Demigoddess escrita por Pacheca
Notas iniciais do capítulo
Pessoas, não sei quando posto o próximo, ok? To sem internet...
Os próximos dias passaram rápido. Na verdade, mais rápido do que eu queria. Não encontrei Scirus mais, e mal conseguia conversar com Chad. Na verdade, nem Luke ficava muito tempo comigo, a única coisa que estávamos fazendo juntos eram os treinos.
Eu já estava a quase uma semana no acampamento e nada acontecera. De verdade, eu até conseguia ler uma página ou outra dos livros que eu levei.
A euforia de ter um lugar pra pessoas como tinha passado e eu podia resumir meus dias ali com uma palavra: tediosos. Algumas pessoas podiam não acreditar, mas eu não conseguia ver nada de mais no acampamento.
O sol se punha manchando o céu. Baixei o livro um pouco e fiquei olhando ele sumir dentro do mar. Aquele foi um momento bem legal no dia.
Chad se sentou na areia ao meu lado e ficou olhando comigo. Olhei de soslaio pra ele, pensando porque ele estaria ali. Por mais irônico que isso soe, Chad odeia sol, por mais suave que seja.
– O que foi?
– Nada, só queria conversar com você. – Olhei pra ele, esperando o que ele queria. – Você quer encontrar Scirus, não quer?
– Pra ele me mandar embora? É, quero. Eu não quero ficar aqui pra sempre sendo só mais uma esquecida, Chad. Se é ora ser esquecida, que seja com minha vida lá fora.
– Talvez te reclamem... – Neguei com a cabeça, antes que ele continuasse. – Elgin, é sério.
– Eu sei, ok? – Ele parou de tentar argumentar e escutou. – Eu não quero ficar aqui, parece que eu estou presa porque eu quero.
– E se você não estiver presa, só em casa?
– E se roubaram a chave e trancaram a porta da casa?
Ele suspirou.
– Não quero que você vá. Eu gosto do 7, mas ainda gosto mais de você.
– Eu sei. Mas tenta ver meu lado.
– Promete que inferniza a vida do Dante por lá? Ajuda a me animar.
Assenti com um sorriso. Ele me abraçou e eu larguei o livro pra retribuir o abraço.
Scirus veio naquele caminhar de bode pela areia. Provavelmente, areia não era muito boa para cascos. Ele parou na minha frente, com aquela cara risonha sofrida dele.
– Que foi, Scirus? – Eu perguntei depois que eu soltei Chad e ele continuou me olhando.
– Quíron está aqui. Quer te ver. Os dois, ne verdade.
– Ele é igual ao sr. D? – Chad passou a mão nos cabelos.
– Não! Muito mais divertido e tranquilo. – Scirus sorriu e Chad ficou aliviado. Realmente, um encontro parecido com o do sr. D não era a coisa mais empolgante do mundo.
Chad levantou e me puxou. Peguei o livro e comecei a seguir os dois para a grande casa velha, até que eu vi outro daqueles caras estranhos, que não parecem estar ali, como o que eu vi no primeiro dia que vi meu pai.
Ignorei e continuei andando, ele sumiu. Scirus e Chad não perceberam minha demora. Continuei andando como se nada tivesse acontecido. Subimos na varanda e paramos na frente de um senhor de cadeira de rodas. Ai tinha coisa, mas não queria saber o que era.
Ele nos olhou um momento antes de falar. Não nos ignorou, mas não se dirigiu a nós.
– Olá! Prazer, Quíron. Como vai, Scirus?
– Bem, senhor. Ah, perdão, mas o senhor vai fazer alguma coisa com esse guardanapo? – Quíron deu uma risada e entregou o guardanapo usado pra Scirus, que mastigou como se fosse um pedaço de pizza.
– Vamos ao que interessa então... – Eu disse que tinha alguma coisa naquela cadeira. Quíron se levantou e para minha não tão grande surpresa ele tinha uma bunda de cavalo branco.
– Você tem uma bunda de cavalo. – Eu apontei sorrindo e com uma vozinha tão inocente que se eu soubesse que não era minha, acharia fofa.
– Se eu ganhasse um dracma pra cada vez que eu ouço isso. Realmente te surpreende depois de ver pessoas brilhando e homens com perna de bode?
– Não muito, mas ainda é chocante senhor.
– Tudo bem. Querem se sentar?
– Não, tudo bem.
– Ok, vamos começar falando dos dois, então eu falo com cada um, ok?
Chad e eu concordamos no mesmo instante. Começamos falando sobre o acidente na estrada, com o minotauro, incluindo Trianna e Dante. Depois da excursão com o guia monstro. Ele ouvia, fazendo uma pergunta ou outra.
Por fim, relatamos da vinda para o acampamento, mas não demorou muito.
– Muito bem. Vocês tem dislexia, TDHA, certo?
– Chad tem, eu não. – Ele me olhou mais um minuto enquanto assentia com a cabeça.
– Scirus tem razão, a aura de vocês é diferente. Mais forte que o comum, principalmente a sua. – Ele apontou pra mim. – Mas também mais discreta, como se fosse um paradóxo. Tão surpreendente quanto minha bunda de cavalo.
Teria ficado sem graça se não estivesse tentando compreender o que ele tinha dito. Se éramos mais discretos explicava porque não tínhamos sido achados ainda, mas se éramos mais fortes não explicava porque sempre estávamos mais “seguros” do que deveríamos.
– Por que não entra Chad? Precisamos conversar. Elgin, se quiser beber algo... – ele me entregou um copo limpo.
– Já sei.
Passei alguns minutos ali, imaginando o que eles poderiam conversar, mas continuava tentando resolver a coisa da aura paradoxal. Sem sucesso.
Quíron me chamou pra sala dentro da casa e dispensou Chad. Sentei no sofá me forçando a não olhar em volta, não me sentia bem ali.
– O que é tão errado em você? – Quíron me olhava muito intrigado, mais do que eu poderia considerar normal. – Quero dizer, você é mais interessante e difícil que os outros.
– Alguma coisa que eu possa fazer pra facilitar?
– Aonde conseguiu um anel com ferro estígio?
– Presente. – Rodei o anel no dedo olhando pra baixo antes de continuar. – Do meu pai.
– Você sabe quem é?
– Eu não entendo, Quíron. Me disseram que os Três Grandes tem um pacto, mas aparentemente alguém o quebrou.
– Quem?
– Hades. – Suspirei e esperei a reação dele. Ele também suspirou.
– Bom, isso pode ser um problema. Na verdade, várias coisas podem. A profecia pode estar mais perto do que nunca se você for a escolhida. Menos de um ano.
– Que profecia?
– Não importa. Ao menos, não agora. – Continuei observando as pernas de cavalo dele com uma expressão curiosa.
– Eu não sentir dor como qualquer outra pessoa, isso é alguma mágica semideusa ou o que?
– Ah sim, ouvi sobre isso também. Bom, espero que saiba, é só uma teoria. Talvez você consiga bloquear não só dor, mas sentimentos.
– Por isso em momentos em que eu desmaio ou perco minha concentração eu sinto dor?
– Pode ser. Se minha teoria estiver certa, o bloqueio é como um armazém. Você pode não sentir aquela dor, mas quando decidir liberá-la, tudo que você bloqueou volta de uma só vez.
– E se eu não quiser bloquear minha dor? Porque eu nunca escolhi isso.
– Não sei se existe algum jeito de controlar isso. – Assenti olhando pro meu anel.
– Então não é bem um dom.
Ele concordou com o ombro esquerdo. Me levantei e sai. Ele não fez nenhuma objeção e eu considerei aquilo meu sinal pra partir. Ele me parou antes que eu saísse da varanda.
– O que você anda lendo?
– Ao Cair Da Noite, Stephen King.
– Stephen King? Isso é uma surpresa. Boa leitura.
Sorri e voltei a caminhar, dessa vez direto para o pavilhão. Já era do jantar.
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