos cabelos louros. Até que a Clarie entrou em meu quarto.

–Kayla?! Você voltou?- perguntou ela surpresa, mesmo achando que madame Fox, era um pouco exagerada, agora eu olhava ela com outros olhos.

–Ah, oi- sorri

–Ela não foi à casa do menino bonito mamãe- interrompeu By rindo- ela voltou de noitinha.

E então falei que tive que fazer uma viagem, que era para visitar um parente de Ty,e cheguei tarde. Clarie pareceu acreditar.

–Filha, eu daqui a pouco nos vamos em bora!- disse Clarie saindo do quarto.

Eu tinha outros planos com Abby, há três dias um convite de aniversário da filha de uma das melhores amigas de minha mãe pelo correio, e me passou na cabeça que eu podia levar By para fazer amizades, já que o aniversário ia acontecer hoje de noite. Então contei a By que ficou ansiosa, e aceitou a ideia de ir, mas faltava falar com Clarie que ia dar a palavra final. Mas acabou sendo fácil convence-la, ela disse que traria Abby as de tarde antes do anversário, e então meu tio nos levava.

De tarde eu fiquei sozinha, e pensar que faltava apenas três dias para as aulas começarem, eu já tinha todo o material, mas, argh, só de pensar que a cada ano são professores novos, colegas de classe novos, e alguns chatos que ainda continuam, isso me da depressão.

Recebi uma mensagem de Ty me convidando pra sair, e eu obvio que aceitei, além disso, era uma boa oportunidade de descobrir por que ele estava agindo tão estranho.

Ele veio me buscar e fomos para um parque. Nos acomodamos perto de uma arvore. Repirei fundo e fui direto ao assunto

–Ty, você está muito estranho, o que aconteceu?- o olhei nos olhos tentando procurar alguma resposta. Mas não consegui nada além de uma careta mostrando insegurança.

–Não aconteceu nada Yla- ele virou pro outro lado

Eu respirei fundo, menino teimoso, então usei a minha melhor arma, era uma frase que eu sabia que acabava com ele:

–Eu pensei que a gente não tinha segredos- ele se virou, e respirou fundo, hesitou em falar algo, depois me encarou e falou:

–Yla, você vai achar besteira, se eu contar vai ficar brava, e eu não quero isso, justo agora que...- ele respirou fundo, o interrompi

–Se não contar também vou ficar brava- menti, por mais que às vezes eu queira não conseguia ficar brava com ele, e ele sabe disso, tanto é que deu um sorriso, que maldito!

–Você, brava, comigo?- ele riu – Impossível- zombou

–Convencido- resmunguei

E ele me olhou com seus olhinhos azuis ainda estampando um belo sorriso no rosto, mas então sua face mudou de expressão e ele ficou tenso

–Yla, e se a cura de ver almas levasse a morte de alguém?- perguntou ele, e eu comecei ficar nervosa.

–O que quis dizer com isso?- consegui dizer.

–Nada, só foi uma pergunta- ele disse rapidamente.

Eu sabia que ele estava muito estranho, já não basta eu estar encrencada com toda essa historia de almas, ia ter de dar uma de detetive pra descobrir o que houve com ele.

–Yla- ele segurou minhas mãos- Eu não posso te contar, mas me da uma única chance! Você sabe que eu nunca faria algo pra te prejudicar, nunca, por que eu te amo!

–Ty, eu sei que você não seria capaz de me prejudicar, mas, eu estou com medo que você se prejudique! – disse

Ty me abraçou, eu pude sentir o quão tenso ele estava, fazia muito calor e o dia estava lindo, mas só de ficar nessa apreensão, deixou tudo tão estranho.

–Ty, eu confio em você, mas você é parte de mim, eu não quero pensar na hipótese que algo pode acontecer com você.

–Você vai ter de se acostumar com o fato- meu coração acelerou –de que antes eu do que você, vou fazer tudo pra te proteger , custe o que custar.

Eu o encarei, por mais que estávamos falando de morte, isso por um lado fofo da parte dele, e não eram apenas palavras, pois eu sabia que ele realmente faria isso por mim.

O resto da tarde foi estranho, quer dizer legal, bem, agimos como namorados, o que para mim ainda é novidade, mas pensando bem, prefiro o Ty desse jeito.

As quatro horas da tarde eu voltei pra casa, meu tio não estava, então eu aproveitei para arrumar a casa, e quando eu digo arrumar a casa, quero dizer, pilhas e pilhas de roupa suja, camas desarrumadas, uma montanha de louças... Eu me sentia com a obrigação de arrumar, sempre minha mãe fazia isso, e, agora que não tenho mais ela, sinto que é um dever meu. Meu tio faz o possível pra ser legal e tudo mais, quer dizer, fazia, agora que ele esta com Clarie parece que esquece um pouco do mundo, mas ele é uma boa pessoa, eu queria ver se não fosse por ele, ninguém iria aceitar a miha guarda, pois imagine você na mesma situação “Oi, a mãe dela morreu, então você virou automaticamente o pai de uma menina de 17 anos, boa sorte”.

Meu tio chegou em casa, com todo o seu equipamento de fotografia, eu achava um trabalho bem legal, e além de ganhar bem, ele só era chamado de vez em quando.

–Então, pronta?- perguntou meu tio despachando os equipamentos em cima do sofá, eu só lancei um olhar de, não-você-não-irá-coloca-los-ai e então ele segurou novamente tudo para guardar no lugar certo

–Pronta pra que?- perguntei

–Pro aniversário da Lucy, daqui a pouco Abby vem aqui.- ele disse, eu tinha esquecido totalmente disso.

Fui me arrumar correndo. Já estava no horário então By chegou, fomos juntas para o aniversario, foi legal, pra ela. Eu não aproveitava muito aniversários de crianças, acho que porque não posso entrar nos brinquedos.

Depois de um tempo voltamos para casa, By estava muito feliz em fazer novas amizades, e me disse que estava tentando não ver almas desde ontem e tinha conseguido. Conversamos um pouco mais no meu quarto esperando Clarie chegar, quando ela chegou me despedi da Abby.

Estava voltando para o meu quarto, era incrível que desde que sai da casa de Adam eu não tinha visto nenhuma alma. Entrei no meu quarto e fechei a porta.

–Em fim sozinha- suspirei

–Você tem certeza disso?- perguntou uma voz masculina, e não, não era de Tyler.