Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 8
A Irmandade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/314483/chapter/8

A Sede da Irmandade era uma casa abandonada a umas duas quadras do Morgan’s Bar. A cerca zumbia com a eletricidade, a rua estava deserta e os postes de luz eram falhos. Os telhados da casa estavam velhos e a pintura marrom descascava aos montes. Ninguém daria nada por aquilo. A única coisa que mantinha as pessoas longe, era a cerca. Nada, além disso.

Pietro destrancou o portão e todos entraram, com Johann ao lado de Julia. Quando eles passaram pela porta principal, veio a surpresa. O lugar parecia o Instituto Charles Xavier por dentro. Era arrumado, simplório, mas ainda assim bem melhor que a aparência exterior. Julia observou as paredes verde claro, os sofás formais e as estantes cuidadosamente arrumadas.

 Estava postada de frente para uma grande escadaria que levava ao andar superior, quando ele apareceu.

Sua presença irradiava poder. Força. Magneto surgiu com um uniforme preto e simples, mas muito elegante. Seu semblante sério curvava-se aos poucos num sorriso fino. Ele andava a passos lentos, provavelmente porque gostava de ser admirado assim por todos. De fato, agora, ninguém na sala parecia capaz de respirar direito. A impressão de que seria fulminada em um ataque relâmpago não deixou Julia por um instante sequer.

Conforme Magneto descia as escadas, parecia que todo metal próximo na sala se curvava, expandindo-se em uma forma inusitada de reverência. Julia sentiu a própria gargantilha dar saltos em seu pescoço.

Magneto curvou as sobrancelhas e perguntou:

- A telepata?

- Sim, é ela, meu Senhor. – Reverenciou Pietro.

Só então Julia notou a figura animalesca e grotescamente azul atrás de Magneto. Mística.

- Mostre-me seu poder, querida. – Pediu Magneto suavemente. Entretanto, seu pedido mais suave exalava ordem.

Julia encarou Magneto nos olhos, apreensiva e falou diretamente:

- Tem medo de que eu o traia? – Disse ela confiante, aproximando-se dele. – Não se preocupe. Sei o que eu quero. Não quero ficar trancafiada num Instituto idiota para me controlarem. Sei que aqui meus poderes serão mais bem aproveitados, às suas ordens, senhor.

Magneto respondeu, um sorriso ainda mais intenso surgindo nos lábios finos.

- Excelente. Creio que sabe das consequências, caso nos... Traia. Aposto que leu isso em minha mente, já que pensei nisso repetidas vezes.

Julia compreendera a ameaça, mas não perdeu a pose. Precisava prosseguir com o plano e o seu papel. Era conflitante a sensação que tinha que de Magneto sempre sabia. De que sempre estava um passo a frente.

- Eu sei por que estou aqui.  – Replicou ela, lutando contra o desejo de desviar os olhos de Magneto.

- Ótimo. Comuniquem a ela sobre o plano da semana que vem. Quero vê-la em ação contra os X-Men. De verdade.

No dia seguinte, Julia encontrou Charles em um carro. Não havia lugares seguros que pudessem trocar informações. Eles sempre se viam de manhã num carro adaptado que Charles dirigia. Os vidros pretos evitam qualquer confusão. Dessa forma, Julia ia se ausentando do Instituto. Não podia mais voltar para lá. Assim, ela alternava seus dias entre morar em seu velho apartamento, visitar a Sede da Irmandade e encontrar Charles para relatar-lhe de acontecimentos importantes. Naquela manhã, fizera um relatório completo de tudo que se lembrava. De que Magneto a aceitara, mas que estava de olho nela. Ele não admitia traições e isso por si só era o maior risco de todos.

Contou a Charles que, durante uma conversa com Johann, ela manipulara-o para que contasse sobre as Joias do Infinito. E Johann contara. Ele sabia porque, provavelmente, era o mais antigo do grupo. As Joias ficavam em um cofre oculto na sala de treinamento. Já era um bom começo.

Mas então Charles contou a ela que os X-Men, sobretudo Scott, estavam perguntando com frequência sobre ela. Charles dissera a eles que Julia estava com saudades do pai e que quisera ficar com ele por uns tempos.

Julia se entristeceu, afinal, sentia-se como se estivesse traindo-os de verdade, não apenas fingindo para salvar as pessoas de uma possível catástrofe global, caso Magneto reunisse as Joias.

- Não é culpa sua. Está fazendo o certo. Não quer mesmo que eu conte a eles? – Perguntou Charles, insistente.

- Não. Preciso deixar tudo o mais real que puder.

- Bem, acho bom você ir. O grande assalto ao Museu é hoje, não é?

- Sim. – Julia suspirou. Hoje agiria pela primeira vez contra sua própria equipe. Desejou conseguir se manipular para conseguir deixar tudo mais fácil.

- Boa sorte. E, cuidado. Não sabemos como os X-Men vão reagir ao vê-la na linha de fogo.

Julia se preparava na Sede. Pietro, Amandha e Johann pareciam animadíssimos com a ideia de um roubo. Julia sentia-se pesarosa e desanimada, mas aprontou-se mesmo assim. Colocou o uniforme da Irmandade, que consistia em uma roupa elástica e azul marinho com um grande “I” adornado na frente da roupa. Pietro lhe desejou sorte, e disse que o começo era assim mesmo.

- Depois você se acostuma com os crimes. Já que a sociedade discrimina o verdadeiro poder, precisamos agir dessa forma.

- Tem razão. – Concordou Julia, respirando fundo e entrando em um carro potente dirigido por Amandha.

Na verdade, ela sentia-se péssima. Mal se dava conta do que estava prestes a acontecer.

Estava trajada de inimiga, andando no carro de inimigos para roubar um item do Museu e lutar contra seus próprios amigos. Não parecia certo, muito embora os motivos por ela estar fazendo isso fossem certos.

Assim, quando desembarcaram na frente do Museu de História Antiga, Julia ousou perguntar:

- O que estamos procurando?

- Um mapa. – Respondeu Amandha. – Apenas nos siga e destrua quem estiver no caminho.

Na hora da ação principal, Pietro congelou os seguranças ao mesmo tempo em que Amandha derretia as grades com seus punhos em chamas. Johann correu em sua hiper velocidade e atacou mais guardas, liberando a entrada. Parecia fácil demais, isso porque até agora só haviam enfrentado humanos.

- Faça seu trabalho, Julia. – Ordenou Pietro, arrancando o que restava da grade para liberar a passagem.

Julia aproximou-se de um guarda semi acordado, e muito machucado. Leu a mente dele e descobriu o local da sala de mapas.

- Segundo bloco à esquerda. – Disse ela, inexpressiva.

Então todos correram até o local indicado, ocasionalmente tendo que atacar alguns guardar e destruir câmeras de segurança. O pai de Julia estava a par da missão dela, mas não seria legal que ela fosse parar nos noticiários com uma imagem negativa.

Logo chegaram ao destino final e conseguiram o tal mapa.  Entretanto, quando se dirigiam à saída, Julia estava apreensiva. Era óbvio que logo os X-Men chegariam, buscando evitar o crime e atacar à Irmandade.

Mas, ao chegarem à saída, tudo estava relativamente tranquilo. Julia ficou olhando a esquina e Pietro a apressou, pois todos já se encontravam no carro. Faltava dar a partida.

- Entra logo, Julia!

Mas quando Julia foi entrar, observou ao longe um clarão vermelho intenso. Uma rajada óptica atacou o carro de frente.

Era Scott.

Eram os X-Men.

Julia foi impedida de entrar no carro quando uma rajada quase a acertou e ela se viu obrigada a desviar perigosamente. Todos, Scott, Jean, Kitty, Kurt, Vampira, Tempestade e Spike a viram. Julia ruborizou, mas tentou controlar sua expressão e fez cara de ódio, de vingança. Como se tudo que mais quisesse fosse ver a cara de palhaço dos seus amigos diante de uma traíra.

- Chegamos tarde demais. – Disse Scott, olhando para o carro que quase partia, Amandha ao volante e Pietro com o mapa em mãos. Depois, Julia sentiu que ele a encarava. Era como se a pele dela queimasse com o olhar de Scott, entretanto, não perdeu a pose e continuou fingindo estar se divertindo com a situação.

- Não. – Interrompeu Jean, olhando furiosa e diretamente para Julia. – Nós é que percebemos tarde. Percebemos a verdade tarde demais.

Não havia como não se sentir mal. Julia queria que todos soubessem do papel que ela agora desempenhava, a fim de alcançar um objetivo importante pedido pelo próprio Charles Xavier. Mas não. Não podia dizê-lo, de modo que suprimiu seu pesar e manteve a expressão sarcástica no rosto.

- Idiotas. – Ela falou, focalizando Jean, ao passo que era mais fácil ofendê-la do que ofender Kitty, por exemplo.

Julia vacilou por um milésimo de segundo ao observar a expressão de Scott. Logo Scott, que sempre fora tão legal com ela, agora a fitava decepcionado. E a decepção dele afetava Julia incrivelmente.

Mas o vacilo não durou muito, porque Jean avançou para uma luta direta com Julia, corpo a corpo. Os outros X-Men pareciam chocados demais ou decepcionados, já que muitos ficaram parados e com os olhos sem enquadrar nenhum campo de visão específico. Órbitas giravam descrentes na maioria deles.

Entretanto, Amandha largou o volante e desceu do carro com Pietro e Johann. Eles partiram contra o que restava dos X-Men, deixando todos ocupados, à exceção de Jean.

- Vai pagar pela sua traição! – Gritou Jean, os cabelos vermelhos esvoaçando quando ela avançava e tentava derrubar Julia no chão.

- Sua idiota. Tem poderes psíquicos e mal sabe decifrar uma pessoa! – Contrapôs Julia. Atuar com Jean não exigia esforço algum. Provavelmente porque elas se odiavam.

- Eu nunca tentei ler sua mente porque tenho integridade, ao contrário de você! Manipulou a todos!

- Se você fosse um pouquinho mais esperta, quebraria as regras e teria descoberto meu plano. – Julia rebateu, a voz subindo uma oitava.

- Eu avisei. Vou destruir você por tudo o que fez aos X-Men! – Jean ameaçou, avançando contra Julia.

- Oh, quanta raiva... Isso faz mal, sabia? – Replicou Julia ironicamente.

- Eu sempre tive razão em relação a você. Você nunca desceu pela minha garganta...  – Disse Jean, que agora estava quase desvairada. Ela não conseguiria conversar por muito tempo.

- Como se eu ligasse para a opinião de alguém como você.

E a fala de Julia foi o estopim para o combate.

A luta era sem dúvida emocionante, mas estava equilibrada. Por vezes Julia desviava de um golpe brilhante de Jean, ou outras vezes acabava se desorientando por causa de um chute nos rins. Jean, da mesma forma, sabia desviar de ataques precisos, mas ocasionalmente era afastada com chutes e giros especiais. A outra luta decorria em igual equilíbrio. Labaredas voavam das mãos de Amandha, chocavam-se com as rajadas ópticas de Scott, para então um dos lados sofrer a repressão. Pietro lançava gelo, que era derretido por Tempestade em uma luta anormalmente gelada. Johann corria com sua super velocidade e era surpreendido por Kurt, aparecendo subitamente em seu caminho e forçando-o a parar.

Às vezes Julia enfrentava por poucos segundos outro X-Men, mas Jean retomava seu lugar e reivindicava que a luta era somente dela. Só então Julia notou que Wolverine não estava lá. Ficou minimamente feliz por isso, já que enfrentá-lo seria difícil demais para as condições em que ela se encontrava.

Jean às vezes tentava usar seus poderes psíquicos contra Julia, mas ambas eram extremamente boas em fechar ou abrir mentes. Formava-se um impasse. O combate corpo a corpo era mais do que satisfatório.

Todavia, sem que ninguém percebesse, Amandha entrou no carro e deu a partida. Foi como um sinal. Julia golpeou Jean e deu uma rasteira nela, de modo que ela caiu ligeiramente desorientada. Ela tentou lançar um campo de força em Julia, ou levantar o carro pelos ares, mas Julia retornou às pressas e pisou na mão dela.

Jean gritou de dor e frustração, porque agora, acometida pelo torpor e pela aflição, não conseguiu impedir Julia nem os outros de entrarem no carro e partir.

Julia ofegou quando sentou no banco de trás, ao lado de Johann. Pisar na mão de Jean talvez tenha sido algo excessivo, por mais que ela a detestasse. Jean era do mesmo lado que ela, não era? E imaginou a dor que Jean devia ter sentido... Se não quebrara algum osso...

Julia sufocou um grito quando Scott lançou rajadas ópticas freneticamente e acertou nos vidros traseiros do carro. Amandha titubeou um pouco na direção, mas logo o carro recuperou o sentido da estrada que levaria de volta à Sede.

Julia estava nervosa, quase se vertendo em lágrimas, mas não teve tempo de pensar em mais nada. Johann segurou-a pela mão – ato que normalmente ela rechaçaria -, e ela apertou a dele igualmente firme.

- Vai ficar tudo bem. – Disse ele, sorrindo levemente.

Julia sorriu em retribuição. Mesmo sabendo que não ficaria. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wolverine: Uma História" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.