Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 7
Capítulo 7 - Segredos Lacrados




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"Fique comigo garota, fique comigo! Olhe pra mim, ei! Jane! Eu preciso de ataduras, temos um corte aqui!"

Tudo acontecera tão rápido, que custei á entender o que estava acontecendo de verdade.
"Ai, que dor de cabeça". Pensei, franzindo o cenho e mantendo os olhos fechados. Aqueles sons infernais, típicos de um quarto de hospital, pareciam ainda mais agudos.
–- Ela vai ficar bem- era uma voz masculina- Aspirou e engoliu muita água, mas o socorro veio rápido. Ela deu sorte de a senhora ter chego a tempo.
–- Eu cheguei em casa, e então encontrei a porta do banheiro aberta. Mellany estava no chão, envolta por uma toalha. O banheiro estava todo revirado, a janela aberta e uma música tocando.- disse tia Amanda, ela parecia realmente preocupada. Seria só um teatro perante os médicos? -Parecia até que ela havia entrado em uma briga.
–- Provavelmente o que a senhora me disse no corredor é a teoria mais correta. Ela escorregou e bateu a cabeça enquanto saía da banheira, talvez não tenha desmaiado logo de início. Ficou tonta, tentou se apoiar em algo e é esse o motivo da desordem no banheiro.
–- Sim, o senhor deve estar correto. Sabe, ela é como a mãe dela, meio "desregulada" da cabeça.

"Vai acontecer um desastre com você, caso continue falando da minha mãe." pensei furiosa. Ela podia se fazer de boazinha para os médicos, mas á mim não iria enganar! Abri os olhos e encarei a luz, meus olhos arderam. Vendo minha movimentação, o médico dirigiu-se a mim.
–- Está tudo bem, seus olhos estão sensíveis a luz nesse momento.-- Quando tentei responder, me dei conta de que minha garganta também estava ardendo.-- Ah, e sua garganta. Por ser um dos meios de desobstrução aérea, ela estará dolorida nos próximos dias. Como você está se sentindo?
–- Minha..- sibilei com dificuldade. Minha voz estava pior do que eu esperava.- Minha cabeça, dói.
–- Você levou uma pancada bem feia aí.- ele me disse, aproximando-se mais da cama.-- Quanto mais você exercitar, mais rápido sua fala irá voltar ao normal. Então, preciso que você me responda algumas perguntas, tudo bem?- Esperei para que ele proseguisse. -- Qual o seu nome completo?
–-Mel- a palavra saiu quase como um sussurro, de modo que me esforcei mais para que ela saísse compreensível- Mellany. Mellany Lake Vidalgo.
–- Tudo bem, em que mês estamos?
–- Junho!- era Abby, eu ainda não havia notado que ela estava no quarto.
–- Abgail! É para a sua irmã responder, você não deve atrapalhar.-- tia Amanda a repreendeu.
–- Está tudo bem...Abby.-- pronunciei lentamente.
–- Ela se recorda da irmã, provavelmente a memória não foi afetada.- tia Amanda parecia impaciente.
–- É, aparentemente. Daqui a quantos dias será seu aniversário, Mellany?
–- Sete-- minha fala parecia estar, lentamente, voltando ao normal.
–- E a gente vai dar uma festa pra ela! Vai ter balões e tudo! Eu quem escolhi o bolo...-- Abby disse, animada. Então eu teria uma festa? Finalmente algo com que se alegrar. Eu sempre gostei de festas, mesmo que não soubesse dançar. Era um momento onde eu esquecia todos os problemas.
–-Ela está agitada por ter ficado tanto tempo esperando a irmã acordar. Vou levá-la ao café, para não atrapalhar.
Tia Amanda saiu do quarto, arrastando Abby pelo pulso.
–- Bom, você tem mais visitas. Elas estão aguardando aí a noite toda. Seu corte não foi tão profundo, e a batida não parece ter causado lesões muito sérias. -- o Dr afastou-se da cama e foi em direção á porta.- Vou deixar eles verem você, depois volto para dar uma checada.

Alguns instantes depois, Andy entrou no quarto. Ele estava com um olhar aflito, que se desfez e deu lugar ao seu sorriso costumeiro.
–- Princesa, como você está?!- ele parecia cansado, o cabelo desarrumado e a roupa amarrotada.
–- Estou...bem.- sibilei.
–- Nossa, o que aconteceu com a sua voz?-- Ele disse preocupado, unindo as sobrancelhas.
–- Por causa...por causa dos primeiros socorros.-- expliquei- Depois, vou voltar ao normal.
–- Shii.- ele encostou o indicador em meus lábios, como para me calar.- Só eu falo então.
–- Eu preciso...exercitar a voz.
–- Bom...tudo bem então, mas não se force muito, minha Princesa Robô.- ele brincou, nos fazendo rir juntos.
Meu Andy, como pude um dia arriscar sua confiança em mim?
–- Olha, enquanto esperava pra poder te ver, eu fui comprar umas coisas pra você. Eu te comprei uma caixa de chocolates, mas o doutor disse que você não poderia comer eles por um tempo, então... eu comi. Mas eu também trouxe esse balão.- ele me disse, estendendo um balão rosa.- Na loja só tinha balões escritos "É uma menina!" ou "É um menino!", mas eu estava desesperado pra voltar logo e ver se você tinha acordado, então trouxe esse mesmo assim. Desculpe. Você tem o namorado mais...
–- O namorado mais fofo do mundo. - eu o interrompi. Ele tinha conseguido me levar as lágrimas, só por ser ele mesmo. -- O namorado mais fofo...atrapalhado e esforçado do mundo. Muito obrigada por sair da sua casa só pra me ver.
–- O que é isso Any, não chore. - ele se debruçou por cima de mim na cama e me abraçou.-- Minha casa é onde você estiver, entendeu? Vai ser assim pra sempre.
–- Amo... você- eu disse, antes de o beijar.
–- Também te amo, minha Robôzinha.
–- Não vai me...chamar assim pra sempre, né? - eu disse, rindo e chorando ao mesmo tempo.
–-Só se você não parar de chorar agora. Se continuar assim, vai enferrujar todo o seu rosto. - ele me disse, com um sorriso travesso.
–- Pare!- eu disse sem parar de rir. Até que alguém bateu na porta.
–- Com licença? Estou entrando.- Deborah colocou a cabeça através de uma fresta na porta. Ela era a melhor amiga de minha mãe, e também foi quem cuidou de mim e Abby nos primeiros meses após o falecimento dela. Era como uma segunda mãe para nós. -- Mel! Querida, como você está?!- ela me disse, enquanto entrava em disparada pelo quarto até minha cama.-- Quase morri de preocupação!

Ela pegou minhas mãos com suas mãos rechonchudas. Deborah nunca teve filho, apesar de ser uma mulher muito amável. Mantinha um gatil em sua casa, gatos recolhidos da rua, pros quais ela dedicava sua vida. Era uma mulher digna de minha admiração.
–- Estou..muito bem. Senti saudades!-- Vê-la, me fez notar o quanto eu gostaria que minha mãe estivesse ali naquele momento.
–- Nós também, meu bem. Nós também! Esse Andrew, gentil como sempre. - Andrew deu um sorrizinho convencido- Ele me trouxe. Como têm sido as coisas por aqui?- ela disse, enquanto sentava-se em uma cadeira ao lado da cama.
–- Nunca gostei de hospitais, assim como Abby, a senhora sabe.- eu disse, amarrando á cama o balão que Andrew me dera. Eu ainda falava com dificuldade, mas consegui manter a voz por mais tempo. -Começo a perceber que esse é um mal de família. Mas, quem gosta? O ambiente me deprime, é um local onde aonde as pessoas só vão quando não estão bem.
–- Sim, mas não seja tão resmungona.- ela me repreendeu.-- Essas pessoas cuidaram muito bem de você. Me refiria a casa nova. Como tem sido? Seu pai tem tratado vocês bem? Abby continua se alimentando corretamente? Eu conheci aquela mulher, “Amanda”, ela me dá arrepios.
Enquanto morávamos com Deborah, só comiamos alimentos de sua horta. Assim como mamãe, ela era muito naturalista, gostava de mexer com a terra. Diferente de mim e Luna, elas eram parecidas em quase tudo.
–- Abby só tem recebido doces de tia Amanda. Ela lhe dá tudo que pede, assim não precisa ter mais trabalho. Meu pai nos trata bem, porém por conta das viagens á trabalho, eu mal o vejo. Quanto a casa, ela é muito diferente...- Deborah ouvia tudo com atenção enquanto assentia com a cabeça -Aquela casa, tem algo nela.

Ela parecia estar me levando a sério. Não como uma louca. De repente, Deborah virou-se em direção a Andy
–- Andrew, querido. Você poderia me fazer um favor?
–- Claro.- ele respondeu confuso, desviando a atenção de seu celular.
–- Estou com a boca seca, você poderia ir buscar um suco para mim na cafeteria lá em baixo?
–- Sim, já volto.- Andrew disse, levantando e saindo do quarto.
–- Continue, Querida. Algo? Como o que?
–- Algo que eu não sei explicar o que é, mas de uma coisa eu tenho certeza. Esse algo, tentou me matar. Era como uma névoa...
Deborah arregalou os olhos e levou a mão ao coração. Por uns segundos, pensei que ela iria desmaiar. Não imaginei que ela teria uma reação dessas.
–- Carregadores.- ela murmurou.
–- O que? Tia Deborah? O que foi?
Ela prosseguiu com seu olhar chocado. Eu não sabia o porque dessa reação, mas de uma coisa pude ter certeza: Tia Deborah sabia de algo e eu precisava decobrir o que era.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem! Beijos ♥♥