Moro na antiga rua 50, perto de um abismo sombrio que trará a morte à todos nós um dia.

Não é fácil ser diferente aqui, afinal, quando se pode ver seu próprio coração...

Ando por todos os cantos sem fazer quase nada, sem nem me movimentar. Já viajei pelo mundo sem sair do lugar, vivi aventuras que você não irá acreditar, mas não estou aqui para contar historias trash.

Queria mesmo falar da garota da casa a frente, a garota da casa dois, do lado da ultima casa da rua, aquela casa que te leva à morte, pois lá vive o Abismo. Desculpe-me, eu ia falar da garota da casa da frente, não é mesmo? Acabei perdendo-me. Bom, ela tem lindos cabelos loiros, olhos azuis... Sua casa tem uma sacada enorme e não é coberta.

Sempre que chove ela dança na chuva. Ela parece sempre divertir-se, eu me sinto muito bem olhando-a. Ela não liga quando ficam olhando para ela ─ pelo menos aparenta não ligar ─, ela sabe que todo o resto não importa, ela aprendeu a viver, aprendeu que para lutar contra os outros basta ignorá-los. Claro que não tenho certeza de mais nada, mas estou em alguns devaneios particulares com você.

Ela somente seria mais perfeita se não me olhasse com aqueles olhos... Como se eu fosse um pedaço de pão de queijo com margarina, como se eu fosse ser devorado dentro de alguns instantes. É só porque eu posso ver meu coração, meu coração... Ah, meu coração.

Preciso falar sobre meu coração, contar o que ele é. Sempre brilhando como uma incrível esfera de energia, a mais radiante e linda que existe.

A verdade é que todos nós temos isso, todos somos assim. A garota da casa dois também pode ver o coração dela e o abismo também, mas eles não sabem como, como trazer a coisa mais linda que já existiu para tal perdição. A única coisa que até então o ser humano pôde ou não pôde, poderia ou não poderia, se orgulhar?! ORGULHO.

Algumas coisas aqui você não vai conseguir entender. Todos nós temos uma tatuagem no braço, cujo onde jaz escrito "monstros", ao lado um triângulo.

Triângulos... Existem tantos significados, mas vamos dizer que sempre tem a ver com o numero três, um numero poderoso. Como se fosse o Céu, Terra, Inferno ─ ou posso dizer Céu, Inferno, Inferno? Melhor, entenda minha relação no momento. ─ Peter, garota da casa dois, Abismo. Céu, Inferno, Inferno.

Abismo? Céu? Por enquanto meu problema maior é a Terra, meu Inferno.

Bom, ela deveria estar lá, dançando, afinal há 30 linhas atrás estava chovendo. Nada que você precisava realmente saber, não antes da hora.

A chuva está passando e é como se meu coração esfriasse. Eu só estava esperando, queria um sorriso sincero novamente, algo que esquentasse meu coração entre tantos ventos frios.

Tudo o que posso fazer é pensar: pensar em quando vou falar com ela, em seu olhar de queijo...

Espere. Olhar de queijo? Ou de quando vou falar com você? Preciso ir até lá antes que a chuva passe.