POV. Amy

Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino.

–Marguerite Yourcenar

Antes que eu pudesse simplesmente fechar os olhos, algo frio se chocou contra mim, não com toda intensidade que eu imaginava, quando me encolhi fechei os olhos e cerrei os lábios prometendo não gritar ao ver a morte eminente brincar comigo.

Agachei-me levemente por instinto de proteção, mas então senti um abraço apertado, não abri os olhos, a pessoa que estava aninhada comigo rapidamente me abaixo, senti meus joelhos encostando-se ao asfalto, respirei fundo, e senti um cheiro conhecido, meu corpo tenso, automaticamente relaxou. Minhas costas apoiadas na porta do me carro.

– Amy? –Edward perguntou preocupado, eu não conseguia responder, não consegui abrir os olhos, as mãos de Edward deixaram minha cintura e subiram para meus cotovelos, afastando se corpo (antes grudado no meu) para poder me analisar, eu abri os olhos e não pude conter a enxurrada de lagrimas que deixaram meus olhos e o soluço de agonia que irrompeu pelo meu peito. Edward me abraçou novamente.

–Está tudo bem! Você está bem Amy! – ele praticamente cantarolou quando percebeu que eu não conseguia me controlar.

Aos poucos a cena foi tomando mais nitidez, eu ouvia os múrmuros desesperados dos alunos e professores, vi as lideres de torcida em volta do carro de Lola, ela estava desmaiada e pálida, vi Angel desesperada gritando para me ajudarem, mas algo não passou despercebido por mim, os ombros dele amassaram a porta do carro de Lola, um ser humano normal certamente seria mandado para uma cadeira de rodas se tivesse feito isso... Ser humano normal... Essas palavras ecoaram na minha mente, eu engoli seco.

Os professores não podiam afastar o carro de Lola, pois não podiam meche-la por estar desmaiada, eu continuei agarrada a Edward como se minha vida dependesse disso, não conseguia cessar as lagrimas e os soluços eu tentava controlas respirando fundo contra o peito de Edward.

–Amy você está bem? –Edward perguntou em voz baixa. Percebi que meu corpo todo oscilava, ouvi ao longe a voz de Angel em desespero, minha visão escureceu aos poucos e meu corpo amoleceu e a ultima coisa que escutei foi Edward chamando meu nome em agonia.

...

Quando abri os olhos uma luz forte cegou-me, coloquei a mão na frente dela, eu estava um pouco tonta, levantei o tronco, e percebi que estava numa ala do hospital, deitada em uma maca, ao meu lado estava Lola, ela tinha uma maçã e suas mãos e um olhar de arrependimento.

–Amy? –Ouvi uma voz bonita me chamar, olhei para frente e era Carlisle Cullen.

–Doutor Cullen! –eu disse tentando ser educada, ele sorriu para mim.

–Como se sente? – Carlisle era exatamente como eu sempre imaginei que deveriam ser os médicos, bonitos e cordiais.

–Estou bem... Um pouco tonta. – Eu disse e os acontecimentos me inundaram e eu o olhei para ele alarmada. –Onde está Edward?

–Aqui! –ele disse levantando a mão, e se desencostando da parede. –Devo admitir que você me assustou bastante quando desmaiou do nada.

–Eu não sei o que deu em mim. –Eu disse sem saber explicar, ele me olhava penetrantemente, desviei o olhar para Lola.

–Como você está? –tentei ser educada, ao contrario do que eu pensei que ela fosse fazer (me esnobar e me culpar), ela me olhou preocupada e envergonhada.

–Eu estou bem, Amy, me perdoe, eu juro que... –Ela começou a se desculpar, mas eu apenas fechei os olhos e sussurrei um “eu sei”.

–Amy. Tomei a liberdade de fazer alguns exames enquanto você estava desmaiada, está tudo bem com você, o desmaio não passou de um susto. Foi muita sorte Edward estar do seu lado, na hora do acidente. – Carlisle disse e Edward ergueu uma sobrancelha.

–Eu não me lembro de... – Mas parei minha frase quando Edward olhou-me suplicante.

–Estou liberada?- perguntei a Carlisle que olhava concentrado para alguns papeis.

–Sim, sua mãe está lá fora! Na verdade metade da escola está! –Carlisle ergueu uma sobrancelha pra mim esperando uma resposta, Edward bufou cruzando os braços.

–Idiotas, não se importam nem um pouquinho comigo... –eu murmurei, andei até Edward.

–Podemos conversar? –perguntei, ele suspirou e andou até o corredor.

–O que você quer? –ele perguntou, por um segundo eu não estava mais em New Ville, fiquei alguns segundos sem entender, mas deixei a “lembrança” de lado.

–Edward, eu não sou estupida, eu vi você perto da sua família! Longe do meu carro, não tinha como você chegar lá rápido o suficiente! E sem falar em como você parou o carro! Por Deus você parou o carro com as costas. –Eu disse, enquanto soltava as palavras percebia o quão idiota elas pareciam.

–Eu sinto... Como se já tivesse falado isso com você Edward! Eu estou enlouquecendo! –eu disse meio sufocada. Edward deu um passo para trás e não me olhou nos olhos.

–Talvez você esteja. –ele disse friamente, fazendo meu coração bater forte, a dor que eu senti com aquelas palavras ameaçava me esmagar. –Talvez seja melhor que não sejamos amigos... –ele disse e se virou.

–Talvez eu esteja... –murmurei as palavras baixo demais, mas ele parecia ter escutado, virou sua cabeça para olhar-me, eu encarava o chão apoiada no corrimão do corredor.

Contrariando todas as reações possíveis, ele voltou e me abraçou, eu não me mexi, estava tão perdida em memorias que não eram minhas, em pensamentos que eu não tive, que não consegui me mover.

–Eu não queria que fosse assim! Mas e melhor assim! –ele disse saindo de vez.

Eu andei devagar até a sala de espera onde minha mãe andava de um lado para a outra preocupada, quase explodindo, quando me viu suspirou e correu para me abraçar. Eu retribui ainda em choque. Quando vi Angel e Seth, apenas fiz o sinal para que ela me ligasse depois, ela assentiu e acenou para mim, Seth me desejou melhoras, quase não vi o resto das pessoas que estavam lá, todos me odiavam ou ignoravam, deviam estar lá por Lola.

Entrei no carro procurando maneiras de simplesmente não me entregar a loucura.