Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 12
Hipnose




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- Olá, pessoal. – Disse Julia de maneira hipnótica. – Eu estou cansada. Foi uma batalha exaustiva.

Preparando a atmosfera do ar, Julia percebeu que dentre os presentes, o mais difícil de dominar seria Magneto. Ele estava mentalmente ativo e inquieto.

Julia aproximou-se lentamente do sofá, enquadrando todos em seu campo de visão. Estava se preparando para o ataque.

- Bem, é óbvio que foi uma batalha exaustiva. Fracassaram pela segunda vez! – Urrou Magneto.

Mas Julia deteve a onda de raiva dele. Freou-o mentalmente.

- Bom... Todos estamos cansados. Acho bom... Descansarem... Um pouco.

E, com essas palavras, Julia usou seu poder psiônico.

Usou-o em proporções avassaladoras. Deixou que seu poder a envolvesse e tomasse conta dela. De dentro para fora, invadindo todas as mentes presentes. Uma a uma. Descobrindo segredos, revivendo momentos e conhecendo as mais sórdidas e profundas lembranças.

Mente a mente, ela foi incutindo a ideia de que cada um deles deveria dormir por um longo tempo.

Julia hipnotizou fortemente cada um deles para que dormissem. Como se essa ideia fosse a melhor para eles no momento, ao passo que cada uma das mentes sentia que dormir era necessário. Então, ela sentiu seus olhos ficarem mais do que cinzas. Estavam prateados e emanavam uma forte luz que acalmava as mentes mais rebeldes e relutantes em se subjugar.

Seus cabelos ondulados e castanhos fustigavam violentamente no ar frio da sala, ondulando e se mexendo conforme as ondas de poder.

Julia desabou no chão.

Ela arfou e sacudiu a cabeça, percebendo que agora estava inativa. Levantou-se precariamente e observou que todos os outros: Amandha, Pietro, Johann, Mística e Magneto dormiam. Julia não sabia por quanto tempo conseguiria mantê-los assim, então, reservou uma parte da sua mente para tomar conta deles. Uma parte de sua mente que dominava poder o suficiente para mantê-los em sono profundo e controlar as mentes que ainda lutavam, como se protestassem inquietantemente. 

Com uma parte de si que ainda os mantinha dormindo quietos e inofensivos, Julia disparou escada acima até a conhecida Sala de Treinamento.

Deparou-se com o conhecido símbolo da Irmandade e não demorou até que quisesse tocá-lo. Era como se atrás das paredes já pudesse sentir o poder das Joias que a aguardavam.

Então o símbolo dilatou-se e revelou o cofre. Era tão bem encaixado que parecia pertencer inteiramente a parede.

Não demorou muito e a voz ressonou em sua cabeça, fazendo-a se sentir ligeiramente sonsa.

Diga. O nome verdadeiro e o nome do amigo. Melhor amigo.”.

Mas ela estava preparada. Julia, depois de conversar com Charles Xavier e depois de muito pensar, percebera a resposta.

Em cada tempo livre, ela tentara descobrir. E, depois de algum tempo, tudo pareceu mais claro para ela. As respostas, quando percebidas, pareciam ter estado lá o tempo todo. Mas não foi sem dificuldade que ela descobriu. Penou muito e agora seria recompensada.

Julia murmurou clara e sonoramente:

- Erik Magnus Lehnsherr e Charles Xavier!

Um ruído.

O cofre se abrira.

Sim. O nome só podia ser o nome verdadeiro de Magneto. E o nome do melhor amigo dele... Charles Xavier. Uma longa história, pontuada por momentos tristes e felizes. Um fatídico acidente. Mas, ainda assim, o melhor amigo.

E dentro do cofre, havia um saco de veludo vermelho imponente e bem fechado com uma fita dourada. Julia agarrou o saco e o abriu: Três esplêndidas Joias. Cada uma mais ou menos do tamanho de uma mão fechada. A vermelha, a amarela, e a verde. Obviamente, a azul e a rosa encontravam-se perdidas ninguém sabia onde. Julia rapidamente recolocou-as no saco e disparou para fora da sala, sem nem ao menos fechar o cofre. Não fazia sentido tentar encobrir indícios de sua culpa declarada.

Quando passou pelos que dormiam, observou que Magneto fraquejou. Ele piscou um olho. E o poder de manipulação de Julia se esvaía. Não dava mais tempo. Ela não tinha mais forças. Não tinha mais controle sobre eles. Estava esgotada e a felicidade por encontrar as Joias certamente a havia desestabilizado, de forma que agora ela deveria simplesmente correr para salvar sua vida. A qualquer momento eles acordariam, pois ela não tinha mais poder de domá-los. Chegara ao limite.

Julia disparou porta afora a tempo de observar apenas que outro olho de Magneto se mexia.

Julia correu e correu, mas estava complicado e fora de seu alcance uma chance de escapar daquele bairro.

Já estava a quatro quadras de distância, o que era uma distância considerável. Entretanto, os outros tinham facilmente meios de achá-la e destruí-la. E não havia nenhum táxi por perto. Como chegar à Mansão a tempo? Como sobreviver e cumprir a missão que Charles lhe propusera?

Ela se viu sem rumo. Quanto tempo havia se passado ao certo? Meia hora? Era o que ela supunha. Estava escuro, mas quase amanhecendo. As ruas pareciam iguais e as calçadas as mesmas esburacadas de sempre. As casas cinzentas também. Mesmo que ela soubesse se orientar, como poderia atravessar NY a pé e chegar à Mansão?

Julia permitiu-se respirar calmamente em busca de uma lufada renovadora de ar quando ouviu outro barulho.

Como se um animal tivesse uivado.

Ou como se algo muito rápido tivesse passado por ela. Sem se controlar, a figura de um tigre veio em seu pensamento. Mas tudo parecia impossível demais. A mente dela é que devia estar fora dos eixos.

Foi então que a suposta fonte do barulho se revelou.

Um táxi passou lentamente na sua frente. Possivelmente, o único carro em um raio de 50 metros.

Julia se levantou e gritou:

- Moço! Moço!

E o carro parou. Infelizmente, o motorista replicou:

- Senhora, eu estou voltando para casa. O táxi está fora de serviço.

E Julia não teve outra alternativa.

Hipnotizou-o e fez com que ele saísse do carro. Ela seguiria dirigindo sozinha em direção à Mansão.

- Tem certeza? – Falou ela hipnoticamente, seus olhos acinzentando-se aos primeiros raios de sol.

Dentro de alguns minutos, ela estava próxima do Instituto.

Mas Julia ouviu outro barulho similar ao primeiro. Teve certeza de que estava sendo seguida quando observou uma figura animalesca correndo ao redor do carro.

Dentes de Sabre.

Julia arquejou, estupefata. Parecia óbvio demais. Magneto acordara a tempo de pedir que seu capanga seguisse Julia e recuperasse o que fora roubado. Não demoraria muito para que Magneto sentisse falta do que tinha sumido, e de fato, ele percebera rapidamente, porque o capanga dele uivava ferozmente e com olhos felinos fixos em Julia.

- Mais rápido! – Urrou Julia para si mesma, mantendo um olho no saco de veludo vermelho que estava em cima do seu colo.

Mas parecia mais uma caça.

Dentes de Sabre com frequência rodeava o veículo, correndo como um animal e emitindo sons guturais assustadores. Ele parecia estar se divertindo, inclusive. Os carros e as pessoas ao redor deles gritavam ou simplesmente fugiam ao ver a cena de um carro em alta velocidade tentando se esquivar de um mutante animal maluco.

Até que, em um momento, Dentes de Sabre pulou em cima do capô e enfiou uma afiada unha no teto, rasgando o metal como se fosse papel. Julia, felizmente, deu uma guinada que o desestabilizou por um tempo e ele caiu de cima do carro, enfurecido e recomeçando a seguir o carro.

Julia sentia-se mais nervosa do que nunca.

Com certeza, morreria. Já aceitara o fato. Preocupava-e apenas em como fazer as Joias chegarem em segurança ao Instituto. Não poderia morrer em vão. Isso seria ridículo.

Mas mesmo assim, Dentes de Sabre rodeava o automóvel e emitia aqueles sons horríveis. Julia se sentia como a presa indefesa que apenas adiava o inevitável. Lágrimas escorriam freneticamente por seus olhos e desciam por sua face. Julia estava nervosa.

Ela estava com medo.

Quando Dentes de Sabre parou no teto do veículo pela segunda vez, ela gritou e por pouco não largou o volante. O que a consolou foi ver que estava na rua da Mansão. Faltava pouco para tudo acabar. Ela agarrou-se nesse pensamento e fez dele sua válvula de escape.

- Ai, meu Deus! – Ela gritou, levando as mãos à boca.

Julia respirou fundo e segurou firmemente no volante, virando-o com agilidade para a esquerda e fazendo Dentes de Sabre cair.

Rapidamente, ela posicionou o carro de maneira que pudesse atropelar o caído Dentes de Sabre. Julia pisou no acelerador e passou por cima dele, batendo a cabeça no vidro com o impacto feroz. Sangue descia por sua sobrancelha. Julia manteve-se firme e passou por cima de Dentes até que ele parecesse suficientemente imóvel, disparou do veículo, abrindo o portão da mansão com sua impressão digital e fechou-o depressa.

Só então percebeu que Logan vinha correndo.

- Você conseguiu? – Perguntou ele, surpreso.

Julia entregou para ele o saco de veludo contendo as três Joias do Infinito, mas não eram para elas que Logan dirigia seu olhar.

Era para o corpo caído de um machucado Dentes de Sabre do lado de fora do portão. Em seguida, para o táxi roubado e para Julia, que estava em estado de nervos, chorando freneticamente e tremendo dos pés à cabeça.

Logan agiu instintivamente. Abraçou-a.

- Tudo vai ficar bem. Já passou. – Disse ele, envolvendo Julia em seus braços.

Julia parou de tremer um pouco, mas chorava ainda mais. Teve medo. Medo de morrer. Medo de falhar. Estava fraca, debilitada, esgotada e tivera muito que suportar. Estava fragilizada física e mentalmente. Simplesmente sentia-se arrasada. Mas, ainda assim, grata pelo abraço reconfortante de Logan.

- Vou mandar alguém ficar de olho, caso Dentes provoque confusão. – Murmurou Logan, amparando Julia e fazendo-se de apoio para ela conseguir andar.

Dentes de Sabre ainda estava inerte no chão. Não morto, mas ferido e mortalmente enfurecido.

Então, Charles apareceu. Sua cadeira de rodas deslizava perigosamente na longa trilha da Mansão ao portão.

- Os outros estão lá dentro. Eu vou contar o que puder e prepará-los para a verdade. – Anunciou ele serenamente, mas olhando atento para a debilitação de Julia.

- Aqui está. – Disse Logan, estendendo para ele o saco com as Joias.

- Ótimo. Pode levá-la para sua casa? – Pediu Charles, referindo-se a Julia. – Quer dizer, ela não tem condições de...

Como resposta, Logan carregou uma adormecida Julia no colo, e saiu sem dizer palavra.

Fazia um sol de verão.

E eram dez da manhã. Mas Julia sequer se mexeu ou acordou. Do jeito que Logan a depositara em sua cama, ela ficou. E já fazia um bom tempo que ele a observava. Como ela dormia e ressonava graciosamente. Isso não combinava com os ferimentos que ela apresentava. Cortes espalhavam-se por seu tronco, rosto e pernas. Inúmeros roxos e arranhões menores. Um corte grave acima da sobrancelha esquerda.

Logan moveu-se e fechou um pouco mais a cortina. Pensou que a claridade pudesse incomodar Julia. Depois, dirigiu-se até um velho radinho que estava na única mesa do recinto e ligou-o baixinho.

A música All I Want Is You, do U2, ressonou suavemente no ambiente.

Logan então pegou um preparado de ervas que Ororo lhe entregara e, com a ajuda de um algodão e curativos, foi limpando os ferimentos de Julia e tratando-os. Sentou-se na cama ao lado dela e, ferimento por ferimento, aplicava o preparado e em seguida colocava um curativo. Não ficou excepcionalmente perfeito, mas dava para o gasto. Tudo que Logan queria era curá-la e tirar dela essa aparecia feia e machucada. Isso não combinava com ela e só fazia com que ela parecesse mais debilitada e fraca.

Então passou também a prestar atenção nos versos da música.

You say you want diamonds on a ring of gold. Você diz que quer diamantes num anel de ouro. You say you want your story to remain untold. Você diz que quer que sua história permaneça em segredo. But All the promises we make. Exceto todas as promessas que fizemos. From the cradle to the grave. Do berço à sepultura. When all I want is you. Quando tudo o que eu quero é você. You say you want your love to work out right. Você diz que quer que seu amor dê certo. To last with me through the night. Durar comigo pela noite. When all I want is you. Quando tudo o que eu quero é você.

E Logan pensou em Julia de outra forma. Mas ponderou, além da felicidade que seria, os riscos. Como ela seria alvo de seus inimigos. Como correria riscos durante cada segundo em que ela estivesse perto dele.

Mas Logan era egoísta. Ignorou a segurança e a vida de Julia ao beijá-la. E ignorava a segurança e vida dela agora, quando pensou: “E se?”.


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