As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 67
Vontade de pular e cair pela eternidade


Notas iniciais do capítulo

Oieee! Cheguei até cedo né? Eu achei que o cap ficou menorzinho, mas eu amei escreve-lo. O próximo será um parte desse cap só que no ponto de visto do Luke, ok?
rsrsrsrs, por enquanto aproveitem esse aqui:
=D



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Ela está assustada demais para respirar.

Ele está nervoso demais para desviar o olhar.

Ela havia receado esse encontro há meses.

Ele sonhava com esse instante há anos.

Ela queria ficar com ele.

Ele queria ficar com ela.

...Mas havia inúmeras escolhas, inúmeras incertezas entre os dois... Havia uma guerra.

Afrodite não sabia bem o que esperar daquele momento tão tenso. Embora houvesse dois casais bastante interessantes, um se sobressaia. Ela via dois corações feridos e sabia que eles estavam doloridos como se houvesse sal em cada mísero arranhão. A deusa mais do que ninguém sabia que não havia uma cura para aquilo, uma cura para tanta dor; era evidente que eles gritavam em agonia por se quererem, se amarem...

A deusa não tinha acesso aquela montanha, mas via os dois amantes parcialmente. Sentada em seu divã, a divindade se encolheu e abraçou o próprio corpo de forma protetora e observou... Apenas observou...

THALIA

Ele tinha uma aparência terrível; de dar dó. A pele estava pálida e os cabelos cinza. Fora isso, seu corpo deveria estar forte e os olhos brilhavam com algo que eu não soube dizer. Era como se o psicológico dele estivesse abalado... Abalado em me ver.

Senti a cor sumir do meu rosto e o ar se alternava em quente e frio. Meu corpo parecia tremer em ansiedade, nervosismo. Uma nostalgia fria me encharcava até os ossos só em olhá-lo; não! Era uma retrofilia, mal-estar de corpo e alma... Mas tudo sumiu quando entendi o que meus olhos viam: a faca brilhava contra o pescoço de Annabeth.

Senti meu sangue borbulhar em ódio. Então eu dava minha vida para o infeliz cuidar da dele e da nossa pequena Annie e ele retribui tentando matá-la? Trinquei os dentes evitando a súbita corrente elétrica que me preencheu.

–Luke - rosnei - solte-a.

Ele sorriu; um sorriso fraco e pálido. Nunca eu o tinha visto daquela maneira, tão triste, acabado, morto.

–Essa decisão é do General, Thalia - ouvir sua voz pronunciar meu nome, me trouxe mais uma onda de nostalgia - Mas é bom revê-la.

Aquilo me irritou de tal maneira que cuspi a seus pés. Ele me olhava incrédulo, mas voltei meu olhar para a minha "irmãzinha"... O General deu uma risadinha. Meu peito subia e desci de forma descompassada.

–É isso o que se recebe dos velhos amigos. E você Zoe. Há quanto tempo! Como vai minha pequena traidora?

Annabeth estava diferente, assim como Luke. Seu cabelo loiro estava mesclado de cinza... Foi quando entendi.

–De segurar o céu - murmurei a Percy que parecia reparar no mesmo que eu - O peso devia tê-la matado.

Atlas ainda falava, provavelmente com Percy, mas eu não o ouvia. Tudo parecia um pesadelo; tudo estava errado: Ártemis sofria sob o peso do céu. Zoe sofria por sua senhora estar aprisionada no lugar do pai. Percy não aguentava ver Annabeth naquele estado. E eu... Eu me sentia... Sentia-me como se fosse um elástico que era puxado por todos os lados ao mesmo tempo; era Luke quem me puxava com mais força... Era o certo contra o errado e eu me sentia prestes a arrebentar!

–Quanto a você, filha de Zeus, parece que Luke estava enganado a seu respeito.

–Eu não estava enganado - sua voz me soou extremamente fraca, como se alem de toda a sua falta de espírito houvesse um enorme nó em sua garganta; meus olhos voltaram aos seus tentando entende-lo, entender a súplica em seu olhar - Thalia, você ainda pode se juntar a nós. Chame o Ofiotauro. Ele virá até você. Veja!

Ele acenou com a mão e algo apareceu... Porém não vi o que era. Todo o meu foco estava nele e foi como se tudo sumisse: Percy, Annabeth, Zoe, Atlas, Ártemis... Éramos apenas nós dois...

–Thalia, chame o Ofiotauro - ele insistiu - E você será mais poderosa que os deuses.

Lentamente, balancei minha cabeça. Uma dor indescritível tomava o lugar onde os velhos românticos acreditavam morar o amor, mas onde em mim já existia nada além de cinzas.

–Luke... - minha voz pareceu quebrar como pequenos pedaços de vidro - O que aconteceu com você?

–Não se lembra de todas aquelas nossas conversas? Todas às vezes em que amaldiçoamos os deuses? Nossos pais não fizeram nada por nós. Eles não têm o direito de governar o mundo!

Sacudi a cabeça mais uma vez.

–Liberte Annabeth. Deixe-a ir.

– Se você se juntar a mim - aquilo soava como mais uma promessa; meu medo era que ela fosse vazia - Pode ser como nos velhos tempos. Nós três juntos. Lutando por um mundo melhor. Por favor, Thalia, se você não concordar...

Sua voz falhava.

–É a minha última chance. Ele vai usar outro método se você não concordar. Por favor!

Havia tanto medo em sua voz que cheguei a acreditar que sua vida dependia de mim e apenas de mim e de uma droga de escolha. Eu acreditava sim que ele corria perigo, estava cercado por falsos e hipócritas Titãs. Meus olhos começaram a ficar embasados, úmidos...

–Não, Thalia - era a voz de Zoe; havia pesar em sua voz, arrependimento - Precisamos combatê-los.

Eu não a via.

Luke acenou outra vez e, embora, também não visse, eu sentia o calor do fogo. Havia algo de errado com as chamas; era terrível e impuro... Uma chama de sacrifício.

–Thalia - Percy me chamou com a voz em alerta - Não.

Luke era a única coisa que eu enxergava, mas, atrás dele, uma luz foi mais forte: o caixão de ouro brilhava. Imagens de ruínas negras como pesadelos se refazendo, imagens belíssimas e assombrosas. O lugar era feito de medo e sombras...

–Vamos erguer o Monte Otris bem aqui - a voz dele soou forçada e maléfica; aquele não era mais o meu antigo amor, não aquela voz - Mais uma vez, ele será mais forte e maior que o Olimpo. Olhe, Thalia - ele me indicou o oceano; demorei a realmente olhar - Nós não somos fracos.

Marchando para a montanha se via um grande exército. Monstros dos mais diversos e horrendos, dos meus conhecidos aos desconhecidos, humanos e semideuses... Marchavam em nossa direção. Em questão de minutos teríamos companhia.

–Isso é só uma amostra do que está por vir. Logo nós estaremos prontos para a invasão do Acampamento Meio-Sangue. E, depois, do próprio Olimpo. Tudo o que precisamos é da sua ajuda.

Eu hesitava, algo que causava medo em meus amigos. Olhava apenas para Luke, para aqueles olhos tão cheios de dor e ódio... Agora eu via tudo com uma pequena onda de lágrimas nos olhos... Não acredito que estava me rendendo as lágrimas de novo! E por ele!

Apertei minha lança e ela reluziu em uma eletricidade azulada.

–Você não é o Luke. Eu não o conheço mais.

–Sim, conhece, Thalia - Luke implorava; um cintilar lacrimoso tomou seus olhos - Por favor. Não me faça... - ele parou como se não suportasse dizer o que tinha que ser dito - Não faça com que ele destrua você.

A cada segundo, palavra e olhar de Luke, eu me senti mais pressionada, tentada a abraçá-lo e não soltá-lo nunca mais. Evitar que sofresse pelas mãos de Cronos. O que eu mais queria era acreditar que tudo aquilo era verdade: que os deuses eram completamente injustos, que os Titãs eram certos, acreditar que as promessas de Luke não eram vazias...

Mas acontece que os deuses não eram de todo maus. Havia muitas qualidades em cada divindade e os Titãs nunca seriam certos... "Atena, espero que isso seja o certo porque eu não quero sofrer por nada". Fechei os olhos com força e os abri determinada a fazer da minha vida o certo... Por mais que machucasse.

Olhei para Percy e chegamos à mesma conclusão. Morreríamos lutando lado a lado; todos defendendo nossos valores, defendendo o certo... Ao lado dos amigos.

Juntos atacamos.

Fui direto para Luke. Meu escudo conseguia afastar seus guarda costas deixando meu caminho livre para ele. Luke rosnou e sua espada se chocou contra Aegis formando uma bola de raios entre nós; o ar esquentava conforme a eletricidade amarela estralava no ar... Aquilo era tão familiar...

–Certo - mais uma vez a voz do menino soava pensativa; fiquei quieta observando suas feições, o modo como ele franzia a testa era tão adorável... - Thalia?

–Quê?

–Bom, eu acho que devíamos praticar alguns movimentos? - ergui uma sobrancelha e vi o rubor subir por sua face - Você sabe. Temos que nos defender dos monstros.

Tentei não parecer desapontada como aquilo... Como eu poderia estar desapontada com aquilo? Eu mal o conhecia. Aquela manhã nós havíamos saído da caverna antes mesmo de o sol nascer; a luminosidade era quase zero.

–Você me ataca? - perguntei assim que arrumei a lança e o escudo.

–Não! Quer dizer... - suas bochechas estavam muito rosadas - Eu não conseguiria.

–Bom... Eu sim! - mal falei minha lança já estava em seu pescoço; surpreso e rápido, Luke sacou a espada desviando o golpe. Assim que a espada afastou minha lança para o lado, aproveitei aquela força na arma e a conduzi para o chão... Luke não previu a rasteira e caiu de bunda no chão.

–Nossa! Você não perdoa fácil, não é? - ele se levantou e sua espada veio em direção ao meu escudo que se inflamou em eletricidade. Aquilo foi tão inesperado que caímos os dois no chão: Luke caiu para trás e eu sobre suas pernas. Ainda em choque respondi.

–É; eu nunca perdôo fácil.

Se você nunca presenciou uma briga não conseguirá entender nem a metade do que realmente aconteceu. Brigas entre inimigos são perigosas, mas nunca podem se comparar a uma luta contra um amigo. Selvagem, brutal, não humano.

Minhas lágrimas ainda presas aos olhos não afetavam mais minha visão e a raiva controlava cada golpe meu. Não havia qualquer traço de piedade, qualquer traço que evidenciasse o antigo carinho. Só havia a guerra. Sua espada voltou a se erguer no ar; as duas faces, celestial e humana, se confundindo em um brilho vindo de cima em um golpe que me partiria o crânio... Ergui Aegis forçando-o a colidir com a lâmina... Outra explosão em raios ao nosso redor forçando monstros a ficarem longe.

Demônios. Era assim que parecíamos perante nós mesmos e aos outros. Essa conclusão me custou um pequeno e fino corte no braço... Peguei impulso e saltei em direção a ele; o escudo na frente do meu corpo. Luke não teve tempo de se mover: caiu no chão imobilizado pelo meu escudo e com meu corpo por cima... Não sei como ou por que, mas Aegis se "desativou" deixando meu corpo sobre o dele sem nada que nos separasse... Dois segundos passados em um silencio perturbador; meus olhos vidrados nos dele buscando por ele, qualquer traço por menor que fosse que mostrasse que o meu Luke ainda vivia mesmo que por um fio... Mas não havia nada... NADA!

Soltei a lança, por ela ser completamente inútil em um combate no chão. Minhas unhas foram cravadas no ombro dele e quase não me recordo do seu pequeno grito de dor. Com a outra, desferi um soco em seu rosto. Luke inverteu nossas posições ficando por cima; sua mão áspera apertava meu pulso forçando-o contra o chão rochoso e me acertou um tapa na face. Inconscientemente, subi minha perna pela sua, quase em uma caricia e pude senti-lo arfar... Como um daqueles acrobatas, forcei Luke a dar uma "cambalhota" junto comigo; havia retomado o controle... Ou quase... Sentada em se colo, sobre ele, eu forçava seus ombros para cima e para baixo, fazendo seu tronco e sua cabeça se chocarem de forma quase violenta contra o chão.

Levantei e peguei minha lança mais uma vez; notei que minhas mãos tremiam mais do que o resto do corpo... Estreitei meus lábios tentando conter minha fúria... Sua espada voltou e se chocar contra minha lança: por cima, por baixo, mais raios escapavam... Ativei Aegis e forcei Luke a retroceder. Nem mesmo Luke escapava da aura do meu escudo. Ele recuou grunhindo e, como eu, também tremia.

–Renda-se! Você nunca conseguiu me vencer, Luke.

Como um animal selvagem, raivoso, Luke mostrou os dentes.

–Vamos ver, minha velha amiga.

Meu corpo perdeu a raiva de antes, mas esta foi substituída pelo ódio frio e quase puro. Como ele tinha a ousadia de dizer que eu era dele? Como ainda me tomava por uma amiga quando ele me abandonou e destruiu meu mundo?

Annabeth dormia na calçada de uma padaria sobre o abrigo de uma pequena cobertura de concreto. Eu fazia a primeira ronda, mas Luke não tinha sono. Sentando ao meu lado, seu braço me envolveu os ombros. Descansei a cabeça em seu peito buscando calor em meio à noite chuvosa.

–Sabe, sou muito feliz... Mesmo não tendo muita coisa - ele falou com a voz baixa sendo acompanhada pela melodia de gotas de chuva.

–Nós temos muito, Luke. Temos amor, amizade, carinho, lealdade... O que mais alguém precisa?

Seu sorriso me aqueceu de uma maneira branda, mas maravilhosa. Se inclinando seus lábios encontraram os meus banhados de chuva; o calor e o frio colidiam em nós dois como inúmeras bolas de queimada jogadas sem parar.

–Antes de qualquer coisa - comecei - Somos amigos, não somos?

–Irmãos - ele sorriu - Eu te amo, pequena rebelde.

–Eu te amo, ladrãozinho.

Ele não tinha o direito de me fazer voltar ao passado! Agarrei a lança com mais força e ela sozinha faiscou em raios amarelos e azuis... Luke recuou... Girei a lança cortando-lhe o peito de ombro a ombro. A ferida começou a se tingir de vermelho escuro e as lágrimas voltaram aos meus olhos. Ele estava pálido e o suor escorria brilhando por seu rosto... Sua espada veio a mim mais uma vez... Cada movimento mais agressivo, mais desesperado... Não percebi que estávamos próximos ao caixão dourado ou que estávamos próximos... Ele investiu. Atingi o escudo em seu rosto. Aturdido, Luke perdeu a espada que voou de suas mãos e retiniu nas pedras. Encostei a ponta da lança em sua garganta... Foi quando notei o precipício...

Não havia qualquer som alem das nossas respirações aceleradas. A luta já devia ter terminado... Não me importou que alguém assistisse, não me importei com mais nada.

–Então? - sua voz tinha o leve soar do medo. Meu corpo tremia em fúria. "Vamos Thalia! É só um corte na garganta dele e essa guerra está praticamente ganha!"

–Não o mate! - a voz esganiçada e temerosa de Annabeth parecia distante e inocente demais para aquele momento.

–Ele é um traidor - não desviei meus olhos do loiro - Um traidor! - traiu os deuses, a família, os amigos, a mim... Traiu a mim!

–Vamos levar Luke de volta - o pedido da menina parecia ser quase choramingado - Para o Olimpo. Ele... Ele será útil.

"Isso é perfeito! Não o mate, ainda pode haver algum resquício do antigo Luke..."

"Não existe mais nada dele!"

"Insista! Quíron acha que ainda há uma chance para ele."

"NÃO HÁ! ELE ESTÁ MORTO! ISSO É SÓ UMA CASCA VAZIA..."

–É isso o que você quer, Thalia? - ele debochou - Voltar para o Olimpo em triunfo? Agradar a seu pai?

Hesitei... Luke pareceu ainda mais pálido e o corte em seu peito mais vermelho... Ele tentou agarrar a minha lança... E eu não pensei!

–Não! - o grito de Annabeth foi o que me fez entender o que realmente fiz. Era tarde demais para ouvi-lo. Com raiva chutei Luke em seu peito, bem sobre seu corte, e com o rosto preenchido pelo terror, perdeu o equilíbrio e caiu penhasco abaixo.

15 metros abaixo o exército parou olhando para o corpo imóvel perplexos. Ele estava imóvel! Eu quase não podia diferenciá-lo das rochas... Minhas defesas desmoronaram completamente: lágrimas grandes e pesadas rolavam por meu rosto e nem o vento frio e cortante que levantou meus cabelos conseguiu tira-las do meu rosto. O nó em minha garganta pareceu se expandir não deixando nem mesmo uma pequena molécula de oxigênio passar para os meus pulmões. Eu queria me jogar penhasco abaixo e esquecer que voltara à vida. Eu queria... Eu só... Só queria que meu corpo descansasse eternamente junto com o dele... Porque, querendo ou não, meu coração batia muito lentamente já sem vontade de viver, meus pulmões não tinham ar e eu já não era importante.

Não importava os deuses, não importava mortais, não importava monstros... Não havia nada que pudesse me fazer sentir viva... Não ali... Não agora... "é só pular... pule e o terá de volta" Entreabri os lábios secos tentando puxar o ar para dentro de mim... "Você sabe que deve pular... Merece cair eternamente... Alivie essa culpa... É só pular..."


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Notas finais do capítulo

Muito... Muito drama... Coments???