O que aconteceu? Essa é a pergunta que eu me faço todos os dias... Era a minha segunda experiência com plantas tentando me engolir (tirando aquela vez quando eu fui na fazenda de um filho de Hécate em Quebec... eu juro que aquilo não era uma abóbora!). Primeiro quando Nico, Grey, e eu fomos caçar e aí Hérica queimou aquelas raízes. E agora eu estava presa dentro de uma árvore que não se contentou em me engolir, agora ela estava me empurrando para baixo com todo o seu peso gigante de planta milenar.

Eu estava quase sufocando lá dentro. O pequeno espaço que eu tinha para respirar tinha sido coberto por um estranho cruzamento do madeira e massinha de modelar que cheirava a cocô de peixe (nem queira saber como eu descobri o cheiro disso...). Eu precisava sair de lá se não seria esmagada muito antes de morrer por falta de ar.

Com dificuldade eu consegui puxar a adaga que tinha colocado na minha perna por precaução. O que eu faria com aquilo eu não fazia a menor ideia, mas pelo menos era um começo. Levantei o braço e tentei fincar a adaga de bronze celestial na "massinha de cocô de árvore", mas parecia ser feita de pedra. De algum modo eu consegui enfiar dois centímetros na árvore. Foi aí que o chão sumiu.

Eu me me forcei a não soltar a adaga, fazendo com que eu ficasse pendurada por dois centímetros de bronze celestial fincado em árvore. Foi quando a arma se soltou da árvore...

Eu não tinha medo de altura. A minha descendência de Eolo não me deixava ter, mas enquanto eu caía, a minha vida inteira passou diante dos meus olhos e meu coração nunca bateu tão forte.

Alcançar o chão não foi a pior parte. A pior parte foi afundar no chão como em uma piscina. A terra era tão aerada que foi como se eu tivesse caído em um buraco cheio de enchimento de travesseiros.

Controlei o ar e empurrei o chão usando um jato do mesmo. Cheguei a três metros da terra e voltei devagar para o solo, mas não antes de mandar um jato ainda mais forte para tentar pressionar a terra um pouco mais de modo que ficasse mais fácil de se pisar, e de certo modo foi.

A minha adaga tinha caído ao meu lado. Peguei-a e a segurei em posição de ataque.

–Quem está aí? - perguntei - apareça

–Não reconhece a própria criadora? - perguntou uma voz que parecia vir de todos os lugares

–Você não é Quione! - falei girando no lugar à procura da origem da voz

–Não - disse a voz - mas sou mais importante que ela para você. Teria nascido morta se não fosse por mim...

–Apareça! - gritei segurando a faca ameaçadoramente

À minha frente uma mulher vestida de marrom se materializou com um olhar ameaçador. Era muito bonita, com curtos e cacheados cabelos negros, e isso sem falar nos olhos tão profundos que pareciam um poço. Sua pele era negra. Ela era maravilhosa, isso ninguém podia negar.

–Vo-você é a Terra! - falei gaguejando

Larguei a minha adaga e me joguei de joelhos no chão de modo respeitoso

–Uma reverência depois de uma ameaça... Prático, não? - ela disse um pouco rude - Mas eu sou a mãe de todas as criaturas terrestres, e como uma mãe, eu sei perdoar aos meus filhos. Levante-se, criança! Não há a necessidade de falsos modos perto de mim. Estás crescida demais para que eu possa lhe ensinar algo...

–Sinto muito se a insultei - eu falei me levantando - achei que corria perigo...

–De certo modo você corre perigo... - ela disse caminhando graciosamente até mim - tenho te observado a muito tempo, filha da neve. És bondosa, és corajosa, és forte, mas isso não será de utilidade nenhuma aqui. Nada poderia prepará-la para o que verás aqui...

–Me desculpe, senhora, mas o que poderia ser tão assustador em uma simples luta? - eu perguntei tentando não parecer insolente.

A Terra riu de modo tão delicado que eu quase fiquei hipnotizada pelo som.

–Provavelmente já enfrentou todos os tipos de adversários conhecidos, filha de Quione. Mandei Ol's para você e você os derrotou praticamente sem ajuda. Aquilo foi para testá-la e ver se já estava forte o suficiente. Você não está, mas isso aqui a preparará para a ameaça que o fogo representará. Se não sair viva, então talvez eu tenha que esperar mais dois milênios para o nascimento do próximo Ponto De Equilíbrio, mas sinceramente, eu não me importo... De nada nos servirá se você for fraca demais. O adversário que enfrentará nessa caverna será mais difícil de vencer que qualquer monstro ou Deus. Aqui dentro, você enfrentará a você mesma...

...

Nico Di Angelo Point Of View...

Admito que fiquei com raiva quando Benjamin levou Grace para dançar. Estávamos tendo uma conversa tão agradável. Era assim que eu costumava conversar com Bianca, era de certo modo familiar. Conjurei mais um copo de Limonada salgada e o bebi vagarosamente, apreciando o sabor azedo do limão com o saboroso sal. Grace era um gênio para inventar uma coisa tão deliciosa como aquela. Eu sabia que ficaria com muita dor de barriga depois de tantos copos daqueles, mas era tão viciante que eu não conseguia parar de tomar.

Eu já havia esgotado o quinto copo de limonada quando Ben invadiu a mesa na qual eu estava sentado e me pegou pelos ombros tentando me levar enquanto babulciava algo que eu não estava entendendo.

–Mason, se acalme e diga algo que faça sentido! – eu gritei parando no lugar

–Uma árvore engoliu a Grace! - ele disse com os olhos paralisados

–A árvore fez o que com a Grace? – perguntei sem entender

–Engoliu! Puxou ela para dentro da terra! – ele disse fazendo gestos que tentavam explicar a situação.

Aquilo não podia ser coisa boa. Plantas também tinham tentado nos engolir na floresta, Grace estava correndo perigo e aquilo era algo que não podia esperar.

–Onde? – Eu perguntei começando a ficar desesperado

–Na orla oeste da floresta! – ele disse com um olhar assustador

–Chame Anna e Quíron! – eu falei antes de desaparecer nas sombras

Eu sabia que a profecia tinha praticamente dito que eu morreria se viajasse nas sombras, mas eu precisava fazer aquilo, por Grace. As sombras não pareciam as mesmas, eram mais escuras e frias do que o de costume, isso fazia a viagem ficar mais imprevisível, já que a escuridão ficava me puxando para lados opostos, paralelos e perpendiculares à o destino.

Parei a alguns metros do lugar no qual eu pretendia parar, e quando cheguei lá já estavam, Anna, Quíron, Bem e todos os outros. A viagem tinha demorado mais que o de costume.

Corri e me ajoelhei ao lado de Anna.

–Oh, por Hades, graças aos Deuses, Nico! – disse Anna me abraçando com muita força – achei que tinha sido levado pelas sombras!

–A viagem demorou mais do que o esperado – eu falei ansioso – e Grace?

–Eu não a sinto! – ela disse assustada – tente você! Ela desapareceu completamente, é como se estivesse em um limbo entre o vivo e o morto!

–Isso não é possível!

–Eu sei! Passei a última meia hora tentando sentir alguma coisa, mas não há nada aqui! Vamos, você é melhor do que eu, tente!

Me concentrei em Grace, tentando encontrar minha melhor memória dela, seu cheiro, seus cabelos, sua pele, sua atitude calma e ponderada, suas Sais, mas não havia nada ali, nenhum frio na espinha, nenhuma luz e esperança, era como se ela tivesse sumido. Anna estava certa.

Bati no chão frustrado. Eu sabia que não devia ter deixado Grace ir com aquele idiota do Mason. Eu havia prometido a Peter, o pai dela, que cuidaria dela! O que eu diria a ele quando descobrisse que perdeu a filha para uma simples árvore estúpida? Grey provavelmente... Era isso! Grey e ela eram conectados!

Me concentrei em Grey e tentei encontra-lo. Meu coração deu um salto de alegria quando senti aquela familiar sensação de luz. Se seu lobo gigante estava vivo ela também estava!

–Ela está viva – eu disse agradecendo aos deuses

–Voce a sentiu? – perguntou Anna preocupada

–Não, eu senti o lobo dela – falei suspirando

Grace Snowline Point Of View...

–Se passar por esse desafio terá o poder de dominar os solos e os minérios – disse a Terra em um tom superior

Imediatamente eu me senti dotada de imensa força e poder. Movi os braços devagar aos meus lados e a terra abaixo dos meus pés os acompanhou. Aquela sensação era diferente da água e do ar. De certo modo era mais firme e palpável. Mas tão rápido quanto o poder tomou conta de mim ele me deixou, fazendo com que eu sentisse uma leve fraqueza repentina.

–Se não passar no teste, não restará nada da sua consciência para te manter viva, e voce entrará em um coma do qual jamais sairá.

–Não seria mais bondoso que me matasse logo de uma vez? – perguntei irônica

–Sim, Grace, isso seria mais generoso – disse a Terra – mas eu deixei de ser bondosa há muito tempo.

Eu ia responder algo, mas meus lábios não se moveram. De repente eu não estava mais consciente. Minha visão se tornou escura e meu corpo caiu suavemente no chão. A voz da terra voltou a ser uma voz vinda de todos os lugares “Que comece o terceiro desafio” ela disse antes que eu me perdesse completamente na inconsciência.