Tirar os saltos altos. Trocar animadamente de roupa e colocar uma que já estava pendurada e sorrir ao ver os outros desenhos que já estavam prontos. Hoje eu ia fazer algo com uma foto de Edward que peguei numa revista. Eu colei num canto da tela e comecei meu trabalho com tinta a óleo e alguns papéis coloridos. Isso me tomaria muito tempo e me sujaria mais que o necessário, só que eu estava feliz. Eu estava realizada.

Coloquei cores vivas, queria que fosse algo que representasse o nosso amor. Um vermelho vivo e um amarelo sol magnífico. Eu sorria ao lembrar de nossos poucos momentos juntos. Eu poderei agora respirar e sorrir um pouco. Mike já estava a quase duas semanas fora e um alívio percorreu meu corpo quando ele disse que ainda teria mais uns dias com meu pai numa viagem de negócios. Minha mãe tinha me lavado a um médico, mas como sempre nada foi encontrado. Tínhamos poucos compromissos sócias, um rápido brunch com umas amigas dela, uma festa de caridade em prol de um acidente geológico qualquer e é claro as reuniões semanais de um grupo chato do clube de senhoras que acham que aquilo é vida.

Terminei e olhei satisfeita para o quadro. Representava tudo que eu sentia, tudo que eu queria. O verde de seus olhos ressaltados, sua foto ampliada e linda, tudo que eu amava junto numa única tela. Edward e meu talento escondido.

Me arrumei limpando o rosto numa pia que havia num dos cantos. Troquei de roupa, me maquiei rapidamente. Pegue minha desculpa para ter passado tanto tempo fora de casa. Um panfleto de uma exposição no centro. Verifiquei se havia mais alguma coisa pendente. Desliguei as luzes e fui embora. Estava tranqüila ouvindo Amy no rádio tocar uma canção triste. Lembrei de Edward e de nosso falido amor. Cheguei em casa e  vi Mike deitado no sofá. Assim que me viu ele se sentou.

- Onde estava? – disse bêbado.

- No centro. Fui a uma exposição. – as mentiras a muito tempo faziam parte do meu viver e a cada dia eu as saia usar muito bem.

- Cheguei muito cansado. – ele justificava sua bebedeira assim. Quase ri disso. Observei suas feições preocupadas e tensas. Hoje talvez ele não quisesse ir para cama comigo, mas e amanhã? – Seu pai vem almoçar conosco amanhã. Sua mãe deve vir também, prepare algo. Hoje iremos a um jantar.

Olhei rapidamente para o relógio. Já eram mais de sete. Como me arrumaria a tempo. E ele bêbado desse jeito iria comigo para onde?

- Quem vai conosco? – Perguntei.

- Somente alguns amigos. É num hotel. Encontros para empréstimos futuros. Faça seu papel e mostre sua cara mais bonita. Conquiste-os.

Revirei os olhos e fui me arrumar. Escolhi um vestido azul que caia bem em meu corpo. Meus seis pareciam maiores e gostava do caimento. Só esperava que aquilo terminasse rápido. Só que ele já estava bêbado... ISS não terminaria bem... com certeza isso não terminaria bem.

- Pronta? – ele entrou no quart sem bater ajeitando o terno.

- Sim, só a bolsa.

Peguei a bolsa e caminhamos até o carro em silencio. Não estava tão triste. Pintar simplesmente me fazia esquecer dessa vida de merda que eu levava com Mike. Entramos no restaurante e vi o grupo animado conversando e rindo. Não havia outras mulheres, eu seria a única ali. Por que Mike fazia isso comigo? Sentei na mesa e eles gentilmente começaram uma conversa chata e sorria para eles respondendo nada além do necessário. Pediram uma coisa qualquer e eu me desliguei. Entrei em minhas metas, queria fazer outro quadro, dessa vez focando só nos olhos dele. Precisaria de outra foto. Um outro modelo.

- Vou ao banheiro. – disse me levantando. O cheiro da bebida estava realmente me fazendo mal. Fui devagar e me apoiei na pia fechando os olhos. Eu queria ir embora.

- Edward...- suspirei e o cheiro dele invadiu o banheiro. Admiti que estava ficando louca.

- Eu te amo. – ele disse e sorri. Me virei feito menina empolgada e o agarrei.

- Que saudades!

Ele riu da minha meninice. E me rodou no banheiro.

- Está cada dia mais linda. – Aquilo me emocionou. Eu não recebia elogios e corei. – Sua vergonha é mais linda ainda. Eu te amo.

E o abracei matando toda a saudade, deixando o momento fluir. Ele acariciava minhas costas carinhosamente e queria estar ali para sempre com ele.

- Queria te ver mais vezes. – confessei.

- Estamos tão perto agora...

- É você não é?

- O que meu amor?

- Que o faz ficar longe...

Ele sorriu largamente.

- Eu tento pelo menos, mas passará alguns dias com ele... será inevitável.

A tristeza ali.

- Não sei o que fazer...

- Ele não vai tocar em você. – era uma certeza tão grande que eu tinha até medo. Ele sentiu eu tremer em seus braços com a idéia dele em mim. Mike era desprezível. – Não tema... eu não tenho medo dele tocar em você, mas Mike tem estado meio descontrolado... e se ele bater em você Bella eu juro que mato ele.

- Ele...não se preocupe. Eu sei me cuidar.

- Ele já te bateu? – eu comecei a chorar. Nossa lua de mel. Ele me bateu porque eu fiquei doente.

- Bella ele não encosta você!

- Foi só uma vez... não se preocupe.

Eu queria ficar ali e não falar de Mike e suas maldades. Ele tinha ouvido algo do meu pai com certeza, mas não o fez mais e eu agradeci ao que fosse que o impedia. E depois de uma rápida despedida eu voltei a mesa, fiquei meio fora de mim enquanto eles riam e fumavam um pouco. Uma hora ele cansou e fomos embora. Entrei em meu quarto e chorei porque eu sabia que Edward estava longe e eu não podia tê-lo.

Acordar, me arrumar e ver Mike sentado tomando café. Isso era algo novo, ele geralmente não tomava comigo.

- Bom dia. – disse fria.

- Bom dia. Algum compromisso hoje?

- Não, só vou sair e ver algumas coisas.

- Vai demorar?

Eu não podia contar sobre a pintura. Teria que ser mais discreta.

- Vou passar a tarde fora sim.

- Não toma café? – ele perguntou.

- Só suco. Café faz mal para meu estômago. Sim....

E tomamos café em silêncio e avisou que ia ao clube jogar um pouco com alguns amigos e eu relaxei quando não o vi mais. Era bom estar sozinha novamente. Era bom estar com minhas pinturas e saber que ali não haveria nada e ninguém que fosse eu e meu eu mais sincero. Terminei um quadro e pus uma tele em branco no lugar para quando chegar amanhã eu saber que era um novo dia. Voltei e vi o carro de meus pais na garagem. Respirei fundo porque eu sabia que hoje seria um fim de dia chato demais.

- Boa noite- disse vendo somente meus pais. – Onde está Mike?

Meu pai levantou-se e pegou meus braços com força e gemi de dor.

- ONDE ESTAVA QUE NÃO NA CAMA COM SEU MARIDO?

- Pai... – ele quando queria poderia ser muito agressivo e sua máscara de tranqüilidade desaparecia como se nunca estivesse ali. Minha mãe tinha seu corpo marcado. Ele descontou nela também.

- ELE DISSE QUE TINHA UM COMPROMISSO! COMO VAI ENGRAVIDAR ASSIM!

E chorei depois de um tapa bem dado em meu rosto. Seria um final de noite muito ruim mesmo.p