Skyscraper escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 9
"The fall"


Notas iniciais do capítulo

"A queda"



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Quando volto, Brutus me pergunta como fui. Não sei se sorrio, ou se simplesmente sacudo os ombros, e acabo por encará-lo e menear a cabeça num sinal que não significa, de fato, muita coisa. Ele arqueia as sobrancelhas, sem entender, mas não questiona mais nada, enquanto praticamente corro para meu quarto. A adrenalina é demasiada para dormir, mas não quero Lyra falando em minha cabeça até Clove voltar, e também não quero demonstrar que me importo com seja lá o que a baixinha for dizer a respeito do que fez no ginásio.

Então, espero. E continuo esperando, mesmo quando o silêncio passa a ser desconfortável, mesmo quando meus pés começam a protestar pelos movimentos repetitivos, mesmo quando minha cabeça começa a latejar pela quantidade de bobagens que me permito pensar. O que há de errado, é o que eu tento entender. Não ouço quando Clove chega, não ouço mais nada além de meu próprio coração batendo forte no peito, minha respiração acelerada. Não sei se estou mais animado, ou mais alerta.

As notas não são realmente importantes para mim, mesmo se forem altas, mas elas certamente me farão tentar imaginar quem é o mais forte e quem é o mais fraco dos tributos. Certamente me deixarão apreensivo, exatamente como estou agora, por não saber com o tipo de pessoa que estou lidando. Caçar os mais fracos vai ser moleza, eles denunciarão a si mesmos num piscar de olhos. Não pela primeira vez, me pego pensando na garota do Distrito 12. Como ela irá se sair? O que há por trás dos olhos cinzentos da garota que entrou aqui para proteger alguém que lhe é importante? O pouco que me resta de sanidade se une aos primeiros resquícios de loucura, e me permito divagar a respeito.

Katniss. O nome soa amargo em minha boca. Ela é a única potencialmente forte, por ter alguém para quem voltar, por ter um lar, por ter uma motivação. Não é como se tivesse alguém para proteger dentro da arena, como eu. Mas, talvez, seja justamente isso que a torna tão diferente. E, apesar do que disse Lyra a respeito dos patrocinadores unicamente pelo desfile, começo a questionar o que irá acontecer quando a septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes começar.

É a primeira vez em que não cogito de imediato a vitória de Clove.

É a primeira vez em que realmente começo a temer por sua vida.

Não por duvidar de nossa capacidade. Não por duvidar da capacidade dela. Mas, como já disse, apenas essa habilidade não basta. Apenas a determinação não basta. E, sozinhos, talvez as coisas se tornem um pouco difíceis. Desde o começo, eu estava crente de que apenas isso seria o suficiente para nos mantermos vivos na arena.

É a primeira vez que, por vontade própria, ponho-me a bolar uma estratégia.

Internamente, imploro para que seja o bastante.

Porque eu jamais poderia perdê-la.

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O jantar foi, incrivelmente, feito em silêncio. Mesmo Lyra, que costuma matraquear em demasia, parecia inquieta e aflita, como se realmente se importasse com nossas vidas. Não somos os primeiros, e nem seremos os últimos a lutar nesse lugar. Eu não serei o primeiro a morrer, e Clove não será a primeira a vencer. Depois de nós, haverá muitos outros. Haverá outras pessoas, de outras épocas, com outros nomes. E tudo o que posso fazer para que essa não seja apenas “mais uma” edição dos Jogos, é perpetuá-la. Tudo o que posso fazer, é torná-la inesquecível.

Concentrava-me nesse objetivo, quando ouço Clove me chamar num tom que demonstra toda a sua irritação, e me dou conta de que talvez não seja a primeira vez que meu nome escapa por entre seus lábios e não lhe dou atenção.

— Cato! — ela cutuca meu ombro. — Os placares serão anunciados na televisão agora, idiota!

Obviamente, com a maior quantidade de sarcasmo que a frase possa possuir, Clove me ama. Então, dirijo-lhe meu melhor sorriso, antes de me levantar e me encaminhar à sala, como eles. Não sei ao certo o que estava esperando de todos os outros, mas me agrada que Marvel e Glimmer tirem, respectivamente, nove e oito. Me agrada que eu tire um nove, e Clove tire um dez, apesar de ela me encarar e arquear as sobrancelhas em descrença, como se não fosse capaz de acreditar que esse meu “sorriso estúpido” é por causa de uma nota tão baixa.

Mas, quando Lyra está prestes a desligar a televisão e comentar algo sobre esse desastre parcial, prontifico-me a retirar o controle de suas mãos, os olhos ainda cravados na tela. E posso perceber que, de certa maneira, minha atitude não surpreendeu somente a ela. Com isso, quase sorrio novamente.

A garotinha do D11 conseguiu uma nota sete, e não sei se devo ficar surpreso ou irritado pelo fato. Por ser assim tão pequena, ela pode escapar com facilidade do banho de sangue na Cornucópia, já que é muito improvável que alguém se importe com alguém de aparência tão frágil. Sendo assim, acredito que não há problema algum em deixá-la viva. Tendo uma nota alta ou não, ela não me incomoda. Talvez seja um erro, subestimá-la assim, mas, no fim das contas, é verdade. Se ela fosse um pouco mais velha, quem sabe isso não se tornaria um problema?

Volto minha atenção para as notas. Já estão no Distrito 12. E o garoto consegue um 8. Isso faz meu radar interno começar a apitar. Antes, porém, que possa processar a informação, a Garota Quente aparece na tela, e, abaixo dela, o número onze.



Não sei exatamente se o que dói são meus ouvidos ou minha mão; pelo grito de Lyra, e pelos pedaços do que antes era um controle, que se enterram em minha pele e fazem sair pequenos filetes de sangue. Minha cabeça volta a latejar, e, por um segundo, sinto as lágrimas de fúria embaçando minha visão. Acredite: faz muito tempo desde a última vez em que alguma coisa me fez sentir tanto ódio.

Agora, acima de qualquer outra coisa, matar a Garota Em Chamas se tornou uma prioridade. Quando viro o rosto em direção a Clove, seus olhos ligeiramente arregalados são fixados em mim, e posso ver que, de alguma forma, ela também pensa assim. Silenciosamente, e sem dizer nem uma única palavra, nós fazemos um trato. Então, posso sentir o sorriso perverso se formando, mesmo que os cantos de minha boca tremam e a raiva permaneça.

Cuidado, Garota Quente.

Sua cabeça está a prêmio.


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