Incertezas Mutantes escrita por Sephyra Lune


Capítulo 5
A sombria traição dos homens


Notas iniciais do capítulo

O tempo passa e a história continua...



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Três semanas haviam passado desde a chegada da nova mutante na mansão. Kitty ainda carregava Jully para todo lado, apresentando-a a todos os lugares da mansão, da cidade e da escola que pudessem ser interessantes. Ela já havia participado de algumas sessões de treinamento com Logan, Jean e Scott e tinha encontros regulares com o Professor Charles Xavier para tentar técnicas para reativar suas memórias. Já havia tentado as influências dele, de Jean, de Vampira, regressão e hipnose, mas fora em vão. Jully ainda não se lembrava de nada.

Naquela manhã, porém, uma ponta de esperança surgiu durante a sessão:

– Então, notícias? – Jully perguntou para o homem na cadeira de rodas que tinha um livro no colo.

– Creio que sim. Fiz uma nova compilação das informações sobre seus sonhos e visões para delimitar de onde você poderia ter vindo.

– Algum resultado positivo? Tudo ainda parece tão confuso para mim...

– O Cérebro foi capaz de localizar um mutante que viveu há muito tempo que apontava condições semelhantes às suas. Infelizmente, já faz muito tempo e só conseguiremos mais informações se formos pessoalmente entrevistar as pessoas que o conheceram.

– E quando poderemos fazer isso?

– Resolveremos alguns impasses urgentes do Instituto e em breve mandarei uma equipe para a região. Você é, até agora, um dos mais intrigantes casos do gene X que eu já enfrentei. – O professor esfregou o queixo pensativo – Você tem consciência que viajou no tempo, mas essa viagem fez sua memória se apagar. Geralmente poderes ou dons não prejudicam seus possuidores.

– Isso significa que eu corro riscos ao usar meus dons que nem sei quais são? – Jully engoliu em seco.

– Devemos tomar cuidado. Como já conversamos, precisamos de mais estudos antes de concluir algo com certeza. Essas conversas são muito boas para reativar suas memórias e completar nossas lacunas.

– Como prometi, vou continuar me esforçando ao máximo para que isso aconteça o mais breve possível, Professor.

– Conto com sua ajuda. – O Professor e a pupila trocaram um sorriso antes de o Professor desviar o olhar para o relógio de cuco de madeira antiga na parede da biblioteca – Agora, acho que já nos delongamos demais nessa conversa. Você está atrasada para a escola.

– É verdade. Muito obrigada mais uma vez, Professor!

– Faremos o que estiver ao nosso alcance.

Jully sorriu e deixou o Professor pensativo na biblioteca da mansão. Ela subiu até seu quarto para buscar a mochila e não deixou de reparar em sua fisionomia no espelho. Seu rosto de pele clara tinha as bochechas levemente rosadas e seus cabelos castanhos escorriam em leves ondas pelos seus ombros. Ela passou um batom cor de boca, para não chamar a atenção e admirou-se uma vez mais.

Diversas perguntas passavam por sua cabeça naquele instante. Como seriam seus pais? Será que ela tinha irmãos? Será que eles eram parecidos e possuíam o mesmo par de olhos verdes? Ela aproximou seu rosto do espelho e observou seu nariz. Foi quando tudo aconteceu.

Seu olhar se distanciou da menina do outro lado do espelho para uma mancha escura que em seguida transformou-se em uma mulher de cabelos negros lisos cujos olhos Jully reconheceu: eram iguais aos dela. A mulher tinha a fisionomia séria e parecia estar zangada enquanto andava de mãos dadas com uma criança de cabelos castanhos mais claros que os dela. As duas andavam apressadas e ela podia sentir que a criança estava assustada com alguma coisa. Ela tentou entender de que as duas fugiam, mas não conseguiu ver mais nada e a imagem sumiu novamente e foi substituída por seu rosto assustado no espelho.

Jully tentou respirar profundamente por um momento para acalmar-se e tentar organizar os pensamentos, mas de nada adiantou. Saiu correndo de seu quarto em direção à biblioteca, colidindo com Logan no caminho.

– Guria, aonde vai com tanta pressa?

Na ausência de resposta, preocupado, Logan mudou de direção e a seguiu. Ele entrou na biblioteca segundos depois dela e ela já estava sem ar contando algo para o Professor.

– ...E ela estava lá, de alguma forma tenho certeza que era ela, nós estávamos fugindo e... – Ela se embaralhava com as palavras tentando cuspir a história do jeito mais rápido possível.

– Respire, guria. Desse jeito não vai chegar ao final da história. – Logan cruzou os braços e se apoiou na mesa analisando a figura feminina no meio da biblioteca. Sua expressão corporal parecia de alguém que não estava devidamente interessado no assunto, mas Jully contou do mesmo jeito.

– Ela me levava pra algum lugar e eu era uma criança, deveria ter uns 8 ou 10 anos. Eu não sabia para onde estávamos indo, mas parecia ser longe e assustador. Isso pode ser útil de alguma forma?

– Normalmente as manifestações do gene X ocorrem na adolescência, mas podemos analisar sua nova lembrança se você se acalmar.

– Precisamos pesquisar quem era ela, se alguém souber desenhar acho que consigo descrevê-la para um retrato falado e também podemos rastrear áreas egípcias porque eu acho que vim de lá e...

– Calma criança! – Logan a interrompeu – Você vai ter muito tempo ainda para descobrir. – Ela ficou em silêncio, surpresa com o tom consolador inédito que a voz dele havia adquirido.

– Por acaso você se lembra de algum marco que possa nos dar a data dessa cena? Algum símbolo, brasão, alguma informação.

– Não... – Jully suspirou pesarosa de desânimo. – Só havia... – Ela assustou-se quando foi interrompida por um alarme gritando alto, composto de diversas sirenes em uníssono.

– Intrusos. – Logan falou por entre os dentes e saiu apressadamente da sala. O Professor fechou as portas da biblioteca, e orientou a garota assustada.

– Você deve permanecer aqui dentro. Os outros irão cuidar disso, você não deve se expor a perigos.

– Ah Professor, eu quero ajudar.

– Ajudará se ficar aqui, longe das janelas. Vamos aguardar.

– Tudo bem. – Jully jogou seu peso no sofá sem mais insistir. Os dois ficaram em silêncio, tentando captar alguma mensagem da luta. Eles ouviram algumas pequenas explosões que imaginaram ter ocorrido no jardim e não demorou até que a mensagem telepática de Kurt chegasse ao Professor.

– Magneto está aí fora e deseja falar comigo. Espere-me aqui, Juliette. Não saia de forma alguma.

– Certo.

Jully ficou sozinha na sala. A curiosidade chamou sua atenção e ela foi sorrateiramente até a janela, que dava para a parte da frente da mansão. Ela precisava saber o que estava acontecendo e, dessa forma, pode ouvir parte da conversa entre Magneto e o Professor:

– Charles! Você sabe muito bem o que eu quero. Sabe que pode ser muito mais útil em minhas mãos do que nas suas. Vim resolver isso pacificamente. Se você não concordar com meus termos, sinto muito, terei de usar a força.

– Magnus! Você sabe que eu não abrirei mão disso. Você não tem ideia do que está fazendo.

– Ao contrário, Charles. Você tem uma arma de força fenomenal em suas mãos e não quer usá-la. Eu apenas farei uso dessa força para o bem dos mutantes.

– E o mal dos não mutantes! Pense neles também, Magnus!

– Sempre os defendendo, não? Deixarei seus pupilos em paz e vou parar de destruir sua casa se me entregar o que quero. É uma troca justa, mesmo que você não tenha muita escolha. – Magnus riu alto.

Jully analisou o cenário. Os membros do Instituto não estavam definitivamente do lado que estava vencendo a batalha. Havia muita destruição e Magneto havia trazido todos seus homens. Ela procurou por Logan, mas não o encontrou. Provavelmente deveria estar emaranhado com Dentes de Sabre em sua eterna rivalidade. Ela continuou ouvindo:

– Eu não deixarei que sua loucura se prolifere, Magnus.

– Nesse caso, sinto muito por você e seus jovens, Charles. Usarei a força.

Magneto aproveitou-se da vantagem e jogou a cadeira de rodas do professor Xavier contra a parede, fazendo-o cair. Jully levou as mãos à boca para evitar que gritasse de raiva. Ela observou Magneto entrar na casa e colou o ouvido na porta. Esperou-o cruzar pela biblioteca em direção à Sala do Perigo para esgueirar-se pelos corredores até o Professor.

Jully o encontrou caído, com a mão na cabeça, sentindo dores. Ela o ajudou a se reposicionar na cadeira nervosa.

– Precisamos fazer algo, Professor!

– Fuja daqui! Fuja!

– Não posso deixar vocês aqui! – Ela protestou.

– Faça o que estou mandando.

– Mas professor...

- Vá!

- Eu vou... Mas eu volto em breve. - Disse Jully ao perceber que devia haver alguma coisa escondida por trás daquilo tudo.

Disfarçadamente, Jully cruzou correndo o portão da mansão e fugiu para a floresta que ficava atrás da mansão, onde pensava que poderia ter uma chance de esconder. Jully entrou entre as árvores com velocidade e, quando olhou para trás pela primeira vez desde que saiu da mansão constatou que não estava sendo seguida. Antes que pudesse voltar sua atenção para o caminho à sua frente, chocou-se contra um homem. Ela perdeu o equilíbrio e caiu no chão.

– Olá minha cara! Desculpe pelo susto.

Ela pode perceber um toque francês forte em sua voz. O homem ofereceu-lhe a mão para ajudá-la a se levantar, mas ela recusou o gesto e levantou-se sozinha, limpando a terra das roupas com as mãos.

– Quem é você? – Atacou.

– Pode me chamar de Gambit. Vou ajudá-la a escapar de Magneto.

– Não confio em você! Não acredito no que você diz!

– Se não fosse verdade, chérrie, eu não estaria aqui lhe oferecendo ajuda. Na verdade, estaria em uma ilha paradisíaca da Grécia. Mas isso pouco importa. Apenas confie em mim.

– Eu conheço você! Você é um homem dele!

– Não mais, querida. Sou tão fugitivo quanto você atualmente. Logo, ajudando você, eu me beneficio.

Jully estava sozinha em uma floresta desconhecida e, por alguma razão que ela não sabia especificar, sentia-se tentada a aceitar a ajuda do estranho. Ele era um só, ela certamente conseguiria lutar contra ele caso fosse uma armadilha.

– Então... Qual seu nome, querida?

– Sou Juliette Grace.

– Você parece nervosa, senhorita Grace. Precisa se acalmar antes de continuarmos.

– Como ficou sabendo que eu estou fugindo do Magneto?

– Não vou mentir. Observo você desde que você se mudou.

Jully ergueu uma sobrancelha desconfiada. Quem era maluco o suficiente para segui-la e observá-la? O que ela tinha de interessante que todos queriam? O que ela poderia despertar naquele estranho homem de sotaque cajun?

– Por que você me observa?

– Você me encantou, chérrie. Vou guiá-la até um lugar seguro.

– Ainda não acredito em você...

– Se a única maneira de lhe provar isto for arrancar meu coração e jogá-lo a sua frente, então eu faço isso.

Gambit retirou uma espécie de bastão do casaco e expandiu-o, levando-o em direção ao peito. Notando aquela cena dramática, Jully revirou os olhos e resolveu participar do show dele:

– Não faça isso! Por favor!

Acredita em mim? Virá comigo?

Ela ponderou por alguns segundos. Não queria e não podia cometer o mesmo erro duas vezes de confiar nas pessoas erradas, mas ela queria fugir com ele. Resolveu então seguir a segunda opção.

– Não há outro caminho senão ir com você, há?

Creio que não. Vamos! – Ele sorriu vitorioso.


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