Sad Woman's Life

O dia já havia amanhecido. A cama estava vazia e desarrumada novamente. Daqui alguns minutos, com toda certeza, Mary Jane virá fazer a limpeza e eu devo estar em “meu quarto” “dormindo”.

Suspirando pesadamente, levantei-me da cama do jeito mais silencioso possível, procurei meus pertences pelo quarto e de ponta de pé, fui para o quarto no final do extenso corredor. A porta foi aberta em poucos segundos e com apenas um baixo e suave click para então eu poder voltar a descansar por ao menos mais duas horas antes que a farsa comece novamente. Mas eu mal havia fechado meus olhos quando senti o costumeiro puxão de Caroline em meu braço. E aqui vou eu novamente.

– Já acordei – murmurei sentando-me e esperando que ela fosse embora. Assim que a porta se fechou, eu rumei para o banheiro da suíte.

A manhã estava melancólica, como todas as manhãs são para mim, e é apenas pelo hábito imposto que eu consigo conversar animadamente, sorrir como se minha vida fosse perfeita e permanecer em pé com o peito firme e inflado e de nariz sempre muito empinado. Mas se eu pudesse, nunca sairia da cama. Por mim mesma, entraria em estado vegetativo porque qualquer situação é melhor que a minha.

– Isabella! – Molly chamou da porta do quarto.

– Estou indo! – respondi desligando o chuveiro e enrolando meu corpo na toalha, saindo do banheiro de ar quente para o frio do quarto, atravessando-o e finalmente abrindo a porta encontrando uma expressão preocupada no rosto belo e fino de Molly.

– O que aconteceu? – sussurrei ainda olhando para o seu rosto.

Preocupada, ela entrou rapidamente e fechou a porta, trancando-a e logo me levando até a cama para sentar-me.

– Jessica passou a noite inteira chorando e parece que Angela está doente... – ela fez uma pausa e fitou meu rosto. – Depois de tanto apanhar... – minha boca se abriu levemente apenas porque parece que a situação pede.

– E Irina? – perguntei aflita pensando se alguma coisa lhe aconteceu.

– Não se preocupe, Irina está bem, mas acho que Jessica não porque daqui uma hora Sam estará de volta e Emily virá para fazer a vistoria e provavelmente vai encontrar o motivo de Jessica.

– Motivo...? – perguntei sem completar a frase.

– Sim Bella, o motivo – ela disse como se fosse para eu já estar sabendo. – Oh... Bem... Jessica está grávida.

– Grávida?! – acabei por gritar.

– Shii...!

– Desculpe. Mas grávida? Tipo, grávida, grávida? – perguntei para confirmar.

– Grávida, grávida... – Molly falou suspirando enquanto eu levava uma mão à testa.

Com certeza essa será a gota d’água para Sam. Sem contar o fato de que, desde o começo, ele nunca foi muito com a cara de Jessica e ela só está conosco primeiramente porque além de ser considerada gostosa ela tem um rosto bonito, e a insistência de Emily ajudou bastante na decisão final de Sam o que foi o maior e pior azar da vida de Jessica, e de cada uma de nós também.

Fazer todo esse teatrinho dia após dia requer muito auto-controle para não se suicidar – por melhor ideia que seja –, muita psicologia reversa consigo mesma e paciência de que uma hora tudo isso irá acabar. E ainda não consigo me decidir se é sorte ou pena que alguma das garotas não consigam ter esses três requisitos para continuar.

– Agora me deixe ir antes que Mary Jane vá me chamar – Molly falou depois de alguns segundos. – E não se demore muito – assim, ela saiu do quarto, me deixando mergulhada em meus pensamentos.

Em algum momento, eu consegui voltar à superfície e me aprontei rapidamente, pegando a nossa bolsa padrão e indo até a sala para esperar a chegada de Sam.

Jessica, Caroline e Irina já estavam na sala. Angela provavelmente está dormindo e Molly junto a Mary Jane estão tomando conta dos afazeres da casa.

Do momento em que fui para a sala não demorou muito tempo para que Sam chegasse com Emily em seu encalço. As perguntas foram feitas enquanto Emily, depois de passar por nós, foi fazer sua visita diária aos quartos para a vistoria.

– Irina, eu apenas irei deixar passar a sua ajudinha da noite passada porque Angela no estado em que está merece a minha pena, mas que isso não ocorra uma segunda vez – Emily disse voltando para a sala. Irina assentiu obediente. – E Jessica, eu creio que hoje você queira ficar em casa, não? – ela indagou e Jessica deu um passo para trás indo sentar-se no sofá onde depois receberia sua punição.

– Bem, acho que agora podemos ir garotas – Sam falou sempre com o seu ar de malícia e superioridade.

Caroline, Irina e eu assentimos levemente e passando pela porta, saímos em direção ao carro que nos levaria para a nossa primeira tortura diária.