Jogos Vorazes por Cato escrita por AmndAndrade


Capítulo 21
Capítulo 21 - Olhos


Notas iniciais do capítulo

Espero sinceramente que gostem. Tô começando a ficar com saudades, já!



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            O som de um canhão me desperta e percebo que parou de chover. Ao contrário, agora o tempo está absurdamente quente. Tenho alguns cortes no rosto, meu pulso dói – mas consigo movê-lo – e estou extremamente faminto. E cansado. Sento-me e olho em volta. Um brilho me desperta por completo e agarro o pára-quedas com certo desespero. Alguns metros adiante, outro pára-quedas. Após imaginar a fortuna exorbitante que cada dádiva dessas deve custar, apenas uma idéia me ocorre.

            Eles estão apostando em mim.

            Abro o primeiro pote e cheiro do cozido de carneiro e ameixas me faz parecer um drogado enquanto como, sem mesmo sentir o gosto. Agarro o outro pote e vejo uma pomada para cortes, que tem o mesmo cheiro e textura que a que Clove usou em mim quando estávamos na Capital. Será que eles sabem?

            Afasto sua imagem enquanto derramo água de um odre em meu rosto e em meus braços. Percebo uma piscina natural a uns trinta metros de distância. Arrasto-me até lá e tiro as roupas antes de entrar. Lavo-as para tirar o sangue seco e as estendo em um galho. Faço as contas enquanto limpo os cortes de meu braço. Se o canhão não for fruto de um sonho, restam três de nós. Apenas três. Outra coisa atormenta minha cabeça: minha mensagem chegou? A Capital não parece irritada, nem de longe. Quando saio da piscina, minhas roupas estão bem secas. Trato dos cortes com a pomada, ignorando qualquer memória. É hora de prestar atenção. De tomar cuidado.      

            Depois de limpo e de certa forma medicado, volto para onde Thresh supostamente estava acampando. Não tem uma mochila, mas duas.

            A minha mochila!

            A mochila dele tem apenas algumas cordas, fósforos e comida. Abro o zíper da mochila grande que tem um dois desenhado na frente, meio extasiado. Então retiro dali uma malha vermelha grossa, porém maleável. Quando a estendo, ela parece ser feita exatamente para mim. Sinto como se uma corrente elétrica tivesse passado por meu corpo. Arranco as botas de um jeito meio desajeitado, desesperado por vestir minha roupa especial logo. Quando termino, a roupa que cobre de meus tornozelos ao meu pescoço parece muito com uma armadura.

            Uma armadura moderna e flexível, eu percebo ao correr em círculos pelo local. Agarro o cabo de minha espada e tento riscá-la de leve. Nem mesmo uma marca no tecido. Aperto a ponta espada contra minha bacia. Nada. Então estou maravilhado ao perceber que as flechas da brasinha não são mais um problema para mim: estou devidamente seguro pela tecnologia que um tempo atrás tentei imitar, mas não consegui.

            No dia que passa, decido me cuidar antes de caçar os tributos que restam. Não sou do tipo que espera minha presa chegar, mas também não sou do tipo que sai para encarar dois ou três leopardos usando muletas. Como o resto da comida na mochila de Thresh e depois parto para uma caçada. Consigo alguns coelhos e me dou por satisfeito enquanto encho três garrafas d’água e as purifico com algumas gotas de iodo.

            O sol arqueia-se lentamente quando percebo que meu pulso está ligeiramente melhor e que os cortes não vão inflamar. Entendo porque Caius não quis entrar aqui. Aposto que mesmo depois que você vence, a arena se torna seu inferno particular. Depois de tudo isso que aconteceu comigo, consigo imaginar porque tantos vitoriosos, ricos e famosos, entregam-se às drogas e às bebidas. Entendo porque têm desejos e hábitos estranhos, como os de afiar os dentes depois que saem ou de dormir agarrados a facas. Não é uma coisa que você simplesmente deixa pra trás. Vai te perseguir a vida inteira.

            Observo a lua no céu e imagino quem não poderá vê-la brilhar hoje. O hino começa e então a imagem da Garota Cinco, a ruiva que se escondeu dentro da Cornucópia no episódio das mochilas, aparece no céu. Sinto minha coluna ficar ereta. Isso só pode significar uma coisa.

            Os brasinhas estão vivos e trabalhando juntos, empenhados unicamente em matar a uma pessoa: a mim.

            Sinceramente, não me importaria que eles aparecessem aqui e agora.

     Não sei se posso me dar ao luxo de esperar e estou doido pra enfiar a faca em algum deles. A noite sempre foi minha hora favorita para caçar, mas imagino que agora que todo trabalho difícil foi feito eu mereça uma noite mais tranqüila. Então acendo uma fogueira. Se eles quiserem vir, tudo bem, mas eu não estou com saco pra sair andando caçando pessoas do Distrito 12. Sendo assim, grelho algumas raízes que encontrei na mochila de Thresh e enrosco-me no saco de dormir.

            O que quer que tenha de acontecer vai acontecer hoje. Está insuportavelmente quente quando acordo, mas percebo que o sol mal acabou de nascer. Como o resto das raízes que grelhei a noite e seco a garrafa d’água que me resta, uma vez que está quente demais para racioná-la. Minha camisa tão quente e suada que não parece que a lavei ontem. A malha tem uma abertura de uns dez centímetros na altura de meu quadril, e é lá que encaixo a espada.

            Quando chego até a piscina natural em que me lavei, ansioso por mais água, a sensação de que hoje é último dia é apenas confirmada: ela está absolutamente seca. E eu estou morrendo de sede.

            Olho em volta, mesmo sem saber de onde vim. Aqueles raios cairiam bem agora. Traço um mapa bem mal feito no chão, já que não tenho muitas habilidades com desenho. Se me lembro bem, a Cornucópia é o centro e estou na direção de sua boca. Então, se eu estiver lembrando bem, é mais rápido chegar ao riacho agora. Olho o campo em volta. Como gostaria de ter uma bússola! Olho para onde as árvores estão. Se o acampamento fica muito pra lá, o riacho deve estar mais pra diagonal do lugar onde estou. Então, um coelho passa saltitando por mim. Empunho a espada, mas antes que a use um pensamento me ocorre: ele precisa beber água.

            Então, quando me dou conta, estou seguindo uma criatura de quatro quilos e alguns centímetros de altura. O coelho segue diagonalmente por três ou quatro horas, como eu havia previsto. Todo buraco que ontem deveria ser uma piscina ou poça agora não passa de um buraco oco e seco. Estou com mais sede que nunca. Enquanto sinto minha língua seca e embrenho-me na mata, imagino que os Idealizadores podem ter secado os rios, mas não as plantas. Estou numa porção de mata fechada e já começo a me localizar quando mato o coelho e começo a olhar em volta, até encontrar um cipó d’água. Mal posso acreditar no que vejo. Corto-o na ponta e espero o líquido escorrer por minha garganta. Sorte que essas plantas armazenam bastante água. Encontro outro cipó e o corto novamente. Não paro de beber até estar completamente cheio. Encho meu odre e as duas garrafas, já que não sei por quanto tempo ficarei sem achar água.

     Passa do meio dia quando acendo uma fogueira para grelhar o coelho, bem perto do que antes foi um riacho. Entendo que a única fonte de água disponível deve ser o lago e que é pra lá que os Idealizadores querem nos mandar. Sento em baixo de uma árvore e acabo com uma das garrafas enquanto uma parte do animal. O jeito agora é ir para o lago e acabar logo com isso. Apoio a cabeça no tronco e, antes que perceba, estou cochilando.

     Esse foi um desses sonhos de lascar tudo de vez, apesar de bem curto. No sonho, ando por uma campina muito extensa e fedorenta. Seguindo o cheiro, encontro uma pilha de corpos. Não uma pilha de quatro ou cinco corpor, uma pilha de mais de vinte corpos. No topo, está Clove, com o mesmo machucado na cabeça. Sinto que estou com raiva, mas não há muito que fazer. Cinco olhos me encaram de dentro da floresta, olhos delineados de vermelho no escuro. Assim como os olhos que desenhei no peito de Thresh. O número treze pisca no céu, no lugar da insígnia e ao invés de um hino escuto diversos gritos. Olho para os olhos que me encaram e estou extremamente assustado.

     Então abro os olhos. Ainda está claro. Por quanto tempo dormi? Meia hora? Ouço passos que se aproximam com velocidade. Os muitos sons sugerem que se trata de um grupo, não de um só ser. Estou de pé com a mão no cabo da espada quando vejo um par de olhos curiosos me encararem na escuridão.

     Não pode ser. Não pode ser. Inclino o corpo retesando o ar para encarar os olhos verde-escuros de Clove. Considero estar dormindo quando os olhos piscam. Um par de olhos esmeralda, como os de Glimmer. Olhos castanhos como os de Marvel e da Garota Quatro. Piscando vez ou outra de algum lugar mais sombreado da mata.

    Inicialmente, imagino que isso seja uma tentativa da Capital de me assustar. Então os olhos piscam simultaneamente, e mais muitos pares de olhos se acendem na escuridão. Quando o ser que tem os olhos de Clove salta na clareira, equilibrando-se sobre as patas traseiras, meu cérebro já trabalha separado do meu corpo. Antes que me dê conta, estou correndo desesperadamente floresta adentro. 


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Notas finais do capítulo

Agora tem explicação a coisa das bestas, né? Essa foi a "surpresa". Se vocês pensarem, meio que faz sentido, porque elas perseguiram Cato antes de perseguir Katniss e Peeta (ao contrário do filme). É chatinho pedir essas coisas, mas já tá bem pertinho do fim, tipo, no máximo dois capítulos. Então vocês poderiam recomendar, ou comentar mesmo? Obrigada a todo mundo que leu essa bagaça até aqui HUAEHAU
Então, o que acharam?