Final Destination 4: Case 180 escrita por VinnieCamargo


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Hey vocês.
Depois de muito tempo, aqui estou eu apresentando os dois últimos capítulos.
Enfim, existem várias coisas que eu alterei quanto a esse final.

Antes de lerem, quero que mantenham a mente aberta. Ele é simples e honesto. Forte na medida do possível. Eu estou acostumado com fics de FD em que "all hell breaks loose" no último capítulo, e nessa eu apenas deixei as descobertas para o final.

E é um final arriscado. Mas eu sou o escritor e eu que mando nessa porra, então se eu quiser sair matando todo mundo, eu vou.

As vezes as coisas são o que parecem.

Comentem. Se preparem.



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Estou me sentindo velho.      

            Encostado contra a lateral do meu carro, eu encaro a madrugada profunda. Vejo borrões alaranjados distantes, luzes de postes a dezenas de metros de distância daqui.

            Vejo em borrões sim, pois as malditas luzes azuis e vermelhas dos carros de polícia e das ambulâncias passam por mim duas vezes por segundo. E isso me atinge como um veneno aplicado em doses horrivelmente pequenas.

            Aumentar a dor. Aumentar a dor.

            Aprendi que é realmente difícil lavar o sangue do corpo. Aprendi que sangue é mais quente e mais grudento do que tinha imaginado algumas vezes. Que é capaz de fatiar através de seus cabelos de uma maneira tão delicada quanto um shampoo, e que o cheiro tem uma capacidade incrível de impregnar na tua pele. Principalmente no couro cabeludo.

            Eu acordei com flashes. E vi alguns fotógrafos da perícia registrando o corpo de Emery. O formato do meu corpo ainda estava na poça de sangue do chão. Alguém tinha me arrastado até a parede oposta e me deixado encostado ali. E pra deixar a certeza de que era eu quem estava na poça de sangue, havia um rastro vermelho guiando até meus pés.

            Então eu estava sendo empurrado de um corredor pro outro no prédio (eu reconhecia o lugar). Eu tentava dizer algo, mas as pessoas falavam muito alto e eu não conseguia formular palavras para dizer que eu não queria passar por aquilo. Eu só queria ir embora pra casa.

            Aí eu percebi que eu estava embaixo de um chuveiro gelado, vestindo apenas minha cueca boxer e empapado de sangue da cabeça aos pés. E foi o pensamento de alguém ter me despido que me fez retomar o controle.

            Irônico não?

            Eu estava saindo do chuveiro quando um policial entrou no vestiário dos funcionários e me entregou um monte empaçocado de uniforme do prédio. Ele me disse para me vestir o quanto antes e ir com ele.

            Foi aí que tudo piorou.

            Eu fui trancado numa salinha improvisada e eles tiraram tudo de mim.

            Pelo menos tudo, significa o que eu considerei viável a ser dito no momento, principalmente em favor a mim.

            Minha garota Carol se suicidou sem motivo algum e Emery era amiga dela. Eu quis visitar Emery para tentar descobrir algo.

            Visitar Emery vários dias depois do suicídio? Como assim?

            Sim. Eu estava só me recuperando do baque pra procurar Emery.

            Não consideraram o fato de que se metade da minha conversa fosse verdade, reativar memórias do passado de Emery (mesmo que no caso não correspondam com o que eu realmente queria saber), pudesse piorar o estado dela no hospício.

            Mas memórias não matam.

            Pessoas é que matam.

            A morte é quem mata.

            E aí a tal da recepcionista me viu e disse que eu não poderia estar lá em cima visitando alguém. Que eu não poderia ter subido ver Emery. Eu era e sou o invasor.

            E é aí que entra a burocracia.

            E é nessa parte que eu sobrevivo.

            Ainda estou como suspeito pela polícia. Minha mãe virá me buscar. Quando contaram a ela o que aconteceu no telefone, ela levou tempo para acreditar que o filho dela estava num hospício como testemunha de um assassinato de um paciente. Quem acreditaria?

            Bom, ela acreditou quando ouviu minha voz. Agora eu sei que se a morte não me matar, eu tenho uma pessoa perfeita pra fazer isso.

            Respiro fundo. Viro-me para o carro e vejo no banco de trás, - me esperando – o último DVD.

            A chave para tudo isso. E com a mesma intensidade de um soco, eu percebo, não existe nada me segurando. Nunca existiu. E eu sou um idiota excêntrico que precisa de lugares e sentimentos para seguir em frente com memórias.

            Abro a porta do carro e sento-me no banco do passageiro. Estico-me e alcanço o notebook e o último DVD.

            Play.

            A imagem falha algumas vezes até me mostrar Carol parada na frente da câmera, olhando diretamente para mim. Seus olhos refletem tristeza, mas ao mesmo tempo, eu vejo um brilho súbito de esperança. Ao lado dela está um Will composto, mas cansado. Ele está com medo.

            Sinto um arrepio ao ver um pedaço da camiseta que Carol está usando. É uma camiseta xadrez verde e vermelha. Ela costumava usar sobre uma regata fina e aquilo deixava-a sexy. Eu me divirto ao lembrar-me de quando repassava essa informação para ela, que devolvia um sorriso enorme e dizia:

            - Você sempre diz isso.

            Carol suspira. Ela olha pra Will e ambos concordam com a cabeça, um pensamento que já discutiram.

            - Se você - ela dá de ombros – seja quem for que estiver vendo isso, significa que provavelmente tudo deu errado.

            Sim Carol, tudo deu muito errado.

            - Eu realmente gostaria de dizer o contrário - Will diz gesticulando e fazendo uma expressão de pena - vocês me conhecem, eu costumo ser um cara cujo sorriso pode iluminar uma sala escura, mas sim, tudo deu errado.

            Carol esboça um pequeno sorriso, mas resiste e continua na expressão séria. Dói. Está sendo difícil pra ela.

            E Deus, eu começo a me preocupar com o fato de que talvez, esse último DVD não explique o que aconteceu. E isso iria acabar com o meu mês.

            Ambos eram criativos. E eu não estou absolutamente surpreso com esse tipo de fala direcionada especialmente para o espectador. Esse é o grande final, eu imagino, e ele está sendo mais diferente do que eu acreditei que seria.

            - Rafael Araújo morreu na noite retrasada – Carol repassa, balançando a cabeça e fechando os olhos.

            - Ele... ele... – Will tenta dizer algo para honrar Rafa, mas não consegue. E eu consigo perceber que Will sente muito. Ele muda de assunto – Bom, ele estava com a câmera e a mochila. E eu peguei antes da polícia chegar.

            - Havia DVD’s no interior da mochila. Apesar de tudo que a gente passou – Carol disse secando uma lágrima com a manga da blusa – resolvemos dar uma olhada. E surpresa – Carol sorri começando a sucumbir no choro – acabamos descobrindo que Rafa filmou toda a carnificina. Do início ao fim.

            Surpresa Carol. Eu já sei disso.

            - Rafa nos entregou um bilhete – Will corta Carol enquanto eu me lembro de ter visto Rafa entregando um bilhete para ambos quando se aproximavam da casa de Angela – No bilhete, ele riscara a última maneira que ele tinha encontrado de acabar com tudo isso. Ele havia deixado a sua ideia. Eu tenho pensado, sabe... acho que de algum jeito ele sabia que não duraria até o fim...

            Engulo em seco.

            - O bilhete conta outra maneira de enganar a morte – Carol retoma. Ela pausa por alguns instantes e então solta outro sorriso nervoso - A ressurreição. E por ser algo muito arriscado e insano, a gente pensou, vai que tudo dá errado e a gente morre?

            Então não foi suicídio. Não foi.

            Will ergue três DVD’s, e eu os reconheço como os que estão na minha mochila no momento exato.

            - Nesses três DVD’s – Will diz – está gravado tudo o que aconteceu de horrível com a gente nos últimos dias. Acredite – ele diz – foi uma merda rever tudo isso. Uma merda.

            Carol ri alto. Uma risada gostosa. E dói em mim, pois estou rindo também. Ela não estava acreditando no que estava fazendo. Will esboça um sorriso.

            - Se a gente escapar dessa Will – ela diz deixando a câmera de lado – me promete que vamos dar um fim nesses DVD’s, tudo bem?

            - Claro – Will diz. – Só vão ver isso por cima do nosso cadáver.

            Essa foi realmente profunda, Will.

            - Ligamos uma câmera automática – Carol diz voltando a atenção. - Ela vai gravar por trinta minutos, e eu acredito que trinta minutos seja tempo suficiente para acabar com tudo isso.

            Os últimos trinta minutos, eu penso. Os últimos.

            - Ela está gravando diretamente num DVD – Will diz. – O quarto e último DVD. Que contém o final, que contém as respostas para as perguntas que você formulou durante os três primeiros DVD’s.

            Ambos riem. Exato Willian, você está mais do que certo.

            Ambos se encaram e quebram em outro sorriso.

            - Sim – Carol diz olhando pra câmera – a gente tomou umas.

            Eu caio na gargalhada junto com ambos. Não dá pra resistir. Isso parece maravilhoso. Um final perfeito. Isso é demais. Muito bem pensado.

            Aí eu me toco e caio em mim, então eu espero que o acidente que causou a morte de ambos não tenha acontecido devido a bebida, pois isso sim acabaria comigo.

            Acho que estamos todos um pouco sem foco aqui.

            - Meu irmão vai chegar aqui em uma hora – Will diz. – Se algo tiver dado errado, ele será a primeira pessoa a descobrir. É uma boa escolha.

            - E também para não corrermos o risco de ter essa fita caindo nas mãos erradas – Carol diz. - O Will anotou um bilhetinho – nesse momento Will ergue uma folha de caderno com os dizeres “leva os DVD’S e a câmera com você ANDRÉ!”. – e quando você, André, entrar aqui, você vai nos encontrar bem e comemorando, ou vai nos encontrar mortos.

            - E caso a última opção prevaleça – Will completa – então você está vendo isso e levou os DVD’s e a câmera. E irá entender o porquê das mortes. E não vai achar que a gente se suicidou com umas seringas só porque bebemos um pouco.

            - E nem você, Vini.

            Arrepio-me ao ouvir meu nome. Ouvir essa voz dizendo esse nome mais uma vez me desperta uma torrente louca de flashbacks felizes e desencadeia uma mensagem triste de “isso nunca mais vai acontecer” como um martelo num prego.

            Coisas desse tipo só acontecem em filmes. Mas isso é um filme não é?

            - André – Will suspira, encarando a câmera como se realmente estivesse falando com André em sua frente – quero que saiba uma coisa. Eu vou ficar bem cara... sério... morrer deve ser bem melhor do que ser condenado a viver com um irmão que nem você...

            Will ri sadicamente. Ele começa a chorar e falar ao mesmo tempo.

            - O que eu quero dizer é que eu sei que nunca fui o melhor irmão que você poderia ter. E você sabe que também nunca foi o melhor irmão que eu poderia ter. Mas sabe por que isso aconteceu? É porque nunca tentamos. Qual é cara, eu te amo por não ser um irmão baba ovo. E se eu não te amasse tanto, eu não iria me preocupar em te deixar sabendo que eu não me matei – Will ri alto – óbvio, que se isso der errado, eu não quero que você acredite que eu me matei, e que sim, foi um acidente com as seringas. Que tudo isso deu errado. Eu não quero passar como um fracote desiludido que se mata porque a vida tá uma droguinha. Não quero que daqui a alguns anos, você se lembre de mim como o seu irmão decepcionante esquecido no passado. Eu só... eu...

            E de repente, Will não tem mais nada a dizer. Ele suspira e está triste, pois ele não tem absolutamente nada para completar aquele pensamento descarrilado. Triste, pois após longos anos de uma coexistência bizarra entre irmãos, ele realmente já não tem mais nada a dizer.

            Will olha para Carol. Ela é quem suspira dessa vez.

            - Então. Minha vez não é?

            Sim Carol, é a sua vez.

            - Vini. Vini Vini.

            Estou começando a tremer. Meus olhos estão se enchendo de lágrimas. E eu as sinto caindo no teclado do meu notebook.

            - Eu não sei por onde começar. Não é exatamente um bilhete suicida. Na verdade se encaixa mais como uma missão suicida.

            Will funga alto. Eu fungo alto.

            Ela não está chorando agora. Está calma novamente. Ela sabia que precisava estar calma, continuar fria para deixar o recado claro caso o lance dos DVD’s realmente tivesse que acontecer.

            - Deveríamos tentar de outra maneira. Poderíamos passar noites revirando a Internet. Poderíamos consultar pessoas que podem ter algum tipo de ligação com o além, mas estamos cansados.

            Ela pausa.

            - Eu estou cansada. Muitas pessoas se preocupam demais com sua existência caótica, que quando coisas do tipo acontecessem, elas perdem o controle.

            E você é uma delas, Carol.

            - E EU – ela bate no peito - eu sou uma delas. Você sabe disso muito bem. Eu espero que nessa altura do campeonato, você esteja acreditando na teoria de que a morte está atrás da gente e que temos de botar um ponto final nisso, pois honestamente, eu odiaria ver você acreditando que eu me matei só porque... só porque minha vida tá uma merdinha. Eu odiaria.

            Will recuperou a força que precisava para continuar e interrompeu.

            - Rafa nos deixou no último bilhete o que ele tinha encontrado na Internet – ele diz. – Basicamente, você injeta um tipo de droga paralisante em suas veias... e quando o liquido, quando a coisa atingir o coração e a reação acontecer, basta injetar Baltrox. É basicamente... morrer e ressuscitar.

            Que original Rafa. Isso é tão original.

            - Já temos o material – Will completa.

            - Não vamos falar onde conseguimos – Carol completa.

            - Espero que não faça falta na clínica da tia Velma – Will replica.

            - Não vai fazer – Carol diz com um sorriso lavado e safado. – É por uma boa causa.

            - E você não pode fazer nada quanto ao nosso roubo senhor Vini – ele diz.

            - Ele não é um policial e nem Jesus, Will, - Carol suspira lembrando-se de uma piada particular.

            Will sorri de volta. Ambos se lembram de que precisam continuar.

            - Vini – Carol diz, voltando pra câmera. Olhando pra mim. A certeza com que ela fala nesse vídeo me arrepia, pois parece que ela já sabe do final.

            - Você sabe o quanto você mudou a minha vida.

            Você é quem mudou minha vida, Carol.

            - Eu me arrependo de não ter pedido sua ajuda antes, mas sei lá, a sensação da morte está me sufocando. Eu não tenho forças pra me erguer desse sofá. Eu te liguei há alguns minutos e você estava muito ocupado e eu não quis te preocupar.

            Isso era verdade. Carol havia me ligado minutos antes. Você poderia tomar todo o meu tempo e falar o que estava acontecendo. Você poderia ter feito isso e eu não me...

            - E agora eu me arrependo em não ter te contado tudo. Você não sabe como.

            Você deveria ter contado, Carol. Oh, você devia ter me contado.

            Ela está chorando. Eu estou chorando alto e trancado no meu carro. Minha cabeça está doendo e eu estou ficando muito tonto. A claridade do notebook está me dando sono, mas eu sei que não vou dormir tão cedo.

            - Vai ser melhor eu tentar agora, senão vou perder a coragem. Eu preciso tentar.

            Não tenta, eu quero dizer, eu quero voltar para aquele maldito dia e gritar “não tenta”, mas eu sei que é muito tarde.

            Ela está se engasgando com o próprio choro.

            - E eu espero que se isso der errado – ela diz interrompendo as lágrimas numa facada - você me perdoe.

            Will funga alto e surge com duas seringas na mão. Ele entrega uma para Carol, que pega a sem medo.

            Estou soluçando e brigando comigo mesmo pra chorar mais baixo para ouvir melhor.

            Com a desenvoltura de uma profissional no assunto, Carol retira o líquido de um dos recipientes com a seringa e entrega para Will. Ela pega a seringa vazia da mão dele e repete o gesto tirando líquido do outro recipiente.

            Meu coração está subindo a garganta.

            Ela surge com duas outras seringas vazias e retira os líquidos de seus recipientes.

            Will leva uma das seringas até o próprio braço. Ele pica o interior do antebraço e injeta. Olha para Carol.

            Olha para a câmera.

            Will faz uma expressão de falta de ar e Carol estica o braço dele e injeta o outro líquido.

            Ele respira fundo. Está recuperando o controle.

            - É isso? – ele pergunta.

            Carol está tremendo. Ela pega uma das seringas e injeta o líquido no próprio braço. Alguns segundos se passam, ela começa a perder o ar, e então pega a segunda seringa e repete o ato.

            Eles ficam ali naquele silêncio mórbido por alguns segundos.

            Carol começa a chorar mais uma vez.

            Eu seguro o choro.

            - Eu – Will diz se lembrando de algo – eu... eu...

            Will levanta-se do sofá e sai andando. E aí eu ouço o som de Will desmaiando sobre a mesinha de vidro e ouço o som dos cacos se espatifando pelo chão.

            - WILL!!! – Carol grita e levanta-se do sofá. – Eu sinto muito...

            E ela não teve tempo de dar o primeiro passo. Seu rosto se contorceu numa expressão de dor excruciante e sequer a deu tempo de terminar aquela frase estúpida que nunca mais terá o mesmo sentido na minha mente: “Eu sinto muito”.

            Carol desabou sobre o sofá e capotou para o outro lado com um som ainda mais horrível do que o de Will. Suas pernas ficaram erguidas, penduradas sobre o sofá e seu corpo desapareceu do outro lado. Tudo que minhas lágrimas permitem distinguir é o All Star branco de ponta-cabeça no ar. Os cadarços balançando de um lado pro outro.

            E parando.

            Fim. Do. DVD. Quatro.


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Notas finais do capítulo

Enfim. Você chegou até aqui. Falta o meu epílogo disfarçado de Capítulo 13.

Comentem! Me deixem sabendo do que acharam.



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