POV’ Sophie

Josh me deixou na frente de casa, e eu tinha dado um beijo na bochecha dele antes de sair (acabar com a força do hábito é tenso...). Eu tinha ficado lá, na calçada, observando o carro dele ir embora. Fiquei lá até o carro sair da minha vista.

Entrei em casa e soltei um suspiro,um suspiro bem triste. Tinha como as coisas ficarem piores? Minha melhor amiga iria se mudar, o dia dos namorados seria em menos de duas semanas e eu não conseguia mais ser a mesma com o Josh. Qual é o meu problema, você me pergunta. Aí eu te respondo: não sei.

Também tinha aqueles garotos que ficavam no meu pé. Aí você pensa: nossa! Como ela é recalcada! Um monte de garotos caindo aos pés dela e ela se fazendo de difícil! Eu não sou recalcada, tá legal? O problema é: esses garotos que pedem meu telefone e tals são uns idiotas. Esses idiotas pedem pra sair comigo, mas eles se esqueceram que me humilhavam quando eu era menor. Por esses motivos que eu não aceito sair com eles. Entenderam, pessoas recalcadas que pensavam que eu era recalcada?

Comi um sanduíche e tomei um copo de leite com chocolate.

Subi para o meu quarto e peguei meu diário no fundo falso do meu armário. Sim, eu tomo muito cuidado com o propósito de esconder meu diário. Da última vez que eu deixei em cima da cama, meu irmão leu uma página. A página que falava sobre Josh. Desde aquele dia, meu irmão tem uma certa... como posso dizer? Uma certa neura do meu melhor amigo. Eu meio que escrevi que ele era doidinho das idéias, um pouco retardado, e meu irmão levou a sério.

Meu irmão, Mike Parks. 17 anos; protetor; carinhoso; chato (isso não podia faltar na lista!); tem uma namorada legalzinha, eu só tenho que ignorar o fato de meu irmão ficar beijando ela incessantemente no sofá enquanto eu tento assistir The Big Bang Theory, 2 Broke Girls ou Friends – perceberam que eu gosto da Warner, né? – (uma coisa meio impossível é ignorar, pois não dá para tentar fingir que não estou ouvindo os estalos da boca deles); e outras cositas más.

Pausa da autora: galera, essa parte é meio deprimente. Estava ouvindo Who you are, então...

Continuando sobre o meu diário. Comecei a ler as primeiras páginas quando me deparei com o nosso contrato. É, eu Josh e Brooke tínhamos feito um contrato de amizade quando tínhamos doze anos. Era assim:

Após assinar esse documento, o indivíduo tem o direito de ser considerado melhor amigo de alguém.

Poderá contar segredos, se o outro jurar lealdade eterna; zoar da cara do outro sem limites e poderá encher o saco do outro pelo resto da vida; dar conselhos diversos e etc.

X Brooke Simons X Sophie Parks X Josh Mark

Ele estava colado na folha e bem embaixo estava escrito como Brooke era divertida e carinhosa, e como Josh era engraçado e protetor. Foi aí que eu comecei a perceber como as coisas seriam difíceis sem a Brooke comigo. Eu não poderia contar como os meninos eram idiotas para Josh. Ele nunca iria entender.

E agora?

Sua mãe, bobona, minha consciência disse. - Minha mãe – repeti.

Ela nunca me deu a devida atenção. Dês do dia que meu pai morreu e ela se casou com o Walter, fui deixada em segundo plano. Depois nasceu Tony, e tudo piorou. Nunca trocávamos mais de cinco palavras em um dia, sempre um “bom dia” e “boa noite”, raramente um “como foi a aula?”. A atenção da minha mãe estava voltada totalmente para a criança.

Tony nasceu poucas semanas depois de mudarmos de cidade. Por essa razão foi tão fácil confiar inteiramente nos meus melhores amigos. Mas foi difícil mudar meu jeitinho desengonçado. Meu irmão me ajudou pra caramba, acho que devo tudo a ele, me acolhendo quando me sentia só e me divertindo quando estava triste. Aham, eu era uma crianças com problemas.

O.K, a parte deprimente acabou. \o/

Uma lágrima rolou do meu rosto e eu resolvi parar com a nostalgia. Fui até meu computador ver se tinha chegado algum e-mail.

Um e-mail da escola estava lá. A minha escola é tão estranha que ao invés de mandar bilhetes pelos alunos para os pais, eles mandam e-mails. Como minha mãe não sabe mexer no computador e Walter não liga nada para a minha vida, eles vinham para mim.

Abri esperando alguma coisa sobre reunião ou palestra, mas era sobre a excursão. Aleluia! Tínhamos três excursões por ano, sendo duas pedagógicas. E essa não era pra algum museu ou o planetário. Era pra uma visita em uma MATA. Tipo, aquele lugar cheio de bichinhos que querem te almoçar, pernilongos querendo almoçar seu sangue e você morrendo de fome querendo almoçar.

Custava 200 dólares! Incluindo ônibus fretado, hospedagem, café da manhã, almoço e jantar. O prazo de pagamento era até o dia seguinte. O e-mail tinha sido mandado havia uma semana e eu não tinha visto. Eu não tinha tanto dinheiro. Minha mãe não ia pagar pra mim, muito menos Walter. Eu ia fazer a coisa que eu mais odiava em toda minha vida.

Minutos depois eu estava batendo na porta do quarto do meu irmão. Ouvi a voz da namorada dele lá de dentro, ele cochichando alguma coisa pra ela – alguma coisa do tipo: “Shh! Não vamos falar nada para ela, o.k?” –, um barulho de alguma coisa estar sendo arrumada e poucos segundo depois a porta estava sendo destrancada. Meu irmão estava mais radiante que o sol naquele momento.

– Por que vocês estavam trancados? – eu disse olhando pra dentro e vendo ela sentada no chão, em frente ao vídeo-game do Mike. Ela acenou pra mim e eu acenei de volta.

– Por que não queríamos ser incomodados. Quer alguma coisa? – tá bom que eu ia acreditar que eles estavam apenas jogando vídeo-game, trancados em um quarto, sabendo que a casa estava vazia. Entendo...

– Bem, eu queria que você me emprestasse dinheiro – ele arqueou as sobrancelhas.

– Quanto dinheiro?

– Uns oitenta dólares.

– Eu posso saber o por quê?

– Vai ter uma excursão mês que vem e é o quê falta pra terminar de pagar. Você tem ou não?

– Tenho.

– E vai me emprestar?

– Só se você fazer um favorzinho.

– O que você quer agora?

– Você vai ter que levar eu e a Mary no fliperama com seu amiguinho problemático.

– Mas é uma coisa íntima, entre amigos! E o Josh não tem problemas mentais! Quantas vezes eu vou ter que repetir?

– Então nada feito! – ele disse com uma voz enjoada.

– Não acredito que eu vou dizer isso: tá, tudo bem, eu levo vocês.

– Pode ser no sábado?

– O.k. Mas eu quero o dinheiro agora.

Ele entrou no quarto e pegou a carteira em cima da escrivaninha. Logo os oitenta dólares estavam na minha mão. Ele fechou a porta na minha cara e cochichou alguma coisa que eu não entendi para a namorada de novo. Eu dei um chute na porta.

– Não aprontem muito, hein?! – eu disse com voz sarcástica.

Ouvi risadas lá de dentro.

…

– Você vai na excursão? – eu disse animada.

– Vou – ele disse um pouco distraído.

– Já pagou?

– Faz dias que eu paguei.

– E você não me avisou?

– Eu achei que você não iria, por que...

Ele parou de falar e eu ouvi uma voz de garota.

– Tem alguém aí com você?

– A Ally ta aqui comigo.

– Ally?

– É... bem, nós estamos estudando pra prova de física.

– Hum, legal. Só liguei pra saber se você iria. Vou desligar, o.k?

– Até amanhã.

– Desculpa incomodar. Beijo.

– Hã... tchau.

Josh desligou. Simplesmente desligou sem me mandar um beijo. Ele estava estranho e diferente comigo.

Tomei um banho quente e fui dormir. Toda aquela nostalgia me deixou cansada.

O meu sonho foi somente flashes da minha vida: eu brincado com Mike, no carro em direção à nossa nova cidade, eu chorando por causa das garotas e Josh brigando com elas, o beijo na bochecha que Josh me deu, eu brincando de bonecas com Brooke, o rosto da minha mãe e do meu irmão e por fim meu pai dizendo: está vendo minha pequena? Apesar das dificuldades, olha a vida boa que você tem. Mas fique sabendo que eu te amei, e sua mãe te ama muito também.