Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 9
Capítulo 9 - Não Olhe Para Baixo




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Andrew e eu nos amávamos de verdade e estávamos juntos há 2 anos naquela época. Mas nunca antes havíamos falado sobre casamento. Não sou do tipo de garota que sonha com seu vestido de noiva e em como será a valsa. Nunca imaginei que fossemos nos casar tão cedo. Nós estávamos mesmo naquele ponto?

–- Andrew...- eu disse, colocando a mão em seu peito, para que saisse de cima de mim e eu pudesse me sentar - Eu não sei o que te dizer agora... Isso foi muito inesperado. Você quer mesmo se casar com 18 anos?
–- Você tem dúvidas sobre nós? Porque eu sei, que eu não tenho. - ele disse, fervorosamente.
–- Não! Não é nada disso. É que... eu não sou assim. Eu não quero simplesmente me casar aos 18 anos, ter filhos e cuidar da casa até morrer...
–- É que eu vejo você tão infeliz naquela casa, com aquelas pessoas de quem você não gosta. - Andrew pegou minha mão- Seu pai é legal e tudo mais, mas eu sei que você ficaria melhor comigo.
Ele estava certo. Estar perto dele realmente me deixava melhor mas...Se ele estava preocupado agora, imagine se soubesse do que me atacou.
–- Eu não poderia deixar Abby lá sozinha de qualquer forma. - tentei explicar- E onde nós moraríamos? Pagar aluguel, fora as despesas da faculdade, não é tão simples quanto parece...
–- Posso parecer idiota, imaturo e sei lá mais o que. Mas eu sei que posso nos manter por uns tempos. Meu salário no time aumenta cada vez mais. Posso cuidar de Abby também.
–- Eu agradeço muito, de verdade. Obrigada por me amar tanto, e eu amo você da mesma forma. Mas, eu não posso me casar com você só pra fugir dos meus problemas. Eu quero sim que nos casemos, mas não estamos prontos agora. Entende?
Rezei para que ele não se magoasse com a minha negativa e Andrew realmente pareceu entender meus motivos. Ao menos, ele não tocou mais no assunto pelo resto da noite.

Após conversarmos com a enfermeria, uma mulher muito jovem e gentil de nome Georgia, ela nos disse que tia Amanda havia levado Abby para casa. Ela também nos disse que uma pessoa poderia ficar comigo no quarto todos os dias, inclusive durante a madrugada. Contanto que deixassemos a porta aberta todo o tempo. Demorei, mas entendi o motivo da exigência. Quando Andrew também compreendeu, ele disse
–- Nossa, é sério que alguém faz coisas assim no hospital?
Georgia olhou para ele, rindo sem graça
–- Você ficaria impressionado.- ela disse, antes de sair do quarto.
–- Esse lugar já me dá calafrios. Imagine, fazer algo nessas camas onde passou todo tipo de gente. Ergh! - eu disse, fazendo uma careta.
–- "Você ficaria impressionada, meu bem"- Andrew brincou, enquanto imitava os trejeitos da enfermeira. - Mas, conosco ela não precisa se preocupar.- ele disse, deitando-se no sofá marrom surrado no canto do quarto.

E era verdade, eu e Andrew não haviamos feito nada disso ainda. Não por ele não querer, eu quem não me achava pronta. Não sei explicar o por que. Eu nunca quisera casar virgem, nem nada disso. Mas apesar de estarmos juntos há tanto tempo, não sentia que o momento havia chego. Sempre pensava em como aquele cara podia namorar e ser tão bom pra mim, mesmo sem ter esses prazeres. Aquilo me entristecia, sentir que nosso namoro não era completo graças a mim.

Andrew percebeu meu silêncio e abriu os olhos. Logo percebeu o motivo de minha quietude, afinal, nós já haviamos tido diversas discussões sobre esse assunto.
–- Eu não quis dizer isso que você está pensando Any, você sabe.
–- Não quis, mas disse.
–- Ah, agora você vai brigar comigo por não te pressionar a fazer algo que você não quer? Se eu estivesse sentindo falta, era só ir com qualquer uma!- ele disse com raiva, virando de costas e colocando uma almofada em cima de sua cabeça.
–- Ótimo! Então vá! Está cheio daquelas vadias atrás de você nos jogos mesmo, por que não aproveita?. - também me virei de costas e fechei os olhos.
Andrew levantou-se do sofá e foi rumo á porta.
–- É, você tem razão. Estou tão interessado nelas, que foi para uma daquelas que eu fiz uma proposta de casamento há poucas horas atrás! - ele abriu a porta - Meu Deus! Qual o seu problema, Mellany? Olha, desculpa. Vou dar um pulo lá embaixo. Não estou afim de discutir com você, não foi pra isso que eu vim.

Eu sabia desde o começo que o problema não era ele, era eu. Eu quem começava essas discussões esperando que ele assumisse que preferiria outras garotas que fizessem todo tipo de coisa com ele. Por que nós mulheres, começamos discussões esperando que o cara nos dê um fora e depois choramos sem parar? Que droga!

Após minutos de culpa e choro por ter feito Andrew sair do quarto, sem perceber, acabei caindo no sono. Acordei com uma luz direto em meu rosto, olhando no relógio, vi que eram 3:10 da manhã. Alguém, provavelmente uma das enfermeiras, apagara a luz de meu quarto, de modo que a luz vinda do corredor fora o que me despertara. Olhei para o sofá e vi que Andrew ainda não havia retornado. Imaginei que não haveria problemas caso fechasse a porta, já que eu não estava com minha "visita" naquele momento. Sentei-me na cama e calcei uma de minhas pantufas. Enquanto levantava-me para procurar o outro par, percebi que meu corpo estava moído, por ter ficado tanto tempo deitada. Coloquei a mão debaixo da cama para pegar a pantufa, porém enquanto tateava, senti minha mão ficar quente. Puxei-a de volta. Ela estava completamente úmida, como se eu tivesse deixado minha mão em cima de uma panela com água quente. Que estranho, eu não deveria estar suando tanto assim, só por ter feito esforço levantando da cama. Agaixei-me e enquanto colocava a mão debaixo da cama, também coloquei a cabeça para procurar. Foi então que eu vi. Alí, na penumbra, aqueles olhos. O brilho congelado daqueles olhos me paralisou. Fiquei completamente imóvel, meu cérebro me mandava correr, mas meu corpo estava petrificado. Até que aquela coisa, um ser desforme de olhos brilhantes, se transformou em névoa e foi movendo-se lentamente para trás até parar do outro lado da cama. Foi então, que ele mostrou-me sua verdadeira forma. Sua cabeça era desproporcional ao corpo. Era uma criatura esquelética, coberta por uma camada de pele muito grossa e escurecida. Mesmo na escuridão do quarto, pela luz que vinha do corredor, pude ver os detalhes de seus ossos aparentes.

Foi então que finalmente concluí: aquilo era um Carregador e isso significava que eu estava em perigo. Em uma fração de segundo, foi como se meu corpo tivesse despertado com doses extra de adrenalina. Levante-me e corri para a porta do quarto. Fui correndo em disparada pelo corredor, mesmo vestida somente com uma camisola hospitalar azul. Quando olhei para trás, a coisa estava agaichada, como um animal, rastejando o corpo esquelético em minha direção. Saí batendo na porta de todos os quartos, mas eles estavam trancados e não havia sinal algum de enfermeiros ou médicos. Cheguei ao fim do corredor e finalmente, a porta do último quarto se abriu. Entrei e tranquei a porta rapidamente. A luz do quarto era perturbadora e refletia no branco, que ia do teto ao piso. Quando virei-me, vi que havia uma pessoa deitada na cama. Mesmo de longe, pude vê-la. Era uma mulher de cabelos escuros e encaracolados, a pele muito branca, ela estava ligada á vários aparelhos. Aquela... Aquela é...? Aproximei-me dela com a mão na boca. Percebi que estava chorando e que meu corpo tremia em choque. Era como se meu coração fosse saltar de meu peito. Pausei bruscamente enquanto caminhava em direção á cama. Não pude acreditar, aquela pessoa deitada alí, era minha mãe.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem! Beijos ♥