Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 21
Acidente


Notas iniciais do capítulo

Não liguem se houver alguns capítulos menores... Eu estou tentando escrever o máximo possível pra postar logo aqui pra vocês. :)



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Estavam passando pela ponte de Manhattan quando se deram conta da perseguição.

Magneto voando sobre tudo e sobre todos, sua capa vermelha esvoaçando ao fim da tarde. Seu capacete reluzindo como uma bela Jóia do Infinito.  Ele viera atrás de Julia. Estava apto a cumprir a ameaça. Nenhum dos outros conseguira, nem Johann, nem Amandha e nem Pietro. Muito menos Dentes de Sabre, que falhara em seu último seqüestro. Agora Magneto vinha fazer sua justiça pela própria mão. Vinha para fazer o que nenhum outro fizera.

- Ele veio atrás de mim... – Julia falou, incrédula.

- Apenas mantenha a calma, está bem? Nada vai acontecer a você, eu prometo! – Disse Logan, tocando o cabelo de Julia com uma das mãos.

Em seguida, deu um pulo mirabolante com a finalidade de subir no capô do carro e enfrentar Magneto por fora do veículo. Logan estava com a expressão selvagem e militar no rosto. Ele não entendia. Afastara-se de Julia, então porque os ataques não cessaram? Sabia que o que estava acontecendo ali tinha a ver com o fato de uma missão dos X-Men. Riscos que todos corriam, como ele mesmo diversas vezes enfrentou. Mas não importava. Fosse por causa de inimigos dele, ou por causa das próprias missões de Julia, não a deixaria desprotegida. Ele a protegeria para sempre, e não conseguiu  evitar o tom de despedida quando falou:

- Eu te amo.

E subiu para o capô do carro disposto a enfrentar Magneto.

Mas não havia muito que fazer.

Magneto manipulava metal. Wolverine era feito de metal, mais precisamente, o Adamantium. Que chance ele teria? Wolverine apenas cravou uma de suas garras no capô para que o vento não o derrubasse, mas as chances de atacar Magneto, que voava por cima dele, eram nulas. Ele era determinado e tentaria como podia evitar que Magneto machucasse Julia, mas como? Morreria tentando, porque isso, sim, ele sabia fazer: Não desistir.

Wolverine tentou pular para, pelo menos, desestabilizá-lo, em vão. Via em qualquer aspecto uma chance de atacar, mas não havia chances.

E Julia, ela sabia que a vida de Wolverine não corria tanto perigo. Magneto, mesmo inimigo, era correto. Não mataria Wolverine porque ele não era seu alvo. Ele não o trouxera até aqui. Possivelmente, deveria ter planos para Wolverine que não incluíam a morte dele. Um objetivo cumprido: Logan estaria a salvo. Não era o alvo da perseguição e, se fosse, Julia daria um jeito de atrair a atenção de Magneto para ela. Conseguiria salvá-lo se o impensável acontecesse, mesmo porque Logan tinha poder de regeneração.

Logan a salvo.

O problema era outra pessoa. Uma pessoa que dependia de Julia e que ela convivia fazia pouco tempo. Apenas algumas semanas, na verdade. Julia mal se importava com sua existência idiota, mas agora, com a presença dessa pessoa, tão perto... Ela precisava manter-se viva para essa pessoa. Uma pessoa que precisava ainda se desenvolver, crescer... E era por essa pessoa que Julia rezava, pedindo para que sobrevivesse mais uma vez. Precisava escapar com vida, precisava proteger de todo seu ser essa pessoa...

Pediu aos céus essa proteção divina e um pouco de esperança, quando aconteceu.

Magneto, com um gesto simples da mão, ergueu Logan do capô, manipulando-o facilmente como fantoches. Ele aproximou as mãos e, com esse gesto, trouxe Logan mais para perto de si. Falou com a voz perigosamente calma e gélida de sempre:

- Não tente protegê-la. Traidores têm o que merecem. Vim fazer pessoalmente o que ninguém deu conta de fazer e você não vai atrapalhar.

E, com um gesto de afastamento, lançou Logan para longe, causando um verdadeiro tumulto.

Logan voou e caiu em cima de outro carro no sentido contrário, causando um engavetamento na ponte. Logan caiu, destroçado, mas logo começando a se regenerar. Esperou o tempo que foi necessário até poder sair correndo e evitar que algo acontecesse a Julia.

Mas ela mal conseguia dirigir. Era um gesto mecânico. A ponte, reta, facilitava isso, porque ela não estava em condições de pensar em algum movimento ao volante. Concentrava-se na sua prece e nas frases repetidas mentalmente. Que ela se salvasse para salvar alguém muito especial... Que tudo se resolvesse com Logan... Que eles fossem felizes juntos como nunca antes...

E, ao mesmo tempo que a primeira lágrima caiu, outra coisa ocorreu.

Um gesto simples da mão de Magneto, manipulando o metal do Ford Focus e fazendo-o capotar estrada afora, revirando várias vezes no asfalto quente.

Um grito.

Outras preces que cada vez ficavam mais desconexas...

- Dever cumprido. – Escapou da boca fria do inimigo mais frio ainda, quando Magneto observou o serviço e virou-se para ir embora.

E outro grito, nascido na dor mais profunda.

- Não!

Gritou Logan, silenciado pela cena que mal pudera evitar. Silenciado pela cena que via e pelas chamas dançantes do carro quase em chamas. Silenciado por dentro.

Tudo aconteceu rápida e lentamente demais. Um terrível paradoxo.

Magneto afastava-se lentamente da cena, como se tivesse simplesmente realizado um serviço particularmente chato. Um tumulto de pessoas se avolumava, algumas dessas pessoas ao celular. Logan torceu para que alguém estivesse chamando uma ambulância, porque, dada a distância em que se encontrava, ele não seria suficientemente rápido. Alguns carros tinham sido atingidos pelo Ford Focus que rodopiou, mas houve apenas alguns amassados e poucos levemente feridos.  A cena se resumia em: três carros amassados, porém nenhum passageiro correndo risco de vida. Dezenas de pessoas foras de seus carros amontoando-se em volta do Ford Focus. E esse mesmo carro como epicentro da confusão, agora estático e de ponta cabeça depois de capotar.

Logan, que estava a uns cem metros do local, correu o mais rápido que pode ordenar a seus músculos, ainda não regenerados por completo depois da queda do veículo. Ele só queria que Julia estivesse viva e fora de perigo. Pensaria nas coisas mais complicadas depois. Não tinha cabeça pra isso.

Quando chegou ao centro da confusão, notou que Julia ainda estava presa pelo cinto numa posição invertida e parecendo desconfortável. Inconsciente. Seu braço estava torcido em um ângulo estranho e sangue vertia de sua cabeça, mas nenhum ferimento extremamente mortal que fosse perceptível a primeira vista.

Logan sabia que não deveria tocar nela, porque isso poderia causar ainda mais estrago caso o estado dela fosse delicado. Mas a tentação era grande. De alguma forma, Julia pareceria melhor e menos distante se estivesse no colo de Logan, por exemplo.

- Com licença, senhor... – Chamou uma velinha de aparência frágil. Seu tom era de alguém ligeiramente hesitante. Como se falasse com alguém tendo lapsos nervosos.

Só então Logan pensou em como deveria parecer devastado, por dentro e por fora. Intimamente, pouco lhe importava se tinha sido atacado com Magneto. Lidara a vida toda com ataques e sua própria vida nunca lhe valera muito. Obviamente, o dom da regeneração ajudava a não ligar muito pra sua segurança pessoal. Mas Julia... Logan sempre pudera ajudá-la quando ela se feria. Agora nada podia fazer senão esperar. Queria vê-la bem e inteira ali e agora. Mas as coisas que aconteceram a ela estavam bem fora de alcance de seu controle. Ele não era nada perto disso.

Mas sofria. Sofria porque seu maior bem era Julia. Ela era a sua vida, a vida que ele deveria zelar e não zelou. A sua própria segurança, sua própria vida, ele desprezava. Entretanto, a vida daquela garota. Essa sim lhe era mais que tudo, o motivo por não se sentir uma simples máquina de matar. A vida de Julia era o complemento de sua própria. Sua vida não tinha sentido, mas ao lado de Julia, agora encontrava um propósito. Eles se completavam, e agora, uma das metades poderia desvanecer facilmente. Por isso Logan agora parecia louco. Se não estava tendo lapsos, estaria próximo disso. A idéia de perder Julia o transtornava como nenhuma outra. Não chorava, mas tinha soluços que fechavam-lhe a garganta enquanto sussurrava para Julia que ela ficaria bem...

- Meu rapaz? – A velha chamou novamente, cutucando-o enquanto Logan ajoelhava-se do lado do carro, fitando Julia sem cessar. – Nós já chamamos a ambulância. Ela vai ficar bem... Sua esposa?

Logan suspirou, avaliando perspectivas futuras que nunca lhe passaram pela cabeça. O presente sempre fora sua dádiva.

Ele respondeu:

- Ainda não.

Ah, permanecer à deriva no torpor da inconsciência. Parecia aceitável por um tempo, pensava Julia. Embora não tivesse certeza do agora, com certeza lembrava-se do passado. Tinha uma coisa a contar para Logan. E, quando estava justamente prestes a fazê-lo, Magneto viera cumprir seu objetivo: Castigá-la pela traição à Irmandade. Isso era inevitável. Ela sabia. Porém, o momento era inoportuno e isso a deixava furiosa. Sabia dos riscos, mas não queria deixar ninguém na mão.

Lembrava-se de ainda estar na direção do Ford Focus, sentindo que os comandos do carro não mais a obedeciam. O metal cumpria o chamado de seu dono, de seu manipulador. Com a maior facilidade do mundo, Magneto fizera o carro capotar. Julia sentiu os solavancos, sentiu a vertigem tomar conta dela quando girava loucamente. Lembrava-se, sobretudo, da dor. Do cheiro insuportável de sangue fresco que ela tanto repulsava. Lembrava-se de querer manter-se viva. Precisava manter-se viva, e, se não podia fazê-lo sozinha, que outra pessoa a ajudasse. Não podia falhar agora, não na missão mais importante de sua vida.

Não sabia o que mais tinha ocorrido, apenas tinha uma vaga idéia de que conseguia pensar e raciocinar fatos breves. Ou seja, ainda havia uma parte de si mesma que estava perfeitamente consciente, ainda que lenta. Recusou de pronto a possibilidade de estar morta. Se ainda conseguia pensar, devia estar viva, apesar de em péssimas condições.

Simplesmente tinha uma pessoa que dependia dela. Uma pessoa que ela amava antes mesmo de conhecer por inteiro. Seu objetivo tornara-se cuidar dessa pessoa e mantê-la viva, segura. E ela não falharia ao fazer isso. Aí se lembrou de Logan. E um pedacinho de seu peito doeu, como se pudesse arquejar. Bom, ela não sabia com exatidão o ponto que estava doendo, mas fez a dedução. Se ainda podia sentir dor, então aos poucos mais de sua consciência retornava. Logo o torpor se esvairia. Logan... Como também o queria bem e seguro. Com tantas brigas e descobertas, às vezes ela se esquecia que também queria vê-lo bem. Apesar de muito independente e nem sempre tão emotivo, desejava Logan realizado em todos os sentidos. Bem em todos os sentidos, aconteça o que acontecer.


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