POV’ Sophie

Acordei no meio da madrugada com um chacoalhão. Tony estava ao lado de minha cama enrolado em um cobertor.

- Sosô... eu tive um pesadelo...

- Vem cá – eu disse enquanto levantava o edredom.

Ele se ajeitou e olhou para mim com uma cara um pouco triste.

- Eu sonhei que a gente tinha ido no zoológico, aí, eu me perdi de todo mundo. E fiquei sozinho para sempre.

- Mas já passou, tá? Você tá aqui comigo. Tudo bem – eu disse enquanto acariciava seus cabelos loiros espetados.

- O que você quer de aniversário?

- Nada. Você já é um presentinho pra mim.

- Eu tô falando sério. Você tem que querer alguma coisa. É a lógica!

- Hum... – eu fingi pensar um pouco. - Me surpreenda rei da lógica.

- O.k. Você nunca vai adivinhar o quê eu vou te dar.

- Vamos dormir agora o.k? eu tenho aula amanhã cedo e estou com sono.

…

No outro dia, eu fiz minha rotina normal e fiquei esperando Josh no jardim. Ele chegou com sorriso grande, bem grande.

- E aí – eu disse enquanto me ajeitava no banco e colocava minha mochila no banco de trás. - Qual o motivo da alegria matinal?

- Você já foi raptada? – ele dirigia com o mesmo sorriso maníaco.

- Não... – meu amigo estava definitivamente maluco.

- Agora você vai ser.

- Hã... Josh, tá tudo bem com você? Vamos pra um hospício o.k?

- É sério. Estou de raptando.

- Então tá bom... – eu dei de ombros. Sabia que ele estava brincando.

Fomos indo cada vez mais longe da cidade. O medo chegou, de verdade.

- Josh... vamos voltar. É sério. Temos aula e estamos muito atrasados.

- Hoje é dia de conselho. Não tem aula. Minha mãe recebeu o e-mail.

- Posso saber onde o senhor pensa que está me levando?

- Vamos acampar.

- Acampar?

- É. Sem mais perguntas.

Chegamos em um parque deserto, bem distante do centro da cidade. Subimos um tipo de colina e chegamos em uma parte de terreno “lisa”. Ele abriu a porta para mim (cavalheiro, não?) e depois tirou algumas coisas do porta-malas: uma barraca, sacos de dormir, sacos de marshmallows, um isopor – aqueles que se usam em churrasco, para colocar bebidas – que parecia bem cheio e pesado, saquinhos de batatas e duas mochilas.

- Eu só tenho uma barraca, não tem problema? – ele disse enquanto colocava as coisas no chão.

- Esse não é o problema, a única coisa que você se esqueceu foi que eu tenho uma casa, e uma mãe para dar explicações – eu disse quase gritando.

- Calma! Não precisa ficar brava. Eu avisei o seu irmão e ele deixou.

- Hum... – aquilo estava muito estranho.

Ele montou a barraca e arrumou as coisas para dormirmos.

- Não acha que está muito cedo para dormir? Tipo, ainda são 8:30 da manhã...

- Quem disse que vamos dormir agora? – ele disse se aproximando.

Resumindo o ocorrido: ele se aproximou e eu corri, com isso, a pessoa com ótima coordenação motora aqui ~lê eu apontando para mim mesma~ tropeçou no próprio pé e acabou caindo, Josh me segurou em seu colo e foi me levando para longe da colina. Chegamos em um lago com muitas flores de todas as cores imaginadas. Logo a minha ficha caiu sobre o quê ele estaria tramando.

- Nem pense nisso Josh! Pode me colocar no chão!

- Vamos tomar um banho. Não faz mal nenhum.

- Josh, eu estou falando sério. Eu não trouxe troca de roupa. Eu vou ficar resfriada!

- Sabe aquela mochila laranja? O Mike separou umas roupas pra você – nesse momento, já estávamos no lago, a água na altura dos joelhos. Ele voltou e eu pensei que ele tinha desistido, mas ele só tirou meus coturnos e minhas meias e – com muita dificuldade – tirou a camiseta dele.

Sabe o quê ele fez depois? Ele voltou para a água e me jogou. Ele me jogou na água – que estava bem gelada, por sinal – e ficou rindo da minha cara de afogada. A é?, eu pensei, vai ter volta... Eu fiquei atrás dele e o empurrei com toda a força. Ele caiu d frente no chão, e com isso, uma guerrinha de água se formou.

Depois nós nos cansamos e ficamos deitados na grama, em meio às flores, pensando e conversando sobre tudo. Como o sol estava bem alto e o céu sem nenhuma nuvem, nossas roupas secaram rápido.

- Eu tô com fome – ele disse se sentando.

- Eu também.

- Vamos almoçar! – ele disse esfregando as mãos.

Ele tirou de dentro do isopor duas latas de Coca-Cola e dois saquinhos de Doritos e pegou os molhos. Ele tinha realmente pensado em tudo. Depois de acabar com a “comida” ele lançou aqueles olhos verdes acinzentados para mim.

- Sabe pra quê isso tudo, pequena?

- Não faço a mínima idéia...

- Eu tinha que te desejar feliz aniversário de um jeitinho especial, só mais uma coisa... – ele foi até o isopor e pegou dois sanduíches de sorvete, entregando um para mim. - Eu sei que faltam quatro dias, mas eu não podia esperar mais tempo.

- Você é de mais, sabia? – eu disse enquanto o abraçava.

- Você é a primeira pessoa que me disse isso. Obrigado – ele retribuiu o abraço. - Vamos caminhar um pouco enquanto comemos os nossos “sanduíches”?

- Claro.

Nos levantamos e andamos para o meio da floresta. Eu tinha colocado meus coturnos, mas ele continuava sem a camiseta. Suas costas eram largas e seu tórax definido. Os anos de natação foram muito bons com ele, eu pensei. Qual é o meu problema? Ficar pensando essas coisas do meu amigo? WTF?

As coisas estavam mudando na minha cabeça, inclusive os meus sentimentos sobre o meu melhor amigo.