POV Justin

Saímos da loja de aluguel e vamos para o boliche.

Eu vou ter que dançar com a minha irmã. James está certo. Eu tenho que fazer isso por ela. Carol está passando por uma situação difícil. E eu também.  Mas Carol está mais chateada que eu. Os pais não vão na festa dela. Como? Por que os próprios pais não vão na festa da filha? Tudo bem que eles se separaram, mas o que isso tem a ver? E quem prefere ir trabalhar a se divertir? Aposto que meu pai só não vem porque não quer. Como nenhuma companhia aérea tem passagens pra cá? Só estamos no meio do ano! Estou com muita raiva de meus pais. Tanto quando Caroline... Mas pensando por outro lado, dançar com ela não vai ser tão ruim. Eu pelo menos vou aprender a dançar. Quero deixar minha irmã muito feliz. Ela merece.

Estamos em silêncio dentro do carro. A única coisa que não nos faz ficar em completo silêncio, é a voz de PSY cantando Gangnam Style na rádio. James dá um pulo no banco do motorista e olha pra Caroline com os olhos arregalados. Ela fica boquiaberta de repente, e os dois ficam com sorrisos bobos no rosto. O que aconteceu? Franzo a testa e olho para os dois, que continuam sorrindo. James volta os olhos pra estrada e ele estaciona o carro no estacionamento do shopping.

Saímos do carro e James o tranca. Entramos no shopping e seguimos para o boliche no terceiro andar. Entramos lá e esperamos por uma pista. Assim que vamos pra pista, olho para a pista do lado, onde um garoto acabou de fazer um strike. Assim que ele se vira, vejo que é Rick. Ah, não! Como vou conseguir olhar pra ele depois daquilo? Droga, ele me viu! E está vindo pra cá. Se acalme, Justin...

- Oi Carol – ele beija a bochecha dela – Justin – ele me cumprimenta e estende a mão.

Levanto minha mão devagar e aperto a dele.

- R-rick – merda, gaguejei!

- James, não é? – Ele vira o rosto pra James e eles se cumprimentam – Então... - Ele volta o olhar pra mim – Como estão as coisas?

- Ah, vão bem... – dou um sorrisinho – E com você?

- Também vão bem. Eu preciso falar com você. – Ele sussurra.

Engulo em seco e assinto.

Carol é a primeira a jogar. Primeiro ela acerta dois pinos, e depois quatro.

- Nossa, Carol. Que horrível! – James zoa com ela – Saiam da minha frente e deixem o profissional passar – ele pega uma bola e vai até a frente.

Ele joga a bola com força, e ela vai direto pra canaleta. Eu e Carol começamos a gritar zoando ele. Ele nos olha de relance com raiva e nós continuamos rindo. Ele pega outra bola e joga de novo. Ele acerta um pino.

- Não é possível! Essa porra é roubada! – ele se senta com raiva.

- Aceite os fatos, James. Você não sabe jogar – Carol ri – Justin, é sua vez.

Me levanto e pego uma bola. Jogo a bola e, não sei como, faço um strike.

James revira os olhos e Carol me parabeniza. Rick grita da outra pista:

- Muito bem!

Fico sem graça e dou um sorrisinho.

O jogo continua, e Rick aparece na nossa pista.

- Meus amigos vão pra casa, mas eu não queria ir embora agora. Posso ficar jogando com vocês?

- Claro – Carol responde e sorri.

Ah, droga. Não queria que ele ficasse aqui! Ele vai conversar comigo depois, e eu estou com medo dessa conversa... Eu continuo muito sem graça depois do nosso... Beijo.

James o coloca no jogo, pelo painel, e continuamos a jogar. Assim que o jogo termina, James e Carol vão ao banheiro e eu fico sozinho com ele.

- Acho que vou no banheiro também... – me levanto, mas ele segura meu braço.

- Espera, eu preciso conversar com você – ele me olha, e eu volto a me sentar olhando pro chão – Eu percebi que você está bem sem graça. Mas quando eu te beijei, você não parou. Então pensei que você quisesse continuar, mas agora vejo que você está com vergonha.

- Olha... – começo a falar – Foi a primeira vez que eu fiz isso. Eu ainda não tenho certeza de quem eu sou de verdade. Eu preciso me resolver.

- Eu não estou te pressionando a fazer nada. Eu sou gay. Você pode não ser. Tudo bem – ele sorri – Eu só... Gostei de ter ficado com você – ele abaixa o rosto.

Suspiro e viro meu olhar pra ele devagar.

- E-eu também...

Ele olha pra mim e sorri.

James e Carol voltam e continuamos andando pelo shopping.

- Que tal irmos pro parque de diversões que tem aqui? – Carol dá a ideia.

- Vamos! – James a puxa pelo braço e os dois saem correndo.

Eu e Rick continuamos andando atrás deles e entramos no parque.

- Pra onde vamos primeiro? – Rick pergunta.

- Eu quero ir no brinquedo de simulação! E ainda são quatro lugares. Todos nós podemos ir juntos! – Carol sorri.

James compra quatro entradas pro brinquedo e nós esperamos nossa vez na fila. Assim que ela chega, James e Carol sentam na frente. E eu me sento ao lado de Rick.

A mulher que cuida do brinquedo começa a nos dar instruções e coloca nossos cintos pra ficarmos presos. O brinquedo é todo fechado e escuro. A mulher nos dá óculos 3D e nós o colocamos. Ela sai e fecha a porta.

- O que esse brinquedo faz, Carol? – pergunto.

- É uma simulação de uma montanha russa em cima do mar.

- Ah...

Do completo escuro, vem uma luz branca da enorme tela a nossa frente. Fecho meus olhos, e assim que o luz diminui, os abro novamente.

A frente da montanha russa aparece, e nossas cadeiras começam a tremer e ficam empinadas, como se a montanha russa estivesse subindo. Assim que ela chega no topo, as cadeiras ficam empinadas pra frente e a montanha russa finge descer. Sinto vendo no meu rosto. É uma boa simulação. Quando a montanha russa atinge o chão, vai dando curvas e nossas cadeiras ficam balançando muito. A montanha russa sobe de novo e quando desce, bate na água e vem água nos nossos rostos.

- O que é isso?! – James pergunta.

Carol morre de rir ao seu lado. Estou com um sorriso bobo no rosto, e me viro pro Rick. Ele também está sorrindo. Mas nós dois paramos de sorrir assim que encontramos nossos olhares. Consigo ver seus olhos, mesmo pelos óculos. Ele olha pra baixo e se aproxima de mim devagar. Fico parado no início, mas me aproximo também. Nossos lábios se encostam e começamos um beijo calmo. Somos separados pelas cadeiras tremendo de novo e nos encaramos. Ele dá um sorrisinho e olha pra frente. Continuo olhando-o e puxo seu rosto de volta ao encontro com o meu e o beijo. Ele se assusta, mas continua me beijando. Nossas cadeiras sobem muito e Carol e James ficam bem em cima de nós. Mesmo assim, não paramos o beijo. As cadeiras caem com força e somos levados pra frente. Eu bato minha cabeça no banco da frente.

- Você está bem? – Rick me pergunta.

- O que houve? – Carol e James olham pra trás.

- Acho que eu não soube colocar o cinto direito – rio fraco.

O brinquedo para e nós nos levantamos. A porta abre, saímos e devolvemos os óculos pra mulher.

- Acho que perdi a vontade de parque de diversões – digo.

- Então vamos pra casa? – Carol pergunta triste.

- Eu pego um ônibus, podem continuar aqui.

- Não vamos deixar você ir embora sozinho – James briga comigo – Vamos pra casa então. Quer uma carona, Rick?

- Não, que isso. Não precisa – ele diz.

- Precisa sim. Já está escuro lá fora – Carol o repreende.

- Tudo bem. Vou aceitar a carona – ele ri.

Entramos no carro. Sento no banco do carona, James no do motorista, e Carol e Rick lá atrás.

Deixamos Rick em casa.

- Obrigado pela carona. Tchau gente – ele sorri.

Nos despedimos dele, e vamos pra casa. Chegamos e eu vou direto pro meu quarto. Ainda são 20h, mas já estou cansado. Não foi um dia cheio, mas parece que foi. Preciso descansar. Pensar. Muito. Deito na cama e, depois de um tempo, consigo dormir.