Quando a aula terminou, encontrei Nick no estacionamento, encostado no meu carro, lendo um livro grosso e velho. Ele tinha que ler o livro até sexta - feira, então não conversamos muito no carro. Ele estava concentrado em ler, e eu, estressada em chegar o mais rápido em casa, pois tinha começado a chover, e eu odiava dirigir na chuva.

- Nick? - chamei algum tempo depois.

- Hm?

- Você entendeu alguma coisa que a Sra. Harris disse hoje na aula de quimica? Por que eu não entendi nada.

Ele fechou o livro.

- Entendi. Nem é tão difícil assim. Vai fazer alguma coisa hoje?

- Não, e mesmo que eu fosse, teria que cancelar por causa da chuva.

- Quer que eu fique na sua casa para te explicar?

Suspirei. Eu realmente queria notas altas este semestre.

- Por favor.

Chegamos em casa, e corremos para dentro, mas acabamos nos molhando um pouco.

- Mãe! - gritei, torcendo meu cabelo. - Nick está aqui. Ele vai me ajudar com o dever.

Ela estava na cozinha. Passamos lá rapidamente antes ir para o meu quarto, para dar um oi e pegar uma barrinha de cereais. Eu tinha um vício nessas coisas. Principalmente nas de banana.

- Quer uma? - ofereci a Nick.

Ele fez uma cara enojada.

- Não sei como você consegue comer isso. Elas fedem.

Cheirei minha barrinha. O cheiro era até agradável...

- Não fedem, não! - argumentei e o empurrei escada a cima.

Fomos para o meu quarto. Ter um garoto no meu quarto não era grande coisa para meus pais. Não se esse garoto fosse Nick. Ele já tinha estado ali tantas vezes, que ninguém nem se importava mais. Uma vez até fizemos uma festa do pijama. Quero dizer, tentamos. Não eram nem dez da noite e eu tentei passar maquiagem no Nick. Ele se revoltou e ligou para sua mãe.

Tirei meus livros da mochila e deitei na minha cama. Nick deitou-se ao meu lado.

- Certo. - disse ele. - O que você não entendeu?

Abri o livro na página da aula de hoje e tentei me lembrar algo sobre balanceamento de equações. Tínhamos aprendido isto no ano passado, mas eu não tinha idéia do que era.

- Não entendi nada.

Ele riu.

- Você dormiu?

- Não! - exclamei. - Só na aula de história, mas era uma apresentação de trabalhos, então não tem problema.

- Certo. Tente prestar atenção agora, ok?

- Vou prestar. - prometi, sendo uma boa aluna.

Nick começou a me explicar a matéria.

- Bom...Para fazer o balanceamento de uma equação, temos que colocar um número denominado coeficiente estequiométrico antes dos símbolos. Balancear a equação significa deixar o número de átomos de cada elemento igual em ambos os lados da equação. Por exemplo: C2H6O + 02. Você tem que multiplicar o carbono por 2 e o hidrogênio por 3 (ambos do lado direito) para ficarmos com 2 átomos de carbono e 6 átomos de hidrogênio de cada lado da equação.Fica assim: C2H6O + O2 --> 2CO2 + 3H2O. Pronto. A equação está balanceada. Entendeu?

- Hã... - murmurei. - Dá pra explicar de novo?

Ele sorriu e me explicou novamente.

- Acha que pegou o básico?

- Acho que sim...

- Vou te passar alguns exercícios então.

Enquanto Nick copiava alguns execícios do livro, a campainha tocou.

- Já volto.

Desci as escadas para abrir a porta. Com muita alegria percebi que tinha parado de chover. Eu odiava chuva e frio.

Quando abri a porta, Josh estava lá.

- Oi, linda. - ele me beijou na bochecha.

- Hã... Oi. - era tão idiota e infantil como eu ficava atordoada em sua presença. - Não sabia que você sabia onde eu morava.

- Pois é. Descobri hoje. Quer fazer alguma coisa?

- Ah... - murmurei, sem saber o que fazer. Eu queria fazer alguma coisa. Mas Nick estava lá em cima, sendo extremamente gentil e me ajudando com uma matéria muito chata! Além disso, minha mãe nem sabia que eu estava namorando Josh! - Ah. Na verdade não posso agora. Tenho que estudar para os testes.

Ele enrugou a testa. Oh, isso era muito fofo...

- Oh, é uma pena. Quer jantar hoje a noite, então?

Eu sorri abertamente.

- Claro... - eu realmente queria convidá-lo para entrar e apresentá-lo a minha mãe. Mas e se Nick descesse? Não seria nada legal. - Você... você quer entrar por um segundo só para conhecer minha mãe?

Ele sorriu.

- Claro.

Peguei sua mão e o levei até a cozinha, rezando para que Nick estivesse muito envolvido nos exercícios.

- Ah, mãe. - chamei. - Quero te apresentar uma pessoa.

Minha estava lavando a louça. Ela virou-se e quase deixou um dos pratos cairem no chão. É claro que eu sabia o por que. Minha mãe tem um trauma de tatuagens. E o braço de Josh era coberto delas. Além disso, ele tinha um piercing na boca, e cabelo de emo. Mas eu achava tudo isso muito atraente.

- Mãe, este é o Josh. Ele... ah, começamos a namorar... hoje.

Minha mãe arregalou os olhos, mas logo se recuperou.

- Josh? - ela apertou a mão livre dele. - É... bem, é um prazer conhecê-lo. Quer tomar um café?

- Não, não. Sam me disse que ela precisa estudar quimica.

- Oh, sim, ela está...

Lancei um olhar desesperado para minha mãe. Graças a Deus ela entendeu e parou de falar.

- Sra. Brooke? - chamou Josh com uma educação exagerada.

- Sim?

- Será que Sam poderia sair comigo hoje a noite? Vamos ter um jantar com meus pais hoje. Meu pai está no exército então são raras as ocasiões em que podemos jantar juntos.

Minha mãe surpreeendeu-se com aquilo. Até eu mesma.

- Oh, mas é claro. - disse ela. - Se Sam não estiver muito ocupada com os estudos...

- Não estou. - exclamei rapidamente.

- Ótimo. Então, por mim está tudo bem.

Josh sorriu para ela, e então para mim.

- Acho que já vou então.

- Eu... vou te levar até a porta.

Josh apertou minha mão e abriu a porta da frente.

- Te vejo de noite então. Eu venho te pegar.

- Okay. - murmurei.

Ele me deu um beijo leve e partiu no seu carro.

Subi para o meu quarto novamente, já pensando no que usar.

Nick continuava na mesma posição, escrevendo rapidamente no caderno. Quando me deiei ao seu lado novamente, ele levantou os olhos.

- Quem era?

- Uma... - gaguejei. - Só uma amiga da minha mãe.

- Ah. Certo. - ele me entregou uma folha cheia de exercícios. - Aqui. Tente fazê-los. Se precisar de ajuda, me chame.

Assenti com um nó na garganta. Por que eu estava mentindo para ele?Eu odiava isso. Mas senti que ele não entenderia, então era melhor ficar assim. Eu nem estava mentindo. Estava omitindo. Isso nem era tão mal. Era?