As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 84
Despedaçados por sonhos de vidro


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que fui muito malvada não postando logo e que torturei algumas meninas enrolando para responder os comentários. Tive alguns problemas, mas não nego que queria deixar vocês ansiosas para este cap. Amei fazê-lo, e chorei muito.
Espero que neste cap alguns leitores fantasmas apareçam, pois me esforcei ao máximo para deixá-lo profundo e sentimental mostrando os conflitos internos da personagem =/
Boa leitura:



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THALIA

Sorri contrariando seu rosto sério.

–Veio me matar, Luke? – não consegui deixar de sorrir; seu rosto era sério, os lábios apertados, os olhos que nem piscavam. Meu sorriso o irritava e sua irritação me acalmava.

–Talvez sim, talvez não – ele não se moveu enquanto falava; Mordecostas irradiava uma energia bastante desagradável em minha garganta – Eu devia.

Eu ri.

–Você não consegue. – eu disse assim que compreendi; nem havia precisado de flashbacks para entender. Luke me olhava com raiva.

–Não consigo o que exatamente?

–Me matar. – seus olhos reluziram. Comecei a levantar devagar ainda com aquela lâmina apontada para minha garganta.

–Você sabe que eu posso!

Continuei com um sorriso pequeno e até meigo no rosto; afastei a ponta da espada com a ponta dos dedos e sem me preocupar.

–Sim, Luke. Você pode. Mas você não quer e nem consegue. – dei um passo para frente ficando um pouco perto demais.

–E como você pode saber disso? – ele deu um passo para frente; nossa distância era perigosa considerando eu ser uma caçadora; ao invés da ponta, agora era gume em meu pescoço. – Eu posso!

–Então me mate agora. – o silêncio pairou entre nós – Faça, Luke. Só um bom e limpo corte na minha garganta e grande parte dos seus problemas vão sumir. – ele me olhava de maneira indecifrável; a lâmina continuava ali no mesmo lugar, sem tirar nem por – Faça!

Segurei a lâmina da espada quase cortando minhas mãos e a puxando para a garganta. Luke puxou a espada na direção contrária e a jogou no chão. Fiquei realmente chateada, eu desejava aquele corte; talvez morrer fosse a única saída para tudo.

–Como sabia que eu não conseguiria?

–Porque você não consegue me deixar ir... Nunca conseguiu.

Meu sorriso sumiu há bastante tempo.

–Ora, minha cara, e você conseguiu? Conseguiu seguir em frente? Está se sentindo bem e acolhida na Caçada?

Seu rosto não me expressava nada além de cordialidade, seus olhos estavam impassíveis.

–Eu não sei a resposta.

–Claro que sabe. Todos sabem o sentem...

–Eu não. E você? Nunca se sentiu perdido com seus sentimentos? Sem saber o que fazer?

–Eu... – ele me olhava tão profundamente – Eu não sei a resposta.

O silêncio parecia pesado, mas era bom poder olhá-lo, admirar sua beleza sem ter que pensar em alguma resposta boa o suficiente. Ele parecia diferente... Como se uma energia estivesse embutida em sua pele. Mas também parecia cansado...

–Por que está aqui? – minha voz soou baixinha e eu temia o que iria ouvir em resposta – Veio mesmo me machucar?

–Thalia... Eu não sei se consigo mais ficar com os Titãs. Acho que... Que... Pensei que talvez nós pudéssemos fugir como antes, quando éramos amigos... – toda a sua fisionomia mudou: ele estava tenso, mas sua expressão estava mais suave quase gentil. Esperançoso.

–Antes?

–É! Antes quando nós apenas fugíamos de tudo com sorrisos no rosto e esperança no olhar. Eu quero que amanhã volte a ser como o ontem...

Não suportei. Minhas defesas desabaram de um jeito que nunca havia antes.

–Você deu as costas ao amanhã porque se esqueceu de ontem. Ontem eu morri. O meu amanhã sangra, Luke. Sangra uma ferida que você deixou aberta.

–Estou tentando fechá-la! – senti o começo de desespero em sua voz.

–Está mesmo? Fugindo? – respirei fundo; aquilo estava me consumindo muito mais do que parecia – Nós não somos mais crianças. Já viu seu reflexo no espelho? Nós crescemos, nós mudamos. Você é um homem! Tem que aprender a lidar com suas escolhas e não fugir delas.

Ele segurou minhas mãos com firmeza; nem notei quando a espada havia ido parar no chão. Seu toque era morno e não frio como antes, fez uma pequena chama acender.

–Pense bem. Talvez seja uma chance de esquecer toda a dor...

–Eu não posso esquecer! Você também não!

–Você prometeu ser minha! O que aconteceu com essa promessa? Jogou fora? – seus olhos brilhavam seu rosto contorcido em raiva.

–Você prometeu me amar. – ele me puxou pela cintura – Também disse que não me tocaria indevidamente – continuei assustada com aquela proximidade. Seu rosto tão próximo do meu...

–Já faz tempo... – ele sorria em zombaria. Isso deveria ter me deixado irada pelos anos em que eu não duvidei de suas palavras ou da sua voz doce e mansa. Claro que isso só fez meu peito doer.

–Faz ainda mais tempo que eu prometi ser sua! É muito bom saber como suas promessas sempre foram vazias – a dor transbordava em minha voz. Como eu queria sentir apenas raiva.

–Não! Elas nunca foram! –virei o rosto; eu não aguentaria vê-lo mentir mais e me enganar com uma boa atuação – Thalia, por favor... – ele me apertou com gentileza contra si – Por que você não pode me perdoar?

Sua voz falhava assim como a minha respiração. Como eu podia pensar em dizer não? Como eu podia não perdoá-lo? Não seguir com ele? Lá estava ele me pedindo para esquecer tudo e começar de novo. Não era isso o que eu mais queria? Não era esse o meu melhor sonho?

Mas aqueles sonhos eram feitos de vidro! Sonhos de vidro se quebram facilmente e nunca voltam a ser os mesmos. Despedaçam e cortam tudo por onde passam... Como meu peito dilacerado agora. Eu não podia... Não podia...

–Por que está fazendo isso comigo? Veio mesmo me machucar, não foi? – tentei dar as costas e seguir andando para longe dele sem nem me importar se era ou não um alvo fácil; ele não deixou. Segurou-me com um braço preso as costas e o outro tentando empurrá-lo no peito; eu precisava de uma distância. Me negava olhar para ele.

–Como pode pensar uma coisa dessas...?

–Pra que usar de tanta educação quando você está cheio de terceiras intenções?

–Terceiras? - senti um pequeno sorriso verdadeiro – Não são segundas?

–É, Castellan. A essa altura, você é uma incógnita para mim. Segundas intenções não são mais o suficiente para você.

Um silêncio tenso pairou no ar. Eu olhava por sobre o seu ombro ainda não aceitando olhar em seus olhos. Ele apertava meu pulso contra as minhas costas e minha mão em seu peito sentia o batimento acelerado e errante de seu coração. Ele estava tão destruído quanto eu.

–Lia...

–Pra que mentir? Fingir que me perdoou por tudo? – voltei meus olhos para os seus, os dois pares brilhavam em dor, em lágrimas – Você disse que aceitava minhas escolhas, disse que as respeitava... Mas não é verdade.

–Não. Thalia, eu não quero ouvir... – ele virou o rosto.

–Você não aceita eu ser uma Caçadora. Você não aceita meus amigos. Você não aceita minha família. – lembrei das palavras que despejei em cima de Zeus, no quanto estava errada e no quanto alguns dias depois eu havia enxergado a verdade – Luke, eu nunca me senti tão sozinha desde o instante em que acordei na Colina Meio-Sangue e não te vi... Você entende? Você não me perdoou e eu também não te perdoei.

–Eu não durmo mais a noite e meus dias são preenchidos por lembranças dolorosas – ele dizia com dificuldade – Eu vejo você quase toda a noite e... – ele me soltou e puxou os cabelos revoltado com a mente – Você... Você está lá tão, tão... Tão linda, tão minha e... De manhã você não está lá. Não está nem para gritar comigo e sair andando pesadamente para me fazer correr atrás de você... E implorar perdão...

Luke chorava e eu não sabia de onde vinha à força para manter as minhas lágrimas presas. Deuses! Como aquilo doía... Dizer não era quase uma sentença de morte. Eu preferia uma sentença de morte. Ali estava o Luke que eu amava, o menino que jurou me seguir, me amar, me proteger... Ser minha família.

“O que está esperando, retardada? Puxe esses lábios lindos parar os seus!”

“Eu sou uma Caçadora!”

“Ah, por favor! Diga sim! Você quer dizer sim. Pare de arrumar desculpas para rejeitá-lo. Ele te quer, você o quer...”

“Ele só pode estar me usando...”

“E se estiver? Olhe esse corpo. Você já admitiu que ele lhe parece melhor que o próprio Apolo!”

“Eu não fútil a esse ponto. Quero um amor, não um corpo bonito.”

Então você admite não se encaixar na Caçada...!”

Minha mente gritava e caçoava de mim, mas não importava. Nada importava. Nada além da dor de perdê-lo por verdades minhas.

–Luke... – era um pedido fraco e ingênuo.

–Eu estou paralisado. Ainda estou preso naquele tempo em tudo era apenas amor. O simples e ingênuo amor. A cada fim do dia eu vejo a prova do tempo matando a esperança... Thalia – ele fazia movimentos circulares em minha mão, os olhos cintilando em tristeza – A esperança é tudo o que eu tenho; não posso deixá-la morrer... Não a deixe morrer...

Eu apenas balançava a cabeça em sentido negativo. Eu não conseguia mais falar. Ele estava ali na minha frente, com carinhos tão ingênuos que deveriam ser insignificantes, mas eram tão magníficos e eu o rejeitava... Fugir não era certo. Minha alma rejeitava; o dom de Atena rejeitava.

–Eu não posso. – não passou de um sussurro fraco, mas eu pude senti-lo ruir. O corpo tenso e rígido por fora e um caos por dentro. Eu me senti tão culpada! Eu estava negando ajuda... Seu silêncio me destruía lentamente e o vento gélido que me cortou a pele era insignificante comparado a minha dor por abandoná-lo – Não posso...

Ele fungou, mas fora isso, ninguém se mexia.

–Você... Você ainda me ama? – o fiapo de voz me trouxe a confirmação da sua dor.

–Não sei. – minha resposta era apenas um gemido.

Ele suspirou como se a minha resposta doesse apenas nele. Será que ele não via o quanto eu estava destruindo a mim mesma? Ele não via o quanto pequenas palavras machucavam a minha garganta?

–Você me amou, Thalia? Nosso passado foi de verdade?

–Claro que eu te amei.

–Então ainda tenho uma chance...

–Você torturou Felipe. Você mentiu para o Percy. Abandonou Annabeth. Sequestrou Caçadoras. Traiu a mim – meu lábio tremia, mas eu não conseguia chorar; as lágrimas eram pesadas demais para cair e era aquele choro que eu havia prometido nunca chorar. Olhei para cima contendo as lágrimas e voltei a olhar em seus olhos tristonhos e úmidos – Eu até posso ficar longe de você, mas perto eu não aguento.

Luke recuou com a mão no peito e os olhos apertados, seu maxilar travado e as bochechas manchadas de lágrimas. Ele estava ruindo, se esvaindo... Não havia nada que eu pudesse fazer. Não havia nada. Fugir da guerra, evitar deuses e titãs não resultaria em nada enquanto não aprendêssemos com nossos erros, não mudariam em nada as desconfianças enquanto não lutássemos por nos mesmos antes de tudo. A guerra era nossa e não deles. Era a nossa vida em jogo e não a cidade de NY. Era a dor de saber que, se realmente houvesse a reencarnação, a chance de voltar para a Terra e tentar de novo, esse não seria nosso primeiro encontro: eu não conseguia parar de pensar no quanto Romeu e Julieta se assemelham a nós... E o fim é o mais provável. Porque eu sabia que não aguentaria viver em um mundo sem Luke. Era a única certeza que eu ainda tinha: preferia viver tristonha por não tê-lo perto hoje, mas não sobreviveria com um adeus permanente.

–Não desista de mim. Não desista de mim. Não desista de mim. Não... Não... – ele movia a cabeça de um lado para o outro, a mão apertava o peito com tanta força que cheguei a pensar que a minha dor vinha daquele aperto – Não desista... Por favor... Thalia, não... – seus gemidos de dor acompanhados por soluços me deixavam tão fraca e impotente.

Aproximei-me até estarmos separados por pequenas moléculas de oxigênio. Sua respiração falha batendo em meu rosto. Levei minha mão ao seu pescoço e subi pelos cabelos, dedilhando-os e sentindo a fria maciez, parei próxima a orelha e com um dedo em seu rosto. Ele chorava e suspirava com os afagos. Aproximei-me mais até eu sentir meu ombro colado ao seu, meus seios pressionados contra seu peito em uma ligeira pressão agradável. Na ponta dos pés fiquei a sua altura; tão perto, tão perto...

–Procure Annabeth. Se lembre de quem você é e, quando lembrar, você vai saber pelo o que vale a pena lutar, vai lembrar o porquê de tudo isso... Mas até lá – puxei seu rosto para perto do meu e selei meus lábios em sua bochecha. Luke me apertou contra si em um pedido silencioso para que eu não parasse. Fiquei ali, marcando sua bochecha e sentindo o gosto salgado e gelado das suas lágrimas o máximo que me atrevi – Eu sinto muito – sussurrei em seu ouvido e o abracei brevemente... Afastei-me devagar e evitando seus olhos.

Não havia dado nem cinco passos quando ouvi o beque surdo do seu corpo caindo no chão e os soluços que me afogavam a alma.


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Notas finais do capítulo

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