Premonição 6: Inferno escrita por Lerd


Capítulo 10
He Tastes Like You, Only Sweeter


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora colossal gente, mas aqui está o décimo capítulo. Espero que gostem e comentem! :D



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            Sentado naquela sala fria, assistindo àquela história agourenta, Chris sentia-se a pior pessoa do mundo. Não que ele se sentisse culpado por qualquer coisa, ele fizera o que tivera de ser feito, mas as lembranças do corpo daquele rapaz pareciam fazer o Samurai ter uma visão mais ampla e humana da própria vida. Ele vira como Babe, Zane, Amanda, Vladmir... Como todos eles amavam suas vidas pouco antes de as perderem. Talvez seja por isso que eu tenha feito o que fiz. Porque eu amo minha irmã.

            Quinn o odiava até os dias atuais pelo que ele fizera. Para ela, ele a abandonara no momento em que ela mais precisara, e isso era imperdoável. E Chris não poderia limpar a sua própria barra sem sujar a da irmã, e ele a amava demais para que isso acontecesse. Amava tanto que estava disposto a perder o amor da sua vida para que Chelsea jamais tivesse a maior humilhação de sua vida exposta.

            O amor da sua vida.

            Chris sabia disso desde a primeira vez que a vira. Doce, meiga, romântica. Cheia de sonhos e com muita ansiedade, com sede de viver. Uma garotinha...

            Mas tudo isso mudara com o tempo. Quinn Rosetti tornara-se rigorosa, justa, firme. Era injusto chamá-la de fria, mas o tempo e as experiências a tornaram praticamente uma Dama de Ferro. E Chris tinha boa parte (senão a maior parte) da culpa por isso. Talvez se ele pudesse ter ficado para ajudá-la, talvez se ele pudesse ter ficado para amá-la... Talvez, e só talvez, Quinn hoje fosse sua. Mas como seus ancestrais, Christopher Tikara Holt tinha um senso de dever e justiça maior que qualquer uma de suas paixões. Suas obrigações morais vinham antes de qualquer recompensa afetiva que ele pudesse ter. O discurso talvez soasse bastante piegas e datado, mas era só assim que Chris sabia viver. Com honra.

            Já passava das três da manhã quando ele recebera a ligação, no fatídico dia. Através do seu chip cerebral implantado, uma voz trêmula e ofegante que dissera somente:

            — Otōto... Watashi o tasukete... (Irmão... Me ajuda...)

            Quando o som daquelas palavras pôde ser interpretado pelo Samurai, ele soube que tudo estava perdido. O japonês, a língua de seus ancestrais, era um idioma morto para eles. Ninguém o usava, a não ser por motivos especiais. Para ele e Chelsea, era a sua maneira mais íntima de comunicação. Era o jeito como eles trocavam confidências e segredos, o jeito como eles compreendiam o lado mais obsuro e secreto um do outro.

            Rastrear a localização de Chelsea fora fácil. Ela estava prisioneira dentro de uma pequena nave pirata que estivera incomodando a Colmeia durante alguns meses. Chris não sabia direito quem eram aqueles homens e o que eles queriam, mas sabia que eles significavam problemas. Problemas grandes. Perigos. Violência, crueldade, dor. Maldade.

            Mas nada o preparou para o golpe que ele acabou por receber.

            Chelsea foi encontrada com facilidade, caída dentro do compartimento de lixo. A garota estava com as roupas completamente rasgadas, e havia ferimentos por toda a extensão de seu corpo. Arranhões nos braços, nas pernas, nos seios. Pior: entre as suas coxas havia apenas sangue. Não precisou mais que dois segundos antes que o rapaz compreendesse tudo o que havia ocorrido.

            E não precisou mais que alguns minutos para que todos pagassem pelo que haviam feito.

            Chris descobriu posteriormente que eles eram oito.

            Oito homens que espancaram e estupraram a sua irmã.

            Oito homens que ficaram uma cabeça mais curtos.

            O Samurai cuidou deles com elegância, isso pode ser dito. Despedaçou-lhes membro a membro com a sua katana, e deixou-os sangrar até que pedissem pela sua morte. Um deles resistiu bravamente, e morreu por excesso de perda de sangue, mas foi o único. Todos os outros sucumbiam quando o primeiro braço era arrancado, e então Chris cortava-lhes a cabeça com um movimento rápido e preciso.

            Foram oitos mortos. Oito vidas. A honra de sua irmã. O desprezo do amor de sua vida. Mas Chris sentia-se satisfeito.

            Porque havia cumprido com o seu dever. Porque havia defendido a sua honra.

x-x-x-x-x

            Já era quase a hora do almoço quando Brody encontrou-se com Melissa. A garota estava usando uma saia de pregas florida e uma regata branca, com um fedora branco e delicado em sua cabeça. Seus cabelos loiros estavam soltos e, ali tão perto do mar, esvoaçavam ao vento.

            — Eu estou confuso. — O rapaz disse.

            — É normal. — A garota respondeu, sem olhar diretamente no rosto dele.

            Brody então se sentou na frente dela, obrigando-a a prestar atenção em suas duas piscinas de ouro líquido. Seus olhos.

            — Você não entende... Eu não estou confuso pela lista da morte, nem nada disso. É pela minha mãe. Ela matou uma pessoa, Mel. Ela matou alguém!

            Melissa olhou para o rapaz de maneira piedosa. Aquele era um sentimento ruim para se sentir por alguém, a pena, mas a loira não podia evitar. Ela sentia pena pela situação de Brody. Ele tinha tudo a perder. Mesmo que por um milagre ele e a mãe sobrevivessem à lista, uma ferida havia sido reaberta. Uma ferida que podia custar a felicidade de ambos, e todo o carinho, respeito e sinceridade que eles levaram dezoito anos para construir.

            — E se esse rapaz mereceu morrer? Digo... E se ele era um bandido, um criminoso...? — Melissa arriscou.

            — Ninguém merece morrer. — Brody devolveu. — Ninguém. E mesmo que mereçam... Quem somos nós para decidir isso? Nós somos Deus por acaso? Minha mãe é Deus?

            Melissa discordava daquele pensamento, mas não tinha argumentos para rebatê-lo. Brody parecia ser tão puro, tão fascinado pela vida, tão crente na bondade das pessoas... Ele acostumara-se a ter a mãe como escudo, tomando todas as balas por ele, e devia ser difícil perceber o mal no mundo. Especialmente quando esse mal parecia provir da pessoa que ele mais amava. Da pessoa que era todo o seu mundo.

            — Você não pode julgá-la, Brody. Você não sabe o que ela viveu. Não sabe pelo que ela passou. Você não sabe nada.

            Aquelas eram palavras duras, então Melissa tentou dizê-las com o máximo de cuidado possível. Funcionou.

            — Eu compreendo isso, Melissa. Eu não... É uma questão de princípios. Eu me sinto enganado. Sabe? Como se a minha vida toda fosse uma mentira. Eu construí meus valores e eu agi com respeito e com justiça e... Eu fiz tudo isso seguindo os conselhos da minha mãe. Ela foi e é a minha guia nesse mundo. Foi ela que me deu tudo o que eu tenho, foi ela que me ensinou tudo o que eu sei... Mas se tudo isso foi construído às custas da vida de uma pessoa... Eu jamais deveria ter nascido, Melissa! — Brody exclamou. — Se esse rapaz tivesse ficado vivo, minha mãe jamais teria vivido para me ter, eu sou o filho da morte, eu...

            Melissa então calou Brody com um beijo. Ela segurou o rosto dele pelas bochechas e tocou seus lábios nos dele.

            — Você é vida, Brody. Você é amor.

            E então, antes que a garota pudesse dizer mais alguma coisa, o rapaz retribuiu o gesto. Ali, naquele beijo, havia muitas pessoas. Para Melissa especialmente. Naquele beijo havia Skip, Cassie, Mia, Kaleb, Sherry, Nikki, Kelly, Lubo... Havia todas as pessoas que sucumbiram à morte. Havia Bobby.

            Era fácil, então, compreender porque o pensamento de abandonar aqueles sobreviventes passava poucas vezes pela cabeça de Melissa. Ela podia não estar naquela lista, mas ela facilmente se esquecia disso. A garota estivera tão acostumada a lutar contra tudo aquilo, que era difícil desvincular-se. Era difícil ver-se como um ser independente, com alguém que tinha uma vida além das tragédias as quais sobrevivera. Melissa não os abandonava porque ela sentia-se parte de tudo aquilo. Porque desde o Massacre da Babilônia, uma parte dela estava eternamente ligada à lista da morte. E seria assim para sempre.

x-x-x-x-x

            Marsellus e Helena estavam na beira de uma piscina privada, longe da maior parte dos hóspedes do hotel. Ali, havia apenas os dois. O homem usava apenas um calção branco, enquanto a mulher estava trajada com um maiô preto bastante extravagante. Bem e mal, invertidos. Nos rostos de ambos havia um par de óculos escuros. Atrás deles, olhares incertos.

            — Eles já têm uma previsão de quando nós vamos poder ir embora? — Marsellus perguntou friamente.

            Helena respondeu no mesmo tom:

            — Depois de amanhã é a data mais provável. Tudo indica que o furacão passará por Cancun entre hoje à noite e amanhã à noite. Os meteorologistas dizem que o lugar onde estamos será pouco afetado, sem nenhum grande dano ou risco. A parte mais afetada será a das ruínas... Mas eles preferem prevenir.

            O homem ouviu tudo, concordou com um aceno de cabeça, e falou:

            — Talvez eles estejam certos.

            E o silêncio tomou conta do ambiente. Helena soube rapidamente que não teria de Marsellus a reação que esperava.

            — Você não vai ao menos mencionar o fato de que eu posso morrer a qualquer momento? Você não vai nem ao menos fingir que está preocupado comigo? — A mulher soltou, de repente.

            Marsellus olhou para ela no mesmo instante, embora não fosse visível a reação dele por trás dos óculos escuros. Ele nada disse.

            — Sabe... Eu não ligo, nunca liguei e jamais ligarei para o seu gênio forte, Marsellus. Para a sua insensibilidade. Você é assim desde que eu te conheci, desde criancinha. Frio. Mas eu não me importo. Nunca me importei. Eu gosto, na verdade. Isso faz de você uma pessoa racional, alguém que pensa sem se importar com elementos subjetivos, com paixões... Mas uma vez, pelo menos uma vez... Eu queria te ver sentir algo além de raiva. Sentir algo além de ira. Isso é a única emoção que te vejo ter. A fúria. Se você não tivesse seus acessos de raiva, eu facilmente poderia dizer que você é um robô.

            O homem continuou calado, sério. Helena não aguentou:

            — Fale alguma coisa, filho da puta!

            Marsellus então começou a rir. A mulher sabia que aquela era uma artimanha que ele utilizava para tentar dispersar sua raiva. Será que foi assim com Claire? Será que ele tentou ao máximo não fazer o que fez? Será que ele ao menos desconfia que eu sei mais do que ele imagina? Oh Deus, eu fui longe demais...

            — Você quer que eu fale alguma coisa? Tipo... Qualquer coisa?

            — Qualquer coisa! — Helena exclamou. — Sinta alguma coisa!

            — Bom... Eu posso dizer que eu senti o melhor orgasmo da minha vida quando eu vi o Hank te fodendo naquela cadeira do nosso quarto. Eu quero dizer... Não que eu não tenha ficado um pouco furioso, mas eu acho que os prós foram mais vantajosos que os contras. — O homem falou, e então virou para frente, não reparando na reação da mulher. Mas ele a previu com facilidade. — O quê? Você achou que eu não tinha percebido? Haha! Poxa Helena! Tantos anos e você não sabe como eu lido com o álcool? Eu não entro em coma como esses bêbados. Eu não tenho ressaca... Quanta ingenuidade... Pensei que você me conhecesse melhor.

            Helena tremia. Marsellus era como uma bomba relógio, pronta para explodir. O sarcasmo era a segunda atitude que o homem tinha para tentar conter a fúria dentro de si, logo após os risos nervosos. Um movimento em falso e esse é o meu fim. Ele não hesitou com Claire, porque hesitaria comigo? O que eu fiz para me considerar tão especial para ele?

            — Qual foi o gosto? — Marsellus disse, de repente.

            — O-o-o... Gosto? G-g-gosto do q-q-q-quê? — Helena gaguejou.

            — Da porra dele, ué. Eu vi tudo o que aconteceu, meu amor. Qual foi o gosto?

            — Marsellus, por favor...

            — Me fala! — O homem gritou, e Helena sentiu as paredes tremerem. Ela precisava ficar calma, mas não conseguia...

            — Me escuta, eu preciso que você se acalme...

            — FALA!

            — Tem o mesmo gosto da sua só que mais doce! — A mulher exclamou, por fim, vencida. — Era isso que você queria ouvir?

            Marsellus tremia. Todo o seu corpo parecia tomado por algo maior que ele.

            — Sim. Obrigado pela sua sinceridade. — O homem falou. — Agora vá se foder e morra!

            Ele então saiu da piscina e seguiu para longe. Helena levantou-se rapidamente e segurou-o pelo braço. A loira jamais deveria ter feito aquilo. Disse:

            — Fui eu.

            Naquele momento a mulher olhou diretamente dentro dos olhos do homem, e sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Marsellus tinha esse poder, o de atacar alguém apenas com um olhar. Mas não é o olhar dele que eu temo... São seus punhos.

            — Foi você o quê?

            Helena engoliu em seco.

            — Fui eu que escondi o corpo dela. Fui eu que apaguei todos os vestígios do que você fez. Eu... Eu li em algum lugar um... Método... Eu prendi diversos pedaços de carne de porco ao corpo de Claire, e joguei em um pântano. Os crocodilos fizeram o resto... Foi fácil. — A mulher falava com tranquilidade, temendo fazer a bomba explodir. — Não havia nenhuma evidência. Você matou-a com as suas próprias mãos. Não havia arma, não havia sangue... Apenas o corpo.

            Marsellus abaixou a cabeça. A expressão em seu rosto era uma incógnita.

            — Por quê?

            E então Helena proferiu sua sentença de morte:

            — Porque eu te amo.

            A primeira coisa que a mulher sentiu foi o impacto de suas costas batendo contra o piso da parede. Naquele momento, Helena teve certeza que havia quebrado alguns ossos. Marsellus segurava a mulher pelo pescoço e a apertava contra a parede. O rosto dele estava próximo do dela, e o homem gritou em seu ouvido:

            — Você não pode me amar. Você não pode amar um monstro!

            Helena gritou, sentindo a dor da mão de Marsellus fechando-se contra seu pescoço.

            — Você não podia... Não devia... Você não tinha o direito! Eu sou um monstro, eu sou um assassino! Você era um anjo... Oh, Helena, você devia ser a porra de um anjo! — Marsellus falava cada vez mais alto, enquanto a mulher arfava tentando respirar através do punho de ferro do homem. — Mas agora você não passa de outro monstro.

            E então Marsellus jogou o corpo da mulher com toda força no chão, e o impacto que foi ouvido lhe deu a certeza.

            Foi como jogar um vaso de porcelana contra o piso. A cabeça de Helena provavelmente quebrou-se internamente em vários pedaços, e rapidamente uma poça de sangue enorme surgiu ao redor do corpo caído da mulher.

            Helena estava morta.

x-x-x-x-x

            — Tudo bem, mãe. Eu entendi. Claro. Vai ser difícil eu conseguir um bracelete maia pra senhora nesse momento. É, a oficial Marina não me deixa ir para lugar nenhum... Tá, tá, eu falo pra Jill. Não, mãe, não tem como eu levar a camiseta pra LeShawna. Eu já disse mãe, eu não posso sair da casa. Tá. Sim, eu estou escovando os dentes. Mãe, eu não sei quantas cuecas eu trouxe. Ai, mãe, tchau. Fale com a oficial. Eu te amo, beijo. — René entregou rapidamente o telefone para a detetive, antes que sua mãe começasse outro discurso sobre higiene e souvenires.

            Marina riu e começou a conversar com Dawn. Ela explicava de maneira calma e segura como estava tomando conta do rapaz e da garota, e como os mandaria em segurança dali poucos dias, logo que o furacão passasse por Cancun e seguisse seu caminho. Apesar dos pesares, René sabia que estava em boas mãos.

            O ruivo seguiu para o quintal, onde Jill estava. A garota mexia em seu celular, e o rapaz não conseguiu conter a curiosidade:

            — Está falando com o Hank?

            Jill virou-se para olhar o namorado, e então falou:

            — Sim. Mas ele não está me contando muita coisa... Ele só falou que é pra gente ficar aqui, porque estamos seguros. Ele também disse que o Marsellus foi salvo.

            — O brutamonte? — René perguntou.

            A garota confirmou com um aceno de cabeça.

            — Então faltam apenas quatro. — O ruivo falou. — A mulher de vestido branco, Brody, Hank e eu. E então é a vez da Pam de novo...

            Jill nada disse, apenas continuou a mexer em seu celular.

            — Eu aceito o que quer que aconteça comigo. — René disse, de repente. — Se eu morrer, sabe... Eu acho que posso dizer que isso não me assusta mais. Eu quero viver, com todas as minhas forças, mas eu estou disposto a aceitar a morte se isso for inevitável.

            A garota continuou calada, mas dessa vez olhava diretamente nos olhos do namorado.

            — Eu encontrei alguém que me deu essa paz. — O rapaz falou.

            Jill então comentou, de maneira descontraída e quase irônica:

            — Quem? Deus? Vai me dizer que virou um crente?

            As palavras da garota foram como socos no estômago de René. Ele engoliu em seco e então respondeu:

            — Você faz isso parecer doentio, como se fosse uma coisa errada. Foi bonito, Jill. Deus falou comigo. Eu senti a presença dele.

            A morena levantou-se instintivamente. Ela olhava para René com estranheza, quase como se não tivesse o reconhecendo.

            — Jill, que porra é essa? Você tem algum tipo de fobia contra pessoas que tem uma fé?

            — Não, claro que não... — A garota tentou se desculpar. — É só que esse não parece você. Eu acho ótimo que você tenha encontrado algo no que acreditar, mas... Eu não... Não parece você. Eu sinto que eu te perdi.

            — Você não me perdeu, princesa! Eu estou aqui, do seu lado... — O rapaz tentou dizer, e levantou-se também.

            — Será mesmo, René? Ou será que o que sobrou foi só uma casca? Eu sinto que... — A garota engoliu em seco. — Isso vai doer em você, mas eu preciso ser sincera. Eu sinto que eu te perdi no dia do desmoronamento. Eu venho tentando desde então te ajudar, ser compreensiva, te apoiar... Mas você não parece estar aqui comigo. Parece que o que sobrou foi apenas uma casca, e a pessoa que amei se foi para nunca mais voltar...

            René abaixou a cabeça. Ele então se virou e só conseguiu dizer:

            — Então eu acho que eu não preciso mais de você.

            E entrou correndo para dentro da casa.

            Jill estava com lágrimas nos olhos. Não pensou em mais nada, apenas correu. Correu em direção ao portão, e então, com uma força descomunal, escalou as paredes de pedra que ficavam ao lado do portão de ferro. Em segundos estava do lado de fora da propriedade da oficial Marina, com seu celular em mãos. Hank, me ajuda, nós precisamos salvar o René, era tudo o que ela pensava. E então correu até se cansar, procurando chegar rapidamente ao hotel.

x-x-x-x-x

            Melissa observava Brody dentro da água, sentada na areia da praia. O rapaz parecia reluzir à luz do sol, como se houvesse milhares de diamantes microscópicos incrustados em sua pele. Ele a fazia se sentir de uma maneira semelhante à que Skip fizera, só que com um pouco menos de intensidade. São amores diferentes, Melissa, a garota dizia para si mesma, Skip era fogo, era paixão. Brody é carinho, é gentileza... É ternura...

            E então ele desapareceu da vista da garota. Melissa olhou para todos os lados, confusa, e não o viu. Eles estavam em uma área isolada da praia, então não havia ninguém a quem perguntar sobre o paradeiro do rapaz. Além disso, para ele sair dali ele teria de obrigatoriamente passar perto dela, e a garota só não o notaria se estivesse extremamente distraída. Além disso, porque ele faria aquilo?

            — Brody? Brody?

            Subitamente um pensamento terrível tomou conta da cabeça da loira.

            A... f... o... g... a... r...

x-x-x-x-x

            René desenhava chorando. Ele queria ir atrás de Jill, queria buscá-la.

            O batom de Marina já estava no fim quando ele terminou de riscar, no espelho do banheiro. A mulher entrou no mesmo instante, quando o rapaz fez o último movimento e rachou seu reflexo em várias partes, inclusive cortando a própria mão.

            Ali, lado a lado com o rosto de René, estavam bolhas. Bolhas e mais bolhas. Bubbling boy, René escrevera.

            — Isso é outro sinal, René? É um sinal de outra morte?

            O rapaz concordou com um aceno, e então a oficial saiu correndo. Ela pegou seu celular e discou rapidamente para Pam. A mulher atendeu no primeiro toque:

            — O René viu alguma coisa. Você precisa reunir todo mundo. Bolhas. Eu acho que alguém vai morrer afogado. — E desligou, não deixando tempo para que Pam lhe fizesse perguntas sobre como ela sabia da lista.

            Bubbling boy, era o que estava escrito. Aquela não parecia ser a dica da morte da mulher de vestido branco, para René. Isso só pode significar uma coisa... A vez dela já passou. De uma maneira ou de outra.

x-x-x-x-x

            Marsellus guardava suas roupas dentro da mala com a maior rapidez possível. Ele tinha pouco tempo até que encontrassem o corpo de Helena. O homem tivera o cuidado de esconder o cadáver dela, mas ele jamais passaria despercebido por muito tempo.

            Eu ajudei a lista da morte, ele não podia deixar de pensar. Eu acelerei o processo. Se não fosse a vez de Helena, tudo estaria acabado.

            E então alguém bateu na porta. Marsellus congelou, nervoso. Droga, droga. Maldição!

            — Quem é? — Ele perguntou, firme, tentando não deixar transparecer seu nervosismo.

            — Sou eu, o Hank. Eu posso entrar? — A voz do outro lado disse.

            Uma onda de eletricidade então percorreu o corpo de Marsellus. Hank. O homem seguiu até a porta e abriu-a, com um sorriso no rosto. O rapaz não se acanhou e rapidamente entrou no quarto.

            — A Helena não está?

            — Não, ela saiu. Acho que foi comprar alguma coisa.

            — Mas ela não pode! — Hank exclamou. — Ela corre perigo, ela é a próxima!

            Por alguns instantes a raiva de Marsellus se dissipou, ao observar Hank. O rapaz era tão... Agradável. Tão belo. Ali, exasperado, nervoso e assustado, parecia ainda mais adorável. O homem queria que fosse possível, em algum universo paralelo, que ele pudesse tê-lo. Nos braços, para cuidar e ficar junto para sempre. Odiou o amor, odiou a si mesmo. Helena o amara e não pudera tê-lo. Hank amava Helena, e também jamais a teria. E ele, Marsellus, sentia-se irreversivelmente apaixonado pelo mágico.

            — A Helena está morta. — Marsellus confessou, de repente.

            Hank então arregalou os olhos.

            — Ela está... O quê?!

            — Morta. — O loiro repetiu. — Eu a matei. Eu apertei o pescoço dela e então a joguei no chão com toda a força. Arrebentei a cabeça dela como se fosse feita de vidro.

            O mágico mantinha-se parado, como se fosse uma estátua. Marsellus então tateou o objeto em seu bolso. O objeto minúsculo e fatal.

            — Você... — Hank sussurrou, e então viu o movimento do loiro, puxando a arma.

            — Me desculpa... Mas você não pode ser de mais ninguém.

           

x-x-x-x-x

            As ondas estavam agitadas, e Melissa não era uma nadadora muito experiente. Mesmo assim, ela precisava tentar. Ela não aceitaria perder Brody. Não naquelas circunstâncias. Não quando havia muito mais para eles viverem.

            E então a garota teve a ideia de mergulhar.

            Não demorou muito para que ela percebesse que, abaixo de si, havia diversos buracos. Buracos que poderiam facilmente engolir uma pessoa e matá-la afogada. Oh, não. E então Melissa mergulhou mais fundo, e começou a se aproximar perigosamente dos tais buracos.

            No terceiro, encontrou Brody.

            O rapaz estava com os braços para cima, então foi fácil para a garota puxá-lo. Difícil foi nadar com ele até a praia. Mesmo assim, Melissa o fez. Retirou forças que não sabia que tinha, e deu braçadas vigorosas até a areia. Ao chegar lá, surpreendeu-se com a presença de Pam. A mulher estava com os olhos vermelhos, aparentemente de tanto chorar.

            — Brody, meu amor! — Ela gritou.

            Melissa caiu na areia, completamente sem forças. Pam começou então a tentar fazer Brody responder aos estímulos externos, enquanto gritava para que alguém na praia pudesse ouvi-la e pedir ajuda. A loira então percebeu que ninguém viria, e levantou-se, cambaleando e fraca, para ir atrás de alguma ajuda. Tudo ao seu redor girava e a confundia, mas Melissa não iria desistir até salvar Brody.

            — Querido... — Pam dizia, enquanto retirava a água do peito do filho com movimentos comprimindo o peito dele. Então ela fez uma respiração boca a boca, e, na terceira vez, o rapaz respondeu, inspirando profundamente.

            Brody tossiu muito. Ele estava bastante pálido, e tremia. Pam tentou se conter, temendo que um abraço mais forte pudesse prejudicar o filho. Naquele momento ela sentiu a maior felicidade da sua vida, e amou-o mais do que nunca, algo que sempre julgou ser impossível, já que o amava mais que a própria vida.

            — Mãe... — O rapaz falou, fracamente. — Eu te perdoo. — E então sorriu.

            Pam tinha os olhos cheios de lágrimas. Não conseguiu dizer nada naquele momento, apenas chorar.

x-x-x-x-x

            — Por favor, Marsellus... Por... — Hank implorou.

            E então o homem disparou. A arma, silenciosa, não fez barulho algum.

            Um tiro certeiro na bochecha de Hank, e metade do rosto dele foi arrancado com a bala. O rapaz caiu no chão, já morto, e muito sangue escorreu, formando uma poça espessa. A parede branca atrás dele estava completamente suja com os respingos, e até mesmo as roupas de Marsellus continham o sangue e os pedaços do mágico.

            Agora são três.

            Marsellus tremia. Um frio invadiu o corpo dele subitamente, e aquele quarto de hotel pareceu o lugar mais gelado do mundo. Ele precisava fugir. Rápido. Para sua sorte, sua arma não fazia barulho ao atirar, então ele tinha algum tempo. Mas pouco. As roupas teriam de ficar para trás. Não havia tempo para arrumá-las.

            Então o celular de Hank tocou. Marsellus abaixou-se próximo do corpo, analisando o rosto do rapaz por alguns segundos. Metade dele continua belo e intacto, como costumava ser. A outra metade era apenas uma massa vermelha e disforme. Algumas lágrimas caíram do rosto do homem. Talvez fossem lágrimas de arrependimento, talvez não. Marsellus então aproximou seus lábios da boca do mágico e lhe deu um último e desejado beijo. Quando se separou, sentiu que havia sangue em sua própria boca.

            Na tela do celular do rapaz, havia a mensagem:

            Me ajuda, o René pirou.

            A mensagem era de Jill.

            Jill.

            Subitamente uma despretensiosa conversa de bar tomou conta da cabeça de Marsellus. Uma conversa em que Hank dissera que Jill não morreria no acidente das ruínas. Que Jill não estava na lista da morte. Que ela ainda tinha controle de sua própria vida.

            Não foi necessário muito para que Marsellus relacionasse esse fato com o método que Pam utilizara para salvar a própria vida.

            Além disso, o que seria mais uma morte para quem já tinha três em sua conta? Essa, pelo menos, teria um bom propósito. O homem então respondeu com o celular de Hank:

            Me encontre nas ruínas, nós vamos resolver tudo isso.

            E então suspirou. Pegou seu cardigan e, enquanto vestia-o de maneira meticulosa e quase ritualística, pensou nas maravilhas que faria quando tivesse novamente o controle de sua própria vida. 


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Notas finais do capítulo

Bom, como de praxe, vamos as minhas considerações finais:
Nesse capítulo eu voltei somente com Chris da trama do futuro, porque precisava que vocês soubessem desse fato dele, já que será importante no decorrer da fanfic. E esse é o último capítulo em que a trama do futuro tem pouco desenvolvimento. No próximo eles já tomarão conta de quase metade do capítulo, e assim se seguirá até que os capítulos sejam só deles, logo após o fim da trama de 2013, que acabará em breve! :B A trama do futuro, porém, será obviamente um pouco mais curta (inclusive por conta da quantidade de personagens na lista, só 7), mas prometo que será bem desenvolvida.
A discussão entre Helena e Marsellus eu tive inspiração de duas coisas distintas. A primeira foi a música do Fall Out Boy, "Thnks Fr Th Mmrs", inclusive o título do capítulo é um trecho dessa música. A outra inspiração, foi uma cena do filme "Closer", cena que inclusive inspirou a música do FOB. Nela o parceiro traído confronta a parceira sobre o affair dela, e qual foi o gosto da traição e etc... Eu achei que super faria sentido com a trama de Helena e Marsellus e incluí. Pra quem tiver curiosidade, a cena é essa: http://www.youtube.com/watch?v=GingfFEs24k (os diálogos são BEM pesados, então só veja se não ligar prumas obscenidades sendo ditas XD EM 1:41 tem o diálogo mais "temático" do capítulo). E ah! Perdoem por algumas baixarias nessa discussão, mas achei necessário uma abordagem mais adulta.
E por último: nesse capítulo eu matei dois personagens, e dois personagens carismáticos, eu acho. Mas depois da minha explicação (e da posterior compreensão de vocês) quanto à morte de Babe, acho que não preciso escrever sobre isso de novo, right? Espero que tenham ficado boas as mortes! Elas estavam planejadas desde quando eu comecei a escrever a fanfic, também. ^^
E é isso. O próximo capítulo provavelmente demorará também (facul é isso ae!) mas sairá! Vocês sabem disso, que eu jamais abandonarei uma fanfic minha XD
Abração!