Jogos Vorazes por Cato escrita por AmndAndrade


Capítulo 24
Capítulo Bônus - Boa noite, Cat Cato.


Notas iniciais do capítulo

Ai meu Pai, um fantasma?! Nanananão, é a Amanda mesmo. Gente, alegria me definiu nesse site. Sei que a fic já está finalizada, mas eu escrevi um "capítulo bônus" e queria meio que compartilhar com você. Não tive como dedicar capítulo à Girl at Sea, nem ao icaropratti, nem a wallflower. Mas então, como fiz esse bônus, tcharam!! Pra vocês =)) e pra todos que comentaram, recomendaram, leram ou ainda estão lendo essa história.
O bônus é narrado pela Clove e descreve seus últimos momentos. Quero saber como vocês se sentiram lendo, ok?!



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Êxtase. Não há outra palavra para definir. Desde que entrei nessa maldita arena, só me senti assim duas vezes: quando Cato me puxou à Cornucópia e agora. Ver a Brasinha agonizar em minhas mãos é, sem dúvida alguma, excitante. Agarro a faca eleita para o serviço – uma faca de tornear, marca desconhecida, mas um bom corte. Começo a traçar sua boca, sentindo meu corpo emitir espasmos de prazer.

Não entendo o que acontece a seguir. Em um segundo, estou sobre a Brasinha. Em outro, minhas pernas balançam no ar e logo depois eu sinto o impacto de meu corpo contra o chão. Uma dor dilacerante emana do meu quadril, mas não posso me render agora. Viro-me com certa dificuldade, esperando encontrar uma besta, mas vejo o Garoto Onze me encarando. Forte e imponente como nunca.

– O que você fez com aquela garotinha? Você a matou?

Estou desesperada. Sei que sangue está escorrendo por onde a Brasinha acertou a flecha, sei que minhas mãos estão tocando grama e pedra, mas não sinto nada realmente. Minha mente está tomada pelo medo e eu não me lembro nem de como se caminha. A única coisa que consigo fazer é recuar de quatro, como uma criatura esperando o fim.

– Não! Não! – grito desesperadamente, como uma idiota. Fraca, Clove. Você é fraca. – Não fui eu!

– Você falou o nome dela. Eu ouvi. Você a matou? – ele grita para mim.

Não consigo responder. Aliás, eu mal consigo respirar. Encaro-o. Pela primeira vez em muitos anos eu sinto medo. Não um medo de uma hipótese do que pode acontecer comigo. Medo do que vai acontecer. Porque eu sei o que ele vai fazer comigo e não há saída. Um lampejo de ódio passa por seus olhos negros.

– Você a cortou como ia cortar essa outra garota aqui?

Sim, eu ia.

– Não! Não! Eu... – Pense, Clove, pense.

Eu a vejo. Em sua mão, uma pedra tão comprida quanto meu antebraço. Sei que nada do que eu disser agora vai simplesmente fazê-lo largar a pedra e ir embora. E é então que minha mente produz um único pensamento conexo: gritar para a única pessoa a qual eu confiaria minha vida nesse lugar.

– Cato! Cato!

– Clove! – o loiro me responde, mas o desespero me toma quando percebo que ele está longe demais.

Ele ergue a pedra e meu coração falha algumas batidas quando o instrumento acerta minha cabeça. O som do crânio sendo esmagado é real e ecoa em nos meus ouvidos. A dor que se espalha em meu corpo é ainda mais real, fazendo com que eu perca o controle dos movimentos. Ouço vozes ao fundo, mas não consigo me mexer.

Longe demais.

Agradeço por um minuto o fato de Martin ser cego. Meu irmão não mereceria ver isso nem em um milhão de anos. Aliás, nem mesmo Cato, com toda sua brutalidade, merece ver isso.

Penso no garoto de olhos azuis por um instante. Quando mesmo eu parei de odiá-lo e comecei a amá-lo?! Não importa. Até eu fechar definitivamente os olhos poderei me arrepender de muita coisa, mas Cato não está entre as mil primeiras posições da lista.

Momentos vagam em minha mente e meus ouvidos começam a zunir. Minha vista está um tanto embaçada, mas o azul do céu é claro e bonito. Eu não quis que isso acabasse assim. Se pudesse, escolheria uma morte como a do Garoto Dez. Se pudesse, eu desligaria todos os televisores do Distrito Dois nesse momento. Mãe, eu te amo. Pai, eu te amo. Martin, eu te amo.

Cato, eu...

– Clove! – uma voz masculina e familiar me chama. De quem é essa voz mesmo? Martin, é você?

Gemidos baixos saem da minha boa. Uma centena de perguntas tenta perfurar a grossa camada de dor que cobre todo meu corpo. Eu estou respirando? Meu canhão já soou? Minha cabeça está sangrando? Cato veio me ver?

Eu... Eu estou morta?

Alguma coisa tomba ao meu lado. O céu azul torna-se cor de pele e em seguida azul. Cor de pele, azul. Demoro alguns instantes para perceber que aquilo não é o céu – e sim os olhos de Cato.

Cato. Você veio. Veio me ver. Estou com sono, Cato. Eu quero fechar os olhos, mesmo que para sempre. Por favor. Estou sentindo dor, Cat Cato. Fica comigo, por favor. Faz a dor parar. Cato. Me responde, por favor. Me responde. Vamos lá, idiota, não me ignore. Cato, me responde. Por favor.

Demoro mais um segundo para perceber que não consigo fazer as palavras saírem da minha boca. Reúno toda a capacidade que tenho no momento para estender-lhe a mão. Meus sentidos estão bem mais aguçados agora, embora eu ainda não me mova. Sinto suas mãos quentes e grandes envolverem-na e a dor parece se dissipar por alguns segundos. É quente. É vivo. É real.

– Desculpa – ouço-lhe dizer. – Eu não devia ter te deixado ir. Não devia...

Ah, droga. Não, Cat Cato. Não... Você está chorando? Por favor, não chora.

– Shhh – consigo dizer. – Não é sua culpa.

Uma pontada de irritação se sobrepõe à dor quando ele continua repetindo:

– Eu não devia ter te deixado sozinha – diz.

Que parte do “não é sua culpa” ele não entendeu? Não chore, Cato, por favor, não chore. E o que ele diz em seguida termina de me quebrar. De me quebrar por dentro:

– Fica comigo, Clove. Por favor, te imploro, fica comigo. Fica comigo.

Vontade de chorar. Vontade de abraçá-lo. Vontade de voltar no tempo e de não me voluntariar, nem de deixar que ele se voluntariasse. Uma noite como a da Cornucópia e estaríamos ambos convencidos de que nosso lugar não era na arena. Era em casa. Na mesma casa. No mesmo quarto e também no mesmo colchão.

– Clove, por favor, perdoe-me...

– Cale a boca – digo e tento sorrir, mas não consigo.

A sensação de sono me invade mais uma vez e a dor começa a dar lugar à imobilidade total. Eu sei o que vem agora, e não quero que Cato veja. Se pudesse, cobriria seus ouvidos para que não escutasse também. Mas ele é insistente e eu não tenho tempo. O que posso fazer para que ele saia? Para que ele não me veja partir?

– Cato – sussurro, sentindo minhas pálpebras pesarem.

– Estou aqui. Bem aqui. Do seu lado. – Suas palavras saem num jato, sua mão agarrada à minha.

Lembro de que, ao longo desses Jogos, algumas coisas adquiriram um significado especial que só nós entendemos. Como o que ele disse quando dormiu no meu quarto ou quando queria que eu dormisse no dele, ou quando nos beijamos pela primeira vez. Como o que direi agora.

– Busque um copo d’água pra mim – sussurro, implorando para que ele não resolva discutir.

Sinto quando ele soluça mais uma vez, contendo o choro. Vire homem, tenho vontade de dizer. Vire homem e seja forte, meu amor.

– Não, Clove. Por Deus, não. Não posso te deixar agora. Não agora...

Mas que droga, Cato. Vá de uma vez, desta vez sou eu quem está te implorando.

Eu poderia pensar em mil coisas inteligentes e convincentes, mas não consigo. Meu coração está muito mais machucado que minha cabeça, disso eu tenho certeza absoluta. Não quero deixá-lo. Não quero deixar o garoto que colocou um colchão ao lado da minha cama, com a mão machucada, só para que eu dormisse melhor. O garoto que me carregou contra o fogo, que me levou nas costas quando eu estava cansada demais para andar. Que me beijou. Que cuidou de mim.

– Por favor – é tudo que consigo dizer enquanto uma lágrima escorre por minha bochecha.

Os olhos azuis e cheios de lágrimas me olham por um instante. Em seguida ele os fecha, chegando mais perto de mim e encostando os lábios na minha testa com uma suavidade que deixa o local formigando. Por mais que me doa morrer sozinha, não vou deixar que ele sofra me vendo desse jeito.

– Agora – digo, sentindo minhas pálpebras tremerem.

– Certo, Cat Clove – ele diz.

Seu rosto some de vista quando eu junto o que me resta de forças para esboçar um sorriso.

Uma série de imagens vem à minha mente. Momentos de toda minha vida tentam desviar a atenção da dor que eu sinto e estou grata. Grata por ter conhecido o Garoto da Espada e grata por conseguir que ele tenha saído.

Dou-me conta, com certo desespero, que nunca trocamos um eu te amo. Mas o amor estava ali, eu tinha certeza. Mesmo que nos conhecendo há tão pouco tempo, sei que o sentimento é real. Meu coração bate mais forte por um instante e em seguida volta, ainda mais fraco.

Desejo que as palavras encontrem um meio de encontrá-lo. Desejo que ele sinta o mesmo e que me perdoe por tê-lo deixado. Desejo reencontrá-lo em breve, onde quer que seja.

E agora tudo que posso fazer é desejar, porque a morte já me encontrou. Fecho os olhos e escuto a voz de Cato ecoar em meus pensamentos.

Boa noite, Cat Clove.





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Notas finais do capítulo

='(
Galera, eu tive bem mais leitores que reviews durante a fic. E preciso saber como vocês se sentiram lendo isso, porque eu me senti muito triste escrevendo. Então... O que acharam?! Obrigada pelas recomendações, adorei recebê-las e também responder aos reviews de vocês no epílogo. Isso é realmente importante pra mim. Como se sentiram com esse bônus?
Beijos, lindos! Que a sorte esteja sempre a favor de vocês HAUAHUH ♥