Skyscraper escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 14
"Somehow"


Notas iniciais do capítulo

"De alguma maneira"



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— Vocês vão me matar.

Aquilo não era uma pergunta, porque Peeta Mellark não era idiota o suficiente para duvidar desse fato. A maneira como nos encarava, porém, foi algo que me incomodou. Ele não parecia assustado, ou mesmo feliz com isso; afinal de contas, quem estaria? Seus olhos estavam fixos nos meus, como se me escaneassem, e isso era no mínimo inquietante. Alguém vindo de um Distrito tão pobre, tão miserável, não deveria aparentar tamanha superioridade. Ao meu lado, Clove parecia pensar o mesmo, pois uma de suas mãos se fechou ao redor de uma faca particularmente afiada.

— Não. — segurei seu braço, antes que ela tivesse a chance de avançar sobre o idiota. Então, corrigi-me: — Ainda não.

Seus olhos tempestuosos se voltam para me encarar, desafiadores. Clove não é o tipo de pessoa que obedece ordens, não é o tipo de pessoa que recua quando a situação se torna complicada. Ela bate de frente com o perigo, ela luta com o que lhe restar de forças, se for preciso. Mas não estou negando nada a minha Carreirista favorita, não estou mandando que faça algo. Ela parece perceber isso, pois, no momento seguinte, revira os olhos, naquele seu típico jeito de dizer que sou o cara mais chato que conhece.

É tudo o que temos chance de falar, silenciosamente e sem palavras, porque, no segundo seguinte, não é Peeta quem está rendido.

Habilmente, ele se livrou da força exercida por Marvel, acertando-lhe um dos joelhos com uma cotovelada que doeu até em mim, conseguindo então liberdade o suficiente para arrancar de suas mãos a lâmina, e reverter a situação, usando o corpo do Carreirista como um escudo, para o caso de algum de nós decidir tentar a sorte e lançar algo nele.

Quase não percebi, mas Clove e eu reagimos ao mesmo tempo, numa sincronia que daria inveja a qualquer um. Ela, que recuara alguns centímetros, segurava em cada mão um par de facas, e minha espada já estava erguida, pronta para ser usada novamente. Glimmer mal se moveu, tamanho foi o choque ao ver seu companheiro de Distrito sob a mira de uma arma.

— Podem me matar. — Mellark cospe um pouco do sangue que provavelmente se acumulara em sua boca. — Mas eu levo um de vocês comigo, Carreirista.

Sei que sacrificar Marvel agora é loucura. Precisamos dele para que nossa proteção seja mais forte durante a noite, e as caçadas sejam mais produtivas em menos tempo de procura. Ele é o tipo de pessoa com quem seria interessante manter uma amizade, apesar de eu não ter a certeza de que não cortaria minha jugular na primeira oportunidade.

E talvez seja paranoia minha, mas Clove empalideceu no momento em que a lâmina cravou-se um pouco na pele de Marvel, dando ênfase à ameaça do Tributo do Distrito Doze.

— O que você quer, Conquistador?

Peeta me encara, parecendo ligeiramente surpreso por eu não ter aproveitado e matado os dois de uma só vez. Bem, vontade é o que não me falta.

— Quero uma chance. — como se nós fôssemos estúpidos o suficiente para não entender, ele faz questão de explicar: — Sobreviver. Afinal, é o que todos nós desejamos, não é? Dêem-me uma chance de provar que também posso ser um vencedor.

Isso tudo é ridículo. Mas, ao invés de descartar a possibilidade de imediato, penso um pouco. Desconsiderei Marvel por um instante.

— E o que ganharíamos em troca?

Clove e Glimmer me olham como se eu estivesse ficando insano. Os olhos do Carreirista à minha frente faiscam, mas não por raiva. Ele entende o que estou fazendo, e não se incomoda com isso. Percebo que gostaria que pudéssemos sair todos juntos dessa encrenca.

O Conquistador, por outro lado, não esperava essa pergunta. Franziu o cenho, comprimindo os lábios com força. Então, sem hesitar, ele sorri de um jeito meio sádico. Algo nesse sorriso faz com que meu radar interno enlouqueça, pelo perigo latente que passa.

— Posso mostrar a vocês onde está Katniss Everdeen.

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Clove e eu estávamos juntando os mantimentos da Cornucópia numa pilha, enquanto Glimmer cuidava do ferimento superficial no pescoço de Marvel, e Peeta se mantinha ao lado dos dois. Nenhum deles dissera nada, mas eu sabia que a loira acreditava que estávamos entrando numa fria, e seu parceiro seria capaz de se lançar numa fogueira se eu dissesse que era o melhor a ser feito.

Eu não saberia dizer se o silêncio entre minha companheira e eu é amigável, tenso, irritante, ou uma mistura dos três.

— Foi uma atitude nobre a sua. — Clove comenta de repente, sem erguer os olhos. — Salvar Marvel, sabe? Não sei se eu seria capaz de fazer isso... Quero dizer, sabendo que teria de matá-lo depois. Você deu uma chance ao Conquistador, e a ele também.

Algo em seu tom de voz me inquieta; como se ela estivesse criticando a si mesma pelo que acabara de dizer.

— Não foi por Marvel. — asseguro, apesar de não ser uma verdade completa. — Se o Conquistador o matasse, teríamos um a menos no grupo. Isso nos prejudicaria bastante.

Clove finalmente ergue o rosto para me encarar, surpresa. Então, surpreendentemente, sorri.

De alguma forma, isso fez com que me sentisse melhor.

Sorrio de volta.


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Notas finais do capítulo

UniMonstro, é muito provavelmente por você que eu ainda me esforço para escrever algo, mesmo que o resultado não seja lá grande coisa. Obrigado por nunca desistir de mim.