Capítulo 3

–O que foi que você acabou de me dizer, Crowley? Perguntou Will incrédulo.

–Você entendeu da primeira vez. O rei quer que você faça isso. - disse Crowley sem entusiasmo.

–Vamos ver se eu entendi bem: você quer que eu - Crowley interrompeu. -O rei. -Tanto faz! O rei quer que eu vá em uma missão fora de Araluen, sem saber o dia, ou até mesmo o mês que eu irei voltar, e deixar Halt morrendo? Sendo que só eu conheço o único curandeiro que pode salvá-lo? É isso mesmo?

Crowley estendeu as mãos em forma de desculpas. -Você é a pessoa certa para essa missão, Will.

–E eu também sou a pessoa certa para carregar a morte de um homem que foi meu pai durante todos esses anos? Fala! Gritou Will com a voz embargada.

Ele não iria fazer um capricho, mesmo que seja um capricho do rei, e deixar Halt morrer.

Crowley se levantou da cadeira de lona que estava sentado e se dirigiu a Will como se estivesse falando com uma criança. -Will, entenda. Essa missão precisa de você, ela seria dada a Halt, mas... Bem, você sabe... Você foi seu aprendiz Will, e agora é você que Duncan escolheu.

Will entendeu o que o homem mais velho tinha falado, mas mesmo assim balançou a cabeça.

–Crowley, não. Infelizmente eu não sou assim. . . eu não consigo! não me peça o impossível!

Crowley estudou o homem mais novo que estava em sua frente. Esse tem coragem e é leal aos amigos, pensou.   Mas tem de ser feito. Tem de ser feito por ele!

Antes que Crowley continuasse, Will retomou sua fala agora mais calmo.

–Crowley, eu creci sem pai e sem mãe. Eu passei 15 anos da minha vida sem saber nem os seus nomes. Eu nunca soube de onde  vim, eu não sabia a minha história. Várias vezes tive de contar uma história que eu mesmo criei, porque os outros meninos ficavam sempre me perseguindo. Depois de todos esses anos eu encontrei Halt, e encontrei a felicidade. Foi ele, Crowley, foi ele quem me ensinou tudo que sei, foi ele quem me contou sobre o meu pai e minha mãe, ele que não deixou morrer congelado na Scandinávia. Ele que cuidou de mim, e que passou a ser meu pai. Agora eu te peço: pelo amor de todos os benditos Deuses, não me faça deixá-lo. Você tem mais 48 arqueiros!

A memória de Crowley voltou ao dia que Halt estava parado bem onde Will estava, e fazendo a mesma súplica. Mas também voltou ao dia que teve de pegar a folha de carvalho de prata de Halt.

–Me perdoe, mas eu não posso. Esse é o seu dever, é a sua obrigação!

A raiva que Will estava tentando segurar saiu para fora igual a uma erupção.

–Se você, que ele considera o melhor amigo não está preocupado com ele, eu estou! Eu vou salvá-lo, você e Duncan querendo ou não! Vocês gostando ou não! Dê essa missão a Gilan, ele é a pessoa certa. Ele também foi treinado por Halt, além de ser mais velho. Dê um jeito! E virou as costas para Crowley.

–Você está querendo que aconteça o mesmo que aconteceu a Halt quando ele foi atrás de você na Escandinávia? - perguntou o arqueiro mais velho.

Will parou na porta da tenda e se virou para encarar Crowley. O comandante percebeu que tinha ganhado auguns pontos e continuou. -Você quer perder isso que você carrega no pescoço? Quer ser espulso do Corpo de Arqueiros?

Will estava pálido.  _Como assim? Halt foi... 

Crowley terminou para ele. -Espulso? Foi. E é o que acontecerá com você se não desistir dessa idéia.

Will não sabia dessa história, mas teria tempo para pensar nela mais tarde.

–Você está dizendo que se eu passar para o lado de fora dessa tenda, para salvar a vida do arqueiro mais experiente desse corpo, eu seria espulso?

Crowley olhou para ele sem deixar a angústia aparecer em seus olhos. _Sim... Será.

Essa única palavra fez Will jogar para o espaço os planos de continuar sendo um arqueiro. Se Halt, o famoso Halt, tinha feito a mesma coisa para salvar Will, que na época era só um mero aprendiz, porquê Will não o iria fazer também? Afinal, a pessoa em questão era Halt.

Com uma decisão já feita, Will procurou dentro da Gola da capa, e retirou a tão esperada e tão amada Folha de Carvalho de Prata. Com o objeto ainda quente do contato da pele com o metal, Will atravessou a sala de cabeça erguida e depositou o símbulo na mesa de Crowley e disse:  _Mais alguma formalidade ou eu posso ir-me?

Crowley olhou incrédulo para o jovem arqueiro e depois para o objeto em sua mesa. -Você tem certeza? perguntou o comandante. -Pode ser que você não tenha outra chance como Halt.

Will ficou sem expressão. _Mais do que certeza.

Crowley agora estava vendo uma forte determinação nos olhos do rapaz, e, ele sabia que isso era vital nos arqueiros.