Final Destination 4: Case 180 escrita por VinnieCamargo


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Então negada.
Podem me odiar e tals. Sinto muito pela demora.
Sei lá, acho que estou perdendo o ritmo. :/
Enfim, aqui está o antepenúltimo capítulo.
Aproveitem!



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            Muitas pessoas se perguntam o tempo todo: porque assistir um filme, porque esperar por um maldito filme se você sabe o final?

            É exatamente o que estou fazendo.

            Bom - eu responderia - esse é o meu filme. É o grande desfecho de uma enorme parte da história da minha vida.

            E estou preso num clímax.

            Repentinamente me dou conta que já não espero um final bombástico. Não espero uma reviravolta ultra planejada. Já não espero sequer uma resposta para o suicídio de Carol e Will.

            Só quero acabar com isso.

            As pessoas esperam reviravoltas. As pessoas esperam um show. As pessoas esperam que você quebre as regras e revolucione o sistema. Que você exploda a mente deles com uma ideia totalmente nova.

            Que você jogue todas as tradições de merda pela janela e desenvolva um novo patamar de passagens.

            Mas elas esquecem que estão presas num universo chamado vida real. Em que as coisas não são como nos filmes. Finais em que pessoas morrem. Finais em que os casais não acabam juntos. Finais em que balas atravessam coletes. Finais em que tentativas de suicídios deixam de ser tentativas e se tornam o próprio ato.

            Bato a porta do meu carro e disparo pela rua. Não acredito que seja necessário dizer que não estou mais em cima do prédio.

            Ainda não estou pronto para o último DVD.

            Foda-se o que alguém irá pensar quando eu contar essa história algum dia.

            Foda-se.

            Nas situações de pressão, nos momentos mais pesados da sua vida, você escolhe caminhos que parecem mais fáceis. Menos dolorosos.

            Caminhos aparentemente idiotas. Caminhos que você não escolheria se não estivesse arruinado.

            E é esse caminho que estou tomando.

            ***

            Parece que faz uma eternidade que acordei.

            Ontem a noite foi há alguns milênios.

            Não.

            É só o poder do tempo que esses DVD’s me passaram. Pois se é real, é mais fácil de ser vivido. E o que aconteceu é que eu vivi os três DVD’s anteriores de coração.

            De puro coração.

            Eu apenas senti.

            E nada mais justo do que meu próprio coração me guiar até o fim.

            Eu não vou continuar remoendo esse papinho de coração, mas ele está acabando comigo.

            A moça do mercado (antigo mercado) da Emery me disse onde eu poderia encontrá-la com um sorrisinho de demônio. Quase como se tivesse certeza que eu iria desistir da minha busca ali mesmo.

            - No hospício.

            Então eu sequei o suor da testa, olhei no relógio e respondi:

            - Me passa o nome da... hmm instituição, por favor?

            E ela me passou o nome. E também me contou sobre os últimos dias de Emery. Antes da queda. Ela me contou muita coisa, e eu acho que isso se relaciona com o fato dela me passar o próprio telefone antes de eu dar o fora do mercado.

            Segundo a atendente bonitinha, Emery enlouqueceu dizendo que algo estava atrás dela. Perseguindo-a. Caçando-a.

            Até que seus pais – oh os pais – internaram-na em uma instituição.

            Isso é simplesmente perfeito. Perfeito demais.

            Mas isso está me detendo? Claro que não.

            As pessoas precisam entender que estão lidando com o Vini.

            Definitivamente, tenho que parar de pensar assim quando chegar lá. Senão eu vou virar coleguinha da Emery.

            Solto uma risada nervosa. Está escuro. Está chovendo e relâmpagos caem ao redor da cidade.

            O fato de que é totalmente viável a opção que “é proibido visitas depois das cinco” passa em flashes luminosos pela minha mente, que faz questão de ignorar.

            Tomara que eu consiga falar com ela. Tomara que eu consiga falar com ela.

            Falar o quê? Minha mente questiona. Assiste a porra do último DVD e acalma a perereca, seu merdinha do caralho.

            Não. Não. Não.

            Eu só sei que preciso ir vê-la.

            Talvez seja o lance da culpa do sobrevivente. E por mais que essa ideia pareça louca, eu sei que me encaixo como um sobrevivente.

            Pois estou louco.

            Risos.

            Vou acabar assustando alguém.

            O tempo está indo embora. Isso está acabando e eu sinto que já pensei muito. Que preciso viver o que está pra ser vivido.

            Angela morreu. Rafa morreu.

            Emery está viva.

            Eu estou vivo.

            Todos morrem.

            Pare.

            Acidentalmente freio o carro. Ouço buzinas gritando atrás de mim enquanto sou jogado de volta ao banco.

            Isso é perigoso.

            As pessoas devem estar se perguntando como um louco como eu tem uma licença para dirigir.

            Estou correndo novamente. Deslizando pelas ruas.

            Da janela, vejo árvores gigantescas se aproximando. E além das árvores, vejo o topo de um prédio médio. E atrás do topo do prédio, dúzias de raios caem ao horizonte.

            Cercas altas fecham o perímetro. Classudo, sim.

            Eu não sei, mas nunca vi isso aqui antes. Talvez eu tenha visto de dia e não tenha reparado.

            Parece um pouco assustador...

            Na verdade não é assustador. É só a minha mente querendo transformar algo comum em assustador.

            Paro o carro em frente ao portão. Nesse ponto, a chuva cai em barris. Desligo e religo o limpador do para-brisa mais uma vez, como se pudesse acelerar o ciclo.

            Um homem sério com um uniforme preto e guarda-chuva sinistro surge na janela. Eu percebo que ele era uma sombra que eu tinha considerado estranha alguns segundos antes.

            Mantenho o vidro fechado.

            - Preciso... – eu começo a dizer, incerto e perdido - eu preciso fazer uma visita, - eu grito através do vidro.

            O homem me encara por alguns segundos. Então olha no relógio e franze a testa.

             - O horário de visitas acaba em uma hora, - ele me responde sério.

            Vejo as luzes do farol de um carro surgindo no interior da cerca. Um carro está se aproximando do portão.

            Ele vai precisar abrir o portão.

            E não, eu não vou cometer loucura nenhuma.

            - É bem rápido, - eu grito novamente.

            - Nome do paciente? – ele pergunta, nível de estresse subindo.

            Fui surpreendido.

            Acabou.

            - Hmm... é Emery... Emery Freitas, - eu digo.

            O homem corre em direção a uma cabine. Ele pressiona um botão e um portão se abre, liberando a saída do carro em espera. Eu continuo aqui.

            Ele volta correndo até meu carro. Eu abro um pouco a janela lateral.

            - Homero Freitas?

            - É, - eu minto, coração na mão, cérebro explodindo. – Sou eu.

            O que acontece é que algum parente de Emery também marcou visita hoje pra ela.

            Agora.

            Ele dá de ombros e olha pro céu. Percebe que deixou o guarda-chuva na cabine.

            - Identidade, por favor! – ele diz e volta correndo em direção à cabine.

            OK. Hora de ir embora. Começo a manobrar o carro e...

            Ele volta com o guarda-chuva e um formulário nas mãos. Ao se aproximar do meu carro, estica o formulário em minha direção. E eu estico a mão fora do carro e o pego.

            Observo o formulário. Além das gotas de chuvas, leio inúmeros dados e horários de uma visita. Sim, estou certo.

            - Entrega isso na recepção.

            Ele diz e se afasta de volta para a cabine.

            E aperta o botão.

            E o portão se abre.

            ***

           

            Enquanto subo a rampa de concreto, rezo para o homem não descobrir que na verdade não checou minha identidade.

            E é assim que o Brasil vai pra frente.

            Eu de fato não culpo o porteiro.

            ***

             

            Tenho apenas uma hora e preciso me apressar.

            Observo as inúmeras árvores espalhadas pelo jardim. Elas vão crescendo e criando reflexos e sombras fantasmagóricas na estradinha de concreto.

            Desço do carro com o formulário embaixo da blusa. Corro até a entrada iluminada da instituição.

            Atravesso as portas. Dou uma boa olhada.

            É uma recepção comum. Uma mesa no fundo e várias cadeiras e mesinhas distribuídas num cômodo branco e arejado. Nem parece ser de um local como tal.

            De fato eu não sei o que eu estava esperando.

            Existe um casal de idosos sentados em cadeiras de espera. Uma mulher arrogante me lança um olhar de trás da mesa de recepção. Eu dou de ombros e vou até ela.

            Entrego o formulário para a mulher e espero enquanto ela o examina. Eu suspiro. Ela suspira.

            Ela me lança outro olhar.

            Ela digita algo na tela do computador. E eu vejo “Emery Freitas, 4º andar”.

            - Identidade, por favor?

            Engoli em seco. Contudo, continuei relaxado. Estou ficando bom nisso.

            - Ah, - eu exclamo, - me desculpe, eu deixei no carro.

            Ela dá um sorrisinho falso.

            - O horário de visitas acaba em...

            Houve um estalo e eu estive pronto para me abaixar, mas parei. O estalo veio do estabilizador do computador da recepção.

            As luzes se apagaram. Eu não tive tempo de tatear pelo celular, pois a energia voltou no mesmo instante.

            - Eletropaulo tá de lascar, - ouço um dos idosos comentando.

            Olho pra cima e vejo a lâmpada fluorescente fraquejando. E voltando. Piscando.

            A energia cai novamente. E volta.

            Eu vejo a escada.

            - Paulo, - eu ouço a voz atendente falando num celular, - liga os geradores. Vai cair.

            Deslizo sorrateiramente em direção à escada. As luzes piscam e voltam.

            Lanço um último olhar pra atendente. Isso é louco, eu repito pra mim mesmo enquanto deixo tudo cair em seu lugar.

            Volte Vinicius.

            Mas eu já estou subindo as escadas em direção ao quarto andar.

            ***

           

            Tenho quarenta minutos, consulto no relógio. Pergunto-me, é o suficiente?

            Não é.

            Mas cá estou. Aproveitando essa mancada horrível da atendente e do porteiro.

            Eles já decoraram meu rosto. Pelo menos a atendente arrogante.

            Foda-se tudo.

            Ninguém da equipe médica me lança olhares desconfiados. Isso acontece pois, vejo inúmeras famílias saindo de salas de recreação, ou pelo menos é o nome que acho que dão para esses locais em que colocam vários pacientes menos perigosos, todos juntos.

            E Emery está num desses locais.

            Pacientes menos perigosos, eu me certifico. Isso é ótimo.

            - EU TENHO QUE SAIR DAQUI!

            Sim, eu acabei de ouvir isso. Os pelos do meu braço se arrepiam e meus olhos ardem repentinamente.

            Alguém tem que sair daqui.

            E não vai poder.

           

            ***

            - Por favor, - eu pergunto apressado, - onde está Emery Freitas?

            A enfermeira me encara.

            - Hm... Emery... Emery... Sala 14.

            - Obrigado.

            Esse fui eu, arriscando a maldita sorte mais uma vez.

            Moedas estão ao meu favor, e eu não vejo mal algum em tirar proveito delas.

            ***

            A luz pisca novamente enquanto eu me aproximo passo a passo em direção a Sala 13.

            Lanço um olhar para trás. Ótimo. Livre.

            Vamos acabar com isso.

            A porta é um tipo de paredão metálico com uma janelinha redonda de vidro na altura perfeita para dar uma espiada. Empurro e...

            Entro na sala.

            As paredes são muito brancas. Percebo um relógio contando os minutos para acabar o horário de visitas.

            Existe cerca de quatro pacientes e dois enfermeiros no quarto. E na mesinha do canto mais isolado possível, riscando debilmente uma folha de sulfite, usando um roupão branco largo e batendo os joelhos nervosamente contra a parte de baixo da mesa, está Emery.

            Eu me arrepio.

            O tempo passou muito mais para ela do que para qualquer um de nós.

            Ela me lança um olhar caótico, errado, e volta a se concentrar no que estava desenhando.

            Eu olho ao redor esperando alguma intervenção de um funcionário, e então me aproximo da mesa da Emery.

            Ela perde a atenção na folha e me encara. Me lança um olhar de cima a baixo e eu vejo os sinais que identificam uma pessoa com medo.

            - Não precisa ter medo, - eu digo, soando muito mais assustador do que eu gostaria.

            Merda.

            Emery fecha a boca e seus olhos se enchem de lágrimas. O cabelo um dia comprido e enrolado, de dar inveja, escorre pateticamente sobre seu semblante triste.

            - Eu... – ela sussurra – eu... eu não te conheço... vá embora.

            “Vá embora,” eu processo a informação.

            - Você conheceu meus amigos...

            Ela me encara novamente.

            - Sai daqui.

            Volta a encarar o sulfite.

            Eu suspiro, tentando identificar o desenho que ela fez. E tudo que eu vejo são riscos muito vermelhos numa folha em branco.

            - Eu... – eu digo, - eu quero te ajudar.

            Ajudar como, eu me pergunto. O que estou fazendo aqui?

            As luzes se apagam e enquanto Emery recua no assento, as luzes voltam.

            - Eu era namorado da Carolina...

            Eu mal termino a frase e ela repentinamente agarra meu pulso, me encarando friamente nos olhos. Sinto um arrepio percorrendo meu corpo e respiro fundo. Estou incapaz de desviar os olhos dos dela. Ela já não parece se importar em manter distância.

            - Você, - ela sussurra pausadamente, e eu tenho que prestar atenção nos movimentos que a boca dela faz para identificar, - você... não... pode... ajudar...

            Ela recua e soluça, engolindo o choro. Quase como se não acreditasse na ironia de que pudesse ser ajudada.

            As luzes se apagam.

            Eu espero ela voltar e isso não acontece.

            Começo a ouvir gritos ao longo do corredor.

            Ouço passos apressados de enfermeiras correndo e dizendo coisas.

            A mão dela ainda está agarrada no meu pulso.

            O que diabos estou fazendo aqui?

            Um relâmpago ilumina a sala através de uma janela que eu sequer tinha percebido.

            - Eu... – ela diz ainda no escuro, sussurrando. Eu me aproximo.

            As luzes voltam.

            - Eu... – ela continua... – eles querem me matar. Aqui.

            Ok. A morte. Além da morte... algo quer matá-la?

            - Eu posso te ajudar, - eu digo.

            - Ninguém vai me ajudar.

            As luzes voltam e ela demora alguns segundos a mais do que eu para se acostumar com a claridade novamente.

            Ouço uma sirene de emergência ecoando pelos corredores.

            - Senhor, - uma enfermeira me cutuca pesadamente, - o senhor precisa sair daqui. É uma emergência.

            Que tipo de emergência pode acontecer aqui, eu me pergunto.

            - Quem quer te matar? – eu pergunto para Emery, ignorando a enfermeira que se afasta.

            - Os pacientes.

            Recuo na cadeira. Eu não esperava isso.

            - Eu, - ela diz suspirando - ... eu sou um vírus.

            A sirene ecoa ainda mais alta e eu não consigo pensar. A luz pisca novamente e volta. Ouço a enfermeira me chamando novamente.

            Lanço um olhar caótico ao redor. Na mesinha ao lado está uma moça jovem, tão bonita quanto Emery. Ela acena para mim.

            Aceno de volta.

            Isso é louco.

            - Um... – eu digo... – um vírus?

            - TODOS OS SEGURANÇAS SE DIRIJAM A COZINHA, - eu ouço uma voz bela no autofalante. – TODOS OS SEGURANÇAS SE DIRIJAM A COZINHA.

            - Um vírus, - ela repete concordando a cabeça e arregalando os olhos. – Ela abre a boca, lágrimas começam a escorrer em riachos sobre seu rosto, - eu estou destruindo o padrão deles. Eu não deveria estar aqui. Eu deveria estar morta.

            Ela pausa e eu estou sem palavras com o descarrego de reflexões.

            Sua mão se fecha ainda mais ao redor do meu pulso. Sinto minha mão formigando.

            As luzes piscam e voltam.

            - Cada passo que eu dou, cada fôlego que eu tomo, é errado. – Ela soluça e balança a cabeça descrente consigo mesma. – A cada ação minha, uma reação oposta é desencadeada. Estou destruindo o esquema inicial. Por isso eles querem me eliminar. Eu vou acabar causando a morte deles.

            - Os pacientes? – eu pergunto pateticamente.

            Luzes piscam e voltam.

            - Os pacientes. Os loucos. Eles sabem. A natureza também sabe e ela tenta... ela tenta me eliminar o tempo todo.

            A sirene para e volta.

            - A natureza é esperta... - ela diz.

            Outra paciente do quarto desaba a chorar e eu vejo de relance as enfermeiras preocupadas correndo em direção a ela.

            - O SENHOR PRECISA IR AGORA!

            As sirenes. Os gritos. As luzes. Estou pirando.

            - E a natureza me mandou pra cá. Ela me deixou assim. Ela acabou comigo. E agora ela está usando os pacientes pra me eliminar.

            - Eu vou te ajudar. – Eu digo. E antes de fechar minha boca, eu continuo sem pensar, - eu vou conversar com seus pais, eu vou dar um jeito de te tirar daqui.

            - Não vai adiantar.

            As luzes se apagam.

            Eu fico aqui. Esperando a luz voltar. Esperando Emery continuar. E ela não continua...

            - Eu sinto muito por sua namorada, - a voz dela soa no escuro, me devorando vivo. - Ela foi fraca.

            - Oi? – é tudo que consigo dizer.

            As luzes piscam e voltam. E os olhos de Emery se expandem com algo atrás de mim.

            - Não! - Emery diz, e eu me levanto da cadeira.

            Ao mesmo tempo em que ouço um som irritante de mini-engrenagens funcionando alegremente, sou empurrado sobre a mesa.

            Eu caio sobre a mesa, virando e levando tudo junto comigo. Atraindo a atenção do mundo inteiro. Emery grita com algo que vê, e eu luto para recuperar o controle do meu corpo ainda caindo.

            E com as luzes piscando sadicamente, quase como para me deixar sabendo de que algo está terrivelmente errado, eu me viro e reconheço um paciente grandão na frente de Emery. Parado. Apenas ali encarando.

            E nas mãos dele. As miniengrenagens funcionando alegremente.

            Uma faca-elétrica. A bateria.

            É aí que me lembro das sirenes de emergência. É aí que me lembro das solicitações de seguranças na cozinha, pelo autofalante.

            É demais para mim.

            - Eliminar, - o louco diz, erguendo a faca-elétrica ensanguentada. – Você tá infectando nossas vidas.

            Ouvindo essas palavras absurdas, procuro com o olhar por Emery e vejo-a sentada no chão, de costas para a parede, o rosto em desespero e as mãos tapando o pescoço. Os olhos implorando por ajuda e ainda encarando aquele paciente monstro.

            Isso não pode estar acontecendo.

            Ainda caído no chão, vejo o paciente recuando alguns metros.

            Ele... ele está pegando embale.

            Eu me jogo pra frente, atingindo o chão de joelhos enquanto o homem se aproxima com a faca-elétrica ligada.

             - PORRA AJUDA PORRA!

            Eu caio no chão. Sem ajudar. Então me viro ao paciente.

            Ele está em direção a mim. Em direção à Emery atrás de mim.

            Olho freneticamente para o lado e vejo a moça da mesa próxima no chão, esticando o braço.

            O paciente não vê.

            A moça do aceno agarrou o tornozelo do monstro da faca-elétrica. Ele grita e tropeça.

            Emery grita.

            Ele capota sobre a mesa já tombada. E ainda com a faca-elétrica na mão, ainda capotando, ele mergulha a lâmina quente e dançante no pescoço de Emery.

            Emery olhou pra cima, os olhos arregalados e não conseguiu gritar.

            Ouço um som semelhante ao de papel bolha sendo estourado e sinto uma onda quente me pulverizando.

            As luzes voltam totalmente.

            Eu recuo no chão, abrindo os olhos, e vejo Emery encostada na parede, a faca-elétrica ainda pendendo no pescoço. Sangue jorrando aos litros em seu rosto e na parede e ela apenas presa num engasgo eterno. Lutando erraticamente contra todas as possibilidades.

            Morrendo.

            Indo até o fim.

            Entre o banho de sangue que seu rosto, seu cabelo e sua roupa levou, vejo o branco de seus olhos ainda apontados para o teto. Ainda abertos e ainda sobrevivendo ao rio de sangue em que estavam sendo submissos.

             A faca elétrica desliga com um clic e fica ali apenas enroscada entre a carne.

            A cabeça pesada tomba para o lado. Isso faz exibir um grande pedaço sangrento do pescoço e libera uma artéria.

            Um chafariz de sangue irrompe do pescoço de Emery. Sobre mim. Na parede.

            Engasgando-me, percebo o quanto é difícil de enxergar com os olhos cobertos de sangue.

            Ainda amortecido pelo que acabou de acontecer, ainda acordado, ainda pensando, estou eu. Testemunha de um assassinato.

            Ainda narrando tudo.

            Ainda vivendo isso.

            Seco o sangue dos olhos com as mãos e me deparo com uma carnificina.

            Ao mesmo tempo em que começo a chorar, ouço inúmeras pessoas fazendo o mesmo.

            Gemidos de horror.

            Gritos.

            E eu estou aqui.

            E estou aqui.

            E Emery está morta.

            - Acabou. – O monstro da faca-elétrica diz calmamente, surgindo atrás da mesa em que também havia capotado.

            Estou tremendo, repudiando o sangue, sentindo o gosto metálico, me odiando por estar vivo.

            Estou coberto de sangue. Sangue. Sangue.

            Sangue.

            Isso é doido.

            Canso de ficar sentado. Apenas caio para trás, até encostar minhas costas totalmente no chão.

            Deitado.

            Ensanguentado.

            Deitado.

            Olho pro lado e a alguns metros de distância reconheço o desenho de Emery.

            No desenho, reconheço um bonequinho genérico da Vivo deitado num oceano de riscos vermelhos.

            Um homem deitado numa poça de sangue.

            Olho para o teto. Estico o braço pateticamente no ar e tento tapar a claridade que me cega.

            Suspiro.

            Fecho os olhos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
E sim, é uma referência a Evil Dead. Eu amo.
Também é uma referência a Premonição 2 e Halloween: Ressurreição, obviamente.
Enfim, espero que tenham gostado. Comentem!
Próximo capitulo vai sair mais cedo do que esperam. Aguardem!
Obrigado. Vocês são o teclado do meu notebook, é.

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