A Fúria De Hades escrita por Andressa Picciano, Milena Buril


Capítulo 3
O filho do deus da morte me consola




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A primeira coisa que vi quando acordei foram seus intensos olhos pretos me encarando de forma sinistra. Ele estava tão perto que foi difícil não gritar quando abri os olhos, mas consegui me conter.

Olhei em volta e reconheci o lugar. De alguma forma aquele garoto conseguiu derrotar aquele monstro e me levar de volta ao meu quarto. Não que eu não quisesse estar ali, mas achava que minha mãe poderia entrar pela porta a qualquer instante e começar a dizer coisas estranhas, de como estava o tempo lá fora ou se queixando dos governadores. Mas isso felizmente não aconteceu.

Ele se afastou rapidamente e me ofereceu uma bebida quente que tinha gosto de leite com chocolate, o mesmo que eu tomava todas as manhãs desde que começara a ir à escola (com mais chocolate que a maioria das pessoas conseguiria aguentar de uma só vez). Como ele sabia que eu gostava daquilo eu não tinha a mínima ideia. Mas quando um menino lindo salva sua vida e ainda cuida de você, é impossível perguntar algo idiota como aquilo.

– Néctar dos deuses – disse ele como se lesse meus pensamentos. – O gosto se torna aquilo que você quer beber.

– Néctar dos deuses? – perguntei confusa, quase cuspindo na cara dele. – hã?

– Você tem muito a aprender ainda, apenas beba um pouco e coma isso – disse ele me entregando um pouco de uma comida estranha. – Ambrosia. Irá cuidar de seus ferimentos, assim como o néctar. É seguro a menos que se consuma demais, o que poderia incinerá-la.

– O.k. – consegui dizer enquanto colocava cuidadosamente a bebida de lado, como se fosse uma bomba. Então comi um pouco da Ambrosia. – Só espero não queimar.

Ele reprimiu um sorriso e pude ver que ele era realmente lindo! Seus cabelos pretos eram despenteados, o que ficava perfeito com seu jeans escuro e a jaqueta de couro que ele vestia. Sua pele era branca (até demais) e seus olhos pretos eram penetrantes, como se conseguisse ler minha alma com um olhar, mas também como se carregasse uma pesada carga de tristeza e solidão. Senti-me atraída e ao mesmo tempo culpada por estar ali o observando.

Pude sentir que meu corpo já não doía mais tanto, então parei imediatamente de comer a Ambrosia, afinal incinerar na frente dele não estava na minha lista de “Coisas a fazer”.

– O que aconteceu lá no beco? – eu disse enquanto sentava na minha cama. – O que era aquilo?

– Bem, aquilo era um Manticore...

– Matire o quê?

– Manticore – ele disse pausadamente, quase que sorrindo. – Digamos que aquele cara tem uma cauda de escorpião, patas de, hã – ele parou para pensar. – bode, e corpo de leão. Sem falar de suas asas. Bem, nem um pouco amigável, pode-se dizer.

– O.k. – continuei. - Mas e aquelas, coisas, eram mortos, zumbis, fantasmas, o que? Da onde você surgiu?

– Era um exército de mortos, bem, fantasmas, mas pode chamá-los de zumbis também. Eles servem a mim, longa história – ele disse orgulhoso. – Eu surgi do Submundo, com uma viagem nas sombras e uma pequena invocação, chamei os fantasmas para matar o Manticore.

– Pera pera pera – eu disse em um tom quase que desesperado. – Aquelas coisas servem a você? Submundo? Viagem nas sombras? Invocação? Tipo, dá pra você falar a minha língua por favor?

Ele respirou fundo para começar e falar.

– Meu pai é Hades, o deus do Submundo, Senhor dos Mortos. Então eu posso invocar exércitos de fantasmas para que lutem comigo, ou por mim. Também posso viajar pelas sombras, que seria... hum, como chamar isso? Quase que teletransporte, eu acho, só que bem diferente. O Submundo é o lugar para onde todos vão quando morrem, e lá, bem, pertence ao meu pai.

– O.k. Acho que estou entendendo – disse tentando processar todas aquelas informações. – O policial, Manticore, me chamou de... como é mesmo?

– Meio-sangue? – indagou Nico. – Semideus?

– Isso! Mas... o que isso significa?

– Significa, que você tem sangue divino, ou seja, é metade mortal, metade deus.

Aquilo conseguiu me assustar mais do que aquele leão-bode-escorpião, ou seja lá o que fosse. Metade deus? Como ele podia ousar brincar com algo como aquilo? Mas o que mais me amedrontava, e que eu sabia que ele não estava brincando, que ele não poderia estar falando mais sério do que naquele momento. Era verdade, eu percebia isso, mas não era capar de acreditar.

– Não! Quer dizer, não pode ser. Meus pais.. Nico, você não compreende – meus olhos se encheram de lágrimas quando pensei em meus pais. Eu estava tremendo, mas tinha de ser forte. Eu havia sido uma inútil até aquele momento, não podia falhar novamente. Olhei fixamente para ele e falei. – Meu pai era muito bom, eu me lembro bem dele. Um homem forte, feliz e protetor, era um pai perfeito mesmo sendo duro e carrancudo às vezes. Ele... ele morreu alguns anos atrás em um acidente de carro, saiu de casa e nunca mais voltou. – minha voz tremia, mas eu não queria acreditar que podia ser verdade o que Nico dissera. – Eu me lembro de seu enterro e como minha mãe ficou abalada com a perda. Nico... ela enlouqueceu, não diz coisa com coisa desde então e espera que meu pai volte, como se sua mente tenha deletado o fato de ele estar morto. Mas se isso for uma brincadeira divina – prossegui. – eu NÃO QUERO fazer parte dela.

A chuva caia lá fora, tornando tudo cinza e triste. Não sei por que, mas parece que trazer todas aquelas memórias de volta parecia ter deixado o quarto mais sombrio e frio.

Nico olhou em meus olhos, o que não havia feito em todo o tempo que eu falava. Percebi uma lágrima correndo seu rosto, mas logo ele a secou. Eu via que tudo o que eu dissera havia atingido ele de alguma forma. Sabia que ele me entendia. Nesse momento eu não reprimia mais meus sentimentos e percebi que estava chorando muito. Ele pegou a minha mão e eu senti sua pele fria como gelo tocar a minha. Ele me abraçou e eu chorei como se o mundo estivesse acabando.

Tudo parecia um sonho, mas eu não queria acordar. Ele parecia tão real que tive medo de que fosse uma ilusão, e que, como tudo o que acontecia de bom comigo, ele também desaparecesse.



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