Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 11
Instinto




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Logan virou a esquina da rua e manteve seus passos lentos até que avistou que o carro dos X-Men o esperava. Ele se apressou relativamente até que conseguisse chegar até o veiculo. Era o habitual carro para operações que não exigiam tanta locomoção e que seriam cumpridas em intervalos de tempo menores. Um carro preto e simples, mas quadrado e cumprido, como uma mistura de van utilitária com limusine, amplamente projetado para missões mutantes.  

Ao abrir a porta do carona (aonde viera sentado), percebeu que agora quem dirigia era o próprio Charles Xavier e ficou intimamente grato por isso.

Logan sentou-se no banco, fechou a porta com estrondo e enterrou o rosto nas mãos. Sentiu que Charles o observava. Talvez até mesmo já soubesse a natureza dos acontecimentos que incluíam Julia e Logan. Possivelmente, já lera os pensamentos dele e estava ciente de tudo. Melhor assim. Logan queria – e até estava aberto a-, discutir o assunto. Mas não a contar desde o início tudo o que acontecera nesses últimos minutos.

- Olá, Logan. – Murmurou Charles, ligando o carro pacientemente.

Logan movimentou a cabeça num sinal de que acatara o cumprimento.

Então Charles apertou um botão verde no painel do carro e surgiu uma janelinha que separava os bancos da frente dos bancos de trás. Assim, separados dos outros mutantes pela janela de vidro grosso, Charles e Logan teriam privacidade para discutir quaisquer assuntos.

Só então foi que Logan observou que nos vários bancos traseiros havia os outros X-Men. Havia duas fileiras de bancos, cada uma com dez assentos, dispostos em cinco bancos com dois lugares.  Jean e Scott sentavam nos primeiros bancos. O resto distribuía-se aleatoriamente.

Inclusive, Jean parecia levemente irritada e olhava com desprezo para a janela que agora encontrava-se no meio dos bancos. Logan não se importou de início, até lembrar-se de que Jean tinha poderes psiônicos e que poderia facilmente acompanhar a conversa entre ele e Charles. Então, torceu para que Charles barrasse qualquer tipo de invasão externa.

Charles arrancou o motor e logo eles seguiam caminho calmamente de volta à mansão.

- Acho que temos que conversar, suponho? – Perguntou Charles, sorrindo. Logan ficou irritado por um momento.

- Sim. Acho que você já sabe o que aconteceu. – Respondeu Logan, desviando os olhos dos de Charles, mesmo estes estando fixos no volante.

- Não quer me contar? – Indagou Charles lentamente.

- Ora, por favor, Charles! – Retrucou Logan, alteando a voz em sua inconformidade.  – Você sabe o que aconteceu e não me obrigue a repetir.

Charles fixou os olhos, dessa vez, na estrada à sua frente. Ele ponderou durante alguns minutos e finalmente falou, sereno:

- Você a beijou. E então, sobre o que quer falar?

Logan engoliu em seco. Não estava acostumado a falar sobre sua vida pessoal com outras pessoas. Geralmente, guardava isso para si. Mas dessa vez ele considerou importante partilhar a informação com alguém. Não tinha outra pessoa em quem pudesse confiar e pedir conselhos que não Charles Xavier. Ele conhecia a mente de Logan e seus mecanismos melhor do que o próprio Logan, possivelmente.

- Bem... Você sabe, melhor do que eu, talvez... Que eu não tenho muita sorte em meus relacionamentos. E eu preciso de alguém para conversar. Só poderia ter sido você. Então... Gostaria de falar sobre aquele beijo. E Julia.

Naquele instante, as mesmas lembranças dançaram na mente de Charles e Logan. A vida difícil, as Guerras Civis, o momento no Governo Americano. E pessoas. Kayla Silverfox. Um amor manipulado até sua morte. Victor Creed. Cuja história estava além da compreensão e as relações corrompidas. E Jean Grey. Proibido. Desde que nascera, amor considerado proibido e sufocado em suas intermitências pelo próprio Logan.

Enfim, a relação de Logan com mulheres sempre fora difícil. Ele sempre desconsiderava seus instintos e agia paulatinamente, pensando, refletindo. Instintos animais inteiramente ignorados e amores destruídos. Em geral, suas antigas namoradas eram sempre traidoras e mortas. Ou amores que ele fazia sumir à força. Mesmo que não sumissem.

- Fale, pois. – Sugeriu Charles, momentaneamente prestando uma atenção mais significativa em Logan, que respirou fundo e falou:

- Você sabe que eu não tive muita sorte nesse assunto. Não sei como proceder. Mas, mesmo assim, quero lhe falar sobre uma coisa. Desde que vi Julia, tive raiva dela. Mas, mesmo assim, meu instinto, de alguma forma, me dizia para prestar atenção nela. Não sei se parece estranho, mas eu não tinha como ignorá-la.

Charles assentiu para que Logan continuasse. Ele se sentiu um perfeito idiota.

- Então, sempre que me aproximava ela, mesmo odiando-a, algo dentro de mim simplesmente dizia que ela era importante. Bem, meu instinto dizia que era ela.

- E então?

- Mas eu estava decidido a esquecer disso. Pensei nos meus outros relacionamentos, como tudo terminou, e achei melhor nem dar bola para isso. Mas tudo contribuía para que a gente se visse e se falasse. Uma merda.

Charles sorriu e gesticulou pedindo mais.

- Até que recebi a missão de protegê-la. Hoje, tive uma enorme vontade de beijá-la. Eu a desejei. Eu a quis. Parecia estranho e novo para mim, mas a voz na minha cabeça gritava em aprovação. Deixei-me ser guiado pelo meu instinto. Agi com base nele e isso aconteceu.

Bom, uma coisa era fato. Logan era homem, e, nessa condição, era normal e considerável que desejasse uma mulher. Era aceitável que uma mulher o cativasse e que eles ficassem juntos. O instinto animal e masculino de Logan muitas vezes o dominava e o incitava a fazer coisas.

- Logan... – Falou Charles pela primeira vez. – Você teve outros relacionamentos que não deram certo. Relacionamentos em que você não usou instinto algum.

- Sim.

- Você está certo. Se quando tudo deu errado, você ignorou seu instinto. Nada mais justo que agora você tente fazer tudo dar certo usando-o.

Logan processou a informação. Obtivera uma resposta. Estava ali porque estava perdido, confuso. Não sabia o que esperar de Julia, ou o que sentia por ela. Não sabia como proceder e o que fazer a partir de agora.

Mas agora sabia.

Porque fazer tudo de caso pensado? Porque pensar?

Agiria instintivamente.

Como vinha fazendo até agora. Como deveria ter feito quando tudo deu errado.

- Então, você sugere que eu simplesmente deixe as coisas acontecerem sozinhas? Que eu faça o que me der na telha e ignore as consequências? – Perguntou Logan, surpreso com a resposta.

- Quase isso. Bem, eu te conheço, Logan. Sei que você não sabe o que sente por Julia, embora saiba que sente algo. Então, deixe as coisas caminharem. Aja instintivamente, porém, com certa cautela. Não se preocupe com os acontecimentos futuros. O que tiver de ser, será. Tenha isso em mente.

Então, Logan sorriu e agradeceu a Charles. Como sempre, esse homem dava conselhos tão sábios quanto um homem de dez mil anos daria. E Logan gravara em sua mente esses conselhos e essas frases. Tudo marcado como adamantium em um esqueleto.

Julia desencostou-se da parede depois de um longo tempo.

Respirou e então percebeu que estava atrasada.

Saiu correndo e seguiu caminho até um ponto de táxi. Não foi fácil. Enquanto corria apressada e desesperadamente atrás de um, imagens giravam em sua cabeça inquietas e pertinentes, mexendo nos sentimentos dela de uma forma exaustiva e controladora.

Sim. Julia e Logan. Era um assunto difícil e delicado, mas tinha que ser mentalmente explanado por ela, ou Julia enlouqueceria e cairia no chão. Bom, ela o odiava. Por todas as atitudes egoístas e egocêntricas que ele usualmente tomava. Inegavelmente atraente, é verdade, mas isso eram detalhes que era preferia ignorar. E o mais notável: Ela gostara do beijo. Quando percebeu o que estava acontecendo, ela se deixara levar pelo momento. Ela cedera

Então tomou uma decisão. Deixaria as coisas seguirem. Não interferiria em nenhum acontecimento específico. Eles se beijaram. Ela gostara. Mas deixaria o resto acontecer naturalmente. Sem pressão, mesmo porque ela não sabia o que sentir ou o que pensar em relação a Logan. Sabia que ele era importante, de certa forma. Sabia que, indubitavelmente, sentia algo. Ou seja, sentia a presença de algum sentimento que desconhecia.  

Mentalmente mais calma, Julia pensou rapidamente num ditado. E, inexplicavelmente, teve a sensação de que Logan também pensaria assim. O que tiver de ser, será.

Julia achou um ponto de táxi e pediu para que a levassem para a Irmandade, dizendo o endereço e por vezes parando para adquirir fôlego. O taxista a olhou desconfiado, visto que ela estava machucada, suada e cansada pelos acontecimentos anteriores. Mesmo assim, ele a levou e sequer comentou sobre a estranheza do local. Talvez pensasse que combinava com ela.

Julia entrou e se deparou com todos sentados na sala de estar. Magneto parecia impassível, mas com cara de que dera uma bronca no grupo. Mística sorria de um jeito evasivo. Os outros estavam de cabeça baixa e somente Johann sorriu quando viu Julia chegar.

E, ao se deparar com aquelas pessoas, Julia sentiu que não conseguiria mais. Simplesmente não conseguiria mais. Chegara ao seu limite. Tanto físico quanto psicológico.  O que restava de energia e estratégia seriam usados no plano que ela acabara de arquitetar.

Ela obrigou-se a manter-se de pé e forte. Reuniu energia, coragem e poder. Depois que tudo finalmente acabasse, ela estaria fraca e mais do que esgotada. Estaria no limiar de suas condições. Mas continuou. Como um X-Men continuaria. 


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