Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 9
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Quando chegaram à sede da Irmandade, o grupo desceu, respirando aliviado. Enfrentar os X-Men era sempre exaustivo para todas as partes. Ao cruzarem a soleira da porta, Magneto os esperava de braços cruzados e de olho no relógio. A gargantilha de Julia deu novamente rodopios na direção da figura expressiva de Magneto. Pensou na facilidade que ele teria em enforcá-la, caso quisesse.

- Conseguiram? – Falou ele, o tom ameaçador implícito na fala. No corredor à esquerda, Mística aparecia.

- Claro, senhor. – Reverenciou Amandha.

- Ótimo. Vocês três venham comigo. Precisamos discutir o nosso próximo passo. – Disse Magneto, referindo-se a Amandha, Pietro e Johann.

Mística, impaciente, os seguiu pelo corredor de onde viera, ansiando para saber do plano e resignada por Magneto tê-la aparentemente excluído. Julia achara então a oportunidade perfeita.

Depois da convivência com a Irmandade, sentia-se mais segura a manipulá-los. Podia sentir que as mentes deles estavam relativamente próximas e amainou o clima delas, proporcionando relaxamento e paz. Isso, de algum modo, deveria ajudá-la a procurar pelas Joias com calma. Surpreendentemente, o poder de Julia parecia atingir Magneto, que possuía um capacete de proteção a poderes psiônicos. Talvez isso se desse porque tinha a ver com contatos visuais, e não diretamente mentais.

Julia subiu escada acima e foi até a Sala de Treinamento. Observou a sala com cuidado. Não era muito diferente da sala que ela treinava no Instituto. A sala era quadrada e as paredes artificialmente cinzas com detalhes prateados. Ao fundo, encontrava-se uma câmara de vidro, como um domo. Em uma das paredes, os aparatos tecnológicos se destacavam, com botões coloridos e painéis diversos. Ela encaminhou-se até uma parede vazia e observou o símbolo da irmandade bem no centro. Várias linhas entrecruzando uma chama.

Ela observou hipnotizada aquele símbolo, almejando tocá-lo. Em alguma parte de si, Julia tinha consciência que o grupo lá embaixo poderia subir e fulminá-la por procurar coisas que não lhe diziam respeito. Mas continuou.

E tocou-o.

E, nesse exato instante, o símbolo pareceu dilatar-se, dividindo-se em duas partes, e revelando no meio um cofre. Não mais do que algumas ranhuras na parede que indicavam que havia algo atrás dela.

Então, uma voz ecoou na mente de Julia: “Diga. O nome verdadeiro e o nome do amigo. Melhor amigo.”.

Julia sufocou um grito na garganta e tocou o símbolo novamente, disposta a fechá-lo. A voz ecoava incessantemente em sua cabeça e nenhum poder psíquico fazia com que ela parasse.

Quando o símbolo se uniu novamente, ocultando a ranhura na parede, Julia percebeu aliviada que a voz se fora. Era a voz de Magneto. E ela percebeu também que, se queria chegar àquele cofre, a voz em sua cabeça exigia uma senha.

Ela desceu as escadas e sentou-se no chão da sala de estar, respirando fundo. Precisava marcar um encontro com Charles. O mais rápido possível. Assim, poderia pegar as Joias e voltar para sua casa. Para seu lar.

- O que isso significa? O nome verdadeiro e do melhor amigo? – Perguntou Julia, impaciente.

- Vamos pensar. – Ponderou Charles.

Ele e Julia se reuniram novamente no carro, em uma viela de um bairro próximo. Fazia tempo desde a última vez em que discutiram sobre o andamento do plano.

Julia lhe contara sobre a primeira batalha contra o X-Men e não evitara soltar algumas lágrimas enquanto lamentava. A decepção no rosto de Scott. A raiva no de Jean. E a incredulidade no dos outros.

- Sinceramente, se eu conheço Magneto nos tempos antigos, aposto como você deve descobrir a senha sozinha. – Aconselhou Charles.

- O que?

- Magneto não é burro. Tenho certeza de que, se alguém lhe disser as senhas de imediato e você simplesmente reproduzi-la diante do cofre, ele não se abrirá. Você precisa descobrir as senhas por si só. Assim, quando pronunciá-las, o cofre se abrirá para você. Isso é uma espécie de teste, de armadilha mental para garantir a segurança do cofre.

Julia ficou um tempo digerindo a informação. Então, ela teria de descobrir tudo sozinha para poder abrir o cofre e evitar armadilhas piores. Tudo difícil, como sempre.

Ela confirmou com um aceno de cabeça, levemente irritada por Charles não ter sido muito útil nem prestativo naquela manhã.

- Bom, acho que vou indo... Tenho muita pesquisa pela frente. – Afirmou Julia, descendo para fora do carro.

- Até logo. – Despediu-se Charles, sorridente.

- Espera! – Disse ela, impedindo que a porta do carro fosse fechada. – E... E o... Logan?

Charles se manteve impassível diante da pergunta de Julia, enquanto até mesmo ela vacilava, parecendo sobressaltada de ter feito tal indagação.

- Você sabe... Ele não é muito de falar. Só sei que não faz nada além de treinar sozinho nos horários em que treinaria com você.

Julia fechou a porta e virou-se, sorrindo discretamente.

Seguiram-se então mais duas batalhas contra os X-Men.

Nada muito diferente da primeira, pensou Julia. Essas duas batalhas tinham por motivos roubos de artefatos antigos que pareciam toscamente inúteis. Na primeira, foi um roubo a outro mapa em outro Museu. Na outra batalha, um roubo a banco atrás de uma espada (a qual Julia desconfiou ser uma espécie de guia às Joias). O primeiro roubo fora concluído com sucesso. O outro não, de modo que seria executado novamente.

Em ambas as batalhas, Julia lutou apreensiva e agoniada. As emoções da primeira batalha se reproduziam nela com exatidão. Mas ela, apesar de aflita, obrigava-se a atuar com a mesma perfeição que fizera na primeira vez, enganando a todos. Até ela mesma.

Ou seja, apesar dos mesmos sentimentos e da mesma atuação, Julia manteve-se igualmente sólida. A diferença residia no fato de que os X-Men, movidos pela raiva e o desgosto em relação à Julia, pareciam mais fortes e vorazes do que anteriormente.

Todos, acometidos pela raiva e ódio mortais de Julia, pareciam dispostos a lutar até fulminá-la ou fulminar alguém da Irmandade. Eles estavam mais decididos do que nunca.

Mesmo Jean parecia ainda mais mortífera do que outrora.

 Assim, a Irmandade planejava sua revanche. Outro assalto ao mesmo banco em busca da espada. Julia, enquanto vestia seu uniforme, pensava que depois desse roubo, se empenharia a descobrir a senha e a levar as Joias de uma vez por todas.

Voltaria para o Instituto e contaria, desesperada, que na verdade sempre pertencera aos X-Men.

- Está tudo bem? – Perguntou Johann, percebendo a apreensão de Julia.

- Tudo. Deve ser a adrenalina. – Justificou Julia pateticamente.

- Você já fez isso antes. Vai ser fácil. – Disse Johann, dando tapinhas nas costas de Julia.

Johann era um cara legal, e Julia pensou em como ele ficaria depois que ela mostrasse seu verdadeiro lado. Ele com certeza ficaria desolado, pois sempre acreditara no potencial dela.

Depois de uns cinco minutos, eles já estavam no carro a caminho do banco. Chegaram lá de madrugada. O Banco que escolheram ficava no centro de NY, e silenciosamente, o grupo parou o carro na rua de trás do Banco, que era uma viela feia e mal cuidada. Por trás, o banco mais parecia um trapiche fácil de invadir.

O grupo entrou e seguiu a rotina usual de crimes. Johann corria e golpeava guardas. Pietro congelava sistemas de segurança e armadilhas, desativando-os. E Amandha colocava em chamas qualquer obstáculo. Assim, eles seguiram por um corredor largo já inteiramente livre. Viraram à esquerda e depois à direita até chegarem aos cofres de segurança máxima.

Só havia um guarda no local, postado diante de uma imensa parede metálica. Foi a vez de Julia agir. Ela olhou o guarda atarracado e fez com que ele abrisse o cofre. Fácil demais. O grupo entrou no cofre, ignorando os adornos e objetos de pedras preciosas e pegou apenas a espada. Uma espada de cobre oxidada nas laterais, aparentemente oriunda de um antiquário.

-Vamos! Já conseguimos mesmo... – Afirmou Pietro, levando o grupo de volta à saída e congelando eventuais problemas a frente deles.

Mas o problema maior não poderia ser congelado.

E eram os X-Men, postados bem na rua traseira ao Banco.

Julia observou o carro da Irmandade destruído e em seguida seus olhos se voltaram para Scott, que dizia ironicamente:

- Iam a algum lugar, idiotas?

A mão de Pietro ficou mais firme na espada de bronze. Era clara a intenção dele de querer usá-la. Julia respirou fundo, agarrando-se à possibilidade de que essa seria a última vez em que teria de enfrentar os X-Men.

E então a Batalha teve início.

Johann, Pietro e Amandha contra Scott, Jean, Kitty, Kurt, Tempestade e Wolverine.

Agora Julia notara. Ele viera junto. Com o uniforme característico dos X-Men, Julia ficou anormalmente mais nervosa com toda aquela coisa.

Johann voou entorno de todos, aplicando golpes e desestabilizando-os. Amandha lutava contra Scott: fogo e lasers se fundindo e provocando uma chuva de faíscas coloridas. Pietro lutava contra os outros X-Men, congelando-os ou recebendo com surpresa golpes de uma Kitty enfurecida.

Julia ficou um tempo parada, sem saber o que fazer, e observou Logan pelo canto do olho. Melhor dizendo, Wolverine. Ele parecia tão pasmo quanto ela. Nunca estivera antes em um confronto direto contra Julia desde então. Assim, ao perceber que estava sendo observado por ela, Wolverine crispou os lábios: um claro sinal animal de raiva.

E então avançou para Julia.

- NÃO! – Gritou Jean, surgindo estonteante do meio da luta. – Ela é minha.

Julia pensou ter visto uma ligeira preocupação nos olhos de Wolverine. Como se ele quisesse se opor entre Julia e Jean, mas, ao receber um golpe de Johann, Wolverine logo voltou para a luta e deixou o caminho de Jean livre.

E outra vertente de batalha teve início.

- Sabe, Julia... Minha mão já está recuperada. – Falou Jean fantasmagoricamente.

- Que pena. Mas posso cuidar disso. – Falou Julia, incorporando tardiamente o papel que desempenhava.

Jean lançou um campo de força que repeliu Julia para longe, fazendo-a cair nos destroços do carro que antes lhe pertencera. Alguns cacos de vidro a perfuraram, mas ela mal se deu ao trabalho de reclamar. Não havia tempo.

Ela levantou-se e avançou para Jean, forçando todas as brechas que ela deixara em sua mente. De fato, a mente de Jean, apesar de muito bem protegida, era muito vulnerável. Talvez porque ela era muito poderosa e sua mente amplamente ilimitada. Quando Julia conseguiu uma brecha, tentou desativar Jean.

Por um momento, funcionou. Jean caiu no chão como se alguém a tivesse desligado e ficou assim prostrada no chão por alguns segundos. Entretanto, logo se levantou, reconstruindo a barreira psíquica que projetara em sua mente.

E um combate corpo a corpo começou. Julia mal teve tempo de observar como a outra batalha se desenrolava, mas, nos segundos livres que obtia, olhava para Logan. Ela percebeu que Scott conseguira roubar a espada de Bronze das mãos desavisadas de Pietro e que a Irmandade tentava apenas se defender para escapar com vida o mais rápido que pudesse.

Petrificada pela batalha, Jean chegara com facilidade e chutara Julia, lançando-a para longe.

- Eu avisei. Você iria pagar. Meus sentidos me dizem que hoje é o dia.

Julia levantou-se e golpeou-a na cabeça.

- Acho que seus sentidos precisam de ajustes. – Disse ela, tentando recuperar-se nos segundos de vantagem adquiridos.

Mas então, Jean pareceu mudar sutilmente sua aparência. Veias esbranquiçadas apareciam sob os olhos dela e os cabelos vermelhos levantavam-se e fustigavam contra o ar frio da madrugada. Julia já tinha conhecimento sobre isso, ainda que pequeno. O poder de Jean estava mais forte. Porque ela estava movida à raiva.

Então Jean soltou um campo de força com o dobro de potência do anterior. Julia voou do chão novamente para o carro em pedaços e caiu com tudo no vidro espatifado da frente, tendo mais cortes como resultado. Jean se aproximou voando, dessa vez com a aparência normal. A Fênix, tão rápido quanto surgiu, se foi.


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