Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 5
Eclipse




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E o tempo passou.

Precisamente, foram quase cinco meses. Julia demorou mais a se adaptar do que gostaria, principalmente devido à sua raiva pelas atitudes de Logan. Julia ficou quase três dias sem falar com ninguém, trancafiada no quarto. Bom, exceto com Kitty e Kurt. Eles levavam comida para ela ocasionalmente. De qualquer modo, não podia ficar lá em cima para sempre. Resolveu sair e parecia que, fora esse pequeno problema, tudo ia bem.

Julia conversou com Charles sobre a atitude de Logan de querer deixá-la presa na mansão por causa de desavenças antigas com Dentes de Sabre e a suposta ameaça que ele oferecia a ela.

- Posso me cuidar! – Ela esbravejou, mesmo sabendo que Charles nada tinha a ver com isso.

- Não. Não contra Dentes de Sabre. Logan tem razão em querer mantê-la aqui. Nossas câmeras captaram Dentes se aproximando do perímetro da mansão algumas vezes.

Isso fez com que Julia desse uma atenção mínima ao caso.

E também fez com que ela retomasse o treinamento com seu instrutor, Logan. Nos primeiros dias, eles nem trocaram palavra. Simplesmente lutaram e trocaram acenos de cabeça. Talvez fosse infantil demais da parte de Julia odiar Logan por ele querer supostamente protegê-la de Dentes de Sabre. Entretanto, que espécie de autoridade ele tinha sobre ela? Será que não era Logan que estava sendo infantil demais, ao querer mandar nela dessa maneira exaustiva?

Com essas perguntas, Julia às vezes mal se concentrava na luta, e Logan a arremessava para longe. Certa vez, durante um treino, cansada de ser derrubada tantas vezes, Julia tentou entrar na mente de Logan, para fazê-lo afastar-se, manipulando-o. Resultado: Ineficaz. Era como se uma barreira impedisse Julia de fazer isso. Fato este que nunca antes havia acontecido.

Logan avistou os olhos de Julia se acinzentarem e depois a viu cair no chão, esgotada. Foi a primeira vez em dias que ele abria a boca:

- Você está bem?

- Estou...

- Tentou invadir minha mente? – Perguntou ele, sarcástico.

- Não sou capaz de invadi-la. A sua mente está segura de mim. – Julia tentou parecer ameaçadora, mas acabou soando ligeiramente tola.

- Deve ser o Adamantium. – Inferiu Logan, referindo-se ao metal do qual seu esqueleto era composto.

- Há quanto tempo treina para fechar sua mente, Logan? – Julia replicou, também irônica.

Logan saiu sem responder à sua pergunta.

- O treino acabou.

Dias depois, o pai de Julia ligou. Ela o explicou sobre tudo que tinha ocorrido até agora, poupando o pai de momentos mais violentos que incluíam quebra de pulso ou surra de homens primitivos. Por causa disso, o pai de Julia decidiu que ela não iria mais advogar no escritório durante um tempo. Ele disse que arranjaria uma desculpa para os donos do escritório:

- Eu falo com eles. Você deve treinar e exercitar toda sua capacidade mutante! Precisa aprender a atacar e a se defender. É por isso que está aí.

- Já evoluí bastante, pai.

- Imagino. Mas você tem potencial para se tornar uma mutante poderosa! Vai aprender a controlar seus poderes e a lutar. Nada de trabalho. Foque em si mesma.

E assim Julia passou mais tempo na mansão. Treinou arduamente durante horas, dias, semanas. Inclusive, quando Scott notou o progresso que ela fazia a convidou para uma simulação de treinamento.

Julia subiu até à sala de treinamento onde esteve anteriormente e entrou por uma porta de vidro a um compartimento redondo composto de estranhas paredes metálicas. Juntos com ela estavam: Scott, Jean, Kitty, Kurt, Tempestade e Vampira.

Segundos antes de a simulação começar, Kurt anunciou:

- Você precisa de um apelido. Todos temos um.

- Não tenho tempo para isso. – Julia falou, revirando os olhos.

- Eclipse. – Sugeriu Scott, seguido de um murmúrio geral de aprovação.

- Por quê? – Julia indagou, perplexa pela escolha. Sim, ela aprovara.

- Por que você consegue sobrepor qualquer coisa em relação à outra coisa. Controla o movimento, os atos, os pensamentos... Isso me lembra dum eclipse, quando um corpo celeste se move para a sombra de outro. Não sabemos o que esperar.

Julia sorriu para Scott, como agradecimento.

Então, de repente, se viu em um grande estacionamento. Era noite. Carros, prédios, casas, lojas, tudo eram chamas vivas e vermelhas. Robôs humanoides atacavam tudo e destruíam tudo o que viam pela frente. Ao lado esquerdo da cena, um navio em chamas estava encalhado. Mas o pior de tudo era o robô gigante que se aproximava, como uma espécie de líder dos menores.

- Merda! – Gritou Kurt.

Todos recuaram quando um jato de fogo jorrou do nariz do robô gigante. Treinamento ou não, a cena era bem real e o calor do fogo também. Julia não tinha tempo para pensar em como sairia dali em perfeito estado.

- Em formação. X-Men! – Gritou Scott e todos se reuniram ao redor dele.

- Eu quero um grupo cuidando dos robôs menores e outro para acabar com o grande! Tudo certo? – Ele gritou autoritário. Era impossível não admirá-lo pelo seu espírito de liderança e de equipe. Ele conduzia a coisa toda muito bem.

Julia correu para o grupo que lutaria contra os menores. Seguiu em linha reta, enfrentando um robô por vez. Era notável como seus golpes haviam melhorado depois de semanas intensivas de treino. Seus reflexos eram mais ágeis e os golpes mais precisos. Ela estava mais rápida e mais forte. Mas tudo isso não viera de graça. Pela sua condição de mutante, Julia sempre se manteve ativa. Treinara na SHIELD e agora retomara os treinos, já que passava mais tempo na mansão. Ela treinara muito. E agora os resultados compensavam cada esforço. Cada gota de suor.

Depois, Julia tentou inovar. Focalizou os olhos dos robôs humanoides e tentou dissecar a mente deles. Era estupidamente fácil. Ela murmurava mentalmente: Desativar! Desligar! E os robôs desligavam como se toda sua fonte de energia tivesse desaparecido. Desse modo, ela correu por várias fileiras de robôs, apenas procurando e focalizando seus olhos. E um por um, conforme ela corria e olhava, ia se desligando e cessando ataque.

Julia não viu o desempenho dos outros colegas, mas podia ver Kurt sumindo, aparecendo e golpeando robôs com a ajuda de Kitty. Tempestade fazia chover em um canto, provocando curto nos robôs. Vampira absorvia poderes dos robôs e os esgotava. Scott e Jean cuidavam do maior, que parecia quase indestrutível. Julia se aproximou para ajudá-los e viu que uma rajada de fogo do robô atingiria Vampira nas costas. Ela correu para empurrá-la, mas não iria dar tempo.

Então fez o que fazia de melhor.

Olhou vampira nos olhos. Julia ordenou que ela saísse de lá correndo e evitasse se machucar. Vampira levantou-se e desviou dos ataques, parecendo bem, embora ligeiramente confusa.

Quando Julia se voltou para o robô grande, viu Scott lançando rajadas ópticas frenéticas e Jean, que estava tentando conter com a força do pensamento os jatos incessantes de fogo escaldante.

Mas estava nítido que ela não conseguiria por muito tempo.

Julia postou-se ao lado dela, em meio ao caos de todo aquele momento, e gritou, sentindo a boca secar devido ao calor e à fumaça:

- Olhe para mim!

Jean olhou e mal teve tempo de fazer alguma expressão, fosse surpresa ou resignação. Julia encarou-a nos olhos e mandou que ela saísse dali, buscando se proteger das rajadas de fogo.

Assim que o robô gigante parou de atacar por um mínimo tempo, Jean saiu correndo e ocultou-se atrás de um carro destroçado. Scott, atordoado, procurava Jean com os olhos ocultos sob os óculos especiais. Julia precisava comunicar a ele que tivera uma ideia! Mas como? Ele não poderia ouvi-la, poderia? Julia gritou, resolvendo testar a hipótese:

- Scott! Leve-o para o rio! Jogue-o no rio! – Ela sentiu os pulmões fraquejarem e arfou, buscando ar desesperada.

Scott olhava para Julia com cara de incompreensão. Mas era o suficiente, porque apenas olhara para ela. Julia esperou que a pupila de Scott encontrasse a sua quando ordenou, manipulando-o mentalmente: “Leve o robô para o rio.”.

Então, Scott começou a soltar rajadas de laser óptico de maneira desenfreada, o que obrigou o robô a dar meia volta para se desviar. Mais um pouco para trás e ele cairia no rio.

Não demorou muito até que isso se sucedesse e o robô caísse no rio. Um grande cheiro de fogo apagado e choques elétricos inundou o ar.

Os robôs menores tinham sido liquidados pelos outros e não havia grandes feridos no meio do caos. Dentro de segundos, todos foram teleportados de volta à realidade da sala de simulação. Julia permitiu-se respirar o ar fresco do ambiente e saiu da sala metálica, encontrando todos na sala principal de treinamento, no qual havia computadores e equipamentos diversos. Charles e Fera aguardavam sentados diante do computador, enquanto os outros X-Men ofegavam e procuravam se recuperar.

Julia estava quieta, pensando no seu desempenho. Em como seus poderes usados na própria equipe foram benéficos. E avassaladores quando usados em seus inimigos. Mas foi arrancada de seus pensamentos quando Jean berrou bem na sua frente:

- O que você estava fazendo, garota?

Julia olhou descrente para ela. Jean lhe dera nos nervos por tempo suficiente. Não lhe cabia mais guardar raiva. Necessitava extravasá-la, e não pouparia Jean.

- Quem sabe, salvando a vida de todos nós? – Julia argumentou ironicamente, remexendo as mãos num gesto impaciente.

- Você nos manipulou! Se pensasse errado, tem ideia do efeito que isso causaria? – Ela arquejou, colocando as mãos na cabeça. A ideia de a mente de Jean ser manipulada por Julia era inaceitável.

- Você ia ser atingida por um raio de fogo e não teve inteligência suficiente para correr. Que mais eu podia fazer? Mandei você sair de lá. – Julia complementou, arqueando as sobrancelhas, o que indicava a obviedade do raciocínio.

- Não gosto da ideia de você nos manipular. Mesmo em casos como esse. Será que não entende? Scott tinha um plano para nós. Você o fez mudar de ideia!

- Deu certo, não deu?

- Na verdade - interrompeu Scott -, eu não tinha plano algum. Estava apenas contendo o avanço do robô. Achei... bom... a Julia ter me mandado fazer algo que serviu para exterminar a coisa. Se ela teve uma ideia boa antes de mim, porque não me fazer conclui-la?

Jean fuzilou Scott com o olhar.

Vampira se pronunciou timidamente:

- Eu ia ser atingida e ela me fez fugir. Gostei disso. – Ela acenou do canto.

Julia sorriu levemente. Mas Jean não se deu por vencida, e acrescentou malignamente:

- Quem sabe ela não está manipulando alguém agora para que concorde com ela? Afinal, ela pode nos manipular a qualquer momento sem que ao menos a gente perceba! Quem sabe até já não tentou nos manipular!

- E você devia aprender a usar sua mente para outra coisa mais produtiva, já que parece que ela mal funciona direito num campo de batalha. – Julia replicou, furiosa com a afronta.

Ela avançou para Jean a fim de lhe dizer boas verdades. Entretanto, o gesto aparentou ser mais agressivo do que devia, de modo que Jean pareceu estarrecida ao pensar que Julia a atacaria.

Charles Xavier interrompeu a discussão e a finalizou:

- Basta. Julia, afaste-se. Não pode avançar em um companheiro de equipe. E Jean, não fale isso de uma colega de equipe. Julia nunca tentou manipular nenhum de vocês. Eu monitoro a mente de todos aqui, para garantir a paz e a ordem. Posso afirmar com segurança que ela nunca tentou fazer nada disso. E nem tentará.

Charles olhou para Julia com cara de quem se desculpa. E ela se sentiu secretamente como uma bomba relógio. Como se Charles a vigiasse porque a qualquer momento ela poderia representar perigo. Mas sorriu mesmo assim, encorajando Charles e suas palavras acalentadoras.

- Sei que vocês ainda não estão acostumados ao poder da Julia, mas vão precisar se adaptar a ele. Assim, a equipe estará mais forte e segura. Bom almoço a todos.

Jean sorriu insatisfeita e saiu sem dizer mais nada. Scott foi atrás dela, mas murmurou antes:

- Bom trabalho, Eclipse.


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